28 de setembro de 2009

Reportagem in loco

Estou aqui em uma passagem rápida para avisar os (se é que ainda existem) leitores deste blog.

Nós do BcF ficamos impressionados com o castigo da natureza que o sul do país vem sofrendo. Por isso, daqui a duas semanas, vamos nos arriscar a fazer a cobertura desse acontecimento direto de Blumenau, onde coincidentemente rola a Oktoberfest. Talvez passemos por lá também...

Novas postagens a caminho.

Logo bateremos o recorde de publicar uns 10 textos no ano.

14 de setembro de 2009

Fixing a Hole: Beatles remasterizado

Há mais de 20 anos, mais precisamente em 1987, o catálogo em CD dos álbuns dos Beatles finalmente chegava às lojas, popularizando de vez essa então nova mídia e aposentando os velhos bolachões analógicos. Porém, a realidade mostrou-se mais implacável: a versão digital tinha um som ridículo. A maioria dos fãs sempre reclamou do som abafado e pouco nítido dos CDs em comparação aos LPs, como se estivessem ouvindo com um travesseiro na cabeça. Lógico que os saudosos chiaram como um disco mal prensado, porém nada foi feito para reverter essa questão, já que a marca Beatles é algo que sempre vende. Mas o sonho ainda não tinha acabado.

No último dia 9, uma nova edição de CDs remasterizados do Fab Four desfez essa cagada histórica da EMI. A gravadora montou uma equipe de engenheiros de som no mítico estúdio Abbey Road num projeto que durou quatro anos e contou com tecnologias mais avançadas de gravação e mixagem aliadas com equipamentos mais vintages. E tanto investimento e esforço por parte da major foi recompensado.

Ouvi dois álbuns em estéreo, Sgt. Peppers and the Lonely Heart’s Club Band e Abbey Road, e comparei com os CDs remasterizados pelo Dr. Ebbets que circulam na internet. E posso dizer que a qualidade está levemente melhor, o que é impressionante visto que a versão em questão é em 320 kbps, enquanto os do Ebbets são em FLAC.

Antes da análise em si, é importante abrir um parênteses. Dr. Ebbets é o pseudônimo de um misterioso engenheiro de som que, puto com a qualidade tosca dos CDs originais dos Beatles, resolveu fazer sua própria remasterização digitalizando, com equipamentos de alta qualidade, diversas versões de vinis que garimpava pelo mundo. Entre eles estão as caríssimas coleções audiófilas da MFSL (relançamentos em vinil gravados na metade da velocidade) e as edições japonesas e alemãs, elogiadas pelo excelente material de prensagem.

Até o momento, as versões digitais do Dr. Ebbets eram consideradas as melhores já produzidas. Tanto que, na web, um dos passatempos dos beatlemaníacos era trocar figurinhas sobre esses CDs e encontrar o cálice sagrado, a versão definitiva, do Fab Four. Pois bem, a busca terminou. Quando se sabe que o próprio Ebbets teceu elogios à remasterização e anunciou sua aposentadoria, isso tem um significado monstro para o universo da audiofilia.

De maneira geral, a remasterização corrigiu aquele que, na minha opinião, era um dos poucos defeitos das versões ebbetianas: os médios tinham pouco destaque se comparados aos ótimos graves e agudos. A razão dessa deficiência talvez seja da própria mixagem dos vinis, se levarmos em conta que eles foram gravados em apenas quatro canais, mas isso é pura especulação. O fato é que a nova versão deixou o som muito mais balanceado e agradável.

Logo no início de Sgt. Peppers, já dá para reparar a mudança. Na faixa-título, ouve-se com nitidez o ruído do público e da orquestra do clube dos corações solitários nos primeiros minutos de música. E a guitarra de George Harrison ganha destaque na parte do "Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band, We hope you will enjoy the show..." como nunca tinha ouvido antes. Em geral, usando um bom sistema de som (ou um bom fone) dá para ouvir com nitidez todos os instrumentos, até mesmo em "Being for the Benefit of Mr. Kite!" com sua mescla de sons étnicos. Isso devolveu ao "A Day in The Life" a beleza usurpada pela masterização antiga.

Se era notável a melhora em Sgt. Peppers, em Abbey Road o negócio foi mais ignorante. Para começar, a batida nas cordas do baixo em "Come Together" ficaram mais fortes, com muito mais punching. Aliás, em praticamente todas as músicas, o instrumento de Macca acaba se destacando. Fora isso, "Here Comes The Sun" ganhou mais vida, graças ao som nítido do arranjo de cordas ao fundo. 

Deixe estar
 
Pela amostra que ouvi, é fato dizer que a remasterização conseguiu honrar o legado dos Beatles, certamente a discografia mais importante da música pop. Mas é de se perguntar se não veio tarde demais. Como já havia dito em um texto anterior, a distribuição digital já é uma realidade difícil de ignorar (quer dizer, exceto para as majors). E o iTunes estava aí, abanando o rabinho e fazendo cara de dó. Não é segredo que Steve Jobs é louco pelos Beatles (o nome Apple não saiu do nada) e bem possivelmente faria de tudo para lançá-los na era do mp3. Mas a gravadora decidiu que ainda não é hora de entrar no mundo "legalize", embora seja certo que esse dia chegará.

Na real, acho que o que a EMI quer mesmo é ver até onde vai o CD. Antes do lançamento da nova versão, pensei aqui com meus botões: já que é um produto voltado para entusiastas e audiófilos (ou seja, para quem curte toda a experiência de ouvir música), por que os caras também não lançaram em SACD ou DVD-A? Para que ficar preso nos 44,1 Khz sabendo que um fã dos Beatles ou compraria de qualquer maneira ou baixaria na internet?

Só que, ouvindo a remasterização, pensei melhor. Se a EMI lançasse o catálogo dos Beatles em um outro formato, seria decretado oficialmente o fim do CD. Não que o SACD vá se tornar padrão algum dia, mas ficaria mais evidente que o CD está ficando ultrapassado em termos de qualidade de áudio e sua razão de ser se esvaziaria. Se o motivo pelo qual as pessoas ainda compram CDs é pelo seu som, e há uma defasagem quanto a isso, então é melhor partir logo para o mp3, que é muito mais prático. E dessa contestação, pode ser que um novo padrão surgisse, como aconteceu com as TVs HDTV e com o Blu-ray, apesar da popularização do Divx de baixa resolução.

Isso seria um tiro no pé das gravadoras. Elas teriam que adaptar todo o sistema de captação de áudio e de gravação que já está consolidado, o que acarretaria em todo um investimento que encareceria a produção (o que, aliás, é um entrave que o SACD ainda não conseguiu resolver). Por isso, é muito mais prático desenvolver tecnologias para melhorar a masterizaçao de um disco do que para criar um novo formato. E foi isso que a EMI fez com os Beatles. Apostou todas as suas fichas para mostrar que CDs ainda podem ter qualidade comparável aos de alta definição e que isso é bom tanto para os audiófilos quanto para o público médio. Se isso vai funcionar? Depende. Se eles continuarem prezando pela qualidade da masterização e abandonarem a prática nociva do loudness, talvez o público se toque das diferenças entre o mp3 e o lossless.
 
Mas pelo que tudo indica, esse relançamento dificilmente mudará o cenário atual. Fora os Beatles, há pouca coisa que ainda valha a pena pagar para ouvir -e isso é culpa da própria indústria pop, que está demasiadamente nivelada por baixo.

4 de setembro de 2009

Meio de Temporada.

Hoje pela manhã estava me desfazendo da janta e lendo o jornal. De praxe havia a coluna do Reginaldo Leme. Leme foi pivô de um assunto polêmico comentado mundialmente por seus companheiros seguidores do esporte motorizado, fica portanto desnecessário repeti-lo, até porque não é disso que eu vim falar.

Enquanto Reginaldo estava falando em sua coluna da apreensão e alegria que existe em dar o furo, pensei em reescrever o panorama da Fórmula 1 feito no começo da temporada. Quando o Rubinho venceu o GP da Europa eu só vi as voltas finais da corrida, mal podendo considerar essa a segunda corrida que vi no ano. Mas depois de uma vitória brasileira confesso ter me empolgado para assistir a corrida de Spa-Francochamps. Foi realmente engraçado, porque foi a segunda largada que vi na F1 2009 e a segunda vez que o carro do Rubens não saiu do lugar. Pelo que sei das outras corridas meu aproveitamento em ver largadas falhas de Barrichello está em 66%.

Mantenho meu discurso: O melhor carro será campeão. As montadoras que disputam o campeonato são, como sempre, Mercedes, Renault e Ferrari. É bem verdade que as duas primeiras estão representadas por Brawn e RBR respectivamente, mas não deixa de ser igual aos anos anteriores.

Por outro lado, se agora me perguntassem qual piloto terá maiores chances de ser campeão entre os quatro primeiros colocados (Button, Barrichello, Vettel e Webber) diria que tudo vai depender mesmo é da sorte de cada um. Ainda assim, vale lembrar que Button e Vettel usaram um motor a mais que seus companheiros de equipe. Com um número limitado de motores para a temporada, essa pode ser uma grande diferença de performance, especialmente nas últimas duas etapas. Portanto, como em todo esporte que não tem mata-mata, ganha quem for mais regular.

Meu destaque final vai para meu companheiro blogueiro de aventuras Igor, que disse a única verdade definitiva da Fórmula 1: “Ross Brawn é o Eric Clapton da F-1”, e também para a ótima piada que fiz do Reginaldo Leme. Um abraço para todos os jornalistas que, assim como ele, sabem como é difícil dar o furo, mas gratificante e recompensador.
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