31 de agosto de 2010

Filmes que assisti recentemente

Sinceramente não vi nenhum filme fodelão por aí, mas aparecem de vez em quando algumas boas surpresas e filmes melhores do que se pode espera deles. Por outro lado existem outros que entram em cartaz com um estardalhaço e não consigo entender o motivo. Eis alguns:

Juventude em Revolta - Um filme com Steve Buscemi, Ray Liotta, Zach Galifianakis e Michael Cera no papel principal. Acho que Michael Cera interpreta Michael Cera nos filmes. Os personagens dele sempre são muito parecidos e ele não deve ser muito diferente na vida real, mas o filme parece se aproveitar dessa visão que muita gente deve ter dele quando Cera interpreta também o alter ego do personagem principal na ajuda necessária que o adolescente Nick Twisp precisa para ficar com a menina que ele quer. Engraçado.

Invictus - Um filme do Clint Eastwood não necessariamente é um excelente filme, mas sempre se espera alguma coisa. Para Invictus não esperava muito e acabei vendo um filme bom. Quando fazem um filme sobre os aspectos mais nobres e enriquecedores do esporte (e existem muitos filmes assim) alguns conseguem passar mensagens interessantes. Na minha opinião o cinema não é feito para construir discurso, é feito para entreter. Invictus consegue entreter e deixar claro um ponto da história sem forçar esse caráter, digamos político, de alguns filmes. E isso já vale de alguma coisa. Ainda sobre Mandela, Luta Pela Liberdade, com Joseph Fiennes também vale uma sessão.

9 - Não, não o musical. Esse é uma animação sobre um mundo pós-apocalíptico onde todos os homens morreram vítimas da guerra contra máquinas e os únicos "sobreviventes" são bonecos que um cientista criou e deu vida. Nada de extraordinário, mas boa concorrência para os filmes que passam na TV ultimamente.

Onde Vivem os Monstros - Não gostei do filme. Não achei nada sensacional e ele demora para engrenar. Foi difícil prender minha atenção nos primeiros 20 minutos de filme e se um filme não consegue fazer isso logo no começo aquele menino pode tomar três tiros na cabeça, virar um zumbi ou aprontar várias confusões e isso simplesmente não vai conseguir trazer minha atenção de volta. Tudo bem, é um filme do Spike Jonze e o cara é um gênio, mas vamos com calma. Vou assistir de novo só para ter certeza.

O Desinformante - Que filme engraçado! Acho que como eu não tinha lido nenhuma sinopse ou resenha sobre o filme ou conhecesse a história, tive uma ideia diferente do que seria o filme e à medida que as coisas vão se revelando a trama fica mais engraçada e com bons diálogos, muito devido ao ótimo trabalho de Matt Damon. Outro bom filme de Steven Soderbergh.

Kick Ass - De novo nada de sensacional. As ações de promoção dos quadrinhos e do filme foram muito bem feitas, mas o filme não é nada disso que os críticos escreveram. Um filme legal pra assistir enquanto o tempo passa, e só. O cinema vive uma fase muito boa de adaptação. Adaptação das HQs para o cinema, dos video-games para o cinema, do cinema para os video-games e por aí vai. Isso é bom. Da mistura de elementos narrativos e gráficos surgem bons filmes, mas por enquanto isso é mais excessão que regra, e Kick-Ass segue a regra, e Scott Pilgrim provavelmente também seguirá.

Defendor - Essa história de herói que não tem poderes todo mundo conhece desde o Batman. Mas entre Kick-Ass e Defendor, gostei mais do segundo. Woody Harrelson interpreta um cara que beira a barreira do autismo e, para vingar sua mãe, se torna um vigilante atrás dos responsáveis pela morte dela. A infantilidade, ingenuidade e (depois de certo ponto) burrice do personagem cria a empatia que Kick-Ass não consegue ter. Woody Harrelson é um cara engraçado que mandou bem nesse filme.

A época dos filmes "grandes" está chegando e de novo não vi nada de muito interessante, mas com cinema nunca existe certeza.

26 de agosto de 2010

Os 9 melhores covers

Estamos sempre pensando em fazer coisas diferentes no blog. Abranger mais ideias para explorar a verve. A última eu sagazmente roubei, me antecipando ao escrever e dando o pelé no meu amigo. A sacada seria fazer listas sobre vários assuntos, e começar pela lista dos melhores covers da música para a estreia da tag Alta Fidelidade (nome sub judice). Então aí vai, lembrando que "a função social de uma lista não é sua capacidade de emitir supostas premissas ou verdades, mas de causar confusão. Quanto mais pessoas discutirem e contestarem seu resultado em uma mesa de bar, melhor.

9 - Um clássico das listas que merece a nona posição só para não dizer que esqueci: Take on me do A-ha com o toque ska de Reel Big Fish. Quem preferir pode optar também pela versão literal do clipe.

8 - Briga conhecida, o Foo Fighters gravou uma versão de Darling Nikki, do Prince, sem sua autorização. Alguns vídeos feitos por fãs de shows em que o Foo Fighters tocou a música tiveram seu áudio retirado por falta da licença. Depois no MTV VMA os Foos tocaram com Cee-lo do Gnarls Barkley essa música e tudo ficou na boa quando Prince tocou na final do Superbowl sua versão de Best of You (que ficou fora da lista, mas pode ser encontrado no Youtube se você tiver curiosidade)

7 - Em sétimo lugar está a versão ska russa da música tema de 007 com a performance de Leningrad. Acho que vocês lembram da original, e para mais informações sobre essa banda: Bem... ela acabou, mas deixou um legado de músicas com palavrões pra c*ralho. Quem sabe russo entende o que estou falando.

6 - Blind Guardian é uma banda de metal alemã. Seu trabalho mais conhecido é Nightfall in Middle-Earth, um álbum sobre os contos do Silmarillion de J.R.R. Tolkien. Mas eles também lançaram um CD cheio de covers e uma delas é Spread Your Wings do Queen. E a versão do Blind Guardian.

5 - De novo com uma trilha de filme e de novo com o ska, mas dessa vez são os japoneses fazendo a versão d'O Poderoso Chefão. Quem quiser saber mais pode ir no google e procurar por Tokyo Ska Paradise Orchestra

4 - Como eu disse, o Blind Guardian lançou um CD (The Forgotten Tales) com muitas covers. A quarta melhor cover dessa lista é Barbara Ann emendado com Long Tall Sally. Versão por versão, a do Beach Boys é mais autêntica (rá). Valeu a tentativa em juntar as duas. Só para garantir, as versões de Beach Boys e Little Richard, e a original de Barbara Ann do Regents

3 - A terceira posição sintetiza o que deveria ser o cover: uma tentativa de repaginar e melhorar a música, exatamente como faz o All-American Rejects com Womanizer, de Britney Spears. Ouvir a música do primeiro link e tirar o áudio do segundo para ver o clipe é a melhor opção.

2 - Dave Ghrol também já fez uma porrada de covers, e quem quiser pode procurar no Youtube e achar a grande maioria deles. Mas essa vale o segundo lugar pela música e pela história. Band on the Run do Wings é uma ótima música, mas a guitarra mais pesada deixa ela melhor. Dave é fã declarado de alguns grandes músicos. Paul Mccartney está na lista e os dois já fizeram shows juntos, inclusive no Grammy de 2009, quando Ghrol falou para Paul sobre o novo projeto paralelo Them Croocked Vultures. O ex-beatle tentou se convidar para o baixo e recebeu a negativa de Dave que disse já contar com John Paul Jones para o cargo. Na lista de Dave Ghrol os Beatles estão atrás do Led Zeppelin.

1 - Para fechar vou só deixar o link da cover. Até a próxima.

¹Nishikiori, Igor, 10 razões para não acreditar em listas, 19/10/2009 em Barbitúrico com Fanta

15 de agosto de 2010

Muito para o Twitter.

Algumas linhas rápidas sobre:

Copa do Mundo.

Precisamos criar um adjetivo digno para a cartolagem do futebol. Já estou pesquisando no Dicionário Brasileiro de Insultos. Ricardo Teixeira precisa morrer sem herdeiros para a CBF tomar jeito. Já é tarde. Ele tem uma filha. Ela faz parte do Comitê Organizador da Copa.

Cartolagem.

Pelos lados do São Paulo a diretoria está mandando mal. Disse que mandou o Ricardo Gomes embora por apelo da torcida. Ninguém da diretoria teve colhão de falar que também queria isso. Também não acertaram com um novo técnico, provavelmente porque não querem colocar ninguém na fogueira das próximas rodadas (incluindo clássico com Corinthians). Mas para afastar Dagoberto do elenco não se ouve a torcida, que seguramente prefere que ele fique.

Clássico.

Belluzzo disse que o verdadeiro clássico é Corinthians x Palmeiras. “São os dois grandes clubes de São Paulo”. O Palmeiras colocou o técnico que a diretoria do São Paulo queria: Não o Felipão, mas o tipo de técnico que chega pra torcida e fala “Não vamos disputar título, não temos time, vamos tentar a classificação na Libertadores” e a torcida responde “Tudo bem”. Muito bom, por sinal, o Belluzzo não considerar o São Paulo como grande. Fala o presidente de um clube que arrendou seu estádio e depende de torcedor ricaço para contratar jogador. Essa do Valdivia só não é pior que a do Marcelinho Carioca. Existe otário para tudo.

Debate.

Violência? Polícia na rua! Saúde? Construção de hospitais! Educação? Mais escolas e mais tempo em sala de aula! Acrescente a essas repostas alguns números e entreguem para o Sr. Alckmin, que segue esse discurso há 20 anos e ainda assim não o sabe de cor. Aliás, andam reclamando que os candidatos do PT relacionam suas campanhas ao governo Lula, mas e o Alckmin falando do Covas? Deixa o cara enterrado lá que está muito bem.

Eleição.

As pessoas acham que a eleição aqui pode ser igual a dos Estados Unidos, onde a internet desempenhará papel importantíssimo. Ninguém sacou que lá funcionou porque o voto não é obrigatório, e o jovem que provavelmente ficaria em casa coçando no dia da votação passou a acompanhar pela internet a agenda política e um pouco da privacidade do Obama, e no fim votou nele. Aqui o voto é obrigatório e tais ferramentas são usadas para debater sobre: Vanusa, Dona Delma e Butequis negads. As pessoas podem até se informar, mas é muito mais legal seguir a maré e chamar Dunga de burro.

Humor.

O papel dele na TV conseguiu atrair a atenção de jovens para assuntos como política e direitos. Mas que dureza é aguentar as outras 2 horas de programa enquanto esses dois quadros não estão no ar. Aliás esse é um bom debate: Pode ridicularizar o povão mas figuras públicas não? Acho que na TV quem quiser se expor ao ridículo deve ter seu desejo atendido. Da vagabunda de micro-biquini na praia ao playboy bêbado na balada, atores, atrizes, de terno e óculos escuro, pintado de prata ou com autismo e boa memória para novelas, se está lá é porque quer, e tem todo o direito de (e merece) ser esculhambado. Com o político não é diferente. Vamos dar a cara para bater.

Blog.

Parabéns para este blog. 3 anos. Neste ano talvez publiquemos mais textos que os outros dois juntos. A demanda é muito grande. O número de acessos aumentou. O Barbitúrico Com Fanta foi acessado também de Portugal, França, Estados Unidos, Argentina, México, Espanha, Canadá, Indonésia, Japão, Irlanda, Malásia e Rússia (obrigado, Google Analytics).
Isso só significa uma coisa: As pessoas acham que vendemos drogas nesse blog. Você não vai achar alucinógenos aqui. Pela última vez, parem de procurar no google sobre ácido. O nome do blog é uma piada e você não devia sair clicando em tudo que vê pela internet. Falando nisso: fotos da Playboy da Cléo Pires aqui.

12 de agosto de 2010

(Quase) Ninguém gosta de mau humor

Das séries "Por que eu não faço stand-up?", "Acho que é por isso!" "Violência gratuita" e evidentemente da série "Promoção de cerveja gratuita".

9 de agosto de 2010

Obrigado, Dr. Herring

Eu sou da seguinte opinião: Algumas palavras se traduzem. Outras não. Quando estamos falando de música, usamos termos como “hype” e pirataria. Não há significado direto para “hype”. Por dedução deveria ser traduzido como “modinha”, mas o termo é tão pejorativo que o usamos em inglês mesmo. Já a pirataria pode significar tanto a reprodução ilegal de direito autoral como a pilhagem em alto mar. Coincidentemente o termo em inglês também é melhor aplicado: O “bootleg”, contrabando, ou aquilo que os piratas fazem.

Todo esse primeiro parágrafo se resume em uma banda: The Decemberists. Banda americana com um som classificado como “indie rock” (apesar de eu achar que esses termos mal servem de parâmetro) e que não é (ou está) “hype”. Por conta disso, talvez, o único contato que tive com a banda foi por conta da pirataria.

Quando meu amigo escreveu “saber que a discografia de tal banda já é praticamente obrigatória para quem curte uma boa música – e ainda compra CD, que nem eu” fiquei pensando nos Decemberists em particular. Não ouso dizer que seja som obrigatório para quem curte boa música, porque o termo “boa música” é relativo e pessoal, e “boa música” pode variar da orquestra ao axé, e ainda assim não veremos muitas pessoas que ouçam uma sinfonia e nem críticos musicais que respeitem o axé como movimento da cultura popular brasileira.

Não se fala muito em Decemberists, também, porque eles não tem álbuns lançados no Brasil. Quem quiser conhecer pode apelar para o bootleg (nos dois termos em que se aplica o termo) ou desembolsar R$85,00 em um dos CD's. Ao escolher a primeira opção descobri uma banda muito diferente da cena atual do rock.

Seu vocalista e compositor, Colin Meloy, prefere escrever músicas discretivas. Histórias sobre piratas, prostitutas, soldados, limpadores de chaminés e uma infinidade de universos que não se ouve nas letras introspectivas convencionais. Faz ainda uso de um vocabulário extenso em um inglês de expressões arcaicas que deixaria muitos tradutores desempregados. Fazem parte da formação atual da banda também Chris Funk (violão, bandolim, violino e uma variedade de outros instrumentos de corda), Jenny Conlee (acordeom, órgão, teclado, melódica), John Moen (bateria) e Nate Query (contrabaixo e baixo elétrico). Nos perfis sociais da banda a informação é que o grupo original se conheceu numa casa de banho turco e que eles viajam exclusivamente nos balões dirigíveis do Dr. Herring Brand, prova final da excentricidade.

O primeiro álbum Castaways and Cutouts, lançado em 2002, tem ótimas músicas e um ritmo variado entre baladas e temas mais obscuros, além da “sea shanty” A Cautionary Song (Outro termo sem tradução. Músicas de alto-mar, sobre a vida no barco, tema muito cantado no “Pirate Rock”. Como eu disse, os termos mal servem de parâmetro na música. É muito mais um indicativo étnico, como por exemplo o “Punk Rock Cigano” do Gogol Bordello ou o “Celtic Punk” do Flogging Molly). Enfim, em 2003 foi lançado Her Majesty, mais pop, menos experimental, foge um pouco da própria essência que se espera da banda, apesar da primeira faixa. Em 2005 lançou Picaresque, definitivamente o álbum mais bem trabalhado da banda até então, e no ano seguinte The Crane Wife, com a música-título baseada em uma antiga lenda japonesa e ainda When the War Came, sobre o cerco a Leningrado na Segunda Guerra Mundial e The Perfect Crime #2 com sua pegada Burt Bacharach "What the world needs now".

Em 2009 lançaram The Hazards of Love, um ópera rock (muito bem feito, por sinal) que conta a história de Margaret, uma mulher que se apaixona por William, um homem que se transforma em criatura. A mãe de William tenta impedir a união dos dois e conta com a ajuda de Rake (um libertino). Seja qual for a história, esta é uma composição incrível que vinga o nome “ópera”. Cada personagem e cada tom dramático da história tem seu leitmotif entoado sempre que a história reencontra seus elementos. É um CD com boas músicas que ficam ainda melhores quando o ouvimos por inteiro. Mesmo que em Hazards of Love a banda não explore toda sua diversificação instrumental, o propósito do álbum em contar a história se mantém e mantém a atenção de quem ouvir.

Como eu disse, não é uma banda “hype” e não posso dizer que quem sabe de música devia ouvi-la, mas com a discografia que a banda tem é possível afirmar que de composição e teoria musical a banda entende. The Decemberists parece não ter a pretensão de ser aclamada por público e crítica, nem ser mais ou menos comerciável. Seguem os ímpetos e ideias que surgem de seu vocalista e sem compromisso vão desenvolvendo projetos. É uma fórmula boa para seguir, mesmo que não seja a mesma do reconhecimento.

6 de agosto de 2010

Sorry Periferia

Essa história de discos que vazam na internet já é tão manjada que é até de se desconfiar se não haveria alguma malandragem por trás disso, principalmente se atentarmos ao fato de que estamos falando do The Suburbs, o mais novo trabalho do Arcade Fire. Sabendo que a discografia dos caras já é praticamente obrigatória para quem curte uma boa música – e ainda compra CD, que nem eu – a expectativa do público com o novo álbum não poderia ser desprezada. E já que uma hora ou outra ele iria cair na internet, por que não fazer logo o trabalho sujo e manter o hype nas alturas até o lançamento oficial, que aconteceu nesta semana?

O fato é que desde o aclamado disco de estreia, Funeral, o Arcade Fire já é figurinha carimbada entre as grandes bandas atuais, e não é por menos. Seu som é tão diverso quanto difícil de explicar para mentes sãs. Qualquer tentativa de enquadrá-los em qualquer rótulo musical soa como um mero discurso vazio de sentido.

E não ajuda muito o fato dos caras terem o bom costume de conseguir se reinventar a cada  lançamento, como é novamente o caso de The Suburbs. Quer dizer, o tom melancólico das canções e o som caótico da banda, com uma infinidade de instrumentos diferentes completando a harmonia, continuam lá, mas a questão são as novas abordagens disponíveis. Assim como aconteceu com Ok Computer, do Radiohead, eles jogaram fora o modelo dos discos anteriores e embarcaram numa nova onda. Neste caso, a onda escolhida parece ter sido a música dos anos 80.

Não dá para negar que os caras sempre tiveram um pé no pós-punk, mas agora o negócio ficou mais insano. Na faixa-título que abre o álbum, “The Suburbs”, o vocalista Win Butler manda um falsete no melhor estilo Neil Young, enquanto que a balada “Modern Man” tem uma melancolia fingida que lembra muito o som do The Cure. Mais exemplos: “Half Light II (No Celebration)” tem uma pegada à la U2, a rockzinha “Month of May” parece Billy Idol, “We Used to Wait” é obviamente inspirado em Depeche Mode e “Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)”, embalado pela voz de Régine Chassagne, tem um som dançante que lembra Blondie na sua fase new wave.

Mas o álbum vai muito além das referências. “Ready to Start”, cujo começo parece “Keep the Car Running”, do Neon Bible, mostra que na essência o do som dos caras continua afiadíssimo e deveras intrigante. Mas a grande faixa é mesmo “Suburban War”, que começa lenta, com um belo e hipnótico riff, até que subitamente muda de ritmo, dá uma quebrada, volta para o começo, começa a ganhar velocidade e termina de maneira apoteótica com um coral no fundo.

A real é que para analisar os álbuns do Arcade Fire é preciso entendê-lo como um todo e não música por música, como normalmente se faz por aí. É como se fosse um filme ou um livro com começo, meio e fim, em que cada capítulo faz sentido no entendimento da trama. O próprio baterista Jeremy Gara disse isso em uma entrevista à Folha. "Há vários sons diferentes no disco. Cada canção funciona por si própria, mas nos preocupamos com o sentimento gerado pelo disco como um todo", afirmou.

Em casos como esses, o importante é não só como as músicas se relacionam entre si, mas como elas se encaixam para formar uma obra completa e lógica, como se a simples alteração na sequência das faixas já mudasse toda a essência do álbum. E The Suburbs consegue cumprir essa missão com maestria, tornando-se um disco para ouvir do começo ao fim e sem shuffle.

Na verdade, por alguma razão, a impressão que passa é que The Suburbs é o mais fácil de ouvir do Arcade Fire. Ele não tem o clima sombrio dos álbuns anteriores nem músicas tão bem trabalhadas, mas as canções estão mais rápidas e suaves. Além disso, as cinco primeiras faixas engatam rápido, sem quebra de ritmo, tal qual no Funeral. Aparentemente, The Suburbs é o melhor álbum para quem quer começar a ouvir Arcade Fire. Para quem já é fã, pode-se dizer que é um dos melhores deles, mas só porque eu curto a música dos anos 80.
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