28 de dezembro de 2009

Mapa astral

2009 foi o ano da morte do Michael Jackson, do Patrick Swayze e do Lombardi, da posse de Barack Obama, da gripe suína, dos escândalos no Senado, do mensalão do DEM, do fracasso da COP-15, da escolha do Rio como sede das Olimpíadas e de uma porrada de outras coisas que passaram reto pelo BcF. Mas nem tudo foi desinformação e inutilidade, pois em 25 textos (um recorde pessoal) tratamos de coisas bem interessantes (ou tentativas de) ao longo do ano.

Como estamos no Brasil, 2009 começou, no blog, só em fevereiro. E começou nervoso, com uma peleja insana envolvendo a divisão de ingressos entre times do Paulistinha. Opiniões parciais e argumentos enviesados esquentaram o pseudo-debate, como numa boa mesa redonda da televisão. Logo em seguida, rolou um texto que colocou no mesmo ringue Marcelo Camelo e Little Joy, mas que acabou em empate técnico graças ao meu relativismo cultural pós-kantiano.

Em março, em tom solene e piegas, saiu do forno uma homenagem tardia aos quatro anos de morte de Hunter Thompson – pessoa que é uma espécie de guru deste blog – com direito a considerações do jornalista André Pugliesi nos comentários. Falando no figura, surgiu depois a resenha de uma partida qualquer do Paulistinha que não valia nada e que ficou muito pior que as narrações empolgantes e acuradas do Jornalista de Merda. Em seguida, uma análise inicial sobre a temporada de F-1 apontou, com o dedo em riste, que essa história de nova F-1 que anunciam todo ano não passa de pura patifaria. Essa opinião seria complementada num texto posterior.

Em abril, foi postada uma crônica sobre o ócio que teve como ponto alto a citação de um livro de Lourenço Mutarelli. No mesmíssimo mês, apareceu uma corajosa resenha sobre o mítico CD do Ronaldo e os Impedidos, que foi massacrado pela crítica especializada e por mim também. E emendando o assunto, largaram por aqui um texto sobre o julgamento do Pirate Bay alinhada com uma trivial crítica à indústria fonográfica, dando corda à velha história que nunca termina.

Prova disso é que, em maio, um post que não era um post serviu para complementar o papo anterior sobre as gravadoras com um desenho do tinhoso no clássico estilão "soviet way of life". E mudando totalmente de assunto, repousou-se aqui uma peça acusadora sobre a novela da saída dos times mexicanos da Taça Libertadores da América de 2009, colocando todo o carma negativo nas costas da Conmebol. E para terminar o mês, uma resenha do álbum de estreia do Fleet Foxes, mais uma dessas boas bandas que surgem por aí de vez em quando.

Depois disso, o blog entrou em recesso e só voltou em agosto, com um texto ao estilo Seinfeld, sobre o nada. E ficou por isso mesmo.

No nono mês do ano, a pauta sobre F-1 ressurgiu em uma análise de meio de temporada com direito a uma abertura no melhor estilo kafkiano de escrever: "Hoje pela manhã, estava me desfazendo da janta e lendo o jornal". Depois, uma resenha da tão alardeada remasterização do catálogo dos Beatles, cheia de especulações e falsas certezas.

Em outubro, sobrevoou por aqui um estudo sobre a nova geração das animações em 3-D, tendo como pano de fundo o filme "Up! - Altas Aventuras". Depois, no melhor estilo David Letterman, mostramos as dez razões para não acreditar em listas. E ainda sapecaram um relato emocionante sobre os medos e delírios na Oktoberfest 2009, na qual estive de corpo presente e mentalmente nem tanto.

Em novembro, uma opinião polêmica sobre jogos adventures dividiu o blog. As divergências foram levadas às últimas consequências com um texto que atravessou os confins da web 2.0: começou no Twitter, continuou no Orkut e terminou aqui, sem vencedores ou perdedores. Depois de a paz ser selada em um bar, voltamos ao ritmo normal com uma análise fria, porém sincera, sobre as causas do São Paulo não ter sido campeão brasileiro este ano.

Por fim, em dezembro, um texto que mistura filosofia de banheiro, gatos tocando piano, duas garotas e um copo e Kevin Smith. E para finalizar, mais uma resenha de álbuns, desta vez da estranhíssima Susan Boyle, que fez uns covers à la Emmerson Nogueira só que ao estilo Andrea Bocelli. E tem também esta retrospectiva que você está lendo agora.

É isso aí, moçada. 2009 já era, agora só em 2010.

15 de dezembro de 2009

O retrato de Susan Boyle

Acho que todo mundo sabe quem é Susan Boyle: aquela mulher feia e gorda que ficou famosa por ser feia e gorda mas ter uma baita voz. Pois bem, esse fait-diver ambulante recentemente lançou um CD, fato que foi noticiado com estardalhaço no mundo inteiro, mas que, aparentemente, poucos se prestaram a ouvi-lo, já que não lembro de ter lido de relance nenhuma análise séria por aí.

Então resolvi dar uma chance para Susan e conferir qual é a desse álbum. E a maior surpresa é que ele não chega a ser ruim e isso já é bastante coisa. A verdade é que ninguém (eu, pelo menos) esperava muito dela. Mas ela resolveu mirar para o pop, com covers de Rolling Stones ("Wild Horses"), Madonna ("You'll See") e The Monkees ("Daydream Believer") para atingir as massas ignárias e aculturadas que vivem em seu mundinho pós-YouTube (mas lógico que isso é pura especulação).

A grande verdade é que o disco não traz qualquer diferencial a não ser o tal fenômeno Susan Boyle. Todas as músicas seguem aquele estilão clássico modernoso, mas sem muita personalidade. O problema é que, embora Susan cante muito bem e todas as faixas sejam impecavelmente bem produzidas, na minha opinião faltou ousar mais, mostrar um estilo próprio – o que talvez ela não tenha ainda, já que se iniciou deveras amadurecida para a música. Não há qualquer alteração na melodia da voz, no estilo ou coisa assim – a única excessão é o jazz Cry Me a River, mas que ainda não bate a versão de Ella Fritzgerald. A impressão que fica é que "I Dreamed a Dream" é um álbum conservador para um público muito conservador.

Isso fica claro quando se compara as versões originais com as boyledianas. A interpretação do supracitado "Wild Horses", por exemplo, faixa que abre o CD, é interessante porque lembra pouco a do Mick Jagger e parece ter um toque mais pessoal (em entrevista, ela falou que se identificava muito com essa música). Mas, no restante, falhou-se enormemente neste sentido. O "You'll See" da Susan é quase o mesmo da Maddona – muito mais apoteótico, é verdade, mas em termos de ritmo e estilo são muito semelhantes. Ora bolas, isso até o Emerson Nogueira faz. Todo mundo sabe que o que torna uma versão cover legal é exatamente quando o artista dá uma cara pessoal à música homenageada, como faz o Me First and The Gimme Gimmes.

Mas é preciso reconhecer que o disco tem as suas qualidades. Como disse antes, a produção é bem feita e Susan tem talento. Portanto, não tem muito segredo: o produtor só precisa seguir o script e jogar com o regulamento debaixo do braço, sem precisar fazer grandes revoluções na mesa de som. Os arranjos, mesmo os feitos só pelo piano, são muito bons. Quando outros instrumentos se unem, o resultado fica quase cartático.

Para o bem ou para o mal, esse álbum de estreia mostrou a verdadeira face de Susan Boyle. Ela canta bem e de forma natural, mas seu estilo é cru. É óbvio que a gravadora quis lançá-la o quanto antes no mercado (ao invés de esperar ela se aperfeiçoar nesse aspecto) para aproveitar o máximo do fenômeno em torno de sua imagem – e, de quebra, descolar uma boa publicidade viral no vasco. Mas ele não deixa de ser uma boa opção de presente para o amigo secreto no Natal, ao lado de um disco do Roberto Carlos.

Diva?

Apesar de ter vendido bem, algo em torno de 700 mil cópias em uma semana,  a recepção dos críticos foi bem fria. A impressão que deu é que o pessoal considerou o álbum como mais uma desssas farsas da indústria fonográfica, do tipo Mallu Magalhães ou Lilly Allen, só que estas foram abraçadas pela mídia especializada. Não que Susan não seja uma farsa, mas tudo isso ajuda a mostrar qual é a real da música pop.

O fato é que em tempos de Auto-Tune saber cantar ou ter um mínimo de talento musical é um detalhe (Lady Gaga que o diga). Com algumas exceções, o que se dissemina no mundo pop é uma imagem estilosa, uma atitude de porralouquice e uma jovialidade rebelde de James Dean. Já Susan não passa de uma caipira de meia idade do interior da Escócia cujo único aditivo deve ser uma xícara de chá com leite.

Por isso, acho quase impossível que ela consiga uma carreira musical sólida. No futuro, será mais fácil lembrá-la pelo viral da internet do que pela sua música, como aconteceu com o Rick Astley. Pra piorar, é natural que o hype em torno desses fenômenos midiáticos descresça com o tempo (a exceção talvez seja o vídeo do Batima, que ainda me proporciona alguma alegria adolescente). Então, não foi desta vez que a cultura pop ganhou mais um símbolo da resistência dos feios. E isso tanto por defeitos próprios quanto por estar muito fora do tal padrão.

Ouça aqui.

13 de dezembro de 2009

O embosteamento crítico (crítico no sentido do pensamento, e não da urgência)

Ganhei uma assinatura da Veja. A lei dos bons costumes diz que não se deve reclamar das coisas que você ganha no vasco. Fazia muito tempo que não lia uma Veja. Ainda me surpreendo como eles conseguem arranjar conteúdo (ou não) para encher tantas páginas, e ainda por cima misturar com muito mais páginas de publicidade (uns 75% da revista). Mas de graça é de graça. Fui dar uma cagada e levei a revista comigo. Cagar é um momento de reflexão, nunca deve ser encarado como uma simples necessidade natural, e enquanto lia a Veja estava mais interessado nos meus próprios pensamentos do que estava interessado em ler.

Entre um movimento intestinal e outro apareciam umas matérias engraçadas. Não digo engraçadas em um sentido cômico. Engraçadas porque eu não imagino que uma revista que se leva a sério como a Veja pode publicar matérias desse naipe. Uma delas era sobre gatos e sobre o apelo kitsch dos gatos, que fazem deles um bicho popular. Eu particularmente acho gato um bicho meio filho da puta, talvez por isso eu tenha algum respeito por eles. A matéria queria explicar porque gatos fazem sucesso na internet e porque pessoas gostam de gatos. Eu me contento mais com a minha explicação. Pessoas gostam de gatos porque gostam. O fato do gato tocar piano ou ser "fofo" não faz uma pessoa gostar de gatos, a não ser que o gato aprenda a tocar Mozart para agradar seu dono, algo que eu acho difícil, porque, como diz a matéria, gatos não aprendem truques para agradar os donos.

Enfim... a mulher escreveu na matéria que os gatos ganharam um novo status na sociedade e a prova disso são os vídeos muito acessados na internet, mas o que acontece na verdade é que as pessoas assistem esses vídeos porque, porra, é um gato tocando piano. Se fosse um cachorro, uma calopsita ou um peixe de aquário tocando piano, os acessos iam ser os mesmos, e ninguém ia gostar mais ou menos desses animais por causa disso. O raciocínio é muito simples: As pessoas estão vendo coisas que elas não veem com frequência, coisas que elas nem imaginam com frequência. Pode ser um gato tocando piano ou podem ser duas garotas e um copo. O fato de muitas pessoas assistirem isso não significa que a partir de agora a sociedade dará o devido espaço às pessoas que comem merda. O fato é que, como diz o gênio do cinema, não há motivos para usar a internet se você não usa ela pra olhar as coisas estranhas e grotescas que você não faria.

Aliás, uma coisa muito legal que se pode aprender dos filmes do Kevin Smith é isso: Você pode conversar com seus amigos todo dia, e todo dia a conversa pode começar com um "tudo bem?" pulando para o futebol, pulando para algum assunto aleatório, pulando para a lembrança de alguma coisa fora do normal que aconteceu com vocês no passado e indo finalmente para o "vamos fazer isso de novo daqui a alguns dias" OU você pode falar "outro dia eu estava cagando, lendo a Veja, que por sinal ganhei uma assinatura gratuita mas nunca pagaria para receber na porta da minha casa, e li uma matéria sobre gatos, mas eu não estava prestando atenção direito na matéria, porque na verdade estava pensando em escrever um texto sobre a vez que eu caguei lendo a Veja que ganhei de graça, e aí pensei em várias piadinhas boas de se fazer, e fiz uma referência ao vídeo mais escatológico da internet e ainda consegui citar uma frase de um filme em um contexto pertinente". Ao passo que meu amigo pode responder: "Então, o Flamengo foi campeão esse ano" OU ele pode adotar uma conversa fora do padrão e dizer "Nossa velho, uma vez eu fui cagar, não estava lendo a Veja, mas naquele momento íntimo de reflexão pensei sobre isso que você falou: as pessoas seguem um roteiro para conversar com outras pessoas. Eu sempre quis saber como é ter uma conversa ao estilo Seinfeld". E eu responderia: "Talvez se todas as pessoas no mundo fossem comediantes stand-up isso mudaria. Mas o que falta mesmo é as pessoas serem mais abertas e receptivas para falar e ouvir sobre o que estávamos pensando enquanto cagamos".

29 de novembro de 2009

Onde o São Paulo perdeu o título

Vou só escrever uma coisa rápida, que estive pensando durante as últimas horas.
Na minha opinião o São Paulo perdeu o título no empate com o Grêmio.
Ali perdeu sua única vantagem sobre os outros times: o plantel.
Se você parar para pensar, todo o time entrou em campo achando que aquele jogo contra o Grêmio seria o jogo do campeonato. O sistema defensivo do São Paulo (que vem falhando constantemente, algo curioso para a melhor defesa do campeonato) não deu conta da pressão, exagerou nas faltas e dentro de campo o São Paulo perdeu dois titulares e um bom reserva.
Mas é engraçado pensar. O São Paulo entrou em campo com uma mentalidade de guerrilha contra o único mandante invicto do campeonato, e para sair com um ponto de lá perdeu dois jogadores titulares. Sem eles, perdeu três pontos do segundo pior mandante (Botafogo) e outros três de um time que não disputa mais nada no campeonato (Goiás).
Logo depois deste argumento vem a famosa sigla: STJD.
Se você parar para pensar, o STJD pegou um pouco pesado com Dagoberto e Jean. Não posso falar que o Jean faria muita diferença contra o Botafogo porque não sei como o Ricardo Gomes montaria o time se ele pudesse jogar ou qual alterações faria. Posso dizer que seria um bom jogador a mais, daqueles que não precisam jogar muito bem para em um lance fazer a diferença.
Mas o problema maior mesmo foi no ataque. o Dagoberto era um jogador em boa fase e com certeza fez falta. E para piorar, o substituto direto no ataque do São Paulo também estava suspenso (com razão).
Mas eu realmente acredito que se o Dagoberto tivesse jogado os jogos contra Botafogo e Goiás, a coisa seria diferente.
É aquilo que eu disse, e vou repetir: O São Paulo entrou em campo com uma mentalidade de guerrilha contra o único mandante invicto do campeonato, e para sair com um ponto de lá perdeu dois jogadores titulares. Sem eles perdeu três pontos do segundo pior mandante e outros três de um time que não disputa mais nada no campeonato.
Há um erro em colocar na cabeça do jogador de futebol que, em um campeonato de pontos corridos, exista um jogo importantíssimo de ganhar. Todo jogo vale três pontos e todos os times se enfrentam. A prova disso é o Palmeiras ter liderado quase metade do campeonato e agora ter as mesmas chances de ser campeão que outros dois times: Dependem exclusivamente de uma derrota do Flamengo.
Resumindo. Na tentativa de ganhar na raça, o São Paulo ganhou um ponto e perdeu 6. Agora torce para que aconteça na última rodada o que aconteceu no campeonato inteiro: esperar o líder entregar a taça para outro.

22 de novembro de 2009

Uma discussão muito longa que poderia estar nos comentários do último texto, mas resolveu ficar por aqui para ganhar um título gigante.

Em 19 de novembro de 2009 uma discussão de questionável importância surgiu no twitter, migrou para o orkut e agora ganha versão bloguística. O tema tratado é "seleções classificadas para a Copa de 2010". Este é um episódio triste. Amizades foram desmanchadas por causa dessa discussão, e se você leitor é fraco do coração, sugiro que não leia deste trecho em diante.

*Os fatos relatados estão em ordem de acontecimento, mas também respeitam a linha de raciocínio dos participantes sem delimitar os 140 caracteres impostos pelo Twitter. Assim começa:

@igor03 em 19/10: Quem passa na repescagem pra Copa: França, Portugal, Grécia e Rússia. Pronto, não precisa mais perder tempo assistindo.

@igor03 em 18/11: Da previsão que eu fiz sobre a repescagem europeia da Copa, só errei o da Rússia. Puta merda, justo o da Rússia.


No dia 19/11 começam as brincadeiras e ataques entre os dois ex-amigos. O que vem a seguir é um conteúdo de baixo calão e linguagem explícita onde um responde ao outro as verdades ácidas que corroeram laços de amizade:

@Aoleite: Está na hora de aprender que no futebol não tem essa de "previsão". Tem chute. Tem chute por causa de lances como o de mão da França.

@igor03: Sem dúvidas. Mas, por mim, a França poderia ter ficado de fora da Copa. A Rússia, não.

@Aoleite: Olha cara... Acho que essa obsessão comunista pós-comunismo no esporte não é saudável. Já tem dois países camaradas participando...
Futebol russo é bem ridículo. Eslováquia e Eslovênia podem apresentar um futebol diferente do que estamos acostumados a ver.

@igor03: Ah claro, a Rússia é mto comunista. Se liga, o barato é de outro nível. É independente do sistema econômico, como torcer pro Japão.

@Aoleite: Uma das razões para eu dizer isso é o fato de você ter uma camisa vermelha com os dizeres CCCP. Mas caso não tenha lido minha mensagem: obsessão comunista pós-comunismo. Mas é claro, se você só está triste porque o Arshavin não vai jogar, por favor desconsidere meus comentários

@igor03: Defina "futebol diferente". Albânia deve ter um futebol diferente também. Você viu a Euro-2008? Poucos times me empolgaram tanto quanto aquele esquadrão russo. Mas lógico que nada justifica não ter capacidade de eliminar a Eslovênia. Nem que fosse com mão na bola.

@Aoleite: Diferente é tudo aquilo que você não conhece. Conhece o futebol na Eslovênia? Na Rússia, campeonato nacional, o jogo é bem ruim. Passa na ESPN e tudo mais, e, não sei se você viu, mas a base da seleção joga lá. Você conhece os jogadores. Você sabe que não vai sair muita coisa boa. Pelo seu pensamento Coréia do Norte não merece jogar uma copa e surpreender... é isso? Euro2008 é diferente de Copa2010. Grécia já foi campeã. Rússia pode ter te encantado o que for, mas se até a Grécia já foi campeã e a Rússia não...

Aí o cara que eu pensava conhecer antes deste acontecimento levantou a virtual mesa de bar e quis ganhar a conversa no tapetão:

@igor03: Vou te responder pelo Orkut, pq não quero lotar desnecessariamente minha timeline. Acho que Twitter não foi feito pra isso.

E eu tive a chance de retrucar:

@Aoleite: Agora você quer discutir a utilidade do Twitter... Meu Deus, que argumentação ridícula é esta?!

As contas do Orkut se abriram, e assim continuou a discussão:


Igor:
1) Não defendo um comunismo ao estilo soviético. Aliás, nem defendo o comunismo em si. Você está querendo me atingir para deslegitimar meu discurso.
2) Na sua defesa por um futebol diferente, poderíamos tirar a Inglaterra, que tem um estilo mais consagrado, e colocar a Tailândia que ninguém sabe do que são capazes.
3) Duvido muito que Coreia do Norte (um país comunista) faça algo surpreendente nesta Copa. Coreia do Sul foi um caso a parte em 2002, pois jogava em casa, foi beneficiado pelo arbitragem e tinha um baita técnico (aliás, o mesmo que treina a Rússia).
4) Euro2008?Copa2010. Aceito essa condição. Mas, não totalmente. Senão, por que todos põe a Espanha como favorita? No máximo, ela vai ganhar dos europeus. E a Rússia fez uma boa campanha nas eliminatórias.
5) Não sou ninguém para dizer a utilidade do Twitter. Vou deixar isso pra quem analisa a imprensa no Irã, o que não é meu forte.

Andre:
1) Com certeza quero deslegitimar seu discurso. Não tem graça entrar na discussão se você não vai
a) Mudar a opinião da pessoa e/ou
b) Fazer ela passar por idiota ou coisa parecida
2) Por favor não leve todas as palavras ao pé da letra sem interpretação do conteúdo da discussão. O Futebol da Inglaterra é igual, mas como você disse, é um futebol consagrado. O que estou implicando em minha tese é que o futebol russo é ruim a tal ponto (na minha opinião, é claro) que me estimula a ver até um estilo de jogo que eu não conheça, mesmo que depois, ironicamente, eu descubra que o futebol tailandês não tenha nada de diferente do azerbaidjano
3) Você pode duvidar, mas como eu disse anteriormente (e inclusive foi o ponto inicial dessa discussão) o futebol não se prevê. As chances são mínimas para a Coréia do Norte, sim. Mas só descobriremos o quão longe ela vai chegar no meio do ano que vem.
4) Espanha é favorita por ter sido campeã da Euro e por apresentar um bom futebol. A Rússia jogou uma boa Euro, não foi campeã e foi tão bem nas eliminatórias que teve que disputar a repescagem.
5) Vou concordar em discordar.

Meu agora adversário usou uma língua morta (o que em si já é um golpe baixo nas leis não-escritas da argumentação) para confundir meu raciocínio. Tive que usar o google para entender o que ele quis dizer. Retomemos:

Igor:
1) O problema de usar o argumentum ad hominem é que ela não deslegitima o discurso, só a pessoa, e, por isso, não muda a opinião de ninguém.
2)O que me faz pensar que a seleção russa tinha potencial pra surpreender na Copa é justamente isso. Ninguém realmente espera muita coisa deles. O grande diferencial realmente é o técnico Gus Hiddink.
3) Porra, no Twitter eu concordei que não existe essa coisa de previsão. Senão, eu tava feito na Lotogol. Mas, a questão é a seguinte: você diz que a seleção da Rússia é ruim pq os jogadores jogam no péssimo campeonato russo. Mas diz que a Coréia do Norte pode surpreender na Copa. Então, sabendo que a maioria dos jogadores do selecionado jogam lá, o campeonato norte-coreano é melhor que o russo?
4) Tá, mas nem eu esperaria que a Rússia fosse campeã da Copa. Só esperava que batesse uns times (teoricamente) mais fortes que ela. E se ela jogasse como jogou na Euro, ganhava fácil. E quanto às eliminatórias, mesmo para conseguir ir pra repescagem, para a Rússia foi mais tranquilo do que para Portugal e França.
5) Discordar do quê? Que eu não manjo nada de imprensa iraniana?

Andre:
1) Bom, então por favor aplique a opção B que lhe dei em minha resposta anterior.
2) Então vamos torcer para ele assumir a África do Sul no lugar do Parreira.
3) Não digo que a Coréia pode surpreender na Copa. Digo que ela pode ou não pode e eu vou esperar para ver. Com relação à segunda parte do terceiro quesito, não sei se o campeonato coreano é melhor que o Russo. Como a ESPN não passa o campeonato coreano, prefiro que a Coréia vá à Copa para eu saber mais a respeito do que ver a Rússia jogar.
4) Foi mais tranquilo e, ironicamente, Portugal e França estão na Copa e Rússia não. Como diria Muricy Ramalho, futebol é resultado meu filho.
5) Discordar da inclusão do argumento como quebra-gelo para uma discussão outrora séria.

Igor:
1) Não porque a opção B também não funcionou. Só se eu estivesse na época da ditadura, em que comunistas viravam carne moída.
2) Tomara. Aí sim, seremos surpreendidos novamente.
3) Bom, mas Coreia do Norte ou qualquer outro selecionado só poderá ser surpresa se rolar uma expectativa, os tais "chutes". Se em todos os jogos, os comentaristas falarem "olha, o time X é bom, mas o Y pode surpreender", então eles são servem para nada. E outra coisa, se a ESPN não passasse o campeonato russo, você torceira efusivamente para a Rússia contra a Eslovênia?
4) Sim, foi incompetência do time não ter se classificado, nunca neguei isso. Mas a comparação que estávamos fazendo é sobre uma Espanha com chances de ser campeã contra uma Rússia com chance de jogar bem a Copa.
5) Mas foi você quem polemizou com a questão do Twitter. Só disse minha opinião.

Andre:
1) De novo uma questão de ponto de vista.
2) Muito original sua colocação. Vai divertir os macacos de plantão.
3) Comentaristas não servem para nada. Você acompanha futebol? Posso te dizer o que cada comentarista vai falar nos próximos três jogos do campeonato brasileiro de um time da sua escolha e apostar que o que eu vou dizer não vai ficar muito diferente do roteiro do comentarista. E, caso a ESPN não passasse o campeonato russo nem o esloveno, não torceria por A nem B. Parece que você ainda não entendeu meu argumento nesse quesito.
4) Claro, são duas coisas diferentes (sem sarcasmo aqui). Minha opinião é a seguinte. Espanha tem chances de ser campeã (jogando bem ou mal) Rússia tem chances de jogar bem a Copa (ou qualquer outra competição, como a Euro). O único problema é que Rússia não está na Copa, não é mesmo?
5) Muito pelo contrário. Quem polemizou a questão foi o senhor, ao dizer que o twitter não serve para tais fins.
Citação rápida: "Vou te responder pelo Orkut, pq não quero lotar desnecessariamente minha timeline. Acho que Twitter não foi feito pra isso."
Ponto final na questão 5. A culpa é do senhor!

A troca de acusações não saiu barato:

Igor:
1) Se há alguma objeção, argumente sem medo.
2) Ótimo argumento. Sócrates ficaria orgulhoso de tal raciocínio.
3) Tá bom, então no mundo ideal nós deveríamos abolir os comentaristas, assim como os colunistas de jornais, as mesas redondas e dar um brinde à isenção jornalística. O que eu entendi do seu argumento, em linhas gerais, é o seguinte: acho o campeonato russo uma bosta e como a maioria dos jogadores da seleção russa jogam lá, logo a seleção é uma bosta. Por isso, você trocaria facilmente os russos por uma outra seleção qualquer. Estou errado?
4) Sim, mas a discussão começou quando foi dito que uma coisa é jogar a Euro e outra é jogar a Copa. Até a Grécia entrou na história. E eu disse que isso era relativo. Mas uma coisa que você disse é certa, o time atual da Rússia pode jogar bem qualquer competição. Desde que não faça que nem no jogo de volta da repescagem.
5) "Vou te responder pelo Orkut, pq não quero lotar desnecessariamente minha timeline. Ac

Andre:
1) O simples fato de você levar isso a sério já me faz pensar o quanto meu argumento funciona (para mim, é claro)
2) A recíproca é verdadeira.
3) É muito legal como você coloca palavras na minha boca até quando a conversa é digital. Sim, com raras excessões comentaristas vão se abster de dar opiniões próprias e seguir o discurso padrão. Como eu já conheço esse discurso, considero-os dispensáveis. A seleção da Rússia é uma bosta por causa de diversos fatores. Este pode ser um deles. Meu argumento se baseia no simples fato de eu preferir conhecer outras culturas de futebol do que as que eu conheço e não me agradam. Como tudo na vida, é um gosto pessoal. Assim como o seu gosto por futebol russo, que na minha brincadeira (que você começou a levar a sério) se deve à ideologias políticas passadas, tem uma razão única de ser.
4) Então concordamos. Eu também disse ser relativo. Se não me engano, muito da discussão também se deve a isso: O fato de um time poder jogar bem ou não independente de sua força (Na minha opinião o futebol russo é fraco, isso não os proíbe de fazer boas partidas)
5) Se o Twitter não foi feito para twittar (ou, como você diz, "lotar desnecessariamente a timeline") não vejo outros motivos para Twitter existir, ergo minha colocação se mantém apropriada. Opinião pessoal, novamente...

Igor:
1) Falou bem. O argumento funciona pra você e mais ninguém. Ponto final.
2) A recíproca é verdadeira.
3) Ué, mas você disse anteriormente que comentaristas não servem pra nada. Só reforcei a ideia.
O grande imbróglio aqui é o seguinte: você acha que a seleção russa é dispensável porque você supostamente já conhece-a e não gosta dela. OK. Mas eu acho que ela é supostamente boa, principalmente pelo que apresentou na Euro 2008. Sobre aparecer um futebol diferente não é a questão. Ela está sendo usada aqui como um pé de apoio.
4) Exato.
5) Não disse que não foi feito para twittar, mas sim para fazer debates extensos. Aí fica aquela coisa do reply ad eternum, com a timeline lotada de mensagens pela metade, sem falar que não dá pra fazer bons argumentos com 140 caracteres.

Andre:
1) O ponto 1 está encerrado.
2) O ponto 2 está encerrado por repetição.
3) Li o tom de sarcasmo da mensagem e respondi. A questão não é sobre aparecer um futebol diferente, de fato. Mas é um dos argumentos para eu não me importar com a classificação da Eslovênia sobre a Rússia, diferente de você, que esperaria boas apresentações do time.
4) Ok.
5) Concordo com a questão dos 140 caracteres, mas para mim o senhor foi quem fugiu da raia, claramente porque se sente mais inseguro com as respostas instantâneas do twitter que não lhe dão tempo de escrever termos em latim com a paciência que o senhor gostaria.

Estamos perto do fim:

Igor:
1) Ok
2) Ok
3) Ok
4) Ok
5) Não vou responder porque você desferiu um ataque pessoal desnecessário. Se quiser resolver na mão, tamos aí.

Andre:
5) Você quer ditar de novo as regras do jogo. Primeiro não vale Twitter, agora não vale Orkut. Estou pronto para resolver essa parada de todas as formas primitivas possíveis!

Igor:
5) Mostra aí quando eu disse que não vale Orkut. Só não quero me sujeitar a responder ataques pessoais que não entram no caso.

Andre:
5) Na verdade todos os ataques são pessoais partindo do princípio que você está defendendo sua opinião e eu a minha.

Igor (respondendo em sua própria janela de recados):
5) Olha a retórica. Não vou me dar ao trabalho de explicar o termo técnico de ataque pessoal. Muito menos o significado de argumentação.

Andre:
5) Então por favor não explique. Tenho um dicionário aqui ao meu lado e posso consultá-lo quando achar necessário. E sim, já estou respondendo a mensagem que você ainda nem conseguiu mandar para mim!

Aí fomos tomar uma cerveja e a discussão terminou em pizza.

13 de novembro de 2009

Jogos para sempre: Day of the Tentacle




Pode perguntar pra qualquer marmanjo com mais de 20 anos: 9 em cada 10 vão dizer que a melhor geração de videogames foi a dos anos 90. E sem aquele papo ranhento de saudosismo da adolescência. É algo mais factual: a referida década, para os nerds, equivale à geração de Pelé para o futebol brasileiro. Foi o auge do videogame-arte, que não tinha aquele amadorismo do Atari, tampouco o apego doentio à realidade da gen atual. Era tudo feito na base do suor, do amor à camisa e da criatividade dos programadores. Naquela época, o esquema era totalmente diferente: o jogador era obrigado a extrair o máximo de sua massa cinzenta – ao invés usá-lo para ficar admirando a qualidade gráfica do fiapo do vinco da calça do figurante.

Digo isso porque recentemente rejoguei o "Day of The Tentacle", certamente um dos games mais legais da história. Como um bom adventure, gênero praticamente morto nos dias atuais, a mecânica consiste em descobrir pistas durante a jogatina para resolver quebra-cabeças. E para isso não precisava de uma jogabilidade revolucionária (pois era jogado pelo mouse) para divertir, só uma boa e envolvente história já resolvia a parada com maestria.

O jogo começa na mansão-hotel do Dr. Fred, um cientista maluco que despeja lixo tóxico de seu laboratório secreto sem remorso. Até que um tentáculo roxo, que estava hospedado no local junto com seu amigo tentáculo verde, entra em contato com a química e sofre uma mutação genética que lhe dá braços e uma monstruosa inteligência malígna, que pretende usar para dominar o mundo. Dr. Fred, então, captura os dois tentáculos e prepara o procedimento de morte. O verde, que não tinha nada a ver com isso, chama os três personagens principais – o nerd Bernard Bernoulli, o metaleiro Hoagie e a psicótica Laverne – para ajudá-lo. Só que eles acabam soltando também o maléfico e terrorista tentáculo roxo, que sai para botar seu plano em ação.

O que torna o dia do tentáculo diferente de outros excelentes adventures, como "Full Throttle" e "Sam & Max", é a possibilidade de alterar o espaço-tempo de acordo com suas ações históricas. Explicando melhor, para poder deter o tentáculo roxo, Dr. Fred envia os três de volta para o começo do dia para que evitem que o tentáculo roxo se torne um mutante do mal. Só que o processo de transposição temporal dá errado e Hoagie é enviado ao passado, Laverne para o futuro e Bernard volta para o presente. Assim, por exemplo, quando Hoagie altera a bandeira norte-americana para uma em forma de tentáculo, automaticamente, no futuro, elas são trocadas nos mastros das casas. Isso torna a solução de certos quebra-cabeças muito mais desafiante, porque as possibilidade de interação são inúmeras.

O game teve como co-autor Tim Schafer, que também foi responsável pela série "A Ilha dos Macacos", "Full Throttle" e "Grim Fandango". Recentemente, ele trabalhou no game Brütal Legend, que mistura adventure com elementos de ação, estratégia e missões à la GTA. Não sei se é tão bom quanto os outros jogos que ele tem no currículo. Mas o fato é que hoje parece quase impossível criar bons adventures como nos anos 90, quando a LucasArts apostava uma boa grana no gênero. Porém, na virada do milênio, os jogos de tiro para PC começaram a reinar e ficamos só na saudade (dos tempos em que saíam bons adventures).

3 de novembro de 2009

Microrresenhas da Mostra de SP 2

PIXO (PIXO) - 2009 - Brasil
Documentário de João Wainer e Roberto T. Oliveira revela a cara da pichação em São Paulo. Jovens vindos da periferia percorrem a cidade, sobem em prédios e escalam muros para se divertir e chocar a burguesia com suas letras ininteligiveis. O filme não toma partido, não os mostra como vândalos nem artistas, mas deixa claro a falta de perspectiva para essa juventude.
Avaliação: Excelente

31 de outubro de 2009

Se eu soubesse, não iria.

Era Agosto quando eu joguei uma ideia na mesa de bar. "Acho que a gente devia ir pra Oktoberfest". Era uma mesa de bar, a sugestão foi muito bem aceita. Era Setembro e ninguém havia sequer mexido um pau para tentar colocar a ideia de Agosto em pratica.
Como fui eu quem fez todo o brainstorm, deixei a parte burocrática para os outros.
No meio de Setembro nós só tínhamos a certeza de que queríamos ir, e que talvez no ano seguinte não teríamos tanta preguiça para resolver toda a logística de uma viagem longa.

Mas eu estava obstinado. Fui resolver o primeiro problema, que era o da hospedagem. Vinte e sete superquinzes depois consegui um quarto de hotel para cinco pessoas por um preço absurdamente salgado. Não poderíamos pagar aquela quantia se o quarto fosse para doze pessoas, quanto menos cinco!
Mas com mais 7 ligações, encontrei a luz. Uma acomodação nas montanhas catarinenses que (como garantiu a dona da pousada) não corria risco de deslizamento. Um preço que combinava com nosso orçamento de bolso furado, e um depósito na conta bancária mais tarde tínhamos onde dormir e transporte ida e volta garantido para 6 pessoas.
Faço muito bem em lembrar que saímos no lucro com o lance do transporte. Andamos bem mais do que aquilo que pagamos. Na ida o ônibus quebrou, tivemos que passar por Curitiba para trocar de carroça e uma viagem que deveria durar aproximadamente 10 horas levou 15 para terminar. No ônibus a conta das horas perdidas (e ainda não podendo usar as pernas e por cima disso completamente sóbrios) colaborou para a frustração e raiva gigântica que sentíamos daquele motorista filho de uma meretriz.

Na chegada a Blumenau providenciamos um par de táxis, despachamos as malas, fizemos contato com os locais e demais turistas e descobrimos que o taxista era de Porto Alegre e torcia pro Flamengo! Não entraríamos naquele táxi de novo tão cedo, e logo rumamos para o centro, ladeira abaixo, onde, no Tunga, a festa estava começando a ficar quente.
Como manda a tradição, logo tomamos posse de um tirante e uma caneca cada. Eu poderia mentir e dizer que foi uma busca árdua e cheia de elementos sagrados, envolvendo toda a misticidade de estar presente na Festa da Cerveja, mas a real é que uns vinte e cinco reais resolveram essa parada, e o próximo passo era gastar esse mesmo valor e uns trocados mais na próxima hora em forma de líquido dourado chope. Ainda sobrou dinheiro para comprar um chapéu de poderes mitológicos que garantia ao usuário um boom de ânimo.

De tarde a festa é na rua. Alguns bares, muitas chopeiras, muita gente, música alta. De noite não é diferente, mas a festa sai da rua e vai para a Vila Germânica/PROEB. Na primeira noite Jesus nos mostrou o caminho, e ainda bem que ele estava lá, porque foi uma peregrinação de uns 50 minutos para chegar. Seria pouco se houvessem lugares para comprar mais cerveja no caminho. Como não tinha, o jeito foi ir meio seco, urinando quando necessário ou em químicos ou nas vielas, perdendo a embriaguez gota por gota.

Quando chegamos na Vila tive uma noção melhor do evento. Três galpões abarrotados. Se cada galpão tivesse um tema, o tema dos três seria cerveja. Chopes artesanais ou Brahma. Nas filas para trocar a ficha por combustível vários flertes. "Me pega um chopp?" era a frase mais inteligente para se dizer. Mas qual chope pegar? Eisenbahn? Bierland? Opa Bier? Todos tinham a mesma artilharia: um pilsen, um escuro, um de trigo, um de vinho (para as moças), mais fermentado, menos... Que se dane a química da coisa, você já chega lá no estado de não querer se preocupar com o sabor, mas os artesanais realmente eram a melhor opção, principalmente levando em conta que pra tomar chope Brahma aqui em São Paulo você pode ir no bar homônimo.

Foram dois dias e noites da mesma coisa. Acorda. Um almoço pra forrar. Festa na rua. Fila para pegar chope na rua. Caminhada pra vila. Fila para comprar entrada na vila. Festa na Vila Germânica. Fila pra comprar o chope. As mesmas músicas (todas curiosamente rimando com "pega no meu pau"). 04:30 a música acabava. 05:00 paravam de vender fichas. 6:00 paravam de servir chopp e davam a noite por encerrada. Tomamos chuva na volta nos dois dias, e íamos procurar um jeito de voltar para nosso quarto, entoando cânticos que denunciavam nossa paulistanidade, correndo, ou como eu gosto de pensar, simplesmente estando bêbados.

No último dia um almoço, arrumar as malas e se preparar mentalmente para encarar 10 horas de viagem. Na volta o ônibus não quebrou. Nos despedimos dos amigos no metrô, e cada um foi tocar sua vida. A caneca, o tirante, os espólios voltaram na mala, evidências de um acontecimento que não pode ser encarado com leviandade. Essa viagem está marcada na memória. Superou minhas expectativas, que eram muito altas. É uma pena ter que esperar tanto tempo para fazer isso acontecer de novo. A volta é arrasadora. Se eu soubesse, não iria. Agora resta esperar.
Hoje é fim de Oktober.

29 de outubro de 2009

Microrresenhas da Mostra de SP

BANANAS! (BANANAS!) - 2009 - Suécia
O documentário narra a batalha judicial entre trabalhadores de um bananal na Nicarágua e a empresa americana dona da plantação. No centro da discussão, o uso ilegal de um pesticida nocivo à saúde. O diretor Fredrik Gertten conseguiu tirar leite de pedra, pois o assunto torna difícil obter boas imagens, mas a figura do excêntrico advogado Juan Dominguez deu brilho à história.
Avaliação: Muito bom

FIQUE CALMO E CONTE ATÉ SETE (ARAM BASH VA TA HAFT BESHMAR) - 2008 - Irã
Drama conta a história de um garoto que espera o retorno do pai após este ter levado clandestinamente algumas pessoas para fora do Irã. Paralelamente, um homem que faz contrabando de produtos vê seu casamento se deteriorar. O filme tem o melhor do cinema iraniano: belas imagens e o uso inteligente e criativo da câmera. Mas a narrativa se perde em alguns momentos.
Avaliação: Bom

19 de outubro de 2009

10 razões para não acreditar em listas

Em tempos de crise, a jogada de marketing mais marota do jornalismo é produzir listas sobre qualquer coisa só para turbinar as vendas e conquistar o bolso do leitor incauto. O assunto não importa, muito menos sua legitimidade, o que importa é que haja uma lista. Mas será que elas merecem o tanto de atenção que recebem?

Conheça agora os dez motivos para não acreditar em listas:

10) Tirando as listas de coisas mensuráveis (do tipo "os maiores prédios do mundo"), qualquer outro critério de escolha pode ser contestado, por mais cartesiano que pareça. No ranking da FIFA, por exemplo, sempre tem uma seleção brincalhona entre os melhores, neste caso a Croácia, embora seja utilizada uma fórmula de física quântica para calcular os pontos.

9) Questões culturais tem influencia direta no resultado. A escolha das mulheres mais bonitas do mundo podem ter resultados diferentes se for feita no Japão ou no Brasil. E os filmes que os europeus assistem nem sempre são os mesmos que os americanos gostam.

8) Listas baseadas em média de notas normalmente não dão muito certo. Ou como explicar que o nada criativo GTA IV esteja em segundo lugar no GameRankings?

7) O critério de uma lista pode até ser científico, mas eles não resistem aos "ses". Nada contra dizer que Pelé é melhor que Maradona porque ganhou mais títulos e fez mais gols. Mas e se Pelé tivesse jogado na Europa? E se o campeonato brasileiro fosse minimamente mais organizado nos anos 60? Como ele jogaria no esquema tático pós-Carrossel Holandês? Ou com o nariz cheio de pó?

6) Como já mostrava o filme "Alta Fidelidade", o que importa numa lista são os cinco primeiros. O resto poderia ser embaralhado que dava na mesma.

5) A maior prova de que muitas listas são feitas de qualquer jeito é o famoso caso do jogador moldavo Masal Bugduv, que foi incluído na lista das 50 maiores promessas do futebol pelo The Times sendo que ele sequer existe. Bugduv não passava de um "hoax", termo usado na internet para "pegadinha do Mallandro".

4) Listas nada mais são do que um reflexo do presente. Na eleição dos melhores álbuns brasileiros, "Acabou Chorare", dos Novos Baianos, ganhou menos pela sua importância histórica do que pelo revival tropicalista que rolava há uns três anos por causa do retorno dos Mutantes. Se uma lista desta for feita novamente hoje, o resultado certamente será diferente.

3) Normalmente, listas são lotadas de obviedades. A de melhor álbum de todos os tempos sempre vai ter um dos Beatles, assim como o de melhor filme sempre será "Cidadão Kane". E quem não seguir esse dogma, corre o risco de ser crucificado e acusado de querer aparecer. Se é assim, para que fazer uma lista, então?

2) Quando a questão é fazer uma lista democrática, esbarra-se em um dilema: deixar o público eleger ou não? Se sim, corre-se o risco de ter o resultado facilmente adulterado na internet pelo pessoal do 4chan. Caso contrário, pode acontecer o que já foi relatado no item nº 3, já que jornalistas costumam pensar em bloco.

1) A função social de uma lista não é sua capacidade de emitir supostas premissas ou verdades, mas de causar confusão. Quanto mais pessoas discutirem e contestarem seu resultado em uma mesa de bar, melhor.

Portanto, siga essas recomendações e não acredite nela. A verdade é que listas são legais pra cacete, ainda mais quando podemos criar nossas próprias.

4 de outubro de 2009

Muito além do limite






De uns tempos para cá, a mina de ouro de Hollywood tem sido as animações pseudo-infantis em 3-D – digo "pseudo" porque, embora sejam voltadas para crianças, os roteiristas desses filmes adoram colocar piadinhas exclusivas para os adultos mais serelepes darem umas saborosas risadas. Isso levou praticamente todos os grandes estúdios a marcharem rumo ao Oeste em busca da fortuna prometida. Era praticamente uma garantia de grana fácil. Porém, o uso de fórmulas batidas criou uma terra sem lei e ordem. Quando viram que "Procurando Nemo" estava dando altos lucros, alguém teve a criativa ideia de lançar um filme chamado "Espanta Tubarões". Isso sem falar nas constantes sequências de franquias, mostrando que os produtores não estão muito a fim de gastar massa cinzenta para ganhar dinheiro.

Mas nesse universo mais na defensiva que futebol italiano, a Pixar continua sendo uma das poucas a trazer alguma inovação. Depois de "Wall-E", eles trataram de revolucionar novamente a linguagem das animações com "Up! - Altas Aventuras". No filme pós-apocalíptico do simpático robozinho lixeiro, a Pixar elevou as animações em 3-D a um novo patamar, se aproximando pela primeira vez dos filmes de arte: tiraram os diálogos (como no filme "Casa Vazia") e abusaram das referências. Já em "Up!", a narrativa é feita de maneira muito profunda, sendo conduzida pela própria psique do protagonista, ao invés da superficialidade dos tradicionais conflitos internos entre os personagens envolvidos.

O enredo conta a história do velhinho rabugento Carl. Ele vive sua vidinha pacata, sem grandes perspectivas, desde que sua mulher morreu. Para piorar, uma construtora quer colocar sua casa abaixo. Para fugir dos problemas, nada mais lógico que colocar balões em sua própria morada e ir voando até uma cachoeira perdida na América do Sul – lugar que sua esposa sempre quis conhecer. Só que, por acaso, um moleque escoteiro acaba pegando uma carona, alterando os planos de viagem.

A história é bastante simplória, como não haveria de ser diferente – afinal é um filme para crianças e não um "Akira". Mas a questão importante aqui é como ela é narrada. Nos primeiros dez minutos, a vida de Carl é mostrada desde que era um pirralho medroso e tímido até os últimos momentos de sua amada mulher. E tudo é contado de maneira belíssima, com uma espetacular trilha sonora, e abusando do dramalhão, como se fosse uma "Lista deSchindler" em CG.

E é aí que mora a diferença. Assim como em "Os Incríveis", a angústia do personagem transparece de maneira muito clara. Conhecemos na pele seus conflitos, deixando na cara seu apego ao passado. Mas, diferente do Sr. Incrível, Carl não tem como voltar aos velhos tempos – muito menos trazer sua mulher de volta. A solução que encontra é navegar a fundo em suas lembranças, personificada na casa onde moraram e que se torna o último elo com a sua falecida companheira. Porém, aos poucos, ele abandona esse apoio cego ao compreender que as recordações não passam disso: meras recordações.

Não é à toa que "Up" foi o primeiro filme de animação a abrir o Festival de Cannes. Os cinéfilos em geral são loucos por filmes sobre dramas pessoais psicologicamente complexos. E nesse caso, "Up!" cai como uma luva. É só uma pena que o vilão da história não seja tratado da mesma forma, parecendo mais um gênio louco do que um homem injustiçado. E os mais cri-cris podem reclamar de alguns furos mal explicados no roteiro, mas, poxa vida, isso é desenho animado e não neo-realismo.

28 de setembro de 2009

Reportagem in loco

Estou aqui em uma passagem rápida para avisar os (se é que ainda existem) leitores deste blog.

Nós do BcF ficamos impressionados com o castigo da natureza que o sul do país vem sofrendo. Por isso, daqui a duas semanas, vamos nos arriscar a fazer a cobertura desse acontecimento direto de Blumenau, onde coincidentemente rola a Oktoberfest. Talvez passemos por lá também...

Novas postagens a caminho.

Logo bateremos o recorde de publicar uns 10 textos no ano.

14 de setembro de 2009

Fixing a Hole: Beatles remasterizado

Há mais de 20 anos, mais precisamente em 1987, o catálogo em CD dos álbuns dos Beatles finalmente chegava às lojas, popularizando de vez essa então nova mídia e aposentando os velhos bolachões analógicos. Porém, a realidade mostrou-se mais implacável: a versão digital tinha um som ridículo. A maioria dos fãs sempre reclamou do som abafado e pouco nítido dos CDs em comparação aos LPs, como se estivessem ouvindo com um travesseiro na cabeça. Lógico que os saudosos chiaram como um disco mal prensado, porém nada foi feito para reverter essa questão, já que a marca Beatles é algo que sempre vende. Mas o sonho ainda não tinha acabado.

No último dia 9, uma nova edição de CDs remasterizados do Fab Four desfez essa cagada histórica da EMI. A gravadora montou uma equipe de engenheiros de som no mítico estúdio Abbey Road num projeto que durou quatro anos e contou com tecnologias mais avançadas de gravação e mixagem aliadas com equipamentos mais vintages. E tanto investimento e esforço por parte da major foi recompensado.

Ouvi dois álbuns em estéreo, Sgt. Peppers and the Lonely Heart’s Club Band e Abbey Road, e comparei com os CDs remasterizados pelo Dr. Ebbets que circulam na internet. E posso dizer que a qualidade está levemente melhor, o que é impressionante visto que a versão em questão é em 320 kbps, enquanto os do Ebbets são em FLAC.

Antes da análise em si, é importante abrir um parênteses. Dr. Ebbets é o pseudônimo de um misterioso engenheiro de som que, puto com a qualidade tosca dos CDs originais dos Beatles, resolveu fazer sua própria remasterização digitalizando, com equipamentos de alta qualidade, diversas versões de vinis que garimpava pelo mundo. Entre eles estão as caríssimas coleções audiófilas da MFSL (relançamentos em vinil gravados na metade da velocidade) e as edições japonesas e alemãs, elogiadas pelo excelente material de prensagem.

Até o momento, as versões digitais do Dr. Ebbets eram consideradas as melhores já produzidas. Tanto que, na web, um dos passatempos dos beatlemaníacos era trocar figurinhas sobre esses CDs e encontrar o cálice sagrado, a versão definitiva, do Fab Four. Pois bem, a busca terminou. Quando se sabe que o próprio Ebbets teceu elogios à remasterização e anunciou sua aposentadoria, isso tem um significado monstro para o universo da audiofilia.

De maneira geral, a remasterização corrigiu aquele que, na minha opinião, era um dos poucos defeitos das versões ebbetianas: os médios tinham pouco destaque se comparados aos ótimos graves e agudos. A razão dessa deficiência talvez seja da própria mixagem dos vinis, se levarmos em conta que eles foram gravados em apenas quatro canais, mas isso é pura especulação. O fato é que a nova versão deixou o som muito mais balanceado e agradável.

Logo no início de Sgt. Peppers, já dá para reparar a mudança. Na faixa-título, ouve-se com nitidez o ruído do público e da orquestra do clube dos corações solitários nos primeiros minutos de música. E a guitarra de George Harrison ganha destaque na parte do "Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band, We hope you will enjoy the show..." como nunca tinha ouvido antes. Em geral, usando um bom sistema de som (ou um bom fone) dá para ouvir com nitidez todos os instrumentos, até mesmo em "Being for the Benefit of Mr. Kite!" com sua mescla de sons étnicos. Isso devolveu ao "A Day in The Life" a beleza usurpada pela masterização antiga.

Se era notável a melhora em Sgt. Peppers, em Abbey Road o negócio foi mais ignorante. Para começar, a batida nas cordas do baixo em "Come Together" ficaram mais fortes, com muito mais punching. Aliás, em praticamente todas as músicas, o instrumento de Macca acaba se destacando. Fora isso, "Here Comes The Sun" ganhou mais vida, graças ao som nítido do arranjo de cordas ao fundo. 

Deixe estar
 
Pela amostra que ouvi, é fato dizer que a remasterização conseguiu honrar o legado dos Beatles, certamente a discografia mais importante da música pop. Mas é de se perguntar se não veio tarde demais. Como já havia dito em um texto anterior, a distribuição digital já é uma realidade difícil de ignorar (quer dizer, exceto para as majors). E o iTunes estava aí, abanando o rabinho e fazendo cara de dó. Não é segredo que Steve Jobs é louco pelos Beatles (o nome Apple não saiu do nada) e bem possivelmente faria de tudo para lançá-los na era do mp3. Mas a gravadora decidiu que ainda não é hora de entrar no mundo "legalize", embora seja certo que esse dia chegará.

Na real, acho que o que a EMI quer mesmo é ver até onde vai o CD. Antes do lançamento da nova versão, pensei aqui com meus botões: já que é um produto voltado para entusiastas e audiófilos (ou seja, para quem curte toda a experiência de ouvir música), por que os caras também não lançaram em SACD ou DVD-A? Para que ficar preso nos 44,1 Khz sabendo que um fã dos Beatles ou compraria de qualquer maneira ou baixaria na internet?

Só que, ouvindo a remasterização, pensei melhor. Se a EMI lançasse o catálogo dos Beatles em um outro formato, seria decretado oficialmente o fim do CD. Não que o SACD vá se tornar padrão algum dia, mas ficaria mais evidente que o CD está ficando ultrapassado em termos de qualidade de áudio e sua razão de ser se esvaziaria. Se o motivo pelo qual as pessoas ainda compram CDs é pelo seu som, e há uma defasagem quanto a isso, então é melhor partir logo para o mp3, que é muito mais prático. E dessa contestação, pode ser que um novo padrão surgisse, como aconteceu com as TVs HDTV e com o Blu-ray, apesar da popularização do Divx de baixa resolução.

Isso seria um tiro no pé das gravadoras. Elas teriam que adaptar todo o sistema de captação de áudio e de gravação que já está consolidado, o que acarretaria em todo um investimento que encareceria a produção (o que, aliás, é um entrave que o SACD ainda não conseguiu resolver). Por isso, é muito mais prático desenvolver tecnologias para melhorar a masterizaçao de um disco do que para criar um novo formato. E foi isso que a EMI fez com os Beatles. Apostou todas as suas fichas para mostrar que CDs ainda podem ter qualidade comparável aos de alta definição e que isso é bom tanto para os audiófilos quanto para o público médio. Se isso vai funcionar? Depende. Se eles continuarem prezando pela qualidade da masterização e abandonarem a prática nociva do loudness, talvez o público se toque das diferenças entre o mp3 e o lossless.
 
Mas pelo que tudo indica, esse relançamento dificilmente mudará o cenário atual. Fora os Beatles, há pouca coisa que ainda valha a pena pagar para ouvir -e isso é culpa da própria indústria pop, que está demasiadamente nivelada por baixo.

4 de setembro de 2009

Meio de Temporada.

Hoje pela manhã estava me desfazendo da janta e lendo o jornal. De praxe havia a coluna do Reginaldo Leme. Leme foi pivô de um assunto polêmico comentado mundialmente por seus companheiros seguidores do esporte motorizado, fica portanto desnecessário repeti-lo, até porque não é disso que eu vim falar.

Enquanto Reginaldo estava falando em sua coluna da apreensão e alegria que existe em dar o furo, pensei em reescrever o panorama da Fórmula 1 feito no começo da temporada. Quando o Rubinho venceu o GP da Europa eu só vi as voltas finais da corrida, mal podendo considerar essa a segunda corrida que vi no ano. Mas depois de uma vitória brasileira confesso ter me empolgado para assistir a corrida de Spa-Francochamps. Foi realmente engraçado, porque foi a segunda largada que vi na F1 2009 e a segunda vez que o carro do Rubens não saiu do lugar. Pelo que sei das outras corridas meu aproveitamento em ver largadas falhas de Barrichello está em 66%.

Mantenho meu discurso: O melhor carro será campeão. As montadoras que disputam o campeonato são, como sempre, Mercedes, Renault e Ferrari. É bem verdade que as duas primeiras estão representadas por Brawn e RBR respectivamente, mas não deixa de ser igual aos anos anteriores.

Por outro lado, se agora me perguntassem qual piloto terá maiores chances de ser campeão entre os quatro primeiros colocados (Button, Barrichello, Vettel e Webber) diria que tudo vai depender mesmo é da sorte de cada um. Ainda assim, vale lembrar que Button e Vettel usaram um motor a mais que seus companheiros de equipe. Com um número limitado de motores para a temporada, essa pode ser uma grande diferença de performance, especialmente nas últimas duas etapas. Portanto, como em todo esporte que não tem mata-mata, ganha quem for mais regular.

Meu destaque final vai para meu companheiro blogueiro de aventuras Igor, que disse a única verdade definitiva da Fórmula 1: “Ross Brawn é o Eric Clapton da F-1”, e também para a ótima piada que fiz do Reginaldo Leme. Um abraço para todos os jornalistas que, assim como ele, sabem como é difícil dar o furo, mas gratificante e recompensador.

13 de agosto de 2009

Ainda estou certo*

*Originalmente publicado com o título "Know-how" no agora-falecido Epítetos Espiclondríficos.

Outro dia estava em um ônibus, voltando para casa. Era um daqueles ônibus das frotas novas da capital, cheio de degraus e desconforto. Estava com o habitual mau-humor de quem acorda aos sábados para marcar presença em aulas de faculdade. Na verdade, aquele seria o último sábado atendendo os interesses universitários, e logo naquele dia algo de extraordinário teria que acontecer, começando pelo número ameno de pessoas por m².

Já estava acomodado em um assento individual quando, passados três pontos, entram neste ônibus uma senhora e seu neto (Se não era neto é porque a dona tardou a ter filhos). Havia outras crianças no veículo, mas esta era cheia de si. Devia ter uma ideia errada sobre o que é a vida ou pior, tinha um complexo de egocentrismo exacerbado. - O leitor pode achar que minha azia em relação ao garoto é gratuita e que eu devo odiar crianças. Para ser sincero eu odeio algumas crianças, sim, mas deixe-me contar a história sobre esse infante ingênuo. – Começou quando o menino pediu para que um senhor mudasse de lugar para que ele pudesse sentar ao lado da avó (ou mãe). Conseguiu. Lá foi o senhor para o banco do meio do fundo do ônibus, abrindo espaço aos lugares da esquerda (de quem olha de frente) na simpática janelinha de fundo de ônibus, onde a mulher e o neto (ou filho) descansaram suas ancas.

“Olha, ‘tá garoando” – disse o garoto, interpretando alguns pingos d’água no chão, que não passavam de gotas provenientes da lavagem da calçada, e ignorando os estonteantes 32º que o faziam usar uma regata azul ‘mamãe acho que sou gay’. “Não, meu filho - sem dar certeza de que era realmente filho, e lembrando que avó chama neto de filho às vezes, principalmente quando quer reclamar de alguma coisa. Ex: Que dor nas costas, meu filho; Isso é muito caro, meu filho; No meu tempo, meu filho; etc. – é só o homem que lavou a calçada”.

E logo quando estávamos falando em calçada, surge – para o deleite dos fanáticos por trânsito – bem à frente do ônibus um caminhão-betoneira que carregava o concreto que seria utilizado na construção do que parece ser uma sede administrativa do HCor. “Qual o nome desse caminhão?”, perguntou inofensivo o garoto para o... senhor que havia lhe cedido o lugar. Muito pacientemente o velho responde “Um caminhão-betoneira”. A avó complementa: “Ele carrega concreto”. “E o que é concreto”, pergunta o garoto. “É o que eles usam pra fazer calçada”. “Hmmm – disse o garoto – não gosto de concreto. Vou chamar de cimento”. “Mas concreto é feito com cimento também”, alertou a dona. “Não tem problema. Vou chamar de cimento”.

Na verdade a história só vai até aí. Só quis relatar porque lembrei de um diálogo fantástico do livro “O Guia do Mochileiro das Galáxias” que será transcrito de maneira pífia. É a história de uma baleia que ganha vida à 20km de altura da terra e está prestes a cair no chão, não na água (e não que fosse fazer muita diferença, agora que parei para pensar). “Nossa. Que sensação boa. O que é isso? Sinto pelo meu corpo todo. Não sei o que é, mas vou chamar de vento. Depois descubro o que o vento faz. Olha só. Eu consigo mexer isso aqui pra lá e pra cá. Vou chamar isso de cauda. E o que é essa coisa grande e marrom que fica crescendo cada vez mais? É muito grande! Vou chamar de chão. Será que vou ser amigo dele?” E a baleia finalmente se espatifa no chão.

Não querendo criar paralelos - mas não tendo outra saída – isso é exatamente o que vai acontecer com o garoto esnobe do ônibus. Mal sabe ele que algumas palavras como “desemprego” ou “tristeza”, quem sabe até “solidão” não mudam de sentido, indiferente do seu cimento. X³ + Y ² + Z = 77, como ele aprenderá, não é 0, indiferente do que ele quer pensar que seja em alguma prova de matemática no futuro. Nem que Kant é um filósofo, enquanto o garoto do ônibus acreditava que fosse um jogador de futebol da Holanda.

Pensando melhor, Kant tem a ver com isso. O conhecimento empírico é justamente a queda da baleia. A experiência derradeira. Passar pela vida, e ela te ensinar que você está errado. Dói.

24 de maio de 2009

A frota das raposas

Sempre fui cismado com essas novas bandas que mal aparecem e já são eleitas pela crítica as melhores coisas que já surgiram desde os Ramones, ou coisa que o valha. Na maioria dos casos, nunca entendi o porquê de tanto hype com grupos que parecem acrescentar muito pouco em termos de sonoridade e qualidade musical, e que ficam naquela mesmice do rock atual, como Yeah Yeah Yeahs!, TV on the Radio, CSS, Bloc Party, entre outros. E nem foi por falta de vontade pessoal. Arctic Monkeys, por exemplo, eu ouvi de cabo a rabo e não achei grande coisa (exceto pela música "A Certain Romance", que é de longe a mais legal dos caras). Lógico que há algumas boas exceções, e entre elas está a nova sensação do folk-rock americano, o Fleet Foxes.

Apesar de ainda não ter caído nas graças da crítica musical brasileira, o lançamento do primeiro CD do Fleet Foxes no ano passado fez um tremendo estrago lá fora. A Mojo chamou-a de "a próxima grande banda da América". A igualmente britânica Uncut e o Pitchfork também alçaram o álbum como um dos melhores de 2008. Só para não dizer que não houve unanimidade, a queridinha da galera NME resolveu dar um 7, o que talvez explique um pouco a apatia da imprensa brasileira especializada.

Lógico que é de se desconfiar de tanto elogio. Já cansei de cair do cavalo por causa dessa armadilha da indústria. Mas é preciso reconhecer o talento dos caras em, pelo menos, conseguir fazer algo diferente do que se vê por aí. Tanto que é difícil definir o Fleet Foxes. Pode-se dizer que é uma banda de folk-rock americano, com a harmonia de até quatro vocais dando o clima das músicas -no melhor estilo que consagrou o Beach Boys antes do Pet Sounds- e elementos do folk celta, do rock progressivo dos anos 70 e até do indie rock.

A mistura de tudo isso, obviamente, resulta em algo muito estranho. Na primeira audição, parece uma coisa meio místico-religiosa, no melhor estilo Enya, que logo te remete a imagens de montanhas, celeiros, pastos e essas coisas bucólicas. Por isso, Fleet Foxes é daquelas bandas em que é preciso ouvir diversas vezes para começar a fazer sentido. Na verdade, é mais fácil ouvir do que explicar.

Essa estranheza fica evidente logo na primeira música, "Sun It Rises", que começa com um coral típico do cancioneiro rural americano. Depois ela caminha para um folk lento e melódico à la Nick Drake e, quando os intrumentos vão pouco a pouco ganhando peso e dominando a parada, o ritmo é quebrado bruscamente. Uma jogada velha, mas certeira.

Na música seguinte, "White Winter Hymnal", a banda traz para o folk a pegada do rock atual, com arranjos que fazem lembrar o Arcade Fire, mas com a harmonia da canção sendo conduzida através dos vocais reverberados. O inusitado é que a música tem um verso apenas. Mesmo assim, é facilmente a melhor faixa do CD. Até imagino nos shows o pessoal cantando essa música, repetindo em coro: "I was following, I was following, I was following...".

Em "Ragged Wood", vê-se mais uma mostra de que os caras não se fixaram só em referências do passado. A faixa começa bem rápida e elétrica, como se os Beach Boys resolvessem fazer um cover de Interpol, só para ficar no campo das analogias esdrúxulas. Até que, repentinamente, a música muda completamente de ritmo, parecendo que acabou e deu lugar à outra. Também figura entre as melhores do álbum.

Outros destaques são "Quiet Houses" e seu verso hipnótico ("Lay me down, lay me down"), a inebriante "He Doesn't Know Why", a melancólica "Your Protector", com uma pegada que lembra Jethro Tull, e "Oliver James", que poderia facilmente se passar por uma música do Neil Young.

Ainda é muito cedo para dizer se o Fleet Foxes vai realmente entrar no hall das grandes bandas. Lógico que o disco tem seus altos e baixos, como qualquer outro. E os melhores momentos acontecem quando eles resolvem aplicar a atmosfera bucólica no indie rock. E os piores quando eles abandonam suas referências e mergulham de cabeça num excesso de coro reverberado místico, como em uma trilha sonora de yoga.

Mas, no geral, todos os méritos são merecidos. E é preciso lembrar que é o primeiro disco deles e, portanto, ainda há muito para evoluir. Por isso, ainda não dá para chamá-los de novos gênios do folk-rock e colocá-los num pedestal ao lado do Bob Dylan, Van Morrison e Crosby, Stills, Nash e Young. Mas, certamente, estão bem acima de Mallu Magalhães e outros espécimes que fazem a alegria da moçada cult.

14 de maio de 2009

Gol contra à la Oséas da Conmebol

Agora está decidido. A Conmebol anunciou que São Paulo e Nacional (URU) passarão direto para as quartas-de-final da Copa Libertadores da América após a saída de Chivas e San Martin, ambos do México, da competição. Com o fim da novela, só nos resta o óbvio: colocar a culpa em alguém. E a minha escolhida é a Conmebol.

Primeiramente por uma questão prática: qual a razão de colocar times mexicanos na Libertadores senão pela questão financeira? É sabido até pelo reino mineral que se um time mexicano vencer a competição, ele não irá disputar o Mundial de Clubes, já que representa a Concacaf. Então para quê esse crossover? Só para ganhar uma grana, como em Mortal Kombat vs DC. Se a Conmebol fosse mais esperta, daria um jeito de colocar equipes da MLS no torneio e faturar um tusta (e não é de se duvidar que isso aconteça, principalmente quando se lembra que o Japão já disputou a Copa América).

Segundamente, pela sua inépcia em resolver a questão. É verdade que diversas opções foram colocadas na roda, mas sempre havia um empecilho. Primeiro pensaram em transferir o jogo de ida dos times mexicanos para a Colômbia, mas o país de Pablo Escobar não quis, com medo de que a gripe suína fosse trazida pelos jogadores. A mesma desculpa esfarrapada foi dada pelo Chile e Peru. Mas, mesmo sabendo que essa premissa era falsa, a entidade sul-americana não moveu um mol de palha para demovê-los dessa ideia. O México até sugeriu receber a partida em portões fechados, como já estava rolando no campeonato local, mas o São Paulo e o Nacional disseram que não pisam no país nem à base de porrada. A decisão é polêmica, mas em se tratando de atletas, todo cuidado com a saúde é pouco.

Com o impasse, a Conmebol teve a infeliz ideia de realizar jogo único no Brasil e no Uruguai e os mexicanos, logicamente, disseram não. E realmente não faz nenhum sentido eles gastarem com transporte e hospedagem para entrarem em campo em situação de teórica desvantagem. A entidade, então, mandou os chicanos para escanteio e classificou automaticamente os times sul-americanos para as quartas-de-final. O interessante é que essa decisão conseguiu ferrar todos os quatro times, logicamente com maior malefício aos mexicanos, já que eles jogaram seis partidas de bobo -assim como faziam desde 1998. Enquanto isso, os outros dois times não faturarão com a renda dos ingressos e dos direitos televisivos.

Por causa disso, a Conmebol vai criar esse tremendo mal estar entre as duas confederações -presumindo, é claro, que a Concacaf vai assumir as dores da FMF, que preferiu sair fora de todo esse circo. Daqui para frente, México na Copa América só no Winning Eleven.

4 de maio de 2009

Um post que não é um post.

Como diria Cléber Machado, o texto a seguir "é um post mas não é". Ele sem dúvida é um texto, com direito a título e data de nascimento, o que o torna um post. Mas não é um post, pois não trata o tema com originalidade.

Ao invés de escrever um comentário sobre o último texto e dar minha opinião, resolvi escrever um texto novo. É o que na internet se conhece por "RE" diminutivo para reply. E se você realmente não sabia disso, provavelmente também não entendeu a piadinha do Cléber Machado, o que é muito triste.

Enfim, este assunto (a pirataria) é muito delicado e eu o trato da seguinte forma: Dadas as taxas elevadas para - o que eu vou chamar de - "consumo cultural" (ingresso de cinema e cd's, por exemplo) corre-se um risco muito grande de ver seu dinheiro indo pro lixo com algo que você talvez não se satisfaça. O que o consumidor quer é consumir um produto bom e evitar "investimentos de risco".

Há uma lista que roda por aí que compara os top 10 filmes pirateados com os top 10 sucessos de bilheterias. Tirando um ou dois blockbuster-estoura-boca-do-balão-filme-de-herói-dos-quadrinhos, a lista é completamente diferente uma da outra. Os filmes vistos em salas de cinema são em sua maioria filmes que passam do julgamento "bom ou ruim" pois tem um número assíduo de fãs. Estes mesmos fãs, inclusive, são os que mais procuram o material na internet para matar a curiosidade. Ao mesmo tempo eles promovem a pirataria e ajudam na arrecadação.

Outra razão para a diferença entre as listas é o fato de o próprio estúdio investir pesado em títulos de retorno garantido. Acabam sem fazer grandes propagandas virais de outros títulos. Isso afeta a arrecadação de bilheteria no mercado interno (EUA). Sem arrecadação o filme não consegue abertura em mercados estrangeiros com as distribuidoras, o público fica sem filme, o público apela para a pirataria. O caminho da pirataria é sempre esse.

O mesmo acontece com a música. Eu realmente acredito na idéia de que uma pessoa compra um produto original bom porque reconhece em algum ponto sua qualidade. O PirateBay é uma casualidade da guerra. Depois será o Mininova e o Isohunt, e por fim, o próprio Google. Eles não são cúmplices, de uma certa forma, ao fornecer resultados de pesquisa de torrents? Facilitadores do crime?

E aí está o ponto de partida do desenho no outro post. E eu termino com um também:

27 de abril de 2009

Obrigado por nada, indústria fonográfica

Na sexta-feira passada (17 de abril), a justiça sueca sentenciou os donos do site de torrents Pirate Bay a um ano de prisão por cumplicidade na violação de direitos autorais. Eles também deverão pagar multa de US$ 3,65 milhões às gravadoras, aos estúdios cinematográficos e às desenvolvedoras de games que entraram com o processo contra o site por perdas e danos. Os advogados de defesa deverão recorrer da decisão.

Apesar de toda a expectativa contrária, pelo menos da minha parte, a decisão já era esperada. Dentro dos tribunais, representantes da indústria fonográfica ganham de goleada da turma pró-download. O pioneiro Napster foi também um dos primeiros a experimentar o que é ser intimado pelas gravadoras. Em 1999, época em que a conexão discada era a lei, o criador do programa, Shawn Fanning foi condenado por violar copyrights e seu servidor foi fechado. Alguns anos depois, o Napster retornou das cinzas, mas totalmente desfigurado (pago e servindo de capacho da indústria), como se tivesse sofrido uma lobotomia. Limewire, Grokster, Morpheus e outros programas P2P também não tiveram muita sorte nos julgamentos e tiveram que ser desativados. Recentemente, no Brasil, a comunidade Discografias não aguentou a pressão das majors e teve que ser fechada -mas parece que está retornando aos poucos.

O caso do Pirate Bay tinha tudo para integrar essa lista -e de fato integrou. Mas a sagacidade dos réus levou esse julgamento a um novo patamar. Se o motor do site era a coletividade, nada mais lógico que os usuários ajudarem conjuntamente na defesa do site. Uma das ofensivas começou com a criação de um blog para acompanhar o andamento do caso, só que tudo narrado de um jeito muito sarcástico, como se tudo o que acontecesse lá fosse fruto de um grande circo -o que não deixa de ser verdade. Só é uma pena que boa parte dos textos tenha sido deletada.

Durante o processo, ficou evidente a ignorância das gravadoras quando o assunto é internet. O Pirate Bay teve até que chamar um especialista para explicar como funciona o sistema Bittorrent, explicando o porquê deles não poderem ser considerados culpados pelos downloads ilegais e que sua extinção não significaria o fim dos downloads. Seria o mesmo que acusar o Google de incitar a violação de direitos autorais só porque divulga links de sites de mp3. Coisas da web 2.0.

Para exemplificar melhor esse quadro e ainda fazer uma graça, a defesa usou o bizarríssimo argumento King Kong, que foi bastante comentado nos blogs: "É preciso haver uma ligação entre os perpetradores do crime e os usuários. Esta ligação ainda não foi comprovada. O promotor precisa mostrar que Carl Lundström (um dos criadores do PB) interagiu pessoalmente com o usuário King Kong, que pode muito bem ser encontrado nas selvas do Camboja". Pelo que eu li por aí, qualquer relação com a tese Chewbacca, do South Park, não é mera especulação.

Do outro lado, John Kennedy, presidente do grupo de gravadoras que entrou na justiça, deu seus argumentos contrários à distribuição ilegal de músicas na internet. Ele disse que as vendagens de CDs caíram, nos últimos dez anos, de US$ 27 bilhões para US$ 18 bilhões. Em 2001, o CD mais vendido daquele ano tinha comercializado 13 milhões de unidades, enquanto que, em 2008, o campeão Coldplay havia vendido só a metade disso. Certamente, a culpa é das pessoas que baixam arquivos pela internet e não a incompetência estratégica da indústria. Faltou pouco para o pessoal do tribunal passar uma sacolinha de doações para as pobres majors.

Este é o fim?
É chover no molhado dizer que a indústria fonográfica está em uma eterna crise. Acho que os fatos dizem por si. Mas não exatamente uma crise econômica, como se pode ver, e sim uma crise de identidade. Desde o começo da década, os analistas mais conservadores já davam como certo o fim da mídia física. Com o advento da banda larga, as coisas só pioraram para o lado dos produtores. Porém, ao que tudo indica, as gravadoras ainda estão aí, firmes e fortes.

É fato dizer que as gravadoras ainda vendem discos por causa de alguns poucos puristas, como eu, que preferem ouvir músicas em seu estado de natureza (entenda-se Lossless) a mp3 ultracomprimidos de 128 kbps, que conseguem fazer o prato de uma bateria soar como um "tssss" constante. Só isso pode explicar, já que os artistas não ganham nada por vendagem de discos mas por royalties, e mesmo assim eles ainda conseguem ser roubados. Portanto, comprar disco original só porque gosta da banda é um grande erro de lógica.

O fato é que as gravadoras precisam mirar no público certo, e o público certo é aquele que compra discos pela qualidade do produto e não porque está na moda, como se fazia anteriormente. É aquele mesmo cara que pode ficar horas discutindo a qualidade superior do vinil sobre o CD, ou que pretende trocar toda a sua coleção de DVD pela de Blu-ray. Nesse sentido, comercializar discos de qualidade superior, como a EMI pretende fazer com a remasterização do catálogo dos Beatles, é uma boa para ganhar uma sobrevida -inclusive quando se sabe que na internet já rolam arquivos em FLAC de alta qualidade dos LPs dos Fab Four que dão uma surra nos CDs lançados em 1987. E para o resto da patota, o negócio é investir em downloads pagos.

Confesso que até eu ri quando surgiu essa história de pagar para baixar músicas, mas hoje vejo que é um negócio tão louco que pode até dar certo. O Radiohead, o iTunes e o site Trama Virtual mostraram que isso é possível, cada um usando seu modelo, o que dá margem para a criação de outros métodos de comercialização via internet.

Agora, o que é imoral é o fato das majors investirem pesado para coibir a distribuição de músicas, sejam elas pagas ou não, e tratarem os usuários como criminosos periculosos, como faz nosso amigo abaixo.

Desenho feito por Dylan Horrocks. Tradução desconhecida

15 de abril de 2009

Jogador é jogador, músico é músico e jogador-músico é jogador-músico

Já ouvi o Washington cantando sertanejo, o Rogério tocando Pink Floyd e até o Pelé cantarolando em prol das criancinhas. De fato, futebol e música são tão próximos quanto Jorge Ben e o Flamengo. Mas, na crônica esportiva, poucos chegaram a estabelecer um elo definitivo entre esses dois universos, sendo que minha memória só consegue alcançar o nome de Ronaldo, goleiro ídolo/garoto-problema do Corinthians nos anos 90.

Em 1997, quando ainda atuava pelo time paulista, ele decidiu formar uma banda, alcunhada Ronaldo e os Impedidos, e que resultou em um álbum homônimo. É de se perguntar como é que ele conseguia treinar, ficar em concentração, jogar nos fins de semana e ainda sair em turnê, mas isso poucos podem responder. O caso é que a audaciosa empreitada artística provou de uma vez por todas que não é juntando duas coisas legais, como futebol e rock, que necessariamente vai resultar em algo bom.

Isso porque, no conjunto da obra, a qualidade musical do disco não passa do mediano, porém há um detalhe sórdido: o peso do lado exótico nisso tudo. Assim como essas bandas nada a ver de hoje em dia, como Cansei de Ser Sexy, Ronaldo e os Impedidos estavam envoltos por uma aura de ruidosa curiosidade, como se as pessoas se perguntassem: "Isso é para valer ou estão tirando uma com a minha cara?" Aos incautos, só restava arriscar e nem todos devem ter levado isso numa boa.

Por exemplo, parece faltar consistência ao som da banda. Tanto que um amigo meu disse, com absoluta razão, que parece aqueles grupos que tocam nos barzinhos de rock da 13 de Maio, em São Paulo. Não que isso seja muito ruim, mas também não é bom. Os Impedidos parecem ficar entre o blues, passando pelo hardrock dos anos 70 e desaguando vergonhosamente no pop rock dos anos 90, em que se mistura o pior do ska, do punk e do hardrock em um massa amórfica sem sabor. Mas para dizer que não falei das flores, o guitarrista solo é muito bom e consegue se destacar facilmente. Mas, no geral, sinto que faltou o dedo de um bom produtor nessa história.

O que impressiona mesmo são as letras, embora ainda não tenha certeza de quem seja o autor (inclusive, faltam informações confiáveis desse CD na internet. Sem falar que é impossível achá-lo no Mercado Livre, o que dá a impressão de ser tão raro quanto o mítico LP Racional, do Tim Maia). Lógico que é preciso levar em conta que o que estava em voga na época eram bandas como Companhia do Pagode, Tiririca e Katinguelê, então é difícil fazer uma comparação minimamente justa.

Em "Linda Mulher", a canção que abre o álbum, a banda faz uma homenagem ao filme Uma Linda Mulher (O RLY?). Na música, Ronaldo canta as agruras e os sonhos das mulheres da vida, com direito a uma frase filosófica: "Preço está no que se perde e não no que se vende", colocando uma pimenta na lógica marxista de que o trabalhador vende sua força de trabalho ao dono dos meios de produção. Nesse caso, a profissional estipula o preço não tomando como base seu valor produtivo, mas naquilo que ela poderia fazer se não estivesse trabalhando, o que não faz nenhum sentido.

Na segunda faixa, "Ouro no Dente", Ronaldo parece tratar de coisas ocultas, como aparições macabras no meio da noite em plena encruzilhada. Saca só o clima sinistro: "Começou a escurecer, fiquei com medo/ Sai correndo e me perdi", narra o ex-goleiro, ao ritmo de rock blues. Mas o detalhe inusitado é que o tal tinhoso tinha "ouro no dente". Lógico que o goleiro, que não é bobo nem nada, não ficou para perguntar e picou a mula sem olhar pra trás, deixando a besta-fera comendo poeira.

Na música seguinte, infelizmente, a banda destroi o clássico "Proud Mary", do Creedence Clearwater Revival, em uma versão bem mal-feita, então não vou nem comentar. Mas, em seguida está a canção de trabalho deles, "O Nome Dela", uma música de amor e amnésia (alcóolica, provavelmente). Tudo leva a crer que o cara estava tão loki que não lembrava nem do nome da garota e, certamente, tomou um pé na bunda da tal desconhecida -caso contrário, ela fez um péssimo negócio. Em se tratando de melodia é a melhor música do álbum, já que adota aqueles elementos básicos para uma canção de sucesso: refrão pegajoso, riff simples que atravessa a música inteiro, e o uso correto de backing vocals.

Na única balada do disco, "Mesmo que eu me engane", Ronaldo mostra estar mais angustiado do que um goleiro na hora do gol. Na real, essa música de amor, enfeitada só pelos acordes de violão, parece uma continuação da anterior, como se a sobriedade tivesse batido como uma pedra pesada, já que nessas horas o lamento é seu melhor amigo.

E para barbarizar, em "Rockixe"*, o polêmico goleiro parece rasgar o verbo para falar do universo das drogas, como o haxixe, que há anos alimenta o rock. Ao que parece, é uma canção cifrada e sem sentido, como fazia Bob Dylan antes de virar um coroa pé-no-saco. Portanto, isso pode derivar de acordo com as interpretações, mas um trecho específico parece mostrar qual é a real disso tudo: "Eu sou o anjo do inferno que chegou pra lhe buscar / Vim de longe, vim duma metamorfose / Numa nuvem de poeira que pintou pra lhe pegar". Muito tenso.

Como já foi dito aqui, o CD não tem nada de genial, nem mesmo uma canção que te faça cantarolar por horas a fio. Talvez por isso tenha vendido, segundo dados não-oficiais, cerca de 40 mil cópias, o que era igual a nada na era pré-mp3. Não sei ao certo o que aconteceu com as unidades não vendidas (há quem diga que elas foram enterradas em um deserto no Novo México, EUA), mas é bem provável que as poucas que foram adquiridas possam valer ouro no mercado negro. Ou isso, ou os compradores já se livraram de seus exemplares há bastante tempo.

Edit: Clique aqui para baixar o álbum completo.

*Descobri agora que essa música na verdade é do Raul Seixas.

6 de abril de 2009

Tempo para nada.

Muitas pessoas reclamam de “ter rotina” argumentando que o tempo passa mais rápido que o normal. Esta é a invenção do século. O tempo continua sendo contado por horas, e o dia sempre se forma das mesmas vinte e quatro delas. O raciocínio dos rotineiros é na verdade a derivação da ideia de que não existe tempo suficiente para se realizar todas as tarefas desejadas. O tempo é, em alguns casos, superestimado. Poucas pessoas percebem isso exatamente porque lhes falta tempo.

Difícil é o tempo de sobra. Quando não temos rotina e tarefas a coisa complica. É preciso pensar com cuidado tudo o que vamos fazer, pois devemos levar em conta a importância do ato caso fôssemos rotineiros. “Eu posso fazer isso, mas se eu fosse uma pessoa ocupada, sem tempo, provavelmente não o faria”.

Isso me aconteceu há algum tempo, e seguindo o pensamento acima resolvi ler um livro. Achei que um livro não seria perda de tempo caso eu não tivesse tempo para ler livros, pela importância cultural da coisa.

Não podia ser um livro da prateleira (empoeirada), pois isso me daria a sensação de que poderia ler um livro a qualquer hora que não aquela em que eu tinha tempo livre. Só o fato de achar que eu não perderia tempo era pouco, então como bom sovina que sou, decidi comprar um livro novo, e partir do princípio que caso eu decidisse cerrar a leitura antecipadamente não só perderia meu tempo (que exatamente por estar sobrando se tornou muito mais valioso) como também arcaria com o desperdício monetário.

Escolhi “A arte de produzir efeito sem causa”, do Lourenço Mutarelli, que trata justamente de um cara que perde o emprego e começa a ter tempo livre demais. É uma leitura simples e rápida. Júnior, o personagem principal, fica louco à medida que perde interesse nas coisas e começa a fazer nada (este é um trocadilho muito bom). No fim das contas eu gostei do livro. Não tinha lido nada do Mutarelli ainda, e o interesse só apareceu por causa d'O Cheiro do Ralo que vi no cinema. O melhor Selton Mello. O Mutarelli acerta o personagem aí: Todo mundo é um pouco louco, fetichista e paranóico com alguma coisa.

Quando sobrar tempo leio mais alguma coisa dele.

29 de março de 2009

Começo de temporada.

Imagino eu que nenhum começo de temporada seja tão aguardado quanto o da Fórmula 1. Durante sua pausa, não existe categoria no automobilismo que cubra a falta. Mas, ainda assim, a Fórmula 1 consegue ser um dos esportes menos atrativos em terras brasileiras. A primeira corrida deste ano aconteceu às 3:00 da matina, horário similar às próximas três corridas. Depois, para os interessados, será necessário o esforço de religiosamente acordar às nove horas da manhã por um bom tempo por muitos domingos. Francamente, para acompanhar as corridas é preciso gostar muito da coisa.

"2009 é um ano de mudanças na F1", e essa frase é mais rodada que o peão do baú da felicidade. Na minha modesta opinião, essa é a maior balela. As coisas continuam iguais fora das pistas, com a mesma disputa política intensa entre FIA, FOM e FOTA, cujos interesses, quando afunilados, são os mesmos: Tornar a categoria rentável e ganhar dinheiro com ela.

Nas pistas também não há diferenças. O piloto tem um papel secundário na corrida. Quem ganha corridas hoje são os projetistas e construtores dos carros. Prova disso foi a corrida da Austrália, terminada a poucos instantes.

Largando em primeiro, Jenson Button teve o trabalho de não bater em ninguém na primeira curva e terminar a corrida tão sossegado quanto começou. Rubinho, que largou em segundo, espelhou o sentimento de todo brasileiro atento à Rede Globo: Sono! Cochilou, perdeu a largada e foi correr atrás do prejuízo. O Rubinho, na verdade, é a principal evidência do que lhes disse sobre ganhar corridas. Mesmo com um desempenho horrível, bastou um pouco de sorte para que, ao final de 58 longas voltas, ele terminasse a corrida no mesmo lugar que começou. É verdade que muito se deve ao erro de Kubica ao tentar ultrapassar Vettel à três voltas do fim, tirando ambos da corrida. Mas se analisarmos os últimos campeões da competição, alguém ousaria dizer quem é o melhor piloto entre Alonso, Hamilton, Raikkonem ou Massa? Todos, é claro, são muito bons pilotos, mas nenhum deles possui uma característica de pilotagem única e autêntica que o tenha levado ao título. Havia, sim, um carro superior.

Talvez o apelo da Fórmula 1 tenha mudado agora pois as equipes com melhores carros agora são outras. Enquanto estiverem proibidos os testes, ter mais ou menos dinheiro para pesquisa e desenvolvimento pode não valer nada. Acredito que será muito difícil ver este ano o que se viu na Ferrari dos últimos anos, com começos irregulares e supremacia entre construtores ao final. BrawnGP, Toyota, Williams e Sauber estão com uma chance de ouro nas mãos para finalmente peitar Ferrari e McLaren. A Renault parece ser a Williams de alguns anos atrás, quando entrou em declínio, e eu não apostaria minhas fichas nela.

Sempre achei uma grande babaquice ver alguém torcer por uma escuderia, como muitos fanáticos fazem. Na minha cabeça a competição na F1 sempre teve um sentido patriótico voltado para o piloto, e não equipe. Mas acho que é hora de repensar isso. Se algum brasileiro ganhar o campeonato este ano, com certeza se deverá mais ao carro que ele guia do que sua habilidade.

No mais, a tal expectativa que se cria com o começo da temporada, como disse no começo do texto, é um pouco exagerada. Pouca coisa mudou ou vai mudar na F1. Talvez a grande mudança deste ano foi a temporada não ter começado com a transmissão do Galvão Bueno. Mas quem quiser acompanhar o mundo da velocidade este ano vai contar com os mesmos de sempre: Galvão, Reginaldo Leme, Luciano Burti e Lito Cavalcanti no Sportv, com um ou dois pitacos do Rei, Claudio Carsughi.

Olhando daqui, ficar acordado pra ver a primeira já foi até demais.

24 de março de 2009

Clássico é clássico

Às vezes penso que, no Campeonato Paulista, os jogos valem muito mais do que o torneio em si. É como se a representatividade das partidas não fosse inerente à questão do próprio valor simbólico do certame, no conceito bourdiano. Trocando em miúdos, a real é que os times grandes parecem não ligar muito se serão campeões ou não do Paulistão. Eles querem mais é ganhar clássicos e ficar de bem com a torcida, para que façamos gozações com a galera.

Só para ficar no campo da exemplificação, o caso do Brasileirão é totalmente diferente, já que cada ponto disputado vale ouro. Um jogo contra o Ipatinga, dependendo das circunstâncias, pode se tornar uma grande decisão. Uma bizarrice típica do futebol, impossível de se explicar para não-iniciados.

Mas a questão não é essa. O fato é que na última semana todo mundo queria ver Corinthians e Santos, principalmente quando se contava com os dois jogadores mais hypes do ano, aliado a uma treta insana entre dirigentes dos dois clubes com relação ao percentual de ingressos para o visitante, coisa que já tinha rolado outrora com o mesmo timealvinegro paulista -só que ao contrário.

A peleja começou tensa, como era de se esperar tratando de um clássico. Tudo indicava que, uma hora ou outra, as coisas seriam resolvidas na mais pura porradaria. Entradas violentas já soavam tão civilizadas quanto um aperto de mão. Um volante corintiano resolveu cumprimentar o jovem Neymar ao estilo Al Capone, com um amistoso tapa na cara, mas o juizão não entendeu e resolveu dar falta.

Quando o jogo ficava morno, Douglas jogou a bola na área e pensou: "Seja o que Deus quiser". Por sorte, Dentinho testou a bola e Fábio Costa nem ousou mexer um músculo.

Com um gol a menos no placar, Santos decidiu ir para cima, como manda a mais elementar das leis do futebol. O problema é quando se precisa trocar mais de três passes seguidos do meio campo para frente. Aí, as coisas complicam. Já o adversário da capital tentava a sorte, sem sucesso, com constantes chuveirinhos na área. Era lamentável o desperdício. E isso só esfriou as coisas.

Ronaldo, um dos mais endinheirados jogadores em campo, aparentava estar perdido, tanto que me fez lembrar de Alex Rondón, aquele atacante do São Paulo que costumava sumir no meio do jogo e que, quando menos se esperava, já tinha saído do clube (lembro que isso aconteceu algumas vezes naquela temporada). Porém, meia hora depois que o jogo havia começado, Ronaldo retornou ao seu estado típico, recebeu a bola na área e chutou rente à trave esquerda, mas seu abdômen estava em posição de impedimento.

Depois disso, a torcida voltou a tirar uma pestana. Nada demais aconteceu até que, aos 40 minutos, Neymar, que também havia tomado uns goles de chá de sumiço, fez que nem o Oliver Tsubasa: olhou, pensou, limpou e chutou forte. Porém, o goleiro espalmou. O barato estava com gostinho de reação pois, logo em seguida, Lúcio Flávio passou todo torto para a área, Roni cortou na base do carrinho com elegância e Kléber Pereira arrematou com força, mas em cima de Felipe. Para piorar, o bandeirola assinalou o impedimento e o juizão aproveitou para soprar o apito de fim de etapa.

Após o primeiro tempo, a emoção foi zero. A exceção foi o final, digno de uma tragicomédia, quando o árbitro fanfarrão resolveu reverter um lateral para o Santos, depois desreverteu e ainda deu um minuto de acréscimo para o Corinthians fazer gol sem goleiro. Haja coração.

E para terminar, a tão esperada treta rolou pra valer, mas não em campo. Lá na área VIP, Marcelo Teixeira, o Corleone da Baixada, foi trocar insultos com torcedores rivais, num belo exemplo de fair play. Em retribuição, os corintianos deram chutes e pontapés ao estilo Chong Li na cúpula da famiglia. Do outro lado do estádio, uma confusão entre os próprios santistas foi o suficiente para a polícia desser o sarrafo na galera. O código entre eles era "senta a borracha no cara de preto e branco" e a coisa facilmente degringolou. De repente, um batalhão policial surgiu do nada e a situação foi dominada.

C'est la vie. Tomar porrada em clássico é como pegar congestionamento em dia de chuva em São Paulo. É só relaxar e pensar: carpe diem.
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