O grande barato de ir a um festival de música é que você pode esperar que aconteça qualquer tipo de coisa e ainda assim você sairá satisfeito no final. Bandas que você não espera nada de repente fazem um puta show, bandas que tinham tudo pra destruir fazem a galera cochilar e bandas que podiam causar realmente acabam causando. É uma grande loteria, do tipo assistir a um jogo de futebol no estádio, inclusive com todos os seus problemas de infraestrutura e tal.
O festival Planeta Terra 2010 teve todos esses altos e baixos. Das apresentações que acompanhei, vi um pessoal pouco conhecido quebrando tudo, vi um cara levando ao delírio as mulheres (inclusive aquelas que tem um cromossomo Y), vi veteranos voltando à ativa em boa forma e vi superestrelas não honrando a camisa e ficando num vergonhoso zero a zero.
Primeiro ato
Logo que cheguei ao Playcenter, já dava pra ouvir lá fora o som do Of Montreal. O dia estava bom, não fazia um calor infernal tampouco fazia frio nem dava pinta de que iria chover, como constavam nas previsões. A uns 500 metros da entrada, estacionamos o carro e seguimos a pé por uma rua praticamente deserta. Atravessamos a avenida e já começamos a sentir que estávamos no caminho certo. De repente, uma aglomeração dos tipos mais clichês do rock alternativo surgiu nas nossas vistas. A camiseta do Goo era quase um uniforme por essas bandas, assim como as camisetas pretas Zero, do Smashing Pumpkins. Era como se a rua Augusta tivesse sido transplantada para a zona oeste.
Quando saquei que o Of Montreal já estava fazendo uma barulheira lá dentro, tocando Like a Tourist, nada mais lógico que apressar o passo e ir conferir lá de perto. Aqui é preciso abrir um adendo importante. A entrada foi tranquilíssima, muito bem organizada. Não demoramos um minuto pra pegar a fila e entrar, sendo que os seguranças estavam fazendo uma revista rigorosa. Mais tarde, já dentro do parque, encontrei com um amigo que relatou que quase confiscaram um frasco de perfume de sua namorada por acharem que era algum tipo de substância ilícita. O enrosco só se acalmou quando a autoridade decidiu conferir a procedência do produto e confirmou que o cheiro era de colônia.
Logo após ser revistado, acabei me perdendo da galera. Esse é um expediente normal, diga-se de passagem, mas não quando estou sóbrio. Apesar desse contratempo, fomos lá tomar uma cerveja para esquecer nossos problemas e acompanhar o show. Logo descobrimos que para pegar um veneno, teríamos que trocar a grana por umas fichas. O problema é que teríamos que pegar uma fila que não era das mais amistosas. Perto do guichê, não conseguíamos ver o final dela. Mas era se sujeitar a isso ou ficar sem cerveja, então partimos para o óbvio. Enquanto isso, acompanhava de longe, mas pelo menos acompanhava, a loucura que os caras do Of Montreal aprontavam lá no palco. Para quem estava a fim de ouvir um som dançante, os caras não decepcionaram e fizeram um show bem legal. Pelo telão, só vi uns caras travestidos e uma certa piração sem sentido no palco.
A noite cai
Cerca de meia depois, por volta das oito e meia, começou o show do Mika. Foi fácil perceber isso. Estávamos no fundo da pista, quando vimos homens, mulheres e homens-mulheres, todos ensandecidos, correndo e gritando histericamente em direção ao palco principal.
Mika vestia uma jaqueta preta sobre um conjunto completo de camisa e calça branca. Isso me remeteu ao Freddie Mercury. Por acaso, seus trejeitos e sua presença de palco também me remeteram a Freddie Mercury. Talvez não fosse um mero devaneio meu. O fato é que eu prestei atenção somente nas primeiras músicas do show e pelo que eu ouvi elas não eram ruins. Não chegam a ser um Queen, mas não incomodam. De qualquer forma, é preciso dizer que o cara tem uma baita presença de palco que, junto com o efeito de luzes, é capaz de incendiar qualquer show independente de sua qualidade sonora.
Mas Mika não era nada perto do que vinha a seguir. O Phoenix era uma das bandas mais esperadas, pelo menos pra mim. Ainda em meados de julho, quando soube que os caras iriam tocar no Brasil, não tive dúvidas e garanti meu ingresso. Wolfgang Amadeus Phoenix, o último CD deles, lançado em 2009, é uma das coisas mais legais que surgiram nos últimos anos, uma pequena pérola que ainda não foi descoberta. Como era óbvio que eles tocariam esse álbum inteiro, isso por si só já valeria a entrada.
Então, meia hora antes do show, tratamos de encher o caneco mais uma vez e partir pro meião. Um colega resolveu acender uma vela só para dar uma graça maior. Estava tudo pronto, só faltava a banda, que demorou quase quinze minutos para entrar no palco. Para quem esperou meses para ver eles ao vivo até que não era lá muita coisa, mas reclamar aos berros da pontualidade francesa também não faz mal a ninguém.
Até que um estranho barulho começou a sair das caixas de som e os primeiros acordes de Liztomania começam a tocar, ainda com as luzes apagadas. O público foi ao delírio. A luz finalmente se acendeu e o show começou. Quem não sabia a letra começou a cantar junto. Quem nunca tinha ouvido os caras começou a dançar. Foi um começo destruidor, com certeza.
Depois sacaram espertamente Lasso. Nessa hora me bateu uma sensação forte de dejà vú. Talvez porque essa sequência seja igualzinha do EP ao vivo gravado em Sidney. Inclusive em Liztomania, ele também diz “We are Phoenix from Paris, France. Clap your hands with us, come on”. Mas aí eles colocaram na roda o Long Distance Call e quebraram essa sequência, frustando minhas expectativas negativas.
O fato é que os caras mandam bem, sabem agitar o público. Mesmo Love Like a Sunset, uma música que sempre considerei mais fraca, por ser uma quebra muito longa dentro do disco, naquele momento do show ela ganhou um outro sentido. Talvez pela vibração ou pelo clima da galera, sei lá.
Estávamos próximos de uma hora de apresentação e o fim se aproximava. Isso se confirmou quando tocaram a fodástica 1901, com direito a um mosh gigante do vocalista Thomas Mars no final enquanto a banda continuava fazendo um som, com direito a samplers com loops insanos da música que davam uma atmosfera de festa e o caramba. Ele ainda subiu em uma torre que ficava a poucos metros (e muitos corpos) da gente, acenando para o público e depois voltando aos braços da galera – para o desespero dos seguranças, que naquele momento já tinham ligado o foda-se e queriam mais é que esse francês se quebrasse todo. Sem esse encerramento o show já seria bom. Depois dessa, ficou épico.
Em seguida, entrou Pavement. Legítimos representantes do rock noventista, eles se reuniram novamente este ano depois de um bom tempo sem tocar. E voltaram em grande estilo, mostrando que ainda estão em grande forma. Começaram logo com Gold Soundz, fazendo o público delirar. Aliás, musicalmente não houve problema algum. Os grandes hits do Pavement estavam lá: Unfair, Stereo, Conduit for Sale!, In The Mouth a Desert, Cut Your Hair, enfim uma porrada de canções boas. E o público cantava junto e vibrava. Na minha frente, dois caras estilo playboy bombado pareciam moleques da quinta-série veteranos em matinê de tanto que pulavam e faziam escândalo. Voltando ao show, senti uma diferença legal em comparação com os discos de estúdio. Ao vivo o som parece muito mais pesado, com o baixo marcando forte presença. Sem falar que os caras tocam bem, e isso fica perceptível ao vivo. E é curioso que embora Stephen Malkmus seja o vocalista da banda, ele não se porta como um frontman, dando espaço para todos se destacarem.
O fim
Depois do Pavement, entrou seu arquirrival Smashing Pumpkins, a banda mais conhecida da noite, sem dúvidas. Já que estava lá, não me importaria em assistir ao show deles, mas as duas apresentações anteriores realmente quebraram meu corpo e para piorar ainda tinha 20 reais em fichas pra gastar. Convertendo isso, seriam quatro cervejas Devassas de temperatura morna para engolir e não tomar um preju. Desafio aceito.
Não sei se foi a mistura de álcool e da minha raiva contra Billy Corgan que me fez achar o show uma bosta. Os caras colocaram poucos hits no setlist, preferindo tocar o som mais recente deles, e a palavra carisma certamente não consta no dicionário dos caras. Mas logo depois, soube que não foi somente eu que achei o show uma bosta. Minha timeline do Twitter e do Facebook não me deixam mentir. Quem foi ao Planeta Terra só para assistir os caras realmente tomou no cu nervoso. Mas quem conseguiu aproveitar ao máximo o festival certamente não tem muito do que reclamar.
A organização foi excelente, tirando por um ou outro problema. Por exemplo, quando fomos tentar entrar no estacionamento oficial e havia uma fila caótica de carros e ninguém pra dar uma orientação que seja. E só tinha um stand vendendo cerveja, o que logicamente lotou o lugar e fez com que a tarefa de se embebedar se tornasse um pouco mais complexa. Mas de resto, pela quantidade de gente que participou, até que o saldo foi positivo. Sem falar que aqueles que não estavam a fim de assistir a algum show poderiam ir nos brinquedos e tomar um sorvete como se estivessem num parque de diversões normal.
Já com tudo encerrado, lá pelas quatro da manhã, com o corpo doendo, peguei um dos busões que levavam até o metrô Barra Funda. No corredor que dá acesso às catracas, via-se uma corja caída sobre os cantos da estação. Pareciam zumbis que foram abatidos após uma tentativa frustada de comer cérebros frescos. Já eram quatro e meia e ainda faltava poucos minutos para abrir a estação. Em um ambiente normal, o pessoal já estaria tomado em fúria e se revoltado contra o establishment. Mas lá estavam todos em paz, anestesiados pela experiência que acabaram de presenciar. Certamente seus corpos estavam em um lugar, mas suas mentes vagavam pelo universo. Nos vagões, apesar de lotado, não havia pressa, empurra-empurra como em qualquer metrô às seis horas da tarde. Muitos, inclusive eu, se apoiavam de pé nos cantos do vagão e tentavam dormir enquanto a inércia fazia seu jogo sujo.
29 de novembro de 2010
16 de novembro de 2010
Resenha semi-sóbria: Scott Pilgrim contra o Mundo
Scott Pilgrim contra o Mundo é um belo filme, cara, não deixe de assistir. Pode ser por torrent ou o que for, mas não deixe de assistir. Se você curte quadrinhos, rock alternativo, videogame, comédia non-sense, a merda que for, assista. Vai perder um dos filmes do ano, fácil.
O lance do Scott Pilgrim é que a história é do caralho. Quando um roteiro é bom, esqueça, o filme tem tudo para não ser ruim. É como já dizia o grande Lars Von Trier em seu Dogma 95. A pegada tem que ser a história, não os efeitos gráficos, aquele lance hollywoodiano de som surround 5.1 e cortes ultrarrápidos nas cenas, fazendo com que não se saiba o que está acontecendo, mas ao mesmo tempo não te deixando entediado pois todo aqueles estímulos sensoriais criam uma profusão de informações que não querem dizer nada, mas que para o seu cérebro parece um monte de coisa legal e o caramba. Apesar de que Scott Pilgrim tem tudo isso aí. Cortes, sons, cores, efeitos especiais e música no talo. Mas também tem uma puta história, como já dizia Lars Von Trier, então tá tudo numa boa.
Gastei um tempão elogiando a história, só que é importante dizer que tudo isso se deve graças ao gibi. Scott Pilgrim, o gibi, é tremendamente bem elaborado. Nele tem todos aqueles lances da juventude. A questão dos relacionamentos fracassados, do amor platônico, dos amigos que te chamam de perdedor, das jogatinas de videogame, da vontade de montar uma banda e sair por aí tocando e fazendo sucesso. Tema mais universal que esse não existe, é a jornada do herói pós-moderno. Mas ao mesmo tempo, a história é totalmente psicodélica. Basicamente, Scott Pilgrim é um cara que, pra ficar com uma mina misteriosa, Ramona Flowers, precisa derrotar seus sete ex-namorados do mal, que possuem poderes sobrenaturais e uma sede de vingança que sabe-se lá de onde tiraram. Some a isso diálogos bizarros e uma dose sagaz de referências nerds e temos aí um belo filme, segundo a cartilha de Kevin Smith.
Tendo uma base dessas, o filme só não ficaria bom se o diretor errasse muito na mão. Mas o lance é que Edgar Wright não só captou a essência do gibi, com seu realismo non-sense, como adaptou a linguagem dos quadrinhos pro cinema. Por exemplo, as onomatopeias são usadas pra valer. Assim, quando o telefone toca, além de ouvir o barulho do telefone tocando, você ainda pode ler o triiiiiim em letras estilizadas saindo do aparelho. Sem falar nos sinais visuais com comentários que aparecem de tempos em tempos, como se houvesse um narrador onisciente a zombar de tudo e de todos. E tem ainda as piadas que são tão rápidas e certeiras quanto nas tirinhas de três quadros.
Lógico que como em qualquer adaptação existem diferenças com o texto do gibi e do filme. Tanto que eles até fazem uma piada sobre isso. Tem uma hora em que um personagem hipster solta uma frase solta mais ou menos assim: “A HQ é muito melhor que o filme”. Esse personagem é tipo aquele crítico mongol que acha que tudo o que ele fala é supercool quando na verdade é um monte de merda em estado de putrefação, mas que muitos caras tão idiotas quanto acabam caindo no conto dele pois não percebem que ele está falando é merda, e das boas, não uma merda qualquer.
Essa crítica à crítica faz sentido, porque é óbvio que muitos fanboys ortodoxos vão reclamar dizendo que eles mudaram um monte de coisa da HQ. Lógico que sim, porra, a HQ é gigantesca e o filme tem duas horas. Você quer que os caras façam que nem no Sete Samurais ou no Dr. Jivago, que tem umas quatro horas de filme, com direito a intermission pra galera fazer uma pausa espiritual e depois voltar sem compromisso? Nada contra, porque são dois filmões, estão no meu top 10 de grande filmes. Mas isso não rola hoje em dia. Talvez se eles dividissem a história no meio, como no último Harry Potter, mas o risco parece ser muito alto, já que a produtora pode tanto lucrar em dobro quanto fracassar em dobro. O que foi até uma decisão acertada já que Scott Pilgrim não foi muito bem nas bilheterias americanas e correu o risco de não estrear no Brasil – embora, tecnicamente, tenha estreado só em São Paulo e, ainda por cima, em duas salas. Mas voltando ao tópico, penso que a história no cinema ficou bem amarrada, mesmo omitindo ou alterando o texto do gibi, fazendo com quem nunca tenha lido curta tanto o filme quanto quem já leu.
Tem ainda a trilha sonora. Tem Beck produzindo o som do Sex Bob-omb, a banda de garagem do Scott que tem o típico som sujo de banda de garagem. Tem Frank Black, do Pixies, tocando a excelente “I Heard Ramona Sing”. Tem o Metric fazendo a música do The Clash at Demonhead. Tem o Broken Social Scene como o Crash and The Boys. E tem o Plumtree, com a música que inspirou o nome do personagem-herói, pois o autor do gibi, Brian Lee O'Malley, além de ser um baita nerd também é fã de rock e chegou a conhecer de perto a cena alternativa de Toronto retratada na história.
Por fim, o espírito é esse. O filme é bom, a adaptação é boa, lógico que o gibi é melhor, mas não vamos cair nessa tolice de crítico de bosta que gosta de falar merda como se fosse um negócio legal pra cacete, a trilha sonora é do caralho, os atores são do caralho, com Michael Cera interpretando Michael Cera. De qualquer forma, cara, pode escrever: Scott Pilgrim certamente ainda será comentado e lembrado por muitos anos, seja dentro do circuito indie-cult, seja no mainstream (aposto mais no primeiro).
O lance do Scott Pilgrim é que a história é do caralho. Quando um roteiro é bom, esqueça, o filme tem tudo para não ser ruim. É como já dizia o grande Lars Von Trier em seu Dogma 95. A pegada tem que ser a história, não os efeitos gráficos, aquele lance hollywoodiano de som surround 5.1 e cortes ultrarrápidos nas cenas, fazendo com que não se saiba o que está acontecendo, mas ao mesmo tempo não te deixando entediado pois todo aqueles estímulos sensoriais criam uma profusão de informações que não querem dizer nada, mas que para o seu cérebro parece um monte de coisa legal e o caramba. Apesar de que Scott Pilgrim tem tudo isso aí. Cortes, sons, cores, efeitos especiais e música no talo. Mas também tem uma puta história, como já dizia Lars Von Trier, então tá tudo numa boa.
Gastei um tempão elogiando a história, só que é importante dizer que tudo isso se deve graças ao gibi. Scott Pilgrim, o gibi, é tremendamente bem elaborado. Nele tem todos aqueles lances da juventude. A questão dos relacionamentos fracassados, do amor platônico, dos amigos que te chamam de perdedor, das jogatinas de videogame, da vontade de montar uma banda e sair por aí tocando e fazendo sucesso. Tema mais universal que esse não existe, é a jornada do herói pós-moderno. Mas ao mesmo tempo, a história é totalmente psicodélica. Basicamente, Scott Pilgrim é um cara que, pra ficar com uma mina misteriosa, Ramona Flowers, precisa derrotar seus sete ex-namorados do mal, que possuem poderes sobrenaturais e uma sede de vingança que sabe-se lá de onde tiraram. Some a isso diálogos bizarros e uma dose sagaz de referências nerds e temos aí um belo filme, segundo a cartilha de Kevin Smith.
Tendo uma base dessas, o filme só não ficaria bom se o diretor errasse muito na mão. Mas o lance é que Edgar Wright não só captou a essência do gibi, com seu realismo non-sense, como adaptou a linguagem dos quadrinhos pro cinema. Por exemplo, as onomatopeias são usadas pra valer. Assim, quando o telefone toca, além de ouvir o barulho do telefone tocando, você ainda pode ler o triiiiiim em letras estilizadas saindo do aparelho. Sem falar nos sinais visuais com comentários que aparecem de tempos em tempos, como se houvesse um narrador onisciente a zombar de tudo e de todos. E tem ainda as piadas que são tão rápidas e certeiras quanto nas tirinhas de três quadros.
Lógico que como em qualquer adaptação existem diferenças com o texto do gibi e do filme. Tanto que eles até fazem uma piada sobre isso. Tem uma hora em que um personagem hipster solta uma frase solta mais ou menos assim: “A HQ é muito melhor que o filme”. Esse personagem é tipo aquele crítico mongol que acha que tudo o que ele fala é supercool quando na verdade é um monte de merda em estado de putrefação, mas que muitos caras tão idiotas quanto acabam caindo no conto dele pois não percebem que ele está falando é merda, e das boas, não uma merda qualquer.
Essa crítica à crítica faz sentido, porque é óbvio que muitos fanboys ortodoxos vão reclamar dizendo que eles mudaram um monte de coisa da HQ. Lógico que sim, porra, a HQ é gigantesca e o filme tem duas horas. Você quer que os caras façam que nem no Sete Samurais ou no Dr. Jivago, que tem umas quatro horas de filme, com direito a intermission pra galera fazer uma pausa espiritual e depois voltar sem compromisso? Nada contra, porque são dois filmões, estão no meu top 10 de grande filmes. Mas isso não rola hoje em dia. Talvez se eles dividissem a história no meio, como no último Harry Potter, mas o risco parece ser muito alto, já que a produtora pode tanto lucrar em dobro quanto fracassar em dobro. O que foi até uma decisão acertada já que Scott Pilgrim não foi muito bem nas bilheterias americanas e correu o risco de não estrear no Brasil – embora, tecnicamente, tenha estreado só em São Paulo e, ainda por cima, em duas salas. Mas voltando ao tópico, penso que a história no cinema ficou bem amarrada, mesmo omitindo ou alterando o texto do gibi, fazendo com quem nunca tenha lido curta tanto o filme quanto quem já leu.
Tem ainda a trilha sonora. Tem Beck produzindo o som do Sex Bob-omb, a banda de garagem do Scott que tem o típico som sujo de banda de garagem. Tem Frank Black, do Pixies, tocando a excelente “I Heard Ramona Sing”. Tem o Metric fazendo a música do The Clash at Demonhead. Tem o Broken Social Scene como o Crash and The Boys. E tem o Plumtree, com a música que inspirou o nome do personagem-herói, pois o autor do gibi, Brian Lee O'Malley, além de ser um baita nerd também é fã de rock e chegou a conhecer de perto a cena alternativa de Toronto retratada na história.
Por fim, o espírito é esse. O filme é bom, a adaptação é boa, lógico que o gibi é melhor, mas não vamos cair nessa tolice de crítico de bosta que gosta de falar merda como se fosse um negócio legal pra cacete, a trilha sonora é do caralho, os atores são do caralho, com Michael Cera interpretando Michael Cera. De qualquer forma, cara, pode escrever: Scott Pilgrim certamente ainda será comentado e lembrado por muitos anos, seja dentro do circuito indie-cult, seja no mainstream (aposto mais no primeiro).
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