5 de novembro de 2013

Minha defesa aos candidatos eleitoreiros

A cobertura das próximas eleições é um belo exemplo do espírito do nosso tempo, em que gritos de sem partido são a grande máxima do pessoal politizado, seja nas ruas, seja no Facebook.

Daí abro as páginas dos sites de notícias e vejo que cada notícia relevante do governo é acompanhada das palavras “de olho em 2014”, “mirando a reeleição”, “eleitoreira” e por aí vai. São palavras fortes. Elas costumam deixar uma péssima impressão no cidadão, que se sente ultrajado e enojado, como se o governo tentasse manipular sua mente vendendo boas ações bonitas e sinceras só para abocanhar o voto do eleitor incauto. Bom, é difícil dizer que isso seja mentira, mas aí penso se não é trabalho de todo político e partido buscar sempre se reeleger, pelo menos desde a emenda da reeleição de 1996 (pois é, aquela).

Não votar em um governante porque suas ações políticas podem ser – e certamente – serão usadas como vitrine em algum pleito é um desafio de lógica para profissionais. Se o argumento de ser eleitoreiro é a melhor coisa que a oposição conseguiu para se contrapor ao governo, pode crer que eles ainda não aprenderam nada.

Não estou aqui dizendo que a política seja um lugar bonito e livre de segundas intenções e que governantes são todos uns pobres coitados injustamente incompreendidos pela população. Por exemplo, quando o Alckmin sai por aí inaugurando obras no Metrô, não penso que isso seja eleitoreiro. Só acho que não é mais do que sua obrigação, visto que seu partido está há trezentos anos governando São Paulo e menos de 2 km de linhas são construídas por ano, segundo a BBC. E com um escândalo nas costas envolvendo propinas e fraudes em licitações do Metrô e da CPTM, que tem respingado até no judiciário paulista, não usar o argumento da péssima gestão dos transportes para destruir qualquer fio de esperança de reeleição por parte do governador e do PSDB é loucura.

Agora, acusar de eleitoreiro é o mesmo que dizer nada. É se lamentar porque o cara está fazendo minimamente seu trabalho. Até onde eu sei ninguém foi eleito para ficar em casa jogando Minecraft. É como criticar o marronzinho que sai por aí multando motoristas. Pode não ser agradável, mas é legítimo.
 
Lógico que inaugurar obras do Metrô, fazer um discurso bonito e dar um rolê pelos vagões vazios é um negócio que pega bem nos jornais, e eleitoralmente também. Mas é assim que o jogo é jogado. Sem firula não tem graça e esse é o jogo do governante. A questão é o jornal ou o eleitor não questionar isso e aceitar passivamente. Neste caso, temos um problema.

Porque aceito ver qualquer porcaria em época de eleição, até mesmo curtiria ver uma pancadaria generalizada com cadeiras de metal voando pelo salão, só não quero ficar vendo acusações rasteiras e sem sentido sendo lançadas de um lado para o outro. Pois o candidato que acusa alguém de ser “eleitoreiro”, caso usasse a autorreflexão, veria que ele já fez coisas muito piores. Mas mesmo assim ele segue em frente. E nessa hora a retórica dá seu último suspiro e qualquer tentativa de debate é abortada.

O fato é que criar programas de governo e usar argumentos para vendê-los à população como algo positivo para o bem comum é algo difícil de se fazer nos dias de hoje. Há muita coisa acontecendo por aí: manifestações, black bloc, revoltas populares sangrentas, esquadrões da morte da polícia em plena atividade, leilão do pré-sal, e o caramba e explicar tudo isso em pouco tempo funde a cabeça de qualquer um. Apontar o dedo sujo para o outro e sair andando é sempre uma alternativa mais prática.

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