22 de agosto de 2007

Primeiras Vezes (ou Shhhh!!!)

Sexta-feira, 18 de Agosto de 2007. Um acontecimento que se daria pela primeira vez em solo nacional e, conseqüentemente, projetaria uma série de eventos inéditos (este texto incluso).

Enquanto meu companheiro se preparava para receber acachapantes conhecimentos sobre qualquer raio de aula que ele tenha às sextas-feiras, eu fui ousar me aventurar sozinho nos salões majestosos da Cinemateca Brasileira, a fim de acompanhar a I Jornada Brasileira de Cinema Silencioso.
Devo admitir: Uma experiência não tão impactante quanto chanchadas ao ar livre uma vez relatadas no finado Epítetos Espiclondríficos, mas ainda assim, fora do comum, e portanto, válida.

O suspense começa já na descida da Sena Madureira, por se tratar de um bairro onde, ultimamente, pessoas têm atirado umas nas outras na cabeça por não emprestar um celular, mas alcanço sem maiores dificuldades o número 207 do Largo Senador Raul Cardoso.

Na chegada um choque! O banheiro masculino havia sido reformado!!! Foi triste pensar que aquela parede onde eu colocava o gigante p'ra chorar havia sido substituída por triviais mictórios. Nada legal... A pia, entretanto, continua a mesma.
Superando minha indignidade direcionada à mudança (arquitetônica, estilística, higiênica, etc...) fatal, levanto o zíper e vou ao prédio principal, onde se concluía um simpósio sobre direitos autorais, com direito à cerveja, whisky e quitutes, oferecidos por pinguins para quem lá estivesse, interessados ou não em direitos autorais.

Pego uma cerveja efundida em um copo de chopp aprovado pelo Inmetro, e logo que terminado repousei o copo no balcão do Caffé. Fui-me para a bilheteria, onde eram distribuídos gratuitamente os ingressos para as sessões.
Na sala de cinema o público esperou pela presença do músico que faria o acompanhamento sonoro ao vivo do filme. Uma vez que ele entrou, saudou a platéia. As paredes retráteis desceram e cobriram as janelas da sala (sim, isso acontece na Cinemateca. Uma forma ostentosa de apagar as luzes), e assim começou Veneza Americana.

Trata-se de um documentário brasileiro de 1925 sobre o desenvolvimento estruturacional da cidade de Recife. Na verdade, um filme político puxa-saco de governantes e coronéis da região. Para se ter uma idéia, havia filmagens de um minuto ou mais de cavalos desses políticos que haviam ganho competições sobre quem corre mais rápido ou reproduz melhor. Uma beleza! Orgulho nacional dos pecuaristas!!!

Porém, a música era bem legal. Um piano e elementos eletrônicos, que realmente faziam o espetáculo valer a pena. Afinal, era a primeira vez. Houveram momentos em que duvidei sobre respirar ou não, temendo uma represália das pessoas que estavam ali mais por interesse do que por curiosidade, ou seja, não-eu!

A sessão se encerrou, houveram aplausos. Houveram roncos de quem acorda depois de tomar um susto ao ouvir o repentino som de aplausos (este não sou eu). Mas ao fim dessa viagem silenciosa classifico como positiva a experiência. Talvez seria melhor se não reformassem o banheiro, mas não se pode ter tudo... Pulei num ônibus e fui para um bar, sozinho, comemorar a quarta-feira perdida do meu aniversário e, embalado pelo álcool, escrevi sobre um dia de muitas primeiras vezes, talvez algumas últimas.
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