3 de dezembro de 2007

A primeira noite no inferno - pt.1

Chega uma certa hora da noite em que você é obrigado a tomar uma decisão: voltar para casa e dormir ou ir para um outro lugar e continuar se embebedando. Era uma quinta-feira fria e insossa e, obviamente, escolhemos a segunda opção.

O destino em questão seria o Inferno, uma baladinha para a juventude descolada paulistana. Estava acompanhado por dois ex-colegas de labuta, e um deles precisava tirar umas fotos da tal juventude descolada paulistana por motivo de trabalho. O convite foi feito e aceito por nós de prontidão.

O programa era perfeito. Já passava da meia-noite e estávamos sendo enxotados do bar onde nos embebedávamos desde as 19h, em um beco escuro da Domingo de Moraes. Sinal disso é que as cadeiras estavam sendo postas de cabeça para baixo sobre as mesas -- uma simbologia universal dos donos de bares, que significa "caiam fora".

Ainda trançando as pernas, seguimos para o local. É bom ressaltar que, embora a Augusta não fosse tão longe, a viagem não poderia ser chamada de tranquila. O fotógrafo/piloto de fuga tivera um acidente de trânsito violento algumas semanas antes, que o deixou desfigurado e internado por um mês no hospital. Para piorar, a gente ouvia At The Drive-in no carro, música que certamente afeta os neurônios sadios de uma pessoa.

Então eis que, na entrada da 23 de Maio, sentado no banco de trás, quase perco minha costela esquerda em uma iminente colisão lateral digna de um filme de Hollywood. "Estava olhando para aquele lado (o direito)", tentou se justificar o condutor, enquanto acendia um cigarro e se lamentava pelo misterioso surgimento de um buraco em sua jaqueta.

Enfim chegamos à rua Augusta, o local onde as coisas realmente acontecem em São Paulo -- pelo menos à noite. O vento era gelado como a morte -- aquecimento global parecia um termo desconhecido por essas bandas. Para piorar as coisas, logo na entrada do Inferno, eu percebi que esquecera minha carteira dentro do veículo, após uma batida vazia no bolso de trás da calça. Apesar dos resmungos e dos impropérios proferidos contra meus familiares, nós voltamos a enfrentar as geleiras para pegar o dito cujo.

Primeiramente, nós paramos em um conhecido bar da Augusta, o Violeta, para molharmos a garganta. É lá onde os mais radicais do país se encontram. Logo na porta, era possível notar um grupo de punks, com seus moicanos altos e piercings perfurando os locais mais inusitados do rosto. As mulheres da roda também adotaram o visual dos indígenas americanos e vestiam muito couro e meia-arrastão. Certamente, nossa aparência e nossas roupas casuais causaram algum asco nos presentes. Mas isso pouco importava.

Continua...

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