Cheguei atrasado por causa do estágio, o qual completara um mês de labuta intensa, e fui até a minha sala, onde não encontrei uma alma viva por lá. Segui até a sala de Cultura Geral, onde ele costumava ficar, mas no meio do caminho trombei com o bendito. Dali mesmo, no corredor semi-vazio do 5º andar, ele me passou as instruções para a prova: um texto sobre o poder da mídia, usando exemplos reais.
Corri até o computador, esperei meia hora até ele iniciar e comecei a psicografar isso aí:
Conhecimento como verdade e poder
A imprensa de Gutemberg nasceu com uma razão de ser: compartilhar a informação, que antes era restrita aos copistas e monges na Idade Média, para o restante da população. Porém, ultimamente – do século passado pra cá – ela vem tendo um outro tipo de função para a sociedade. Hoje, a mídia dissemina a informação de uma forma rápida, instantânea ao fato, e sem analisar seu contexto, seu momento histórico ou sua história. A notícia tem sua razão de ser nela própria, sem que o conhecimento por completo seja oferecido ao leitor. E é aí que o perigo se esconde.
Jogando a informação no colo do leitor/ telespectador/ ouvinte, a manipulação de informação é mais fácil por parte da mídia. Nada impede que uma rede exponha um fato incompleto, caricaturado ou recheado de argumentos parciais para lubridiar o consumidor da informação sobre certo acontecimento.
É esse o tipo de poder que o filósofo Michel Foucault trata em seus pensamentos. Para ele, o poder não precisa ser autoritário para se estabelecer na sociedade. As inúmeras instituições que cerceiam a vida social das pessoas (família, igreja, imprensa) cada qual possui sua forma e sua intensidade de poder e de exploração do indivíduo. Além disso, o poder de uma instituição não se resume somente na força, mas também no uso do saber ou do conhecimento como arma.
Dessa forma, entende-se que a mídia detém um tipo de poder tão forte quanto a do Estado, já que tanto um quanto o outro podem entrar em conflito – culminando na derrota da democracia. Certos Estados autoritários e ditatoriais já tomaram o controle da imprensa, usando-o a seu serviço, e censurando os opositores. Durante o regime militar brasileiro, o grande porta-voz da ditadura era a Rede Globo, que tratava de omitir certos fatos para alienar a população, como no caso das Diretas Já.
Sendo fonte única e exclusiva de informação, a imprensa ganha dessa forma - atrelada ou não ao Estado - um poder maior do que lhe é verdadeiro. O conhecimento adquire um sentido único e sem contraposição, o que lhe torna autêntico sob a epistemologia de Platão, no qual só é real aquilo que se pode comprovar empiricamente. Quando existe uma unilateralidade por parte da imprensa – uma espécie de discurso comum – a informação adquire uma função de verdade absoluta, quase um dogma, que é difícil de ser desmentido.
Nos tempos de Vargas do pós Estado Novo e do pós-DIP, a imprensa gritava em uníssono contra seu governo democraticamente eleito, tendo somente o diário A Última Hora como apoiador do presidente. Mas o estopim foi o atentado contra o jornalista opositor Carlos Lacerda, alardeado pelos jornais como de autoria de Getúlio. A pressão contra ele foi tão grande que Getúlio se suicidou e, consequentemente, saiu do poder.
Fatos semelhantes ocorreram em 1964 e em 1992. Nos anos 60, a deposição de Jânio Quadros e João Goulart teve total aval da imprensa da época que, mais tarde, foi calada pela ditadura. Em 1992, com o escândalo envolvendo seu governo, Collor foi massacrado pela imprensa, o que foi um passo importante para o impeachment do ex-governador de Alagoas. Portanto, está mais do que comprovado a mídia tem o incrível poder de derrubar presidentes – e eleger, quando lhe convém.
PS: Esse post me lembrou essa tirinha do Calvin & Haroldo.