17 de fevereiro de 2008

O estranho mundo dos seguidores de Aldebaran pt.2

Era hora de forrar o estômago. Cheguei na barraquinha de yakisoba e pedi um yakisoba. Recebi como resposta: "Estamos sem yakisoba". Dei uma checada no estabelecimento de novo e avistei uma plaquinha escrito "Yakisoba". Antes que eu questionasse, com razão, a atendente se prontificou: "Nós ainda estamos preparando. Se quiser, você tem que ir até a barraca lá de trás", disse ela, como se estivéssemos dentro de um jogo de RPG.

Segui o caminho indicado pela moça. Trespassei por uma selva de pessoas e cheguei até as barraquinhas. Mas quando me dei conta, aquele mundaréu de gente parada na verdade era a fila para pegar o tal macarrão chinês frito com legumes ao molho de gengibre. E lá fiquei, plantado por um bom tempo. Certamente, aquele era um dos yakisobas mais demorados do universo. Meia hora depois e já tinhamos dado três passos. "É bom que seja o melhor macarrão do mundo", falei para o meu irmão.

Encontramos um lugar para sentar e degustarmos do tão aguardado alimento. Do banco, avistamos mais figuras inusitadas. Um tiozão gordo barbudo, de boné e óculos, fazia filmagens das moças em trajes indecorosos. "Não parece o Michael Moore?", perguntou meu irmão. "Hmm... certamente ele está querendo mostrar os malefícios da televisão nas crianças", respondi. Depois, apareceu um cara vestido de sacerdotisa do Ragnarok na nossa frente. "Não lembro de ter visto homens travestidos desde meu último carnaval em Tupã", pensei comigo. Mentira, na Festa à Fantasia da Cásper do ano passado também havia.

Muitas outras figuras bizarras marcaram presença, mas não me lembro de todas. Lembro de um moleque vestido de Sonic, que estava toscamente mal feito, como se ele tivesse virado carne moída pelo Dr. Robotinik. Certamente, não faria sucesso nem em uma festa infantil na Uganda. A única coisa que achei interessante foi o tênis All-Star pintado de vermelho, simulando os velozes sapatos do porco-espinho azul.

Não estávamos nem uma hora dentro daquele lugar e eu já queria mesmo ir embora. Me sentia completamente deslocado do ambiente, como o Corinthians quando vai jogar a Libertadores. Passar o dia em casa jogando Winning Eleven seria, de fato, muito mais prazeroso.

Depois do grude, fomos a um dos prédios principais da universidade. Meus irmãos iriam encontrar uma amiga que eles conheceram na internet, enquanto eu fiquei perto da escada curtindo o movimento. Depois de encontros e desencontros, eles encontraram ela. Era uma menina estranha, de movimentos lentos, cara de joelho e com a empolgação de uma estátua do Madame Tussauds. Só ganhou meu respeito tecnológico porque vestia uma camiseta do Cowboy Bebop, um dos melhores desenhos que já assisti -- e o que me motivou a ouvir jazz.

Com alguma facilidade, ela nos convenceu a irmos para um tal de animekê. Só pelo nome já se saberia o que estava por vir. Se karaokê já é algo que irrita em um certo nível de sobriedade, imagine isso com otakus. Por uma questão de práxis, resolvi conferir de perto esse negócio aí.

O local era um enorme auditório tipo estádio, com um palco logo abaixo. Acima, havia um telão estático e hipnótico, avisando que haveria a final do animekê no outro fim de semana. Aparentemente, o local estava lotado, mas conseguimos arranjar três lugares lá na frente. Já a amiga deles ficou para trás e nunca mais a veríamos (não que eu tenha ficado com algum remorso disso).

De fato, todas as minhas expectativas haviam sido cumpridas. Era como assistir o inferno de camarote. A brincadeira era muito fácil: os calouros eram chamados e eles tinham que cantar as músicas em japonês, sem acompanhamento nem nada, só usando uma colinha. Não tinha como não concordar que a qualidade sonora era sofrível, assim como a visual. A maioria dos cantores eram caras barbudos de cabelo comprido e camisa de heavy metal, cantando músicas que abusam do agudo e da melo-dramaticidade. As poucas meninas que cantavam eram igualmente estranhas. O destaque é uma candidata chamada de Sakura, que interpretava a música de maneira graciosa enquanto cantava, dando vários rodopios no próprio eixo e levantando as mãos para cima.

Uma das poucas coisas legais a fazer no animekê era usar as plaquinhas para zoar com os cantores. Meu irmão, sob meu auxílio, fez horrores nessa hora, aproveitando que estávamos nas fileiras da frente. Rápido como uma flecha, ele escrevia os insultos e subitamente levantava com a mensagem virada para trás, levando a galera ao delírio. Um dos mais interessantes foi a de um cantor que usava uma espécie de pochete / cinto do Black Kamen Rider. Meu irmão não pestanejou e mandou: "Não é o cinto do Batman?". Ah rapaz, duvidaram até da masculinidade do pobre homem.

Continua...

4 comentários:

Anônimo disse...

Hahahaha!!!

Tá começando a salvar a parada - especialmente depois de um gordo de cinta-liga, do Sonic destratado (uma pena, seria o melhor) e dos xingamentos!

Nat. disse...

Bem, para quem duvidava do final dessa jornada começo a ter esperanças de um final feliz.

Cada vez tenho mais vontade de conhecer esses lugares, sério. Animekê? uauuu, o que falta eles inventarem?

Vc curte jazz? Já ouviu Diana Krall? Vale a pena, lindíssima.

Mas a minha maior dúvida em toda essa história é: e o tal yakissoba, estava bom?

hasta la vista!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Igor Nishikiori disse...

Mané: Rá, isso porque ainda não falei do concurso de cosplay que tive o privilégio de assistir.

Nat: O yakisoba até que estava bom, sim. Caso Contrário, haveria uma revolta armada bem no meio do campus.

Ouvi algumas poucas músicas da Diana Krall, até que são legalzinhas. Mas ainda prefiro mais instrumental.

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