11 de fevereiro de 2008

O estranho mundo dos seguidores de Aldebaran pt.1

(Há certos locais que não é recomendável voltar, nem mesmo para uma reportagem gonzo.)

Havíamos acabado de sair de casa quando minha irmã avista, em algum farol fechado do Ipiranga, um menino baixinho usando óculos escuros e uma camiseta verde marca-texto do Batman, sendo levado por um pastor alemão, que tinha quase o seu tamanho, para um singelo passeio na Praça do Monumento. Quando olhei para aquela imagem ridícula, fiz uma cara de decepção e disse: "Acho que podemos voltar. Já vi coisas bizarras o suficiente por hoje".

Na verdade, aquilo era somente uma prévia das imagens excêntricas que eu veria naquela tarde. Depois de muito insistir, com ameaças veladas de mortes, minha irmã me obrigou a acompanhá-la no Anime Dreams, um desses eventos de anime onde os tipos mais ridículos da sociedade nerd juvenil se encontram para aprontar altas confusões que até Deus duvida.

Não que eu tenha algo contra os animes. Inclusive, existem muitos desenhos japoneses bons por aí, que valem muito a pena serem assistidos. Mas como diz o Mané, o grande problema dessas coisas legais são os fãs ortodoxos, que não sabem onde começa o cafona e onde termina o ridículo.

Sei disso pois já tinha ido uma vez a um evento em 2006, mas achei tudo tão boçal que nunca mais cogitei pisar nesse tipo de recinto. Mas o pior é que, desde então, os chamados otakus passaram a ganhar um espaço gigantesco na mídia, como se fizessem algo realmente importante, e se tornaram um novo símbolo de identidade juvenil (ou coisa que o valha). É quase certo que os otakus serão os emos do futuro, se já não o são. Por isso, resolvi ver de perto como está a cena agora.

Quando chegamos perto de onde desembarcaríamos, na Unicsul da Anália Franco, já era possível sentir o vil aroma da anormalidade, com pessoas estranhas andando livremente por todos o cantos, sem serem reprimidas por olhares de desdém. E algo que realmente me preocupou: não havia bares ao redor da faculdade. Essa era uma péssima notícia, pois era quase certo que cerveja não seria vendida dentro do evento -- informação que depois eu confirmei, com enorme pesar. Uma jogada arriscada seria ir ao shopping me embriagar (junto com os famosos boêmios de praça de alimentação) e tentar entrar trançando as pernas, mas até lá o efeito do álcool já teria se dissipado e a mim só restaria uma cara vermelha e uma bexiga cheia.

Entramos no evento. Já era possível ver dezenas de pessoas de bobeira, nos cantos das escadas e no gramado do campus, como em qualquer universidade normal, mas trocando os universitários fazendo algazarra por jovens criados a leite com pêra usando trajes bizarros.

Aliás, essa é uma faceta comum desses eventos. Especialistas dizem que os otakus encontram-se nesse tipo de manifestação para procriar, pois os otakus são o tipo de nerd que se relacionam afetivamente com outras pessoas -- o que invalida qualquer tese darwinista da evolução da espécie. Para isso, eles usam a mesma tática de conquista dos pavões, que enfeitam suas plumas para atrair o sexo oposto. No caso deles, o costume trivial é usar roupas e adereços que não fariam sentido nem em uma festa junina no interior, estranhos até mesmo para um show do Rogério Skylab. O lado bom é que não é difícil encontrar menininhas graciosas vestidas de colegiais. O lado ruim é que eu nunca atrairia a atenção das divinas damas com meu figurino (uniforme nº2 da Inglaterra de 2006, bermuda e meias pretas) -- a menos que eu usasse como adorno uma bandana do Naruto ou uma mochila cheia de chaveiros.

Naquela altura, meu estômago pegava fogo de tanta fome. Logo detectei as barraquinhas de quitutes na parte lateral do prédio. O espaço era ridiculamente pequeno, mas quebrava o galho. Segui então até o caixa, onde trocaria dinheiro de verdade por dinheiro fictício. A minha sorte é que o câmbio estava 1 para 1, mostrando que o neo-liberalismo ainda não havia chegado por aqui. "Chupa, Consenso de Washington", pensei.

Enquanto esperava minha vez na fila, ocorreu uma cena típica de abordagem usando plaquinhas como meio de comunicação, bastante comum por essas bandas. Uma menina gordinha de cara bizonha (mas com olhos verdes penetrantes) e de toquinha de otaku apareceu ao lado dos dois caras que estavam na nossa frente e levantou uma plaquinha que perguntava: "Eu sou kawaii*"? Um dos caras olhou para ela, analisou a pergunta da placa e respondeu: "Não. Desculpa", e deu uns tapinhas carinhosos na cabeça dela. Desapontada ao extremo, ela voltou para onde nunca deveria ter saído.

Continua...

*Kawaii significa, na tradução literal, algo bonitinho, gracioso. É bastante conhecido pelos otakus porque é costumeiramente dito nos animes, e os malditos fãs não teimam em repeti-lo ad eternum.

2 comentários:

Nat. disse...

Uau, que aventura! Aliás, tá mais para o gênero drama né? Ou será ficção científica? Seres de outro mundo mesmo...

Mas pareceu interessante o local... eu me divertiria à beça, ia colocar meu vestido de bolinha com minha melissa azul piscina e meias amarelas e ia me sentir uma princesa!

Da próxima vez me chama... e avisa com antecedência para eu ir planejando o figurinho rs!

hasta la vista.

Anônimo disse...

Meu Deus! Uma festa de cosplayers!

Você poderia simplesmente ter deixado sua irmã por lá e ido embora. Pelo menos rendeu um outa texto legal!

(Em tempo: alguém achou que você era o Oliver Tsubasa lá ou algo do tipo?)

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