24 de março de 2009

Clássico é clássico

Às vezes penso que, no Campeonato Paulista, os jogos valem muito mais do que o torneio em si. É como se a representatividade das partidas não fosse inerente à questão do próprio valor simbólico do certame, no conceito bourdiano. Trocando em miúdos, a real é que os times grandes parecem não ligar muito se serão campeões ou não do Paulistão. Eles querem mais é ganhar clássicos e ficar de bem com a torcida, para que façamos gozações com a galera.

Só para ficar no campo da exemplificação, o caso do Brasileirão é totalmente diferente, já que cada ponto disputado vale ouro. Um jogo contra o Ipatinga, dependendo das circunstâncias, pode se tornar uma grande decisão. Uma bizarrice típica do futebol, impossível de se explicar para não-iniciados.

Mas a questão não é essa. O fato é que na última semana todo mundo queria ver Corinthians e Santos, principalmente quando se contava com os dois jogadores mais hypes do ano, aliado a uma treta insana entre dirigentes dos dois clubes com relação ao percentual de ingressos para o visitante, coisa que já tinha rolado outrora com o mesmo timealvinegro paulista -só que ao contrário.

A peleja começou tensa, como era de se esperar tratando de um clássico. Tudo indicava que, uma hora ou outra, as coisas seriam resolvidas na mais pura porradaria. Entradas violentas já soavam tão civilizadas quanto um aperto de mão. Um volante corintiano resolveu cumprimentar o jovem Neymar ao estilo Al Capone, com um amistoso tapa na cara, mas o juizão não entendeu e resolveu dar falta.

Quando o jogo ficava morno, Douglas jogou a bola na área e pensou: "Seja o que Deus quiser". Por sorte, Dentinho testou a bola e Fábio Costa nem ousou mexer um músculo.

Com um gol a menos no placar, Santos decidiu ir para cima, como manda a mais elementar das leis do futebol. O problema é quando se precisa trocar mais de três passes seguidos do meio campo para frente. Aí, as coisas complicam. Já o adversário da capital tentava a sorte, sem sucesso, com constantes chuveirinhos na área. Era lamentável o desperdício. E isso só esfriou as coisas.

Ronaldo, um dos mais endinheirados jogadores em campo, aparentava estar perdido, tanto que me fez lembrar de Alex Rondón, aquele atacante do São Paulo que costumava sumir no meio do jogo e que, quando menos se esperava, já tinha saído do clube (lembro que isso aconteceu algumas vezes naquela temporada). Porém, meia hora depois que o jogo havia começado, Ronaldo retornou ao seu estado típico, recebeu a bola na área e chutou rente à trave esquerda, mas seu abdômen estava em posição de impedimento.

Depois disso, a torcida voltou a tirar uma pestana. Nada demais aconteceu até que, aos 40 minutos, Neymar, que também havia tomado uns goles de chá de sumiço, fez que nem o Oliver Tsubasa: olhou, pensou, limpou e chutou forte. Porém, o goleiro espalmou. O barato estava com gostinho de reação pois, logo em seguida, Lúcio Flávio passou todo torto para a área, Roni cortou na base do carrinho com elegância e Kléber Pereira arrematou com força, mas em cima de Felipe. Para piorar, o bandeirola assinalou o impedimento e o juizão aproveitou para soprar o apito de fim de etapa.

Após o primeiro tempo, a emoção foi zero. A exceção foi o final, digno de uma tragicomédia, quando o árbitro fanfarrão resolveu reverter um lateral para o Santos, depois desreverteu e ainda deu um minuto de acréscimo para o Corinthians fazer gol sem goleiro. Haja coração.

E para terminar, a tão esperada treta rolou pra valer, mas não em campo. Lá na área VIP, Marcelo Teixeira, o Corleone da Baixada, foi trocar insultos com torcedores rivais, num belo exemplo de fair play. Em retribuição, os corintianos deram chutes e pontapés ao estilo Chong Li na cúpula da famiglia. Do outro lado do estádio, uma confusão entre os próprios santistas foi o suficiente para a polícia desser o sarrafo na galera. O código entre eles era "senta a borracha no cara de preto e branco" e a coisa facilmente degringolou. De repente, um batalhão policial surgiu do nada e a situação foi dominada.

C'est la vie. Tomar porrada em clássico é como pegar congestionamento em dia de chuva em São Paulo. É só relaxar e pensar: carpe diem.

Um comentário:

Andre Leite disse...

Alexander Rondón, se não me engano, estreou no São Paulo com a camisa 18. Eu estava no Morumbi esse dia. Deve ter entrado aos 30 minutos do 2° tempo. Chegou muito perto do gol por duas vezes. Perto no sentido de estar em posição irregular, e não de marcar um gol. Jogou outras dez partidas, se muito. Não balançou as redes. Não deixou saudade. O time do Santos é muito fraco, e clássicos se nivelam por baixo. O time do Corinthians (no papel) não tem time para ganhar do São Paulo, mas o Santos tem um time pra perder fácil pro Corinthians, mas ganhou do São Paulo. Só falta um clássico no Paulistão, que no meu caso é o mais rivalizado. Só não concordo com o texto sobre a importância dos jogos, porque uma coisa é clássico na fase de pontos corridos, e outra é no mata-mata.
Só queria finalizar dizendo que não acho que o Santos vá se classificar para as quartas. Hoje, acho que o Santos tem Alexanders Rondóns demais.

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