6 de abril de 2009

Tempo para nada.

Muitas pessoas reclamam de “ter rotina” argumentando que o tempo passa mais rápido que o normal. Esta é a invenção do século. O tempo continua sendo contado por horas, e o dia sempre se forma das mesmas vinte e quatro delas. O raciocínio dos rotineiros é na verdade a derivação da ideia de que não existe tempo suficiente para se realizar todas as tarefas desejadas. O tempo é, em alguns casos, superestimado. Poucas pessoas percebem isso exatamente porque lhes falta tempo.

Difícil é o tempo de sobra. Quando não temos rotina e tarefas a coisa complica. É preciso pensar com cuidado tudo o que vamos fazer, pois devemos levar em conta a importância do ato caso fôssemos rotineiros. “Eu posso fazer isso, mas se eu fosse uma pessoa ocupada, sem tempo, provavelmente não o faria”.

Isso me aconteceu há algum tempo, e seguindo o pensamento acima resolvi ler um livro. Achei que um livro não seria perda de tempo caso eu não tivesse tempo para ler livros, pela importância cultural da coisa.

Não podia ser um livro da prateleira (empoeirada), pois isso me daria a sensação de que poderia ler um livro a qualquer hora que não aquela em que eu tinha tempo livre. Só o fato de achar que eu não perderia tempo era pouco, então como bom sovina que sou, decidi comprar um livro novo, e partir do princípio que caso eu decidisse cerrar a leitura antecipadamente não só perderia meu tempo (que exatamente por estar sobrando se tornou muito mais valioso) como também arcaria com o desperdício monetário.

Escolhi “A arte de produzir efeito sem causa”, do Lourenço Mutarelli, que trata justamente de um cara que perde o emprego e começa a ter tempo livre demais. É uma leitura simples e rápida. Júnior, o personagem principal, fica louco à medida que perde interesse nas coisas e começa a fazer nada (este é um trocadilho muito bom). No fim das contas eu gostei do livro. Não tinha lido nada do Mutarelli ainda, e o interesse só apareceu por causa d'O Cheiro do Ralo que vi no cinema. O melhor Selton Mello. O Mutarelli acerta o personagem aí: Todo mundo é um pouco louco, fetichista e paranóico com alguma coisa.

Quando sobrar tempo leio mais alguma coisa dele.

Um comentário:

Andre Leite disse...

Esses caras sabem do que estou falando sobre tempo livre:
http://www.youtube.com/watch?v=hMnk7lh9M3o

Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.