Criei uma teoria que ainda está em desenvolvimento, mas que gostaria de compartilhar com vocês. O fato é que estava lendo o clássico livro “Ponto de Mutação”, do físico austríaco Fritjol Capra, e tive uma epifania. A obra defende uma mudança de paradigma quanto à atual visão hegemônica reducionista, concebida por Descartes e seu método científico, lá no século 17. Um dos conceitos do método cartesiano crê na ideia de que para compreender um objeto de estudo é preciso reduzi-lo à mínima fração. Como exemplo, ele diz que para entender como funciona um relógio é preciso analisar e conhecer cada mecanismo e engrenagem em separado. Em outras palavras, temos aí o reducionismo.
Esse tem sido o paradigma da ciência atual até a descoberta das partículas subatômicas, que mostrou que o átomo poderia ser reduzido em múltiplas partes. Até que isso não foi um grande choque para os cientistas, mas o mais estranho era como essas partículas se comportavam. Elas podiam sumir e aparecer de repente, viajar na velocidade da luz, mudar de forma indiscriminadamente, enfim, elas desafiaram a ciência clássica de tal forma que os cientistas criaram uma nova área da física só para entendê-las: a física quântica. E o mais inusitado é que quanto mais estudam as partículas subatômicas, mais mistérios surgem. Há quem diga que nosso universo atual não tem quatro dimensões (altura, comprimento, largura e tempo), mas 11, que só são perceptíveis e compreensíveis no nível subatômico. Outros dizem que as partículas podem viajar no espaço-tempo através de buracos de minhoca (wormholes) abertos por uma dessas novas dimensões.
Por isso, Capra defende um novo paradigma para compreender esse e outros fenômenos da natureza até agora inexplicáveis pelo reducionismo. Ele prega uma visão holística, no sentido de “todo”, que englobe todas as ciências naturais. Por sorte, hoje (o livro é de 1983) os pesquisadores estão muito mais receptivos a esse novo paradigma. A medicina atual já sabe que o estilo de vida e a saúde mental tem a mesma capacidade de adoecer uma pessoa do que microorganismos. Lógico que ainda não há consenso entre os cientistas, mas já é alguma coisa.
Daí que lendo o livro me veio à mente a ideia de que a direita também tem uma visão reducionista da sociedade, enquanto que a esquerda costuma explorar uma visão mais plural (e, por que não, mais humanista). Um exemplo óbvio: o conceito de liberalismo econômico defendido pelos conservadores crê que cada indivíduo é apto para buscar a riqueza material e a melhora na sua condição de vida é benéfica para toda sociedade. Portanto, não teria porque o Estado meter o bico na economia. Ora, até faria sentido num mundo utópico de Adam Smith, mas isso não se configura em um ambiente em que temos empresas cada vez mais gigantescas tomando conta de um mercado inteiro, em que a regra é engolir a concorrência.
Outro exemplo: a direita tem o costume de ser xenófoba e isso tem aumentado muito na Europa nos últimos anos devido à crise econômica. O pensamento deles é muito simplista: há desemprego porque os estrangeiros estão roubando nossas vagas. Esquecem os reacionários de que a maioria dos estrangeiros trabalham em subempregos que a classe média local não encararia facilmente. Mesmo assim, eles preferem gritar contra os estrangeiros do que contra o governo que se mantém refém dos banqueiros e dos especuladores, que são os verdadeiros culpados.
Mais recente os neocons norte-americanos tiveram a grotesca ideia de fazer um outdoor comparando o Obama com Hitler (saca só que fina ironia, seria como chamar Mao Tsé Tung de japa). Tudo isso para sutilmente falar que o Obama é socialista, pelo menos na cabeça deles. Só que eles esqueceram que o partido Nazista tinha socialismo só no nome. Ou seja, os direitistas tiraram do contexto o nacional socialismo para, de quebra, vincular os socialistas ao nazismo.
Nesse sentido, a grande imprensa também atua num aspecto reducionista, o que, em partes, beneficia a visão conservadora da sociedade. A maioria dos crimes presentes nas páginas policiais são desvinculados da questão política, econômica e filosófica, que ficam em outras seções do jornal. Mesmos as revistas semanais costumam fazer esse tipo de separação, como se taxa Selic não tivesse nada a ver com a taxa de violência.
Lógico também que não precisamos ser duros. O próprio Capra diz que a visão reducionista e holística devem andar juntas, atuando em equilíbrio. Até porque a visão reducionista trouxe grandes avanços na ciência e na medicina moderna, assim como na economia e na tecnologia. E na política também, eu acho.
Um comentário:
Belo texto, Mestre. O Ponto de Mutação é um livro excelente. Quando o li mudei minha visão por completo. Procure ler os outros livros do Capra que também valem muito a pena. Quanto ao jornalismo ser reducionista, costumo dizer que o impasse jornalístico é de ordem quântica, isto é, de tempo e espaço. Não há espaço para análises mais profundas e corre-se contra o relógio sempre. É a "ordem" dos nossos negócios. Abraços.
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