Essa história de discos que vazam na internet já é tão manjada que é até de se desconfiar se não haveria alguma malandragem por trás disso, principalmente se atentarmos ao fato de que estamos falando do The Suburbs, o mais novo trabalho do Arcade Fire. Sabendo que a discografia dos caras já é praticamente obrigatória para quem curte uma boa música – e ainda compra CD, que nem eu – a expectativa do público com o novo álbum não poderia ser desprezada. E já que uma hora ou outra ele iria cair na internet, por que não fazer logo o trabalho sujo e manter o hype nas alturas até o lançamento oficial, que aconteceu nesta semana?
O fato é que desde o aclamado disco de estreia, Funeral, o Arcade Fire já é figurinha carimbada entre as grandes bandas atuais, e não é por menos. Seu som é tão diverso quanto difícil de explicar para mentes sãs. Qualquer tentativa de enquadrá-los em qualquer rótulo musical soa como um mero discurso vazio de sentido.
E não ajuda muito o fato dos caras terem o bom costume de conseguir se reinventar a cada lançamento, como é novamente o caso de The Suburbs. Quer dizer, o tom melancólico das canções e o som caótico da banda, com uma infinidade de instrumentos diferentes completando a harmonia, continuam lá, mas a questão são as novas abordagens disponíveis. Assim como aconteceu com Ok Computer, do Radiohead, eles jogaram fora o modelo dos discos anteriores e embarcaram numa nova onda. Neste caso, a onda escolhida parece ter sido a música dos anos 80.
Não dá para negar que os caras sempre tiveram um pé no pós-punk, mas agora o negócio ficou mais insano. Na faixa-título que abre o álbum, “The Suburbs”, o vocalista Win Butler manda um falsete no melhor estilo Neil Young, enquanto que a balada “Modern Man” tem uma melancolia fingida que lembra muito o som do The Cure. Mais exemplos: “Half Light II (No Celebration)” tem uma pegada à la U2, a rockzinha “Month of May” parece Billy Idol, “We Used to Wait” é obviamente inspirado em Depeche Mode e “Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)”, embalado pela voz de Régine Chassagne, tem um som dançante que lembra Blondie na sua fase new wave.
Mas o álbum vai muito além das referências. “Ready to Start”, cujo começo parece “Keep the Car Running”, do Neon Bible, mostra que na essência o do som dos caras continua afiadíssimo e deveras intrigante. Mas a grande faixa é mesmo “Suburban War”, que começa lenta, com um belo e hipnótico riff, até que subitamente muda de ritmo, dá uma quebrada, volta para o começo, começa a ganhar velocidade e termina de maneira apoteótica com um coral no fundo.
A real é que para analisar os álbuns do Arcade Fire é preciso entendê-lo como um todo e não música por música, como normalmente se faz por aí. É como se fosse um filme ou um livro com começo, meio e fim, em que cada capítulo faz sentido no entendimento da trama. O próprio baterista Jeremy Gara disse isso em uma entrevista à Folha. "Há vários sons diferentes no disco. Cada canção funciona por si própria, mas nos preocupamos com o sentimento gerado pelo disco como um todo", afirmou.
Em casos como esses, o importante é não só como as músicas se relacionam entre si, mas como elas se encaixam para formar uma obra completa e lógica, como se a simples alteração na sequência das faixas já mudasse toda a essência do álbum. E The Suburbs consegue cumprir essa missão com maestria, tornando-se um disco para ouvir do começo ao fim e sem shuffle.
Na verdade, por alguma razão, a impressão que passa é que The Suburbs é o mais fácil de ouvir do Arcade Fire. Ele não tem o clima sombrio dos álbuns anteriores nem músicas tão bem trabalhadas, mas as canções estão mais rápidas e suaves. Além disso, as cinco primeiras faixas engatam rápido, sem quebra de ritmo, tal qual no Funeral. Aparentemente, The Suburbs é o melhor álbum para quem quer começar a ouvir Arcade Fire. Para quem já é fã, pode-se dizer que é um dos melhores deles, mas só porque eu curto a música dos anos 80.
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