2 de junho de 2011

Fleet Foxes e a longa e tortuosa estrada

Quando surgiu com seu álbum de estreia em 2008, o Fleet Foxes causou um belo frisson na crítica musical. O espectro do folk rondava a cena rock, mas ainda não havia surgido nada de diferente até então, ou mesmo qualquer coisa que não soasse como Bob Dylan ou Nick Drake. Mas a frota de Robin Pecknold rapidamente começou a fazer a cabeça dos críticos mais espertos, com um estilo que era uma mistura de Beach Boys e Crosby, Stills, Nash & Young, com um quê de folk celta e pop barroco. Enfim, uma coisa totalmente estranha. Se alguém estava atrás de algo novo no rock alternativo era só mirar naqueles hippies barbudos que não havia como errar.

Três anos depois daquele baque inicial, o Fleet Foxes volta à campo com Helplessness Blues, certamente o melhor disco até agora (e o segundo, é verdade). Como não haveria de ser diferente, a sonoridade estranha da banda continua lá: a voz reverberada e hipnótica de Pecknold, os backing vocals compondo a harmonia da música – como naqueles “barbershop quartets” –, as melodias bem trabalhadas e o clima bucólico, místico e um tanto psicodélico em meio a tudo isso. Mas o som está agora mais melancólico, sério e maduro. É uma mudança quase imperceptível em uma primeira audição, mas não é difícil notar que a contemplação da natureza já não é mais o tema principal por aqui.

Isso fica óbvio logo nas primeiras palavras da primeira faixa, “Montezuma”: “So now I am older than my mother and father / When they had their daughter / Now what does that say about me”. “Oh man what I used to be”, completa Pecknold no refrão quase como um mantra, mostrando que a maturidade não apenas bateu à porta do rapaz de 25 anos, mas a esmurrou com toda a força do mundo.

Não é difícil entender sabendo o caminho tortuoso pelo qual Helplessness Blues passou até ser finalmente lançado. Em fevereiro de 2009, a banda se reuniu em um estúdio alugado para ensaiar novas músicas, mas as sessões não puderam ser utilizadas e eles perderam US$ 60 mil na brincadeira. Depois, o baterista e co-compositor Joshua Tilman saiu em turnê pela Europa e América do Norte entre 2009 e 2010 e as gravações tiveram que ser adiadas. Quando as coisas começaram a caminhar, em abril de 2010, Pecknold estava tão compenetrado no álbum que sua namorada decidiu dar um fim no relacionamento de cinco anos. E para finalizar, o disco que estava previsto para sair no segundo semestre do ano passado só foi lançado agora.




Portanto esqueça qualquer coisa mais pop como “Ragged Wood”, a faixa mais agitada do disco anterior. O momento não era propício. O que não quer dizer que o disco seja o fino da fossa. O som está cativante como nunca, as melodias continuam bem trabalhadas e o álbum parece muito mais coeso do que o anterior.

Se no disco de estreia as músicas seguiam como em uma montanha-russa com momentos de êxtase seguidos de calmaria pura, o que quebrava demais o ritmo, Helplessness Blues está mais equilibrado e melhor cadenciado, o que o torna o tipo de disco que é preferível ouvi-lo inteiro, como se fosse uma obra completa em que cada música é um capítulo distinto, a parte de um todo. Isso quer dizer que não há uma canção que consegue se sobressair com facilidade, embora não signifique que o álbum não tenha lá seus hits. Mas a questão é que o objetivo agora é outro. Pelo menos é o que pensava Pecknold, quando ele disse em entrevista ao Pitchfork em 2009 que queria fazer algo como Astral Weeks, o icônico disco de Van Morrison, “porque ele soa como se o álbum tivesse sido gravado em um universo de apenas seis horas”.

Se ele conseguiu ou não é difícil dizer, mas a evolução na construção das melodias é notável. Na faixa de abertura, “Montezuma”, não dá para sacar grandes mudanças em comparação com o álbum anterior ou com o EP Sun Giant, por isso ele é o mais perfeito cartão de visitas do Fleet Foxes, mostrando para quem não conhece qual é a deles.

A coisa começa a esquentar na segunda faixa, “Bedouin Dress”. Um riff no violino, uma marcação na bateria e um clima de felicidade fingida e não é preciso mais nada para fazer uma canção cativante.

A faixa seguinte “Sim Sala Bim” mostra uma jogada manjada da banda desde os tempos de Sun Giant: a música começa lenta, só com a voz de Pecknold acompanhada pelo violão, e aos poucos vai ganhando força e intensidade até atingir um ponto máximo que vai progressivamente diminuindo rumo ao fim. Esse roteiro se repete em diversas outras músicas do álbum, quase sempre com sucesso.

"The Plains/Bitter Dance", por exemplo, segue nessa toada, assim como a excelente faixa-título “Helplessness Blues”. Ela começa só no violão, passa a ficar cada vez mais rápida e novas vozes entram em cena, até o ponto que o bumbo da bateria explode e torna as coisas completamente épicas, com uma bela melodia que entra no coração. O coro faz com que os versos prolongados ao máximo ganhem contornos apoteóticos de uma maneira que só o Fleet Foxes poderia fazer sem parecer forçação de barra.

Outra faixa que merece destaque é "Lorelai", uma canção simples, simpática e triste. Já "The Shrine/An Argument" transparece uma certa raiva incontida que nunca antes tinha ouvido em outras músicas da banda, um épico catártico de oito minutos que termina em momentos de puro delírio experimentalista.

Fechando o álbum tem a minimalista "Blue Spotted Tail", que só conta com o violão e a voz de Pecknold, dessa vez sem eco, seguido da bela "Grown Ocean", uma música que finalmente exprime a felicidade em seus poros, uma visão otimista em meio ao caos mental, o momento de redenção de uma alma liberta de seus demônios.

Um comentário:

Jorge Ramiro disse...

Esse vídeo é muito bom. Eu gosto muito da música. Eu acho que é uma nova forma de fazer arte. Eu trabalho. Eu faço alguns trabalhos para lugares de comida, como Kekanto e outros sites da Internet tem que fazer recomendações. Há nove anos a trabalho ea verdade é que eu amo o meu trabalho. Além um designer sempre se sente feliz com seu trabalho, porque ele acha que ele é um artista. E ele realmente é um artista.

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