24 de maio de 2009

A frota das raposas

Sempre fui cismado com essas novas bandas que mal aparecem e já são eleitas pela crítica as melhores coisas que já surgiram desde os Ramones, ou coisa que o valha. Na maioria dos casos, nunca entendi o porquê de tanto hype com grupos que parecem acrescentar muito pouco em termos de sonoridade e qualidade musical, e que ficam naquela mesmice do rock atual, como Yeah Yeah Yeahs!, TV on the Radio, CSS, Bloc Party, entre outros. E nem foi por falta de vontade pessoal. Arctic Monkeys, por exemplo, eu ouvi de cabo a rabo e não achei grande coisa (exceto pela música "A Certain Romance", que é de longe a mais legal dos caras). Lógico que há algumas boas exceções, e entre elas está a nova sensação do folk-rock americano, o Fleet Foxes.

Apesar de ainda não ter caído nas graças da crítica musical brasileira, o lançamento do primeiro CD do Fleet Foxes no ano passado fez um tremendo estrago lá fora. A Mojo chamou-a de "a próxima grande banda da América". A igualmente britânica Uncut e o Pitchfork também alçaram o álbum como um dos melhores de 2008. Só para não dizer que não houve unanimidade, a queridinha da galera NME resolveu dar um 7, o que talvez explique um pouco a apatia da imprensa brasileira especializada.

Lógico que é de se desconfiar de tanto elogio. Já cansei de cair do cavalo por causa dessa armadilha da indústria. Mas é preciso reconhecer o talento dos caras em, pelo menos, conseguir fazer algo diferente do que se vê por aí. Tanto que é difícil definir o Fleet Foxes. Pode-se dizer que é uma banda de folk-rock americano, com a harmonia de até quatro vocais dando o clima das músicas -no melhor estilo que consagrou o Beach Boys antes do Pet Sounds- e elementos do folk celta, do rock progressivo dos anos 70 e até do indie rock.

A mistura de tudo isso, obviamente, resulta em algo muito estranho. Na primeira audição, parece uma coisa meio místico-religiosa, no melhor estilo Enya, que logo te remete a imagens de montanhas, celeiros, pastos e essas coisas bucólicas. Por isso, Fleet Foxes é daquelas bandas em que é preciso ouvir diversas vezes para começar a fazer sentido. Na verdade, é mais fácil ouvir do que explicar.

Essa estranheza fica evidente logo na primeira música, "Sun It Rises", que começa com um coral típico do cancioneiro rural americano. Depois ela caminha para um folk lento e melódico à la Nick Drake e, quando os intrumentos vão pouco a pouco ganhando peso e dominando a parada, o ritmo é quebrado bruscamente. Uma jogada velha, mas certeira.

Na música seguinte, "White Winter Hymnal", a banda traz para o folk a pegada do rock atual, com arranjos que fazem lembrar o Arcade Fire, mas com a harmonia da canção sendo conduzida através dos vocais reverberados. O inusitado é que a música tem um verso apenas. Mesmo assim, é facilmente a melhor faixa do CD. Até imagino nos shows o pessoal cantando essa música, repetindo em coro: "I was following, I was following, I was following...".

Em "Ragged Wood", vê-se mais uma mostra de que os caras não se fixaram só em referências do passado. A faixa começa bem rápida e elétrica, como se os Beach Boys resolvessem fazer um cover de Interpol, só para ficar no campo das analogias esdrúxulas. Até que, repentinamente, a música muda completamente de ritmo, parecendo que acabou e deu lugar à outra. Também figura entre as melhores do álbum.

Outros destaques são "Quiet Houses" e seu verso hipnótico ("Lay me down, lay me down"), a inebriante "He Doesn't Know Why", a melancólica "Your Protector", com uma pegada que lembra Jethro Tull, e "Oliver James", que poderia facilmente se passar por uma música do Neil Young.

Ainda é muito cedo para dizer se o Fleet Foxes vai realmente entrar no hall das grandes bandas. Lógico que o disco tem seus altos e baixos, como qualquer outro. E os melhores momentos acontecem quando eles resolvem aplicar a atmosfera bucólica no indie rock. E os piores quando eles abandonam suas referências e mergulham de cabeça num excesso de coro reverberado místico, como em uma trilha sonora de yoga.

Mas, no geral, todos os méritos são merecidos. E é preciso lembrar que é o primeiro disco deles e, portanto, ainda há muito para evoluir. Por isso, ainda não dá para chamá-los de novos gênios do folk-rock e colocá-los num pedestal ao lado do Bob Dylan, Van Morrison e Crosby, Stills, Nash e Young. Mas, certamente, estão bem acima de Mallu Magalhães e outros espécimes que fazem a alegria da moçada cult.

Um comentário:

Rafael disse...

Ae Igão, valeu pelo apoio!

Huahaha ce falou lá que escrevo que nem um velho, azedo e fala pra continuar assim? Huahaha

add teu link lá no meu blog. E qnt às bandas novas tbm tenho um puta preconceito. NxZero da vida o escambal. Um dia ponho um sobre isso lá no meu blog, uhahua

Abraço!

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