Sempre fui cismado com essas novas bandas que mal aparecem e já são eleitas pela crítica as melhores coisas que já surgiram desde os Ramones, ou coisa que o valha. Na maioria dos casos, nunca entendi o porquê de tanto hype com grupos que parecem acrescentar muito pouco em termos de sonoridade e qualidade musical, e que ficam naquela mesmice do rock atual, como Yeah Yeah Yeahs!, TV on the Radio, CSS, Bloc Party, entre outros. E nem foi por falta de vontade pessoal. Arctic Monkeys, por exemplo, eu ouvi de cabo a rabo e não achei grande coisa (exceto pela música "A Certain Romance", que é de longe a mais legal dos caras). Lógico que há algumas boas exceções, e entre elas está a nova sensação do folk-rock americano, o Fleet Foxes.
Apesar de ainda não ter caído nas graças da crítica musical brasileira, o lançamento do primeiro CD do Fleet Foxes no ano passado fez um tremendo estrago lá fora. A Mojo chamou-a de "a próxima grande banda da América". A igualmente britânica Uncut e o Pitchfork também alçaram o álbum como um dos melhores de 2008. Só para não dizer que não houve unanimidade, a queridinha da galera NME resolveu dar um 7, o que talvez explique um pouco a apatia da imprensa brasileira especializada.
Lógico que é de se desconfiar de tanto elogio. Já cansei de cair do cavalo por causa dessa armadilha da indústria. Mas é preciso reconhecer o talento dos caras em, pelo menos, conseguir fazer algo diferente do que se vê por aí. Tanto que é difícil definir o Fleet Foxes. Pode-se dizer que é uma banda de folk-rock americano, com a harmonia de até quatro vocais dando o clima das músicas -no melhor estilo que consagrou o Beach Boys antes do Pet Sounds- e elementos do folk celta, do rock progressivo dos anos 70 e até do indie rock.
A mistura de tudo isso, obviamente, resulta em algo muito estranho. Na primeira audição, parece uma coisa meio místico-religiosa, no melhor estilo Enya, que logo te remete a imagens de montanhas, celeiros, pastos e essas coisas bucólicas. Por isso, Fleet Foxes é daquelas bandas em que é preciso ouvir diversas vezes para começar a fazer sentido. Na verdade, é mais fácil ouvir do que explicar.
Essa estranheza fica evidente logo na primeira música, "Sun It Rises", que começa com um coral típico do cancioneiro rural americano. Depois ela caminha para um folk lento e melódico à la Nick Drake e, quando os intrumentos vão pouco a pouco ganhando peso e dominando a parada, o ritmo é quebrado bruscamente. Uma jogada velha, mas certeira.
Na música seguinte, "White Winter Hymnal", a banda traz para o folk a pegada do rock atual, com arranjos que fazem lembrar o Arcade Fire, mas com a harmonia da canção sendo conduzida através dos vocais reverberados. O inusitado é que a música tem um verso apenas. Mesmo assim, é facilmente a melhor faixa do CD. Até imagino nos shows o pessoal cantando essa música, repetindo em coro: "I was following, I was following, I was following...".
Em "Ragged Wood", vê-se mais uma mostra de que os caras não se fixaram só em referências do passado. A faixa começa bem rápida e elétrica, como se os Beach Boys resolvessem fazer um cover de Interpol, só para ficar no campo das analogias esdrúxulas. Até que, repentinamente, a música muda completamente de ritmo, parecendo que acabou e deu lugar à outra. Também figura entre as melhores do álbum.
Outros destaques são "Quiet Houses" e seu verso hipnótico ("Lay me down, lay me down"), a inebriante "He Doesn't Know Why", a melancólica "Your Protector", com uma pegada que lembra Jethro Tull, e "Oliver James", que poderia facilmente se passar por uma música do Neil Young.
Ainda é muito cedo para dizer se o Fleet Foxes vai realmente entrar no hall das grandes bandas. Lógico que o disco tem seus altos e baixos, como qualquer outro. E os melhores momentos acontecem quando eles resolvem aplicar a atmosfera bucólica no indie rock. E os piores quando eles abandonam suas referências e mergulham de cabeça num excesso de coro reverberado místico, como em uma trilha sonora de yoga.
Mas, no geral, todos os méritos são merecidos. E é preciso lembrar que é o primeiro disco deles e, portanto, ainda há muito para evoluir. Por isso, ainda não dá para chamá-los de novos gênios do folk-rock e colocá-los num pedestal ao lado do Bob Dylan, Van Morrison e Crosby, Stills, Nash e Young. Mas, certamente, estão bem acima de Mallu Magalhães e outros espécimes que fazem a alegria da moçada cult.
24 de maio de 2009
14 de maio de 2009
Gol contra à la Oséas da Conmebol
Agora está decidido. A Conmebol anunciou que São Paulo e Nacional (URU) passarão direto para as quartas-de-final da Copa Libertadores da América após a saída de Chivas e San Martin, ambos do México, da competição. Com o fim da novela, só nos resta o óbvio: colocar a culpa em alguém. E a minha escolhida é a Conmebol.
Primeiramente por uma questão prática: qual a razão de colocar times mexicanos na Libertadores senão pela questão financeira? É sabido até pelo reino mineral™ que se um time mexicano vencer a competição, ele não irá disputar o Mundial de Clubes, já que representa a Concacaf. Então para quê esse crossover? Só para ganhar uma grana, como em Mortal Kombat vs DC. Se a Conmebol fosse mais esperta, daria um jeito de colocar equipes da MLS no torneio e faturar um tusta (e não é de se duvidar que isso aconteça, principalmente quando se lembra que o Japão já disputou a Copa América).
Segundamente, pela sua inépcia em resolver a questão. É verdade que diversas opções foram colocadas na roda, mas sempre havia um empecilho. Primeiro pensaram em transferir o jogo de ida dos times mexicanos para a Colômbia, mas o país de Pablo Escobar não quis, com medo de que a gripe suína fosse trazida pelos jogadores. A mesma desculpa esfarrapada foi dada pelo Chile e Peru. Mas, mesmo sabendo que essa premissa era falsa, a entidade sul-americana não moveu um mol de palha para demovê-los dessa ideia. O México até sugeriu receber a partida em portões fechados, como já estava rolando no campeonato local, mas o São Paulo e o Nacional disseram que não pisam no país nem à base de porrada. A decisão é polêmica, mas em se tratando de atletas, todo cuidado com a saúde é pouco.
Com o impasse, a Conmebol teve a infeliz ideia de realizar jogo único no Brasil e no Uruguai e os mexicanos, logicamente, disseram não. E realmente não faz nenhum sentido eles gastarem com transporte e hospedagem para entrarem em campo em situação de teórica desvantagem. A entidade, então, mandou os chicanos para escanteio e classificou automaticamente os times sul-americanos para as quartas-de-final. O interessante é que essa decisão conseguiu ferrar todos os quatro times, logicamente com maior malefício aos mexicanos, já que eles jogaram seis partidas de bobo -assim como faziam desde 1998. Enquanto isso, os outros dois times não faturarão com a renda dos ingressos e dos direitos televisivos.
Por causa disso, a Conmebol vai criar esse tremendo mal estar entre as duas confederações -presumindo, é claro, que a Concacaf vai assumir as dores da FMF, que preferiu sair fora de todo esse circo. Daqui para frente, México na Copa América só no Winning Eleven.
Primeiramente por uma questão prática: qual a razão de colocar times mexicanos na Libertadores senão pela questão financeira? É sabido até pelo reino mineral™ que se um time mexicano vencer a competição, ele não irá disputar o Mundial de Clubes, já que representa a Concacaf. Então para quê esse crossover? Só para ganhar uma grana, como em Mortal Kombat vs DC. Se a Conmebol fosse mais esperta, daria um jeito de colocar equipes da MLS no torneio e faturar um tusta (e não é de se duvidar que isso aconteça, principalmente quando se lembra que o Japão já disputou a Copa América).
Segundamente, pela sua inépcia em resolver a questão. É verdade que diversas opções foram colocadas na roda, mas sempre havia um empecilho. Primeiro pensaram em transferir o jogo de ida dos times mexicanos para a Colômbia, mas o país de Pablo Escobar não quis, com medo de que a gripe suína fosse trazida pelos jogadores. A mesma desculpa esfarrapada foi dada pelo Chile e Peru. Mas, mesmo sabendo que essa premissa era falsa, a entidade sul-americana não moveu um mol de palha para demovê-los dessa ideia. O México até sugeriu receber a partida em portões fechados, como já estava rolando no campeonato local, mas o São Paulo e o Nacional disseram que não pisam no país nem à base de porrada. A decisão é polêmica, mas em se tratando de atletas, todo cuidado com a saúde é pouco.
Com o impasse, a Conmebol teve a infeliz ideia de realizar jogo único no Brasil e no Uruguai e os mexicanos, logicamente, disseram não. E realmente não faz nenhum sentido eles gastarem com transporte e hospedagem para entrarem em campo em situação de teórica desvantagem. A entidade, então, mandou os chicanos para escanteio e classificou automaticamente os times sul-americanos para as quartas-de-final. O interessante é que essa decisão conseguiu ferrar todos os quatro times, logicamente com maior malefício aos mexicanos, já que eles jogaram seis partidas de bobo -assim como faziam desde 1998. Enquanto isso, os outros dois times não faturarão com a renda dos ingressos e dos direitos televisivos.
Por causa disso, a Conmebol vai criar esse tremendo mal estar entre as duas confederações -presumindo, é claro, que a Concacaf vai assumir as dores da FMF, que preferiu sair fora de todo esse circo. Daqui para frente, México na Copa América só no Winning Eleven.
4 de maio de 2009
Um post que não é um post.
Como diria Cléber Machado, o texto a seguir "é um post mas não é". Ele sem dúvida é um texto, com direito a título e data de nascimento, o que o torna um post. Mas não é um post, pois não trata o tema com originalidade.
Ao invés de escrever um comentário sobre o último texto e dar minha opinião, resolvi escrever um texto novo. É o que na internet se conhece por "RE" diminutivo para reply. E se você realmente não sabia disso, provavelmente também não entendeu a piadinha do Cléber Machado, o que é muito triste.
Enfim, este assunto (a pirataria) é muito delicado e eu o trato da seguinte forma: Dadas as taxas elevadas para - o que eu vou chamar de - "consumo cultural" (ingresso de cinema e cd's, por exemplo) corre-se um risco muito grande de ver seu dinheiro indo pro lixo com algo que você talvez não se satisfaça. O que o consumidor quer é consumir um produto bom e evitar "investimentos de risco".
Há uma lista que roda por aí que compara os top 10 filmes pirateados com os top 10 sucessos de bilheterias. Tirando um ou dois blockbuster-estoura-boca-do-balão-filme-de-herói-dos-quadrinhos, a lista é completamente diferente uma da outra. Os filmes vistos em salas de cinema são em sua maioria filmes que passam do julgamento "bom ou ruim" pois tem um número assíduo de fãs. Estes mesmos fãs, inclusive, são os que mais procuram o material na internet para matar a curiosidade. Ao mesmo tempo eles promovem a pirataria e ajudam na arrecadação.
Outra razão para a diferença entre as listas é o fato de o próprio estúdio investir pesado em títulos de retorno garantido. Acabam sem fazer grandes propagandas virais de outros títulos. Isso afeta a arrecadação de bilheteria no mercado interno (EUA). Sem arrecadação o filme não consegue abertura em mercados estrangeiros com as distribuidoras, o público fica sem filme, o público apela para a pirataria. O caminho da pirataria é sempre esse.
O mesmo acontece com a música. Eu realmente acredito na idéia de que uma pessoa compra um produto original bom porque reconhece em algum ponto sua qualidade. O PirateBay é uma casualidade da guerra. Depois será o Mininova e o Isohunt, e por fim, o próprio Google. Eles não são cúmplices, de uma certa forma, ao fornecer resultados de pesquisa de torrents? Facilitadores do crime?
E aí está o ponto de partida do desenho no outro post. E eu termino com um também:
Ao invés de escrever um comentário sobre o último texto e dar minha opinião, resolvi escrever um texto novo. É o que na internet se conhece por "RE" diminutivo para reply. E se você realmente não sabia disso, provavelmente também não entendeu a piadinha do Cléber Machado, o que é muito triste.
Enfim, este assunto (a pirataria) é muito delicado e eu o trato da seguinte forma: Dadas as taxas elevadas para - o que eu vou chamar de - "consumo cultural" (ingresso de cinema e cd's, por exemplo) corre-se um risco muito grande de ver seu dinheiro indo pro lixo com algo que você talvez não se satisfaça. O que o consumidor quer é consumir um produto bom e evitar "investimentos de risco".
Há uma lista que roda por aí que compara os top 10 filmes pirateados com os top 10 sucessos de bilheterias. Tirando um ou dois blockbuster-estoura-boca-do-balão-filme-de-herói-dos-quadrinhos, a lista é completamente diferente uma da outra. Os filmes vistos em salas de cinema são em sua maioria filmes que passam do julgamento "bom ou ruim" pois tem um número assíduo de fãs. Estes mesmos fãs, inclusive, são os que mais procuram o material na internet para matar a curiosidade. Ao mesmo tempo eles promovem a pirataria e ajudam na arrecadação.
Outra razão para a diferença entre as listas é o fato de o próprio estúdio investir pesado em títulos de retorno garantido. Acabam sem fazer grandes propagandas virais de outros títulos. Isso afeta a arrecadação de bilheteria no mercado interno (EUA). Sem arrecadação o filme não consegue abertura em mercados estrangeiros com as distribuidoras, o público fica sem filme, o público apela para a pirataria. O caminho da pirataria é sempre esse.
O mesmo acontece com a música. Eu realmente acredito na idéia de que uma pessoa compra um produto original bom porque reconhece em algum ponto sua qualidade. O PirateBay é uma casualidade da guerra. Depois será o Mininova e o Isohunt, e por fim, o próprio Google. Eles não são cúmplices, de uma certa forma, ao fornecer resultados de pesquisa de torrents? Facilitadores do crime?
E aí está o ponto de partida do desenho no outro post. E eu termino com um também:
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