19 de outubro de 2009

10 razões para não acreditar em listas

Em tempos de crise, a jogada de marketing mais marota do jornalismo é produzir listas sobre qualquer coisa só para turbinar as vendas e conquistar o bolso do leitor incauto. O assunto não importa, muito menos sua legitimidade, o que importa é que haja uma lista. Mas será que elas merecem o tanto de atenção que recebem?

Conheça agora os dez motivos para não acreditar em listas:

10) Tirando as listas de coisas mensuráveis (do tipo "os maiores prédios do mundo"), qualquer outro critério de escolha pode ser contestado, por mais cartesiano que pareça. No ranking da FIFA, por exemplo, sempre tem uma seleção brincalhona entre os melhores, neste caso a Croácia, embora seja utilizada uma fórmula de física quântica para calcular os pontos.

9) Questões culturais tem influencia direta no resultado. A escolha das mulheres mais bonitas do mundo podem ter resultados diferentes se for feita no Japão ou no Brasil. E os filmes que os europeus assistem nem sempre são os mesmos que os americanos gostam.

8) Listas baseadas em média de notas normalmente não dão muito certo. Ou como explicar que o nada criativo GTA IV esteja em segundo lugar no GameRankings?

7) O critério de uma lista pode até ser científico, mas eles não resistem aos "ses". Nada contra dizer que Pelé é melhor que Maradona porque ganhou mais títulos e fez mais gols. Mas e se Pelé tivesse jogado na Europa? E se o campeonato brasileiro fosse minimamente mais organizado nos anos 60? Como ele jogaria no esquema tático pós-Carrossel Holandês? Ou com o nariz cheio de pó?

6) Como já mostrava o filme "Alta Fidelidade", o que importa numa lista são os cinco primeiros. O resto poderia ser embaralhado que dava na mesma.

5) A maior prova de que muitas listas são feitas de qualquer jeito é o famoso caso do jogador moldavo Masal Bugduv, que foi incluído na lista das 50 maiores promessas do futebol pelo The Times sendo que ele sequer existe. Bugduv não passava de um "hoax", termo usado na internet para "pegadinha do Mallandro".

4) Listas nada mais são do que um reflexo do presente. Na eleição dos melhores álbuns brasileiros, "Acabou Chorare", dos Novos Baianos, ganhou menos pela sua importância histórica do que pelo revival tropicalista que rolava há uns três anos por causa do retorno dos Mutantes. Se uma lista desta for feita novamente hoje, o resultado certamente será diferente.

3) Normalmente, listas são lotadas de obviedades. A de melhor álbum de todos os tempos sempre vai ter um dos Beatles, assim como o de melhor filme sempre será "Cidadão Kane". E quem não seguir esse dogma, corre o risco de ser crucificado e acusado de querer aparecer. Se é assim, para que fazer uma lista, então?

2) Quando a questão é fazer uma lista democrática, esbarra-se em um dilema: deixar o público eleger ou não? Se sim, corre-se o risco de ter o resultado facilmente adulterado na internet pelo pessoal do 4chan. Caso contrário, pode acontecer o que já foi relatado no item nº 3, já que jornalistas costumam pensar em bloco.

1) A função social de uma lista não é sua capacidade de emitir supostas premissas ou verdades, mas de causar confusão. Quanto mais pessoas discutirem e contestarem seu resultado em uma mesa de bar, melhor.

Portanto, siga essas recomendações e não acredite nela. A verdade é que listas são legais pra cacete, ainda mais quando podemos criar nossas próprias.

Um comentário:

Mané disse...

À medida que eu lia o texto, ia me lembrando de uma lista das 100 melhores músicas brasileiras de todos os tempos, publicada pela Rolling Stone. Não preciso nem dizer que relação da RS entra fácil em uns seis critérios aí postados, né?

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