Era Agosto quando eu joguei uma ideia na mesa de bar. "Acho que a gente devia ir pra Oktoberfest". Era uma mesa de bar, a sugestão foi muito bem aceita. Era Setembro e ninguém havia sequer mexido um pau para tentar colocar a ideia de Agosto em pratica.
Como fui eu quem fez todo o brainstorm, deixei a parte burocrática para os outros.
No meio de Setembro nós só tínhamos a certeza de que queríamos ir, e que talvez no ano seguinte não teríamos tanta preguiça para resolver toda a logística de uma viagem longa.
Mas eu estava obstinado. Fui resolver o primeiro problema, que era o da hospedagem. Vinte e sete superquinzes depois consegui um quarto de hotel para cinco pessoas por um preço absurdamente salgado. Não poderíamos pagar aquela quantia se o quarto fosse para doze pessoas, quanto menos cinco!
Mas com mais 7 ligações, encontrei a luz. Uma acomodação nas montanhas catarinenses que (como garantiu a dona da pousada) não corria risco de deslizamento. Um preço que combinava com nosso orçamento de bolso furado, e um depósito na conta bancária mais tarde tínhamos onde dormir e transporte ida e volta garantido para 6 pessoas.
Faço muito bem em lembrar que saímos no lucro com o lance do transporte. Andamos bem mais do que aquilo que pagamos. Na ida o ônibus quebrou, tivemos que passar por Curitiba para trocar de carroça e uma viagem que deveria durar aproximadamente 10 horas levou 15 para terminar. No ônibus a conta das horas perdidas (e ainda não podendo usar as pernas e por cima disso completamente sóbrios) colaborou para a frustração e raiva gigântica que sentíamos daquele motorista filho de uma meretriz.
Na chegada a Blumenau providenciamos um par de táxis, despachamos as malas, fizemos contato com os locais e demais turistas e descobrimos que o taxista era de Porto Alegre e torcia pro Flamengo! Não entraríamos naquele táxi de novo tão cedo, e logo rumamos para o centro, ladeira abaixo, onde, no Tunga, a festa estava começando a ficar quente.
Como manda a tradição, logo tomamos posse de um tirante e uma caneca cada. Eu poderia mentir e dizer que foi uma busca árdua e cheia de elementos sagrados, envolvendo toda a misticidade de estar presente na Festa da Cerveja, mas a real é que uns vinte e cinco reais resolveram essa parada, e o próximo passo era gastar esse mesmo valor e uns trocados mais na próxima hora em forma de líquido dourado chope. Ainda sobrou dinheiro para comprar um chapéu de poderes mitológicos que garantia ao usuário um boom de ânimo.
De tarde a festa é na rua. Alguns bares, muitas chopeiras, muita gente, música alta. De noite não é diferente, mas a festa sai da rua e vai para a Vila Germânica/PROEB. Na primeira noite Jesus nos mostrou o caminho, e ainda bem que ele estava lá, porque foi uma peregrinação de uns 50 minutos para chegar. Seria pouco se houvessem lugares para comprar mais cerveja no caminho. Como não tinha, o jeito foi ir meio seco, urinando quando necessário ou em químicos ou nas vielas, perdendo a embriaguez gota por gota.
Quando chegamos na Vila tive uma noção melhor do evento. Três galpões abarrotados. Se cada galpão tivesse um tema, o tema dos três seria cerveja. Chopes artesanais ou Brahma. Nas filas para trocar a ficha por combustível vários flertes. "Me pega um chopp?" era a frase mais inteligente para se dizer. Mas qual chope pegar? Eisenbahn? Bierland? Opa Bier? Todos tinham a mesma artilharia: um pilsen, um escuro, um de trigo, um de vinho (para as moças), mais fermentado, menos... Que se dane a química da coisa, você já chega lá no estado de não querer se preocupar com o sabor, mas os artesanais realmente eram a melhor opção, principalmente levando em conta que pra tomar chope Brahma aqui em São Paulo você pode ir no bar homônimo.
Foram dois dias e noites da mesma coisa. Acorda. Um almoço pra forrar. Festa na rua. Fila para pegar chope na rua. Caminhada pra vila. Fila para comprar entrada na vila. Festa na Vila Germânica. Fila pra comprar o chope. As mesmas músicas (todas curiosamente rimando com "pega no meu pau"). 04:30 a música acabava. 05:00 paravam de vender fichas. 6:00 paravam de servir chopp e davam a noite por encerrada. Tomamos chuva na volta nos dois dias, e íamos procurar um jeito de voltar para nosso quarto, entoando cânticos que denunciavam nossa paulistanidade, correndo, ou como eu gosto de pensar, simplesmente estando bêbados.
No último dia um almoço, arrumar as malas e se preparar mentalmente para encarar 10 horas de viagem. Na volta o ônibus não quebrou. Nos despedimos dos amigos no metrô, e cada um foi tocar sua vida. A caneca, o tirante, os espólios voltaram na mala, evidências de um acontecimento que não pode ser encarado com leviandade. Essa viagem está marcada na memória. Superou minhas expectativas, que eram muito altas. É uma pena ter que esperar tanto tempo para fazer isso acontecer de novo. A volta é arrasadora. Se eu soubesse, não iria. Agora resta esperar.
Hoje é fim de Oktober.
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