12 de março de 2010

Da turma do fundão para a cidade grande

Morreu na madrugada de hoje um dos artistas mais importantes do quadrinho brasileiro. É pouco dizer que foi o Glauco quem deu uma cara nova ao humor gráfico após o fim da ditadura. Na época da transição para a democracia, no começo dos anos 80, as charges políticas já não tinham o mesmo apelo de antes. Essa história de tirar sarro dos militares estava por fora e os humoristas precisavam de uma nova abordagem. Começou aí a crítica dos costumes e do comportamento, no qual o Glauco foi seu principal expoente e muso inspirador. Suas sacadas sobre o ridículo do cotidiano, por meio de personagens como Geraldão, Doy Jorge e o Casal Neuras, viraram referência para outros cartunistas.

Como meu TCC foi sobre o Los Três Amigos, o grupo informal formado por Angeli, Laerte e Glauco, fiquei quase um ano lendo praticamente tudo o que esse cara produziu. E, de longe, ele era o mais engraçado e o que tinha as melhores piadas dos três. Todos as pessoas que entrevistei para o trabalho falaram isso. O Gualberto Costa, criador do prêmio HQ Mix, sintetiza bem qual era a dele: "O Glauco é o que, pra mim, tem o maior humor. Vai desgastando com o tempo. Acho que hoje ele não tem mais o humor tão afinado quanto antes, mas acho que ele era um dos maiores humoristas que a gente tinha."

Segue abaixo o capítulo do TCC que apresenta o Glauco no livro, cujo título é "Da turma do fundão para a cidade grande":

Glauco Villas-Boas nasceu no dia 10 de março de 1957, em Jandaia do Sul, no Paraná. Sua paixão pelo desenho começou no segundo grau, após um amigo ter lhe apresentado O Pasquim. Assim como aconteceu com Laerte e Angeli, a sagacidade dos cartuns da turma do Ziraldo, Jaguar e Henfil encantaram o paranaense, que logo virou um aficionado. As primeiras experiências artísticas de Glauco aconteceram dentro da sala de aula. Para passar o tempo, ele, que sempre ficava no fundão, fazia caricaturas dos colegas e dos professores.

Apesar da criatividade que tinha para trabalhar com humor, ele nunca pensou em ser cartunista. Até que se mudou para Ribeirão Preto, em 1976, para prestar vestibular de Engenharia. Lá, conheceu o jornalista José Hamilton Ribeiro, seu primeiro padrinho (segundo o próprio, ele ainda teria outros dois: Henfil e Angeli), que na época, editava o jornal local Diário da Manhã. O veterano repórter viu seu trabalho, gostou e o contratou para fazer tiras diárias em sua publicação, tirando Glauco de uma possível carreira de engenheiro.

Essa primeira história chamava-se Rei Magro e Dragolino. Em uma época em que a contracultura ganhava força no Brasil, e junto com ela as drogas e o movimento hippie, sua tira tratava de um rei que adorava fumar um baseado e de um dragão que o enfrentava, mas que também era chegado na erva.

Na família, não foi só Glauco quem se aventurou pelo mundo das artes. Nascido em 1953, César Augusto Villas-Boas, também conhecido como Pelicano, formou-se em Engenharia Civil, mas trabalha com charges desde 1978. Assim como o irmão mais novo, Pelicano começou no Diário da Manhã, depois passou para o Diário de Notícias, Jornal de Ribeirão, O Diário e muitos outros. Também teve desenhos publicados na Folha de S. Paulo e O Pasquim, e atualmente produz charges diárias para o Jornal Verdade e Jornal do Comério de Jahu, da cidade de Jaú.

Já Orlando Villas-Boas, que nasceu em 1954, iniciou cedo na carreira de artista plástico e desenhista. Também trabalhou como diagramador e editor de artes em diversas revistas e trabalhou como projetista na construção de casas alternativas usando materiais recicláveis. Ele faleceu em março de 2008.

Glauco ficou um bom tempo no jornal de Ribeirão até ganhar projeção nos diversos Salões de Humor que apareciam pelo Brasil, que também foi a chance que teve para conhecer outros artistas talentosos.

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