Se eu fosse um analista político ou alguma coisa séria do tipo, estudaria o fenômeno do anti-petismo em São Paulo. Como não sou, ficarei aqui somente com minhas teses de boteco.
Antes de mais nada, vamos aos fatos: o estado de São Paulo é governado há 16 anos pelo PSDB. De lá pra cá, muita coisa mudou – em alguns aspectos para melhor e outros para pior. Mas, no geral, é difícil encontrar algum paulista que esteja realmente satisfeito em morar aqui.
Lógico que é importante sermos justo, já que nem tudo que é negativo é por culpa exclusivamente do PSDB. Mas mesmo o pior dos analfabetos políticos sabe que tudo tem uma causa, motivo, razão e circunstância, como diz o outro.
São Paulo foi o estado que mais teve empresas estatais privatizadas do Brasil. Mais de vinte foram repassadas para o empresariado, cuja arrecadação rendeu R$ 77,5 bilhões de 1995 a 2006. Esse montante fora usado para o pagamento da dívida pública que, mesmo assim, cresceu 33% em dezembro de 2005. A última privatização no Estado, salvo engano, foi a venda do banco Nossa Caixa por R$ 5,386 bilhões para o Banco do Brasil, em 2008, quando o Serra ainda estava no comando. Só para constar, a Nossa Caixa não registrava prejuízos e em 2007 desembolsou R$ 2 bilhões para ter exclusividade no pagamento de salários de funcionários públicos estaduais.
O resultado disso é que com menos empresas estatais para servirem de fonte de financiamento, menos dinheiro o estado terá para gastar e, assim, menor serão suas despesas. Despesas menores significa serviços públicos piores para a população, principalmente para aqueles que dependem mais do Estado. Um exemplo disso acontece na educação, em que professores temporários representam 46% no quadro da rede pública estadual. Ganhando menos e sem um plano de carreira ou estabilidade, muitos desses docentes também não tem condições de dar aulas.
Há casos também em que todos são afetados, como na segurança pública. As remunerações dos policiais são modestas em comparação com outros estados com PIB per capita menor que o de São Paulo. O resultado disso é mais corrupção e menos sucesso no combate ao crime. Quer dizer, no fim todo mundo se fode.
Isso porque ainda não falamos nos preços e serviços oferecidos pelas empresas privatizadas. A telefonia e a internet no Brasil estão entre as mais caras do mundo, além da nossa banda larga ser uma das mais lentas. E também, graças à privatização, temos que desembolsar mais para pagar a conta de luz.
Isso tudo pode soar bastante óbvio, mas os adversários do PSDB foram tão rasos ao debater esse assunto durante a campanha que eles pareciam não fazer questão de ganhar a eleição. Ninguém mostrou como as coisas realmente acontecem em São Paulo. Pois é lógico que a privatização corre nas veias tucanas assim como o superfaturamento está no sangue malufista. É uma questão de ideologia dos caras, que mesmo se mostrando fracassada e contraditória, eles ainda insistem em seguir pelo mesmo rumo, tal qual os defensores do comunismo soviético. Mesmo assim ninguém, exceto o Plínio, tratou de colocar a ideologização no debate.
Mas a questão central é saber os motivos que levam os paulistas e 30% da população brasileira a darem ainda um voto de confiança a esse projeto político. Como eu falei, o problema do PSDB não é moral, ético ou coisa assim, mas puramente ideológico. Portanto, será que 51% da população de São Paulo realmente acha certo ficar privatizando aos montes nossas empresas estatais quando elas poderiam servir melhor à população se forem administradas corretamente? Se sim, os paulistas merecem estar no buraco em que se enfiaram.
É lógico que o PT também não é algo que se diga “minha nossa, como eles são esquerdistas”, mas eles conseguem ser muito melhores do que a direita-balcão-de-negócios. Só que, por alguma razão inexplicável, falar em PT em São Paulo é como falar de camisinha em uma igreja. Corre-se o risco de rolar uma malhação de Judas sem efeitos especiais. Cada um com seus dogmas.
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