31 de janeiro de 2010

Uma resenha sobre Lost que no caminho se tornou um olhar triste e realista da TV no Brasil

Em poucos dias estreia a última temporada de Lost. Sempre chamada de “fenômeno” na TV, gostaria de aproveitar a oportunidade para analisar o caso. A série é encarada de tal forma porque realmente foi um fenômeno, mas não para a audiência americana. Apesar de ter começado com uma média excelente, que aos poucos foi diminuindo, o que chama a atenção é o número de pessoas fora dos Estados Unidos que assiste quase que simultaneamente os episódios novos.

O fato de Lost ser pioneiro no entretenimento online pirateado gratuito não é o objetivo que os produtores queriam atingir com a série, mas devemos dar crédito ao produtor J.J. Abrams pela iniciativa ousada. Lá pelos tantos de 2004 alguém que ligasse a TV nos Estados Unidos no prime-time estaria ou em um hospital ou em uma cena de investigação criminal. Não estou dizendo que algumas dessas séries não são boas, mas não há como negar que existe uma falta de criatividade no contexto geral que só pode ser corrigida pelo protagonista (na minha opinião, os casos de House e talvez Scrubs). Então chega um cara e fala de uma série sobre uma ilha que ninguém sabe onde fica e cheia de coisas estranhas, que depois de constatado o “fenômeno”, passou a ter conteúdo exclusivo para internet, onde exploravam outros ângulos da trama. Enfim, isso é tão fora do limite criativo dos diretores de programação que Lost teve uma certa rejeição por parte dos executivos quando foi lançada.

Mas aí está, de novo, Lost. Talvez a estréia televisiva mais aguardada dos últimos tempos. Vai ser catástrofe no ciberespaço, todo mundo querendo baixar o episódio, deus salve o P2P e o diabo a quatro. Parece que a temporada não terá interrupções, lançando um episódio por semana. A verdade é a seguinte: Quando Lost acabar, J.J. Abrams terá se tornado o Midas da televisão. O que tiver de sci-fi misterioso com a assinatura dele será visto como ouro (prova disso é Cloverfield, um lixo, mas um lixo “do mesmo criador de Lost”). Então, é hora da lição:

O brasileiro vai algum dia se acostumar com séries ou estamos fadados ao novelístico? Novelas são o oposto de séries como Lost. São episódios diários, longos, com temas que beiram a mediocridade, e todo jornal popular no país tem uma coluna que conta o que vai acontecer no próximo episódio. Imagine se alguém abrisse uma página na internet e lesse “Jack tem licença médica cassada e Hurley morre durante lipoaspiração no próximo episódio de Lost”. A novela tem 260 episódios em que as pessoas sabem o que vai acontecer, e mais 6 em que se desvendam mistérios do tipo “quem fica com quem”, “quem é malvado e vira bonzinho” e “quem é o assassino”. Isso é subestimar o público.

Tá bom, não é. As pessoas assistem os 266 episódios mesmo sabendo o que vai acontecer. Essa é a parte triste. O Brasil poderia fazer séries como Lost. Nossas emissoras tem estrutura para fazer séries como nos EUA, o que é um feito incrível, visto que o cinema nacional, por exemplo, nunca vai sonhar chegar perto de Hollywood. Mas o povo não quer. O povo quer é novela mesmo.

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