13 de junho de 2011

O universo num mixtape

“Gravar uma compilação em fita, assim como terminar um namoro, é difícil de se fazer e demora muito mais tempo do que parece. Você começa com algo impactante, para chamar atenção. Então eleva para um nível acima, mas você não quer gastar sua munição de uma vez, então você tem que esfriar as coisas. Há um monte de regras”

De fato, essa frase do Rob Gordon, protagonista de Alta Fidelidade, deveria ser uma espécie de mantra dos produtores musicais do mundo inteiro, mas parece que nem sempre as coisas saem como deveriam. Quando eu tinha meus 12 anos, lá no final do século passado, eu já sacava dessas regras quase que instintivamente. Naquele tempo não havia MP3 player ou qualquer dessas modernidades contemporâneas. A saída para quem queria ouvir um som baixado na internet era gravar em fita e ouvir no old but gold walkman (pelo menos, era essa a minha única opção). Naquela época, meu pai acoplou a saída de áudio do computador na entrada auxiliar de um tocador de fitas antigo dos anos 70, que estava guardado em algum canto do armário. Era um baita trambolho, todo prateado, com diversos botões e alavancas, um belíssimo medidor de espectro e soltava um barulho insano toda vez que a fita começava a rodar, mas acima de tudo era funcional, e ainda fazia bem o trabalho e tinha um estilão meio vintage, então aquilo virou uma espécie de brinquedo para os dias de tédio.

Na verdade, era um trampo que exigia dedicação profunda e uma paciência zen. A primeira parte era mais complexa: achar as músicas certas para a compilação. Naquela época o Napster ainda não passava de um delírio, então caçar músicas de madrugada com uma conexão discada instável de 56 kbps não era tarefa para covardes. E cada música de 128 kbps demorava cerca de uma hora para baixar, e isso usando o matreiro Download Accelerator, que não passava de um placebo virtual. A segunda parte era mais fácil e consistia em montar uma playlist no Winamp.

Essa etapa, como dito no filme, dependia de algumas regras, embora naquela época fosse tudo na base da intuição. A primeira faixa tinha que ser boa, não necessariamente um hit, mas algo que seja direto, que mostre qualidade logo de cara. A música seguinte precisava manter o nível, podendo ser até um pouquinho pior, mas que acompanhe o ritmo da anterior. Em seguida, uma canção mais forte, algo digno de lado A, daquelas que provocam uma expectativa angustiante no ouvinte. A quarta faixa podia ser mais lenta, deliberadamente pra quebrar o ritmo, e a faixa seguinte aos poucos recomeçaria a levantar o astral novamente. A coisa segue por aí até por volta da oitava ou nona faixa, com um outro hit destruidor. A partir disso a coisa caminharia vagarosamente para o fim. Mas na canção de encerramento, o ideal seria uma música não muito agitada para não cortar o tesão de repente, nem muito lenta ao ponto de encher o saco e não ser ouvida até o fim. O tipo de confusão bipolar que deixe claro que o final está próximo, sendo um dos melhores exemplos o “Eclipse”, a música de encerramento de Dark Side of The Moon. Depois, era só gravar, virar o lado da fita e repetir o processo.

Alguns anos depois, com o advento dos gravadores de CD, a coisa melhorou de figura. Foi como sair do amadorismo e entrar na era do clube-empresa. O CD tinha uma porrada de vantagens: era rápido e fácil de gravar, não tinha esse lance de lado A e lado B e a qualidade de som era estupidamente melhor. Às vezes havia o incoveniente da mídia ser vagabunda demais e não gravar, mas isso era apenas um efeito colateral da pós-modernidade. O fato é que a essência do mixtape não mudou e isso é um lance importante de se destacar. Hoje estamos na cultura do shuffle, que cumpre muito bem o seu papel, tanto que também sou um adepto convicto. Mas penso que o shuffle funciona em um sistema diferente dos playlists: ele trabalha com o elemento surpresa. Por exemplo, que mente obscura pensaria em colocar Paulinho da Viola para tocar depois de Arcade Fire ou Broken Social Scene? Quase nenhuma, exceto os algorítmos frios dos chips de silício. E na maioria das vezes, isso funciona que é uma maravilha. Mas como contraponto, a sensação de infinitude do shuffle é exatamente o seu algoz, é a entropia em sua carga máxima. Por isso ele funciona melhor quando o ato de ouvir música está em segundo plano, como no ônibus, na fila da padaria, trabalhando, escrevendo um texto, e dificilmente se escuta até o fim.

Em compensação, a graça do playlist é que seu tempo restrito o torna uma obra completa, com começo, meio e fim, algo que parece ter algum sentido mesmo que na verdade não haja nenhum sentido ali. Por isso que, como disse Marcelo Costa, editor do Scream & Yell, “a melhor carta de amor que você pode escrever para alguém é uma mixtape”. Se há alguma coisa que o mixtape trouxe ao mundo além de novas possibilidades de iniciar relações amorosas, essa coisa foi um arsenal de metáforas.

2 de junho de 2011

Fleet Foxes e a longa e tortuosa estrada

Quando surgiu com seu álbum de estreia em 2008, o Fleet Foxes causou um belo frisson na crítica musical. O espectro do folk rondava a cena rock, mas ainda não havia surgido nada de diferente até então, ou mesmo qualquer coisa que não soasse como Bob Dylan ou Nick Drake. Mas a frota de Robin Pecknold rapidamente começou a fazer a cabeça dos críticos mais espertos, com um estilo que era uma mistura de Beach Boys e Crosby, Stills, Nash & Young, com um quê de folk celta e pop barroco. Enfim, uma coisa totalmente estranha. Se alguém estava atrás de algo novo no rock alternativo era só mirar naqueles hippies barbudos que não havia como errar.

Três anos depois daquele baque inicial, o Fleet Foxes volta à campo com Helplessness Blues, certamente o melhor disco até agora (e o segundo, é verdade). Como não haveria de ser diferente, a sonoridade estranha da banda continua lá: a voz reverberada e hipnótica de Pecknold, os backing vocals compondo a harmonia da música – como naqueles “barbershop quartets” –, as melodias bem trabalhadas e o clima bucólico, místico e um tanto psicodélico em meio a tudo isso. Mas o som está agora mais melancólico, sério e maduro. É uma mudança quase imperceptível em uma primeira audição, mas não é difícil notar que a contemplação da natureza já não é mais o tema principal por aqui.

Isso fica óbvio logo nas primeiras palavras da primeira faixa, “Montezuma”: “So now I am older than my mother and father / When they had their daughter / Now what does that say about me”. “Oh man what I used to be”, completa Pecknold no refrão quase como um mantra, mostrando que a maturidade não apenas bateu à porta do rapaz de 25 anos, mas a esmurrou com toda a força do mundo.

Não é difícil entender sabendo o caminho tortuoso pelo qual Helplessness Blues passou até ser finalmente lançado. Em fevereiro de 2009, a banda se reuniu em um estúdio alugado para ensaiar novas músicas, mas as sessões não puderam ser utilizadas e eles perderam US$ 60 mil na brincadeira. Depois, o baterista e co-compositor Joshua Tilman saiu em turnê pela Europa e América do Norte entre 2009 e 2010 e as gravações tiveram que ser adiadas. Quando as coisas começaram a caminhar, em abril de 2010, Pecknold estava tão compenetrado no álbum que sua namorada decidiu dar um fim no relacionamento de cinco anos. E para finalizar, o disco que estava previsto para sair no segundo semestre do ano passado só foi lançado agora.




Portanto esqueça qualquer coisa mais pop como “Ragged Wood”, a faixa mais agitada do disco anterior. O momento não era propício. O que não quer dizer que o disco seja o fino da fossa. O som está cativante como nunca, as melodias continuam bem trabalhadas e o álbum parece muito mais coeso do que o anterior.

Se no disco de estreia as músicas seguiam como em uma montanha-russa com momentos de êxtase seguidos de calmaria pura, o que quebrava demais o ritmo, Helplessness Blues está mais equilibrado e melhor cadenciado, o que o torna o tipo de disco que é preferível ouvi-lo inteiro, como se fosse uma obra completa em que cada música é um capítulo distinto, a parte de um todo. Isso quer dizer que não há uma canção que consegue se sobressair com facilidade, embora não signifique que o álbum não tenha lá seus hits. Mas a questão é que o objetivo agora é outro. Pelo menos é o que pensava Pecknold, quando ele disse em entrevista ao Pitchfork em 2009 que queria fazer algo como Astral Weeks, o icônico disco de Van Morrison, “porque ele soa como se o álbum tivesse sido gravado em um universo de apenas seis horas”.

Se ele conseguiu ou não é difícil dizer, mas a evolução na construção das melodias é notável. Na faixa de abertura, “Montezuma”, não dá para sacar grandes mudanças em comparação com o álbum anterior ou com o EP Sun Giant, por isso ele é o mais perfeito cartão de visitas do Fleet Foxes, mostrando para quem não conhece qual é a deles.

A coisa começa a esquentar na segunda faixa, “Bedouin Dress”. Um riff no violino, uma marcação na bateria e um clima de felicidade fingida e não é preciso mais nada para fazer uma canção cativante.

A faixa seguinte “Sim Sala Bim” mostra uma jogada manjada da banda desde os tempos de Sun Giant: a música começa lenta, só com a voz de Pecknold acompanhada pelo violão, e aos poucos vai ganhando força e intensidade até atingir um ponto máximo que vai progressivamente diminuindo rumo ao fim. Esse roteiro se repete em diversas outras músicas do álbum, quase sempre com sucesso.

"The Plains/Bitter Dance", por exemplo, segue nessa toada, assim como a excelente faixa-título “Helplessness Blues”. Ela começa só no violão, passa a ficar cada vez mais rápida e novas vozes entram em cena, até o ponto que o bumbo da bateria explode e torna as coisas completamente épicas, com uma bela melodia que entra no coração. O coro faz com que os versos prolongados ao máximo ganhem contornos apoteóticos de uma maneira que só o Fleet Foxes poderia fazer sem parecer forçação de barra.

Outra faixa que merece destaque é "Lorelai", uma canção simples, simpática e triste. Já "The Shrine/An Argument" transparece uma certa raiva incontida que nunca antes tinha ouvido em outras músicas da banda, um épico catártico de oito minutos que termina em momentos de puro delírio experimentalista.

Fechando o álbum tem a minimalista "Blue Spotted Tail", que só conta com o violão e a voz de Pecknold, dessa vez sem eco, seguido da bela "Grown Ocean", uma música que finalmente exprime a felicidade em seus poros, uma visão otimista em meio ao caos mental, o momento de redenção de uma alma liberta de seus demônios.

5 de maio de 2011

Como vencer um debate sem precisar ter razão

A internet não criou, mais ajudou a disseminar um arquétipo comum desde os tempos da Grécia antiga: o sofista de boteco. Essa figura que povoa o inconsciente coletivo é conhecida por manejar a arte da crítica pela crítica, lançando argumentos embasados somente no senso comum ou na pseudo-obviedade e cuja retórica serve apenas para mostrar uma posição qualquer de contrariedade, como se isso fosse uma prova de sua inteligência. Tal qual na Jornada do Herói, a retórica neossofista mítica segue algumas etapas universais que costumam se repetir, e isso vale tanto na internet quanto na vida real:

1) O lugar-comum: toda discussão vazia que se preze começa com um neossofista usando lugares-comuns para defender uma ideia. Brasileiro é folgado, classe média é alienada, político é corrupto, qualquer generalização cabe aqui. Quando algum incauto fisga a armadilha, a aventura começa.

2) A dialética minimalista: Diferentemente do método dialético habitual, o neossofista cria a maior quantidade possível de teses para que se criem cada vez mais antíteses. Isso porque se a discussão chegar a uma síntese, a coisa complica para o nosso anti-herói, então quanto mais teses forem criadas, melhor. A premissa básica dessa técnica é a de tomar posse do jogo, cadenciar a bola, tocando de lado e evitando os contra-ataques.

4) O rali: Outra técnica usual de um sofista é o de rebater todo e qualquer argumento adversários, por mais lógico que ele pareça. Se disserem não, diga sim. Se disserem sim, diga não. Não importa muito se o que o outro diz faz sentido, o importante é não dar munição ao inimigo.

3) Desvio da rota: Quando o sofista começa a perder o controle da situação e a discussão se aproxima do ponto central do debate, é hora de mudar de assunto. Como um zagueiro que despacha a bola para fora da área, o sofista cria um novo tópico completamente diferente do que estava sendo discutido. Essa medida de desespero serve somente para ganhar tempo já que o adversário continua na pressão dentro do seu campo.

5) Ataque ao argumentador: Chegamos ao clímax da trama. Quando a situação estiver crítica e nada mais funcionar, o sofista passa a atacar o argumentador ao invés do argumento. Normalmente, o primeiro passo é criticar a gramática do adversário. Depois, qualquer característica do seu modo de vida que não corresponda à moral e aos bons costumes está valendo. Se essa etapa não acontecer, possivelmente o debatedor não é um neossofista.

6) A martirização: Esse é o golpe mais sujo, mas também o mais fatal de um sofista – tipo o especial de apagar as luzes do Akuma. Nesse ponto do debate os argumentadores de ambos os lados já estão trocando insinuações e ironias, mas só o sofista usa esse artifício para acusar falta grave. A dor moral de ter sido insultado após distribuir acusações rasteiras a torto e a direito tem o objetivo de amolecer o coração da plateia ingênua, um último respiro antes do fim.

7) A última palavra: O archievement de um sofista é ter a palavra final de uma discussão. Nem que seja para escrever um simplório “ok”, o importante é ser o último a comentar. Uma outra saída é a de dar o ponto final no entrave unilateralmente, afirmando “não vou mais discutir esse assunto” ou algo do tipo. A derrota é óbvia, mas ter a palavra final é como perder de 1 a 0 do Barcelona: é muito melhor do que tomar de 5, mas ainda é uma derrota.

14 de abril de 2011

"No one's getting this for free"

3 anos 6 meses 17 dias e 33 segundos depois de um riff interminável, muito por causa da ansiedade, a voz de Dave Grhol deve ter sido ouvida em muitos cd's, vendidos mundo afora.

Claro que não. Wasting Light vazou na internet antes da data prevista para lançamento e vários fãs puderam matar a saudade. O álbum ter vazado não foi nenhuma surpresa. É técnica boa e atual para promover álbuns, e bandas do calibre de Foo Fighters sabem que tem público para vender por quantia consideravelmente inferior na internet suas faixas e sair enchendo o bolso de dinheiro com shows caros mundo afora. Também não surpreende pois uma música já tinha sido lançada pelo grupo na internet ("White Limo", com direito à participação de Lemmy do Motörhead), além de riffs e teasers de 30 segundos de "Bridge Burning" e "Rope", além do clipe da última, com exclusividade da MTV e transmitido para o mundo inteiro via internet.

Além disso, o Foo usou a tal White Limo para fazer diversos shows nos Estados Unidos em algumas praças que eram definidas via twitter horas antes do som começar a rolar. $10 dólares por ingresso, 1 ingresso por pessoa, nenhum em casa de shows com capacidade astronômica. Mas agora que a poeira baixou, quem ainda fala alguma coisa do álbum? Ninguém.

Qualquer pessoa que conheça a banda deve concordar que dificilmente existe clima ou saco pra conseguir ouvir um CD inteiro do Foo Fighters sem pular duas músicas quaisquer. As letras das músicas, com algumas excessões, não chegam perto de fazer muito sentido e o forte deles nunca foi inovar. Mas a química funcionava muito bem e a cada dois anos a banda lançava um novo trabalho, com um pouco de mais do mesmo, algo que deve ser visto como um elogio aqui. Alguém pode argumentar que aos poucos o som foi ficando menos pesado, menos rock, mais água com açúcar, mas disso eu discordo. Com a excessão do CD acústico de "In Your Honor", que é muito bom, todos os discos conseguem balancear tranquilamente a equação pop/rock e agradar o ouvinte. Isso é fato. Você conhece alguém que não goste de Foo Fighters? Você pode conhecer alguém que não conheça, que não faça muita questão de ouvir, mas que não goste, do tipo Legião Urbana, é bem difícil.

Mas dessa vez os caras conseguiram criar uma coisa que nunca tinha acontecido antes, um CD que é entediantemente chato de ouvir. Talvez "Wasting Light" possa ser rebatizado "Wasting Time". Wasting Time gravando, Wasting Time produzindo e definitivamente Wasting Time ouvindo.

Mas não bastou lançarem um CD ruim, eles começam o álbum com as duas únicas músicas que prestam, e criam a expectativa de que o que você vai continuar ouvindo a seguir pode não estar no mesmo nível de qualidade, mas não deve ficar muito abaixo. Mas bem, eles devem ter enganado muita gente assim. Depois de Bridge Burning e Rope segue uma quantidade infinita de músicas cujo refrão me fazem lembrar Bon Jovi, e isso é o que eu posso dizer de mais agradável sobre as faixas. Nenhuma música específica do Bon Jovi, só aquela ideia de que a música que eu estou ouvindo poderia muito bem ter sido feita por ele. Elas são vazias na letra, longas na duração, repetitivas na guitarra e sem criatividade na bateria. O Foo Fighters lançou um CD que não parece Foo Fighters, e não fosse a voz de Dave e seus cada vez mais raros gritos guturais, alguém poderia até se confundir.

A impressão que fica é que não deveríamos esperar 4 anos para ouvir isso, ou que esperaríamos outros 4 para ouvir algo com o mínimo de qualidade que sempre houve no trabalho deles. E ainda, talvez tenham lançado o álbum só para manter as aparências. Dave Grhol já tocou no mesmo palco que várias lendas da música e sempre tem um projeto novo para trabalhar, o último sendo o "Them Crooked Vultures". Nate Mendel toca na Sunny Day Real Estate. Taylor Hawkins tem o Coattail Riders e Chris Shiflett integra o Jackson United e o Me First and The Gimme Gimmes. Todos estão ocupados com diferentes projetos e é normal que o Foo Fighters não seja a principal atenção em todos os casos. Mas a banda já tem 17 anos. Quantas bandas ainda existem por aí com tanto tempo de estrada que nunca fizeram um álbum pra ser esquecido? Bem, o Foo Fighters entrou mais nesse Hall da Fama.

Segue aí um faixa a faixa.

1 - Bridge Burning
Nenhum CD do Foo começa tão tradicional quanto esse. Começam as guitarras, entra a bateria, e meio minuto depois Dave. A expectativa funciona toda vez que você ouve. Empolga e prende a atenção.

2 - Rope
Na segunda faixa eles continuam acertando a mão, já mostra um estilo diferente na melodia, mas o peso da guitarra e o duo com a bateria na ponte para o solo e a volta do refrão colam bem com o resto.

3 - Dear Rosemery
Aqui começam a forçar a barra. Uma música de 4 minutos e meio onde tudo se repete. A construção de verso e refrão não tem nenhuma variação na harmonia e a letra, além de melosa, não tem mais que 45 palavras diferentes. Parece que apostaram para ver quantas vezes conseguiriam repetir as mesmas palavras. Dear Rosemery é igual Big Me. Talvez alguém vá falar que a música é bonitinha, mas ela só serve pra quebrar o ritmo das duas músicas anteriores. Nenhum outro CD do Foo Fighters tem uma terceira faixa tão ruim quanto esse.

4 - White Limo
É uma música engraçada. O clipe é divertidíssimo. Mas não faz nenhum sentido ter ela ali. Parece muito com Weenie Beenie. Curta o som e os gritos, dê umas risadas e acelere para a próxima faixa.

5 - Arlandria
Estava gostando bastante dessa música... até chegar no refrão. Aqui é que eu lembrei do Bon Jovi, então isso responde muita coisa.

6 - These Days
Outra baladinha. A música começa com um simples violão e voz, tenta esquentar, mas não sai do lugar. Prestando atenção na letra você começa a achar que esse CD parece coisa de dor de corno. Se você ainda não pulou para a próxima vai ver que o ritmo se perde de novo e volta pro violão e voz só pro Dave Grhol arranjar uma desculpa para sair dando um berrão animal.

7 - Back and Forth
É a música que dá um pouco de esperança caminhando para o fim do CD. Não é nada brilhante, mas é mais divertida, tem um ritmo mais intenso e, mesmo sendo também uma baladinha, tem um pouco de humor. "I'm looking for some back and forth with you". Faltou um solo melhorzinho.

8 - A Matter of Time
Essa música não faz sentido nenhum pra mim. Tem um instrumental confuso pra cacete com algumas quebras de ritmo estranhas. É só uma questão de tempo até ela acabar e todos sermos mais felizes.

9 - Miss the Misery
Está faltando pouco para acabar o CD, e Miss the Misery seria melhor valorizada se não estivesse do lado de tanto lixo. A música não consegue se destacar no CD, e o coro a la U2 não ajuda.

10 - I Should Have Known
Coloque qualquer outra pessoa pra cantar essa música e a última banda que vai passar pela sua cabeça na hora em que ela estiver tocando vai ser Foo Fighters. Uma coisa tão chata de ouvir não precisava de 4 minutos.

11 - Walk
Assim que você acabar de ouvir essa música, a primeira coisa que você vai pensar é: Hoje que todo mundo é mais crítico, gosta de ouvir algo bem produzido, consistente, em que a ordem das faixas é importante para manter a atenção e o interesse, como é que resolveram socar 11 músicas aí só pra ver no que ia dar? Walk fecha o CD e é uma música que lembra muito "New Way Home", mas pior. Aliás, The Colour and The Shape é o CD mais parecido com esse. Muita variação de ritmos, guitarras pesadas, baladinhas, um pouco de confusão e falta de ordem. Mas o segundo CD tem melhor repertório.

8 de abril de 2011

Quebrando a banca

Em certo momento da vida, Milton Friedman, nobel de Economia e tudo o mais, teve a ideia de que o melhor para todos era o mercado ser liberal. Em outras palavras, acabar com esse papo do Estado botando o bedelho onde não é chamado. A economia deveria ser livre, assim como são as pessoas. É fato que essa não era uma ideia nova, Adam Smith já tinha concebido o mesmo com sua laissez-faire, a mão invisível do mercado. Mas os EUA tinham acabado de enfrentar umas das mais graves crises financeiras de sua história, o crash de 29, e só evitaram uma catástrofe por causa da intervenção estatal no melhor estilo da escola keynesiana. De qualquer maneira, a ideia começou a tomar corpo no começo da década de 80, quando Margaret Thatcher, na Grã-Bretanha, e Ronald Reagan, nos EUA, promoveram uma série de reformas liberalizantes, cortando gastos sociais, diminuindo os impostos e desregulamentando o mercado.

Um salto no tempo, e na década de 2000 ninguém mais questionava Friedman e o liberalismo econômico. Aliás, quem era contra era alcunhado “viúva do muro de Berlim”. A economia do mundo inteiro estava se modernizando, as empresas estavam mais eficientes e novas tecnologias surgiam a todo instante e se popularizavam. A internet era a prova viva de que a liberdade individual de cada um criava um bem comum a todos. Países que fizeram medidas macroeconômicas liberalizantes, como a Irlanda, surfavam na onda da bonança financeira. Só que uma hora o sonho acabou e a realidade pareceu desagradável demais.

A Islândia, um pequeno país europeu, com poucos recursos naturais e quase esquecido se não fosse a Björk e o Sigur Rós, de repente quebrou. Sua economia, baseada basicamente em serviços, entrou num colapso financeiro. Os três maiores bancos estavam com dívidas externas impagáveis, maiores que o PIB do país. Como o governo não regulou as movimentações financeiras, todo o tipo de negociata foi colocada na mesa. Mas a crise na Islândia foi só a ponta do iceberg, a primeira pedra do dominó a cair, e o pontapé inicial do documentário “Trabalho Interno”, do norte-americano Charles Ferguson, vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2011.

Se foi merecido não sei, mas o fato é que bastante didático. Lembro que em um dos filmes do Zeitgeist é dito que o sistema financeiro é complexo por um bom motivo: se ninguém entende como ele funciona, ninguém vai contestá-lo. Mas “Trabalho Interno” mostra que o esquema financeiro é tão simples quanto o conto do vigário que os 171s aplicavam no centro de São Paulo. É tudo uma questão de parecer confiável, saber ludibriar a vítima e sair de fininho quando o estrago já tiver sido feito.

O esquema funcionava assim: 1) Desregulamentação do mercado 2) Criação de derivativos 3) ??? 4) Lucro fácil. Para o primeiro passo, só é necessário promover lobby com alguns politicos, incluindo o presidente da República, e fazê-los aprovar o fim de qualquer tipo de controle externo sobre o mercado financeiro. O segundo passo é mais complexo, mas vale a pena acompanhar.

Em uma situação normal, os bancos fazem empréstimos esperando que eles sejam pagos dentro do prazo estabelecido, sob pena do imóvel ser hipotecado. Pois bem, na época do boom imobiliário os bancos resolveram terceirizar as dívidas para maximizar os lucros. Em outras palavras, eles concediam empréstimos generosos e vendiam o valor a receber para bancos de investimento. Assim, eles não tinham que se preocupar em pegar a grana de volta, portanto quanto mais empréstimos eles fizessem mais grana entrava. E isso inclui a famosa categoria subprime, como são conhecidos aqueles não conseguem honrar suas dívidas.

No outro front, os bancos de investimentos pegavam essas dívidas, davam um nome legal (como CDO) e transformavam em derivativos – ou seja, novos investimentos. Daí vinham os bancos de classificação de risco, que analisavam esses produtos e davam uma boa nota, normalmente AAA, a mais alta que existe. Detalhe inusitado: os bancos de classificação de risco eram financiados pelos próprios bancos de investimento que criavam a coisa toda, algo como colocar o alcoolatra para cuidar da cerveja. A consequência disso tudo é que os produtos foram adquiridos por uma porrada de gente achando que aquilo era um belo negócio.

Até que chegou a bendita hora em que os subprimes não conseguiram arcar com suas dívidas. E sem grana, os investimentos não tem retorno. E investimento sem retorno é igual a lixo. E isso pegou muita gente de calças curtas. O que aconteceu depois todos sabem: o mercado financeiro perdeu credibilidade e os investimentos começaram a derreter como sorvete no verão, até o fatífico dia 15 de setembro de 2008, quando as ações da Lehman Brothers se reduziram a pó e levou o pânico aos investidores.

Karl Marx poderia estar rindo à toa, mas era lógico que quem pagaria a conta seriam os pobres proletários. E quem achava que Wall Street seria punida exemplarmente para as futuras gerações, mais um erro conceitual. Eles não só estão em liberdade quanto continuam usufruindo dos bônus generosos que ganhavam nos tempos de bonança. E aqueles que especularam para que os investimentos virassem água ganharam uma grana violenta. E isso é só uma pequena parte na extensa lista de injustiças.

O fato é que se a Justiça não quis fazer seu serviço, o cineasta pelo menos fez sua catarse. Como numa boa reportagem jornalística, ele deu chance para o outro lado se justificar, sempre, é claro, colocando-os contra a parede sempre que necessário. Os cínicos profissionais malufizaram com maestria, enquanto os mais fracos pareciam não domar a arte da mentira.

Lógico que chega uma hora que esse maniqueísmo todo torna-se questionável, do tipo “nós contra eles”, tão típico dos filmes do Michael Moore. E Fergurson chega ao ápice da apelação ao entrevistar uma cafetina que aliciava garotas para os executivos, em festas regadas a bebidas, drogas e fantasias sexuais malucas. Esse é o tipo de moralismo barato que faz sucesso na imprensa sensacionalista – e possivelmente o público adora – mas é desnecessário pintar um cara de devasso quando há outras coisas a debater.

Pode-se também questionar a edição do filme, mas aí já é um outro papo, pois a tal da objetividade jornalística é uma das maiores farsas da indústria. E na real, o que importa mesmo é o grande potencial de mind-blowing que o documentário consegue provocar mesmo em quem já tem alguma ideologia definida. Permanecer inerte é uma opção só para quem realmente não entendeu nada.

24 de março de 2011

Top 5 covers dos Beatles

Escolher o top 5 covers já feitos dos Beatles é uma missão tão hercúlea e arriscada quanto tentar escolher o melhor álbum deles. São tantas opções que o serviço se torna digno apenas aos mais corajosos que já pisaram sobre a Terra, o que não é o meu caso. De qualquer forma, a minha lista é essa:


5) Johnny Cash - "In My Life"


Quando escreveu "In My Life", John Lennon tinha apenas 25 anos e enfrentava problemas no seu casamento com Cynthia. Nesse momento turbulento, ele resolveu fazer uma música que falasse sobre as coisas boas da juventude. Johnny Cash certamente gostava dos seus tempos de mocidade, mas quando regravou "In My Life" já com 70 anos e com a saudade debilitada, aparentemente estava mais saudoso da vida em si, repassando mentalmente tudo o que já tinha vivido. Pelo menos é o que faz crer.

4) Oasis - "I Am The Walrus"


O Oasis tem a curiosa mania de se comparar aos Beatles. Na verdade, suspeito que isso tem mais a ver com alguma obsessão doentia dos caras, próximo ao tipo de fanatismo que fez a cabeça de Mark David Chapman – só que ao invés de usar uma arma, eles fazem música, graças a Deus. De qualquer maneira, outra mania curiosa do Oasis é a de terminar os shows tocando "I am The Walrus". Isso se tornou tão lugar-comum que eles acabaram gravando a música para o álbum "The Masterplan" (1998).

3) James Brown - "Something"


Reza a lenda que "Something" é a segunda música mais regravada dos Beatles, ficando atrás de "Yesterday". Portanto, deve haver uma porrada de bons covers por aí, mas poucos devem ser tão interessantes quanto este feito por James Brown, o Godfather do soul. Tanto que até George Harrison tirou o chapéu e disse que esta é sua versão favorita.

2) Sonic Youth - "Within You Without You"


Outro clássico de George Harrison, interpretado dessa vez pelo pessoal do Sonic Youth. Não há muito o que comentar aqui.

1) Herbie Hancock - "Tomorrow Never Knows" (Feat. Dave Matthews)


"Tomorrow Never Knows" não é nem de longe a melhor faixa de Revolver, mas certamente é uma das mais intrigantes, com todos aqueles efeitos sonoros estranhos e com os versos inspirados no livro "A Experiência Psicodélica", de Timothy Leary, o guru do LSD, que por sua vez foi baseado no "Livro Tibetano dos Mortos", a Bíblia do Budismo. Herbie Hancock, que também curte umas experimentações musicais estranhas e é budista, fez uma versão mezzo lounge mezzo psicodélica, com resultados interessantes.

13 de março de 2011

Big Star: A melhor banda que ninguém nunca ouviu

A curta porém intensa história do rock é repleta de passagens curiosas. Nesse quesito, o Big Star merece uma menção que seja. A história dos caras é a seguinte: no início dos anos 70, quando o sonho dos Beatles já tinha acabado, os Rollings Stones já estavam atrás de sons novos, o Syd Barret já tinha sido enxotado do Pink Floyd por suas doideiras, o Brian Wilson já tinha entrado numa viagem de LSD e não retornado, e o hard rock começava a fazer a cabeça das pessoas, com bandas como Led Zeppelin, Jimi Hendrix Experience, Black Sabath e Deep Purple, surgia na contramão da história o Big Star, com seu rock leve e descompromissado inspirado no som da Invasão Britânica dos anos 60.

Mas a coisa vai muito além de estar no lugar errado e na hora errada. Mesmo com o talento assombroso dos caras e da mistura perfeita de ritmos, o Big Star jamais alcançou a fama devido a uma urucubaca pesada que perseguiu o grupo durante seu pouco tempo de existência. A coisa só melhorou anos depois, quando um pessoal talentoso redescobriu a banda e promoveram um revival, mas, apesar disso, a verdade é que até hoje eles são mais reconhecidos pela crítica do que pelo grande público. Essa talvez seja uma das sinas mais folclóricas do rock.

O Big Star nasceu em 1971, em Memphis, Tennessee (EUA), composta pelo vocalista e guitarrista Alex Chilton, pelo também guitarrista Chris Bell, pelo baterista Jody Stephens e pelo baixista Andy Hummel. Chilton e Bell eram colegas de colegial que compartilhavam a paixão pelos Beatles. Chegaram a montar uma banda nessa época, mas a coisa não foi pra frente. Eles, então, tomaram rumos diferentes: Chilton foi tocar numa banda de R&B chamada DeVilles, que depois passou a se chamar The Box Tops. Eles emplacaram alguns hits no final dos anos 60, mas nada de tão memorável. Em 1969, Chilton resolveu sair de sua cidade e ir para Nova York tentar a vida como cantor folk, com um violão debaixo do braço à la Bob Dylan. A aventura não deu muito certo e ele voltou para Memphis em 1971.

Nesse meio-tempo, Bell começou a trabalhar no recém-criado estúdio Ardent, que mais tarde receberia Led Zeppelin, Isaac Hayes e REM, entre outros nomes desse quilate. Ele também costumava tocar em bares e pequenas casas de show com sua banda, Icewater, junto com Hummel e Stephens. Tal qual na turnê dos Beatles em Hamburgo em 1962, o repertório consistia basicamente de covers de outras bandas que faziam sucesso na época, com uma ou outra canção de autoria própria. Recém-chegado à cidade, Chilton gostou do que ouviu e apresentou algumas músicas que compôs. Lógico que ele foi convidado para entrar para a banda.

Com a nova formação, eles praticamente se trancaram no estúdio para gravar o primeiro álbum. As sessões eram longas e extenuantes. Numa dessas, eles resolveram dar uma pausa e filar um petisco no supermercado da esquina, o Big Star Foodmarkets. Nisso, algum insano resolveu batizar a banda de Big Star e o nome pegou.

O primeiro disco deles, #1 Record, foi lançado em abril de 1972. O interesse pela música negra de Chilton misturou-se com a influência dos Beatles de Bell e, com as contribuições de Hummel e Stephens, criaram um álbum interessantíssimo. As composições são extremamente criativas, com riffs que grudam na cabeça e mudanças melódicas perfeitas. A faixa de abertura "Feel", por exemplo, começa com uma porrada pura até cair numa espécie de melancolia no refrão, seguido de um bridge com metais ao estilo soul. Apesar de todos terem contribuído nas composições, eles quiseram mimetizar os Beatles e creditaram quase todas as faixas como Bell/Chilton. Anos depois, duas músicas deste álbum ficariam conhecidas por causa do That’s 70 Show: “In The Street” e “Thirteen”.

Apesar de ter sido bem recebido pela crítica, problemas gerenciais na gravadora Stax fizeram com que os discos simplesmente não chegassem às lojas. As vendas baixas caíram como uma bomba no grupo. Já rolavam discussões sobre se eles fariam turnês – como queria Chilton – ou se seriam uma banda de estúdio – tal como planejava o beatlemaníaco Bell. As rixas foram aumentando até chegarem às vias de fato, com a porradaria comendo solta entre Bell e Hummel. Chris Bell, então, deixou o grupo perto do Natal de 1972.

Mesmo assim, os planos para um novo disco continuavam de pé. Radio City foi lançado em fevereiro de 1974, mas sem o mesmo frescor do álbum de estreia. Apesar de algumas boas canções, como “Back of Car”, “I’m in Love with a Girl” e “September Gurls” (cujo termo foi depois adotado pela Katy Perry em “California Gurls”), no geral Radio City é apenas mediano. Os críticos viram com entusiasmo o disco, já que ele manteve intacto o belo som da banda mesmo com toda a confusão que rolou. Mas mesmo quem quisesse conferir não conseguiria, pois novamente problemas de distribuição da gravadora, dessa vez na Columbia, fez com que poucos álbuns chegassem às lojas.

Com isso, Andy Hummel pediu as contas e foi embora. Mesmo assim, Chilton e Stephens entraram em estúdio naquele mesmo ano para gravar o terceiro álbum do Big Star. Mas era óbvio que todos os acontecimentos que envolveram a banda até o momento trariam mudanças profundas. Algumas canções são tão melancólicas que fizeram o álbum ser escolhido como o mais triste da história pelo jornal New Music Express, batendo qualquer outra coisa já feita pelo Joy Division. Perto de “Holocaust” e “Big Black Car”, The Smiths é tão alegre quanto um axé. Eles também romperam com muitas outras características dos discos anteriores. Em vez de falar sobre garotas, as letras mostram-se muito mais maduras, sobra até uma música meio cristão natalina chamada “Jesus Christ”. E o arranjo de cordas foi usado de maneira soberba, como em “For You” e “Take Care”, deixando as coisa ainda mais dramáticas.

Na verdade, Chilton e Stephens não planejavam lançar o álbum sob o nome do Big Star. Aquilo estava mais para um projeto paralelo do que um caminho natural da banda. Um dos nomes cogitados para o duo seria Sister Lovers, porque na ocasião eles estavam namorando duas garotas que eram irmãs. De qualquer maneira, aquele apanhado de músicas tristes e mal acabadas se mostrou um tremendo disco. O problema é que a Stax, a gravadora que lançaria o álbum, foi à bancarrota em 1975, antes de seu lançamento. Para piorar, muitos consideravam o disco comercialmente inviável. Então, as músicas só circulavam por meio de cópias demos de mão em mão, até que a gravadora PVC decidiu lançá-la em 1978. Só que nessa época o Big Star já tinha acabado e, tal qual os Beatles, eles estavam mais preocupados com suas respectivas carreiras solos do que qualquer outra coisa. E nesse mesmo ano, Chris Bell, que se tratava de uma crise de depressão, morreu em um acidente de carro em Memphis.

Mesmo com o karma negativo que atravessou toda a trajetória do Big Star, eles acabaram sendo redescobertos por uma parcela de artistas que começava a aparecer nos anos 80, como REM, Teenage Fanclub e Cheap Trick. Foi mais ou menos nessa época que o termo Power Pop apareceu, com o Big Star cravando seu lugar no panteão do estilo. Segundo o AllMusic, “Power Pop é o cruzamento do barulho do hard rock do The Who e da melodia suave dos Beatles e Beach Boys, com uma pitada de guitarras dos Byrds”.

Seus discos foram relançados, e dessa vez o pessoal poderia finalmente ouvir seus álbuns. Mas mesmo assim, o Big Star continuou relegado mais aos fanáticos por música do que para o público. Os críticos mais exaltados chamavam-os de "A melhor banda que ninguém nunca ouviu falar" e "Os Beatles norte-americanos". Na década de 90, o power pop ficou badalado entre as bandas indies, como Wilco, Elliot Smith e Pavement, e o que já era alternativo por natureza acabou virando alternativo por filosofia.

Todo esse revival fez com que o Big Star voltasse aos palcos em 1993, com Chilton e Stephens tocando com Jon Hauer (ex-Posies) e Ken Stringfellow (que tocou com uma porrada de gente). Em 2005, a banda lançou o disco inédito “In Space”. Mas era evidente que as coisas já não eram como antes. Seria como se Paul McCartney e Ringo Starr juntassem uma galera e usassem o nome The Beatles para lançar um disco inédito. Tem coisas que é melhor deixar quieto.

Alex Chilton morreu em março de 2010 devido a problemas cardíacos. No próximo dia 26 vai rolar um show em tributo a ele em Nova York, com a presença do pessoal do REM, Yo La Tengo! e Primal Scream, entre outros fãs de renome. Também em 2010, em julho, morreu Andy Hummel, vítima de câncer.

5 de março de 2011

Zeitgeist SP

Todo mundo sabe que o Kassab faz parte do lobby das imobiliárias, assim como boa parte da bancada governista da Câmara Municipal. Ele e diversos vereadores quase foram cassados no ano passado por terem recebido doações ilegais da Associação Imobiliária Brasileira durante as eleições de 2008. Conhecendo a Justiça brasileira, seria muito improvável isso se consumar, mas pelo menos a mídia acabou divulgando a nefasta revelação. E apenas a título de curiosidade, Kassab trabalhava como corretor de imóveis antes de entrar na política.

Isso explica bastante coisa. Em 2009, houve a polêmica revisão do Plano Diretor da cidade de São Paulo. O trecho mais indecente era a que alterava a utilização das ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social), que são destinadas para a construção de moradias populares. A mudança permitiria que as zonas fossem usadas livremente pelo mercado. Em julho de 2010, um juiz invalidou o novo Plano Diretor por não ter contado com a participação popular devido a falhas na audiência pública. Aparentemente, o projeto ainda está na Câmara Municipal para ser votada.

Há também o projeto Nova Luz, que pretende dar carta branca para um consórcio desapropriar e demolir os imóveis que quiserem. A ideia de revitalizar a região é até nobre, mas a falta de transparência está botando o terror em quem vive por ali. Segundo uma associação de moradores local, a prefeitura não deu nenhuma garantia de que o pessoal que será desapropriado voltará ao antigo endereço. E nem eles nem os comerciantes sabem o que farão da vida enquanto as obras estiverem rolando. Nenhum espaço provisório foi indicado pelo governo municipal. Também não há qualquer menção sobre o que será feito dos nóias que vão fumar crack por lá. Possivelmente vão ser chutados para algum outro canto da cidade, como sempre.

Aliás, ainda em 2009, a prefeitura fechou diversos albergues no centro da cidade e abriu novas vagas nos bairros da periferia. Também cancelou programas como o Oficina Boracéia, que atendia a população de rua. É muito óbvio sacar o significado disso: quanto mais longe esse pessoal ficar do centro, mais a região se valoriza. Sem muita alternativa, muitos sem-tetos passaram a dormir embaixo do Minhocão, mas eles acabaram sendo expulsos pelos comerciantes dos arredores. Hoje é possível ver alguns deles se abrigando na região de Higienópolis ou perto do metrô Santa Cecília.

Não por acaso, a mais recente vítima da especulação imobiliária é a baixa Augusta, que está localizada numa região privilegiada do centro – entre a Paulista, a Consolação e a República. Redescoberta pela juventude alternativa paulistana, agora ela está prestes a virar uma Vila Olímpia gay, segundo a opinião de um amigo que mora lá perto. As casas de tolerância estão dando lugar a novas casas de show e construções. Há 11 edifícios sendo erguidos, com preço médio de R$ 6 mil o metro quadrado, valor comparável com o metro quadrado da Faria Lima, onde não é possível construir mais nada e os imóveis são disputados à tapa.

Além de elitizar, a especulação imobiliária também é a responsável pelos índices recordes de trânsito na capital. A questão disso é simples: como os terrenos estão escassos, as construtoras erguem imóveis cada vez menores, onde cabem mais gente, e obtém lucro fácil. Assim, mais pessoas se aglomeram em uma determinada região. Isso logicamente acaba sobrecarregando os serviços públicos de uma maneira geral.

Quando o Estado não organiza o caos, o caos se instala. É óbvio que o ônibus e o metrô estão saturados. Com mais pessoas indo para os mesmos lugares e ao mesmo tempo, pegar um ônibus é quase como pagar seus pecados, com a diferença de que é preciso desembolsar 3 reais para isso. E ao usuário não resta muita opção. Em alguns países da Europa (não sei se são todos), quanto mais crédito você recarrega em um cartão estilo Bilhete Único, mais desconto ganha. No metrô de São Paulo até tem um negócio parecido, chamado Cartão Fidelidade, mas sem a integração com os outros tipos de transportes o cartão é inútil para boa parte da população.

A verdade é que o aumento do ônibus vai muito além dos 3 reais. O repasse dos subsídios às empresas deve passar de R$ 660 milhões em 2010 para R$ 743 milhões este ano. Essa grana seria apenas para bancar as passagens gratuitas e a meia entrada dos estudantes. A prefeitura ainda é obrigada a bancar as melhorias no sistema, como reforma nos pontos e manutenção de corredores de ônibus. A conclusão disso é que a única tarefa das empresas é a de deixar a grana entrar no caixa, já que não houve qualquer melhora nas linhas ou nos veículos.

Quem quer fugir disso tudo pode tentar pegar um carro. Mas é lógico que a especulação imobiliária também provoca aumento na quantidade de automóveis que trafegam em uma determinada região, logo o congestionamento tende a aumentar. E as medidas tomadas para evitar esse problema se mostraram inócuas. Kassab restringiu a circulação de caminhões pela cidade, além da implantação do rodízio para esse tipo de veículo, mas o efeito foi quase nulo. E no ano passado, a ampliação da Marginal Tietê custou nada menos que R$ 1,3 bilhão aos cofres estaduais e municipais, e nos sete meses que demorou para ficar pronta, já ficou saturada. Para piorar, sem o canteiro central para permeabilizar o solo, aumenta o risco de enchentes na marginal.

E não ajuda muito o fato do serviço de desassoreamento do Tietê retirar apenas 380 mil metros cúbicos de detritos por ano, quando o ideal é 1 milhão de metros cúbicos. Para piorar, o serviço deixou de ser feito pelo governo estadual de dezembro de 2006, quando terminaram as obras de rebaixamento da calha do rio, até outubro de 2008, quando o contrato teve início. Nesse meio tempo, o leito do Tietê recebeu uma média de 1,2 milhão de metros cúbicos de detritos por ano. Ou seja, as obras de alargamento e rebaixamento da calha, que custaram mais de R$ 1,5 bilhão e demoraram três anos para ficarem prontas, hoje é totalmente inútil.

Fora isso, de 2008 para 2010, os investimentos em ações antienchentes da prefeitura caíram 8,7%, de R$ 389 milhões para R$ 358 milhões, já corrigida a inflação. Sendo que, no ano passado, as receitas do município aumentaram 20,4% em comparação com 2009. No mesmo período, os gastos com publicidade saltaram de R$ 57,8 milhões para R$ 108,9 milhões.


OBS: Esse texto não tem nada a ver com Movimento Zeitgeist ou com o filme. É apenas resultado de uma coleção de notícias que fui recolhendo por aí sem muita pretensão

23 de fevereiro de 2011

E agora, um texto econômico nas palavras que termina em piada.

A polêmica e assombrada taça das bolinhas anda gerando muita discussão. Mas só pra quem não tem o que fazer.

Vamos aos fatos. Quem conseguiu preencher os requerimentos para posse definitiva primeiro foi o São Paulo. Em um ano 5 títulos, e no ano seguinte os 3 seguidos.

Aí a CBF indexou os campeonatos de 59 à lista de campeões. Nesse formato o Santos foi o primeiro a ser tricampeão. Na verdade o Santos foi pentacampeão. Conseguiu os 5 títulos em 5 anos e elevou o nivel de fodelagem.

Só que quando o Santos fez isso ainda não existia taça das bolinhas. E mesmo que existisse, o reconhecimento dos títulos só veio em 2011, 4 anos depois de o São Paulo ter atingido o primeiro feito.

O mesmo se aplica ao Flamengo. Decidiram agora que ele é campeão de 87. Já existia a taça, mas ele foi reconhecido como campeão depois também. Mesmo que para a justiça brasileira o campeão ainda é somente o Sport.

E é difícil conciliar o futebol dentro e fora de campo. Fora de campo o futebol brasileiro é o dos Zveitões, das máfias do apito, das discussões sem fim por migalhas de contratos de TV, da CBF. E dentro de campo, não é esporte dos mais nobres também.

Então o problema é o seguinte: Criaram a taça em 71, e acharam que ia ser difícil alguém ser campeão 5 vezes alternadas ou 3 seguidas. E realmente foi. Demorou quase 40 anos pra acontecer. Eu, sinceramente, acho que deveriam zerar esse contador. E criar uma nova condição para a posse da taça.

Hoje o que é difícil no futebol? Difícil é o Corinthians ser campeão da Libertadores. Dá logo a taça pra quem conseguir perder pro Corinthians numa final de Libertadores. Resolvido.

10 de fevereiro de 2011

Muito para o Twitter 3

Só para não dizer que esse blog está largado às moscas, segue um post com comentários sobre as últimas notícias:

- Rumores de uma continuação de O Grande Lebowski:
Sempre que ouço que vai rolar a continuação de algum filme, ainda mais após anos do lançamento do original, meu primeiro instinto é achar isso uma bosta. Só que quase sempre eu quebro a cara e acabo achando a continuação legal, como aconteceu com Tropa de Elite. Então, se rolar mesmo esse Grande Lebowski 2, vou assistir e ver qualé que é, embora, a priori, ainda continue achando essa ideia uma bosta. (Aparentemente, os irmãos Cohen também não estão a fim de desenterrar “The Dude”. Depois que a Tara Reid anunciou que haveria uma continuação, perguntaram se eles trabalhariam no filme e Ethan respondeu: “Bem, nós não, mas assistiremos assim que ele sair”. “Especialmente se Tara estiver nele”, Joel completou. Depois, Tara voltou atrás e disse que tudo não passou de um mal entendido, mas a ideia já está no ar.)
 
- Novo CD do The Strokes:
Ouvi “Under Cover of Darkness”, novo single do The Strokes, e achei bem legal, parece ter saído do Room on Fire, o que já é um alívio, pois para mim é o melhor álbum deles. Se as outras músicas tiverem uma pegada parecida com essa (acredito que não, mas enfim...), será um bom retorno desde o último disco, First Impression of Earth, de 2006, que é um lixo. Mas também não tem porque alimentar muita expectativa, principalmente quandos os próprios caras dizem que ainda estão brigados e que a grana falou alto na hora de gravar o álbum. Mas só em março vamos ver o que eles querem da vida.

- Fim do White Stripes:
Taí uma banda que nunca fui muito fã. Mas foda-se, já era, acabou. Próximo tópico.
 
- Oscar:
Novamente não assisti a um terço dos filmes que concorrerão ao Oscar. Mas, na real, nem precisaria já que tudo é muito óbvio no prêmio da Academia. Exceto se Banksy ganhar com Exit Through the Gift Shop. Aí, meu amigo, prepare-se para testemunhar a história sendo feita. O mínimo que ele faria seria não ir receber o prêmio por motivos lógicos de ocultação de identidade. Mas para quem já aprontou tanto contra o establishment, zoar com o Oscar é como roubar doce de criança.
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