Quem lê com alguma frequência o blog e acompanha o cinetoscópio sabe que gosto dos filmes do Kevin Smith. Mas encontrar alguém que conheça bem sua filmografia por aqui é tarefa das complicadas, ainda que perfeitamente compreensível. Seus filmes são sobre absolutamente nada, e seus roteiros são basicamente sobre cultura pop, religião, sexo e algumas "dick and fart jokes", que estão mais para "dick and dick jokes". Ou seja, filmes cômicos, tragicômicos, romanticômicos ou religicômicos. Ele cria diálogos com a mesma preocupação que a minha agora em usar um termo que não existe. E assume isso muito naturalmente.
Eu costumo dizer que o Tim Burton sempre faz o mesmo filme, com os mesmos perfis de personagens, com a mesma direção de arte (principalmente figurino) com a mesma trilha sonora do Danny Elfman e com os mesmos atores, principalmente sua mulher e Johnny Depp, enquanto Tarantino usa os mesmos atores para os mesmos personagens em linhas narrativas alucinantes. Kevin Smith faz um pouco disso e um pouco daquilo. Usa os mesmos atores para os mesmos personagens e os mesmos atores para personagens diferentes, o que gera confusão para o olho destreinado, como nas piadas do Império do Besteirol Contra-ataca. Ele usa os personagens do View Askewniverse, ou o Universo da View Askew (nome de sua produtora), e tem como fio condutor Silent Bob (Bob Silencioso ou Bob Caladão) e Jay (Jay). Mas depois de Balconista II (Clerks II) essa porta praticamente se fechou.
Esse universo começou com o Balconista (Clerks), premiado por Cannes e Sundance, sobre dois trabalhadores de uma loja de conveniência e vídeo locadora. Depois veio Barrados no Shopping (Mallrats), insucesso de bilheteria, onde reaparecem Jay e Silent Bob para ajudar TS e Brodie a reconquistar suas namoradas. Segue para Procura-se Amy (Chasing Amy), em que a sabedoria de Bob ajuda Holden a entender seus sentimentos por uma lésbica, e passa por Dogma na tentativa de deter o Apocalipse. Depois vem o Império (Jay & Silent Bob Strike Back), onde nossos heróis procuram seus direitos de imagem depois de terem suas personas copiadas para gibis e filme e termina com Balconista 2 em que, para quem conhece a história do universo, há um ponto final na vida desses personagens. Mas de certa forma, também uma mudança de rumo na carreira do cara.
Talvez o filme mais conhecido dele por aqui seja "Pagando bem, que mal tem?", que é muito parecido com os do Askewniverse mas com personagens diferentes. O filme não garantiu um mercado maior para ele no Brasil, e o primeiro filme que ele dirigiu e não escreveu, Tiras em Apuros (Cop Out / A Couple of Dicks) mal passou pelo cinema, mesmo tendo no elenco Bruce Willis e Tracy Morgan. Mas a sensação que fica é que há uma rejeição enorme aos seus filmes, e isso acontece nos Estados Unidos também. Coisa que não tem nada a ver com elenco. Ele já colocou em seus filmes atores e comediantes do calibre de Alan Rickman, Ben Affleck, Matt Damon, Jason Lee, Chris Rock, George Carlin, Will Ferrell e o ignorante número de participações especiais para Impérido do Besteirol, entre elas Carrie Fisher e Mark Hamill (Hey kids! it's Luke Skywalker) (Aqui está a lista completa). Enfim, mesmo para o gênero "comédia", se ouve mais críticas que elogios. As pessoas acham que, pelo fato de o cara ter ganho o prêmio dos novos talentos em Sundance, viria a tona um novo gênio do cinema independente que fez um filme de 27 mil dólares render 3 milhões, e o que pensaram ter visto depois foi mais do mesmo
Mas a visão que existe para tudo que é independente na indústria do cinema e também da música é um pouco hipermétrope. As pessoas tem uma tendência incrível de achar que, exatamente por não seguir o mainstream, a coisa é mais difícil de realizar, e portanto o resultado final é melhor. É uma visão errada, preguiçosa e sem devida distância. Tudo que entra na categoria independente é bom para o processo criativo, porque sem dinheiro para investir o realizador se vê obrigado a procurar alternativas eficazes e inventivas, e que diversas vezes criam novas linguagens e efeitos, algo que no cinema toma maior efeito uma vez que não existe "hype" ou "modinha" e sim arrecadação em bilheteria. Isso, entretanto, não significa que o filme independente seja brilhante e excelente. Depois de um tempo assistindo filmes você aprende que existem filmes bons e ruins com recursos milionários e filmes bons e ruins com recursos escassos. Não é pelo orçamento ou pela (falta de) exposição na mídia que se deve julgar talento em entretenimento. E nisso a crítica falha monumentalmente. Quantos artigos alguém já não leu falando sobre tal filme e a "subjetiva inspiração baseada em filme/obra X de tal diretor"?.
Mesmo levando muita porrada, Kevin Smith foi vendo que o chão em que ele pisa hoje está bem além do lugar em que projetou estar na carreira. Começou a participar de Q&As sobre obra e vida. Palestras que viraram festivais de stand-up, onde ele fala de uma rixa com Tim Burton, sua história sobre um documentário com Prince, a fissura anal sem tratamento que ele sofreu e etc. Ele descobriu que tinha um número incontável (na época) de seguidores que gostariam de ouvir qualquer coisa que ele falasse, seja sobre bastidores do cinema, vida pessoal ou vida alheia, além dos projetos de quadrinhos para DC e Marvel.
O último de seus projetos "paralelos" parece ter se tornado o projeto principal. Uma rede de podcasts que tratam de diferentes assuntos, todos os dias da semana, todas as semanas (Smodcast Podcast Network). Ele sabe quem gosta e quem não gosta de seu trabalho, e depois de ouvir todo tipo de crítica resolveu mandar uma banana e voltar sua atenção para aqueles que se interessam em ouvi-lo. Dentro dessa rede, onde ele bate papo sobre notícias e atualidades com o produtor e amigo Scott Mosier, ou comenta as notícias do cinema com Ralph (Frank) Garman (faz algumas vozes no Family Guy e começou a carreira no Sexcetera), ou ainda faz incursões pelo mundo da reabilitação às drogas com Jason "Jay" Mewes, sobrou espaço para fazer um excelente e barato crossmedia para o lançamento de seu novo filme, de terror, "Red State", visando esse público milimetricamente definido.
O que Smith faz é abrir uma sessão de Q&A no Smodcastle, lugar em que ele grava os podcasts ao vivo, exibe um trecho do filme e sedia um debate entre ele, os presentes e algum membro da equipe de gravação, algo que ele define como escola de cinema de graça. Sem distribuidora para o novo longa, sua estratégia para lançar o filme é fazer um leilão, literalmente, assim que a projeção terminar no festival de Sundance em 2011. Quem pagar mais leva os direitos. Orçado em 5 milhões de dólares, o filme não participa da mostra competitiva, mas caso participasse, seria ainda mais bizarro. Já em seu twitter ele chegou a leiloar a exclusividade de pôsters do filme para quem quisesse hospedar a imagem em seu site e receber os devidos créditos dos outros sites. Os resultados foram arrecadações de quase 8 mil dólares para duas instituições. Metade dos sites que compraram os direitos (entre eles um site pornô), e outra metade dele próprio, igualando a oferta na doação.
Essa mudança de estilo vai fazer bem, e, tomara, mostrar que alguém com talento para escrever roteiros não precisa se limitar a gêneros. E para a crítica não limitar sua carreira só à comédia. Porque entre uma piada e outra existem ensinamentos de todo o tipo sobre como as pessoas se relacionam. Amizade, família, amor... "Existem milhões de mulheres bonitas no mundo, mas nem todas elas te levam lasanha no trabalho. A maioria só trai você".
Enfim, enquanto Janeiro não vem, fica a expectativa do que pode ser o penúltimo filme de Smith. Pelo fato de ser um filme de terror alguma distribuidora no Brasil talvez mostre um interesse maior que durante toda sua carreira. E por fim, em 2012, é a vez de "Hit Somebody", baseado em música homônima, chegar às telas. Kevin Smith completará 18 anos/10 filmes de carreira e provavelmente encerrará seu trabalho como roteirista/diretor por aí. Se espera que esses últimos filmes sejam um merecido ponto de exclamação em sua trajetória. Bem pouco depois do fim do universo.
*Em tempo, o teaser de Red State
23 de dezembro de 2010
5 de dezembro de 2010
Feliz natal, babaca.
Poderia muito bem escrever um texto sobre o término do campeonato brasileiro. Sobre a vitória do Fluminense e do Muricy e o insucesso do Corinthians em seu centenário. Mas assuntos de maior importância e interesse urgem e precisam ser expostos. Sobre o futebol, o tempo e a história dirão.
Mas a bola começa a rolar na última rodada do campeonato brasileiro para definir o título. Emoção garantida eeeeeeeee apiiiiita o árbitro, é fim de luz para um bairro inteiro. A energia elétrica foi expulsa de campo e cumpriu longa suspensão.
O serviço que a AES Eletropaulo oferece para o paulistano é uma merda e merece prêmio. Eu, como cidadão participativo que sou, logo tento entrar em contato com a empresa para avisar a falha, não só para meu interesse, mas também por toda uma região povoada em sua grande maioria por idosos, e sabe-se lá quantos deles não dependem de eletricidade para manter os aparelhos funcionando.
Primeira tentativa: Todas as linhas estão ocupadas. Segunda tentativa: Consigo, através do meu cadastro de número de instalação, avisar que estou sem luz. Mas não fui atendido por nenhum operador para informar/ser informado sobre a situação, mesmo depois de esperar 10 minutos na linha (ultrapassando o tempo limite determinado pelo PROCON). Terceira tentativa: informar via SMS a falta de luz. Nenhuma resposta também.
Aí surgem algumas questões, que precisamos reforçar, principalmente por se tratar de empresa privatizada. Quando eu fico sem eletricidade, a empresa abate a cobrança de ICMS? Os outros serviços que eu pago e dependem de eletricidade, como Internet e TV a Cabo, não deveriam ser compensados por este terceiro (AES), proporcinalmente ao tempo que eu não pude utilizar o serviço por falha dele? Os limites impostos pelas agências reguladoras não são tolerantes demais? Quer dizer, antes que a empresas seja multada, ela pode me cortar a energia de 2,52 a 4,59 horas por mês, 6,10 a 9,19 horas por trimestre e 12,20 a 18,38 horas por ano. Não é demais? Qualquer problema na rede elétrica não demora menos que uma hora para se resolver. Reduzir essa tolerância não significaria uma melhor manutenção preventiva da rede, e portanto menos falhas?
E a fiscalização? Cadê você, ANEEL / Governo Estadual de São Paulo / Municipal? E o reembolso do consumidor/contribuinte/otário aqui? Sempre falo uma coisa: Sabe onde essas empresas ganham a disputa com o consumidor? Dentro de sua própria burocracia. As pessoas pensam que se dar ao trabalho de reivindicar seus direitos é mais caro que pagar por um erro cometido pela empresa.
E enquanto eu estava sem luz por falha de distribuição na rede elétrica pude ver na janela enquanto a noite caia a decoração de natal que colocaram ali na Avenida. Êêêê Filhadaputagem, sempre você!!! Porra, racionamento de energia e horário de verão pra quê, se vão gastar energia com uma merda dessas? Deixa pra fazer isso quem quiser, deixa pros bancos na Av. Paulista que estão com o cu cheio de dinheiro! Montar palco na Paulista, iluminação na Ponte Estaiada, árvore no Ibirapuera? Porra, isso aí não só é um gasto desnecessário como também um belo aperitivo pros sádicos usuários de carro em São Paulo.
Bom trânsito pra você que gosta, seu merda. Enfia uma lâmpada no cu agora e sai pulando de vagalume o resto do ano.
Mas a bola começa a rolar na última rodada do campeonato brasileiro para definir o título. Emoção garantida eeeeeeeee apiiiiita o árbitro, é fim de luz para um bairro inteiro. A energia elétrica foi expulsa de campo e cumpriu longa suspensão.
O serviço que a AES Eletropaulo oferece para o paulistano é uma merda e merece prêmio. Eu, como cidadão participativo que sou, logo tento entrar em contato com a empresa para avisar a falha, não só para meu interesse, mas também por toda uma região povoada em sua grande maioria por idosos, e sabe-se lá quantos deles não dependem de eletricidade para manter os aparelhos funcionando.
Primeira tentativa: Todas as linhas estão ocupadas. Segunda tentativa: Consigo, através do meu cadastro de número de instalação, avisar que estou sem luz. Mas não fui atendido por nenhum operador para informar/ser informado sobre a situação, mesmo depois de esperar 10 minutos na linha (ultrapassando o tempo limite determinado pelo PROCON). Terceira tentativa: informar via SMS a falta de luz. Nenhuma resposta também.
Aí surgem algumas questões, que precisamos reforçar, principalmente por se tratar de empresa privatizada. Quando eu fico sem eletricidade, a empresa abate a cobrança de ICMS? Os outros serviços que eu pago e dependem de eletricidade, como Internet e TV a Cabo, não deveriam ser compensados por este terceiro (AES), proporcinalmente ao tempo que eu não pude utilizar o serviço por falha dele? Os limites impostos pelas agências reguladoras não são tolerantes demais? Quer dizer, antes que a empresas seja multada, ela pode me cortar a energia de 2,52 a 4,59 horas por mês, 6,10 a 9,19 horas por trimestre e 12,20 a 18,38 horas por ano. Não é demais? Qualquer problema na rede elétrica não demora menos que uma hora para se resolver. Reduzir essa tolerância não significaria uma melhor manutenção preventiva da rede, e portanto menos falhas?
E a fiscalização? Cadê você, ANEEL / Governo Estadual de São Paulo / Municipal? E o reembolso do consumidor/contribuinte/otário aqui? Sempre falo uma coisa: Sabe onde essas empresas ganham a disputa com o consumidor? Dentro de sua própria burocracia. As pessoas pensam que se dar ao trabalho de reivindicar seus direitos é mais caro que pagar por um erro cometido pela empresa.
E enquanto eu estava sem luz por falha de distribuição na rede elétrica pude ver na janela enquanto a noite caia a decoração de natal que colocaram ali na Avenida. Êêêê Filhadaputagem, sempre você!!! Porra, racionamento de energia e horário de verão pra quê, se vão gastar energia com uma merda dessas? Deixa pra fazer isso quem quiser, deixa pros bancos na Av. Paulista que estão com o cu cheio de dinheiro! Montar palco na Paulista, iluminação na Ponte Estaiada, árvore no Ibirapuera? Porra, isso aí não só é um gasto desnecessário como também um belo aperitivo pros sádicos usuários de carro em São Paulo.
Bom trânsito pra você que gosta, seu merda. Enfia uma lâmpada no cu agora e sai pulando de vagalume o resto do ano.
29 de novembro de 2010
Sábado no Parque
O grande barato de ir a um festival de música é que você pode esperar que aconteça qualquer tipo de coisa e ainda assim você sairá satisfeito no final. Bandas que você não espera nada de repente fazem um puta show, bandas que tinham tudo pra destruir fazem a galera cochilar e bandas que podiam causar realmente acabam causando. É uma grande loteria, do tipo assistir a um jogo de futebol no estádio, inclusive com todos os seus problemas de infraestrutura e tal.
O festival Planeta Terra 2010 teve todos esses altos e baixos. Das apresentações que acompanhei, vi um pessoal pouco conhecido quebrando tudo, vi um cara levando ao delírio as mulheres (inclusive aquelas que tem um cromossomo Y), vi veteranos voltando à ativa em boa forma e vi superestrelas não honrando a camisa e ficando num vergonhoso zero a zero.
Primeiro ato
Logo que cheguei ao Playcenter, já dava pra ouvir lá fora o som do Of Montreal. O dia estava bom, não fazia um calor infernal tampouco fazia frio nem dava pinta de que iria chover, como constavam nas previsões. A uns 500 metros da entrada, estacionamos o carro e seguimos a pé por uma rua praticamente deserta. Atravessamos a avenida e já começamos a sentir que estávamos no caminho certo. De repente, uma aglomeração dos tipos mais clichês do rock alternativo surgiu nas nossas vistas. A camiseta do Goo era quase um uniforme por essas bandas, assim como as camisetas pretas Zero, do Smashing Pumpkins. Era como se a rua Augusta tivesse sido transplantada para a zona oeste.
Quando saquei que o Of Montreal já estava fazendo uma barulheira lá dentro, tocando Like a Tourist, nada mais lógico que apressar o passo e ir conferir lá de perto. Aqui é preciso abrir um adendo importante. A entrada foi tranquilíssima, muito bem organizada. Não demoramos um minuto pra pegar a fila e entrar, sendo que os seguranças estavam fazendo uma revista rigorosa. Mais tarde, já dentro do parque, encontrei com um amigo que relatou que quase confiscaram um frasco de perfume de sua namorada por acharem que era algum tipo de substância ilícita. O enrosco só se acalmou quando a autoridade decidiu conferir a procedência do produto e confirmou que o cheiro era de colônia.
Logo após ser revistado, acabei me perdendo da galera. Esse é um expediente normal, diga-se de passagem, mas não quando estou sóbrio. Apesar desse contratempo, fomos lá tomar uma cerveja para esquecer nossos problemas e acompanhar o show. Logo descobrimos que para pegar um veneno, teríamos que trocar a grana por umas fichas. O problema é que teríamos que pegar uma fila que não era das mais amistosas. Perto do guichê, não conseguíamos ver o final dela. Mas era se sujeitar a isso ou ficar sem cerveja, então partimos para o óbvio. Enquanto isso, acompanhava de longe, mas pelo menos acompanhava, a loucura que os caras do Of Montreal aprontavam lá no palco. Para quem estava a fim de ouvir um som dançante, os caras não decepcionaram e fizeram um show bem legal. Pelo telão, só vi uns caras travestidos e uma certa piração sem sentido no palco.
A noite cai
Cerca de meia depois, por volta das oito e meia, começou o show do Mika. Foi fácil perceber isso. Estávamos no fundo da pista, quando vimos homens, mulheres e homens-mulheres, todos ensandecidos, correndo e gritando histericamente em direção ao palco principal.
Mika vestia uma jaqueta preta sobre um conjunto completo de camisa e calça branca. Isso me remeteu ao Freddie Mercury. Por acaso, seus trejeitos e sua presença de palco também me remeteram a Freddie Mercury. Talvez não fosse um mero devaneio meu. O fato é que eu prestei atenção somente nas primeiras músicas do show e pelo que eu ouvi elas não eram ruins. Não chegam a ser um Queen, mas não incomodam. De qualquer forma, é preciso dizer que o cara tem uma baita presença de palco que, junto com o efeito de luzes, é capaz de incendiar qualquer show independente de sua qualidade sonora.
Mas Mika não era nada perto do que vinha a seguir. O Phoenix era uma das bandas mais esperadas, pelo menos pra mim. Ainda em meados de julho, quando soube que os caras iriam tocar no Brasil, não tive dúvidas e garanti meu ingresso. Wolfgang Amadeus Phoenix, o último CD deles, lançado em 2009, é uma das coisas mais legais que surgiram nos últimos anos, uma pequena pérola que ainda não foi descoberta. Como era óbvio que eles tocariam esse álbum inteiro, isso por si só já valeria a entrada.
Então, meia hora antes do show, tratamos de encher o caneco mais uma vez e partir pro meião. Um colega resolveu acender uma vela só para dar uma graça maior. Estava tudo pronto, só faltava a banda, que demorou quase quinze minutos para entrar no palco. Para quem esperou meses para ver eles ao vivo até que não era lá muita coisa, mas reclamar aos berros da pontualidade francesa também não faz mal a ninguém.
Até que um estranho barulho começou a sair das caixas de som e os primeiros acordes de Liztomania começam a tocar, ainda com as luzes apagadas. O público foi ao delírio. A luz finalmente se acendeu e o show começou. Quem não sabia a letra começou a cantar junto. Quem nunca tinha ouvido os caras começou a dançar. Foi um começo destruidor, com certeza.
Depois sacaram espertamente Lasso. Nessa hora me bateu uma sensação forte de dejà vú. Talvez porque essa sequência seja igualzinha do EP ao vivo gravado em Sidney. Inclusive em Liztomania, ele também diz “We are Phoenix from Paris, France. Clap your hands with us, come on”. Mas aí eles colocaram na roda o Long Distance Call e quebraram essa sequência, frustando minhas expectativas negativas.
O fato é que os caras mandam bem, sabem agitar o público. Mesmo Love Like a Sunset, uma música que sempre considerei mais fraca, por ser uma quebra muito longa dentro do disco, naquele momento do show ela ganhou um outro sentido. Talvez pela vibração ou pelo clima da galera, sei lá.
Estávamos próximos de uma hora de apresentação e o fim se aproximava. Isso se confirmou quando tocaram a fodástica 1901, com direito a um mosh gigante do vocalista Thomas Mars no final enquanto a banda continuava fazendo um som, com direito a samplers com loops insanos da música que davam uma atmosfera de festa e o caramba. Ele ainda subiu em uma torre que ficava a poucos metros (e muitos corpos) da gente, acenando para o público e depois voltando aos braços da galera – para o desespero dos seguranças, que naquele momento já tinham ligado o foda-se e queriam mais é que esse francês se quebrasse todo. Sem esse encerramento o show já seria bom. Depois dessa, ficou épico.
Em seguida, entrou Pavement. Legítimos representantes do rock noventista, eles se reuniram novamente este ano depois de um bom tempo sem tocar. E voltaram em grande estilo, mostrando que ainda estão em grande forma. Começaram logo com Gold Soundz, fazendo o público delirar. Aliás, musicalmente não houve problema algum. Os grandes hits do Pavement estavam lá: Unfair, Stereo, Conduit for Sale!, In The Mouth a Desert, Cut Your Hair, enfim uma porrada de canções boas. E o público cantava junto e vibrava. Na minha frente, dois caras estilo playboy bombado pareciam moleques da quinta-série veteranos em matinê de tanto que pulavam e faziam escândalo. Voltando ao show, senti uma diferença legal em comparação com os discos de estúdio. Ao vivo o som parece muito mais pesado, com o baixo marcando forte presença. Sem falar que os caras tocam bem, e isso fica perceptível ao vivo. E é curioso que embora Stephen Malkmus seja o vocalista da banda, ele não se porta como um frontman, dando espaço para todos se destacarem.
O fim
Depois do Pavement, entrou seu arquirrival Smashing Pumpkins, a banda mais conhecida da noite, sem dúvidas. Já que estava lá, não me importaria em assistir ao show deles, mas as duas apresentações anteriores realmente quebraram meu corpo e para piorar ainda tinha 20 reais em fichas pra gastar. Convertendo isso, seriam quatro cervejas Devassas de temperatura morna para engolir e não tomar um preju. Desafio aceito.
Não sei se foi a mistura de álcool e da minha raiva contra Billy Corgan que me fez achar o show uma bosta. Os caras colocaram poucos hits no setlist, preferindo tocar o som mais recente deles, e a palavra carisma certamente não consta no dicionário dos caras. Mas logo depois, soube que não foi somente eu que achei o show uma bosta. Minha timeline do Twitter e do Facebook não me deixam mentir. Quem foi ao Planeta Terra só para assistir os caras realmente tomou no cu nervoso. Mas quem conseguiu aproveitar ao máximo o festival certamente não tem muito do que reclamar.
A organização foi excelente, tirando por um ou outro problema. Por exemplo, quando fomos tentar entrar no estacionamento oficial e havia uma fila caótica de carros e ninguém pra dar uma orientação que seja. E só tinha um stand vendendo cerveja, o que logicamente lotou o lugar e fez com que a tarefa de se embebedar se tornasse um pouco mais complexa. Mas de resto, pela quantidade de gente que participou, até que o saldo foi positivo. Sem falar que aqueles que não estavam a fim de assistir a algum show poderiam ir nos brinquedos e tomar um sorvete como se estivessem num parque de diversões normal.
Já com tudo encerrado, lá pelas quatro da manhã, com o corpo doendo, peguei um dos busões que levavam até o metrô Barra Funda. No corredor que dá acesso às catracas, via-se uma corja caída sobre os cantos da estação. Pareciam zumbis que foram abatidos após uma tentativa frustada de comer cérebros frescos. Já eram quatro e meia e ainda faltava poucos minutos para abrir a estação. Em um ambiente normal, o pessoal já estaria tomado em fúria e se revoltado contra o establishment. Mas lá estavam todos em paz, anestesiados pela experiência que acabaram de presenciar. Certamente seus corpos estavam em um lugar, mas suas mentes vagavam pelo universo. Nos vagões, apesar de lotado, não havia pressa, empurra-empurra como em qualquer metrô às seis horas da tarde. Muitos, inclusive eu, se apoiavam de pé nos cantos do vagão e tentavam dormir enquanto a inércia fazia seu jogo sujo.
O festival Planeta Terra 2010 teve todos esses altos e baixos. Das apresentações que acompanhei, vi um pessoal pouco conhecido quebrando tudo, vi um cara levando ao delírio as mulheres (inclusive aquelas que tem um cromossomo Y), vi veteranos voltando à ativa em boa forma e vi superestrelas não honrando a camisa e ficando num vergonhoso zero a zero.
Primeiro ato
Logo que cheguei ao Playcenter, já dava pra ouvir lá fora o som do Of Montreal. O dia estava bom, não fazia um calor infernal tampouco fazia frio nem dava pinta de que iria chover, como constavam nas previsões. A uns 500 metros da entrada, estacionamos o carro e seguimos a pé por uma rua praticamente deserta. Atravessamos a avenida e já começamos a sentir que estávamos no caminho certo. De repente, uma aglomeração dos tipos mais clichês do rock alternativo surgiu nas nossas vistas. A camiseta do Goo era quase um uniforme por essas bandas, assim como as camisetas pretas Zero, do Smashing Pumpkins. Era como se a rua Augusta tivesse sido transplantada para a zona oeste.
Quando saquei que o Of Montreal já estava fazendo uma barulheira lá dentro, tocando Like a Tourist, nada mais lógico que apressar o passo e ir conferir lá de perto. Aqui é preciso abrir um adendo importante. A entrada foi tranquilíssima, muito bem organizada. Não demoramos um minuto pra pegar a fila e entrar, sendo que os seguranças estavam fazendo uma revista rigorosa. Mais tarde, já dentro do parque, encontrei com um amigo que relatou que quase confiscaram um frasco de perfume de sua namorada por acharem que era algum tipo de substância ilícita. O enrosco só se acalmou quando a autoridade decidiu conferir a procedência do produto e confirmou que o cheiro era de colônia.
Logo após ser revistado, acabei me perdendo da galera. Esse é um expediente normal, diga-se de passagem, mas não quando estou sóbrio. Apesar desse contratempo, fomos lá tomar uma cerveja para esquecer nossos problemas e acompanhar o show. Logo descobrimos que para pegar um veneno, teríamos que trocar a grana por umas fichas. O problema é que teríamos que pegar uma fila que não era das mais amistosas. Perto do guichê, não conseguíamos ver o final dela. Mas era se sujeitar a isso ou ficar sem cerveja, então partimos para o óbvio. Enquanto isso, acompanhava de longe, mas pelo menos acompanhava, a loucura que os caras do Of Montreal aprontavam lá no palco. Para quem estava a fim de ouvir um som dançante, os caras não decepcionaram e fizeram um show bem legal. Pelo telão, só vi uns caras travestidos e uma certa piração sem sentido no palco.
A noite cai
Cerca de meia depois, por volta das oito e meia, começou o show do Mika. Foi fácil perceber isso. Estávamos no fundo da pista, quando vimos homens, mulheres e homens-mulheres, todos ensandecidos, correndo e gritando histericamente em direção ao palco principal.
Mika vestia uma jaqueta preta sobre um conjunto completo de camisa e calça branca. Isso me remeteu ao Freddie Mercury. Por acaso, seus trejeitos e sua presença de palco também me remeteram a Freddie Mercury. Talvez não fosse um mero devaneio meu. O fato é que eu prestei atenção somente nas primeiras músicas do show e pelo que eu ouvi elas não eram ruins. Não chegam a ser um Queen, mas não incomodam. De qualquer forma, é preciso dizer que o cara tem uma baita presença de palco que, junto com o efeito de luzes, é capaz de incendiar qualquer show independente de sua qualidade sonora.
Mas Mika não era nada perto do que vinha a seguir. O Phoenix era uma das bandas mais esperadas, pelo menos pra mim. Ainda em meados de julho, quando soube que os caras iriam tocar no Brasil, não tive dúvidas e garanti meu ingresso. Wolfgang Amadeus Phoenix, o último CD deles, lançado em 2009, é uma das coisas mais legais que surgiram nos últimos anos, uma pequena pérola que ainda não foi descoberta. Como era óbvio que eles tocariam esse álbum inteiro, isso por si só já valeria a entrada.
Então, meia hora antes do show, tratamos de encher o caneco mais uma vez e partir pro meião. Um colega resolveu acender uma vela só para dar uma graça maior. Estava tudo pronto, só faltava a banda, que demorou quase quinze minutos para entrar no palco. Para quem esperou meses para ver eles ao vivo até que não era lá muita coisa, mas reclamar aos berros da pontualidade francesa também não faz mal a ninguém.
Até que um estranho barulho começou a sair das caixas de som e os primeiros acordes de Liztomania começam a tocar, ainda com as luzes apagadas. O público foi ao delírio. A luz finalmente se acendeu e o show começou. Quem não sabia a letra começou a cantar junto. Quem nunca tinha ouvido os caras começou a dançar. Foi um começo destruidor, com certeza.
Depois sacaram espertamente Lasso. Nessa hora me bateu uma sensação forte de dejà vú. Talvez porque essa sequência seja igualzinha do EP ao vivo gravado em Sidney. Inclusive em Liztomania, ele também diz “We are Phoenix from Paris, France. Clap your hands with us, come on”. Mas aí eles colocaram na roda o Long Distance Call e quebraram essa sequência, frustando minhas expectativas negativas.
O fato é que os caras mandam bem, sabem agitar o público. Mesmo Love Like a Sunset, uma música que sempre considerei mais fraca, por ser uma quebra muito longa dentro do disco, naquele momento do show ela ganhou um outro sentido. Talvez pela vibração ou pelo clima da galera, sei lá.
Estávamos próximos de uma hora de apresentação e o fim se aproximava. Isso se confirmou quando tocaram a fodástica 1901, com direito a um mosh gigante do vocalista Thomas Mars no final enquanto a banda continuava fazendo um som, com direito a samplers com loops insanos da música que davam uma atmosfera de festa e o caramba. Ele ainda subiu em uma torre que ficava a poucos metros (e muitos corpos) da gente, acenando para o público e depois voltando aos braços da galera – para o desespero dos seguranças, que naquele momento já tinham ligado o foda-se e queriam mais é que esse francês se quebrasse todo. Sem esse encerramento o show já seria bom. Depois dessa, ficou épico.
Em seguida, entrou Pavement. Legítimos representantes do rock noventista, eles se reuniram novamente este ano depois de um bom tempo sem tocar. E voltaram em grande estilo, mostrando que ainda estão em grande forma. Começaram logo com Gold Soundz, fazendo o público delirar. Aliás, musicalmente não houve problema algum. Os grandes hits do Pavement estavam lá: Unfair, Stereo, Conduit for Sale!, In The Mouth a Desert, Cut Your Hair, enfim uma porrada de canções boas. E o público cantava junto e vibrava. Na minha frente, dois caras estilo playboy bombado pareciam moleques da quinta-série veteranos em matinê de tanto que pulavam e faziam escândalo. Voltando ao show, senti uma diferença legal em comparação com os discos de estúdio. Ao vivo o som parece muito mais pesado, com o baixo marcando forte presença. Sem falar que os caras tocam bem, e isso fica perceptível ao vivo. E é curioso que embora Stephen Malkmus seja o vocalista da banda, ele não se porta como um frontman, dando espaço para todos se destacarem.
O fim
Depois do Pavement, entrou seu arquirrival Smashing Pumpkins, a banda mais conhecida da noite, sem dúvidas. Já que estava lá, não me importaria em assistir ao show deles, mas as duas apresentações anteriores realmente quebraram meu corpo e para piorar ainda tinha 20 reais em fichas pra gastar. Convertendo isso, seriam quatro cervejas Devassas de temperatura morna para engolir e não tomar um preju. Desafio aceito.
Não sei se foi a mistura de álcool e da minha raiva contra Billy Corgan que me fez achar o show uma bosta. Os caras colocaram poucos hits no setlist, preferindo tocar o som mais recente deles, e a palavra carisma certamente não consta no dicionário dos caras. Mas logo depois, soube que não foi somente eu que achei o show uma bosta. Minha timeline do Twitter e do Facebook não me deixam mentir. Quem foi ao Planeta Terra só para assistir os caras realmente tomou no cu nervoso. Mas quem conseguiu aproveitar ao máximo o festival certamente não tem muito do que reclamar.
A organização foi excelente, tirando por um ou outro problema. Por exemplo, quando fomos tentar entrar no estacionamento oficial e havia uma fila caótica de carros e ninguém pra dar uma orientação que seja. E só tinha um stand vendendo cerveja, o que logicamente lotou o lugar e fez com que a tarefa de se embebedar se tornasse um pouco mais complexa. Mas de resto, pela quantidade de gente que participou, até que o saldo foi positivo. Sem falar que aqueles que não estavam a fim de assistir a algum show poderiam ir nos brinquedos e tomar um sorvete como se estivessem num parque de diversões normal.
Já com tudo encerrado, lá pelas quatro da manhã, com o corpo doendo, peguei um dos busões que levavam até o metrô Barra Funda. No corredor que dá acesso às catracas, via-se uma corja caída sobre os cantos da estação. Pareciam zumbis que foram abatidos após uma tentativa frustada de comer cérebros frescos. Já eram quatro e meia e ainda faltava poucos minutos para abrir a estação. Em um ambiente normal, o pessoal já estaria tomado em fúria e se revoltado contra o establishment. Mas lá estavam todos em paz, anestesiados pela experiência que acabaram de presenciar. Certamente seus corpos estavam em um lugar, mas suas mentes vagavam pelo universo. Nos vagões, apesar de lotado, não havia pressa, empurra-empurra como em qualquer metrô às seis horas da tarde. Muitos, inclusive eu, se apoiavam de pé nos cantos do vagão e tentavam dormir enquanto a inércia fazia seu jogo sujo.
16 de novembro de 2010
Resenha semi-sóbria: Scott Pilgrim contra o Mundo
Scott Pilgrim contra o Mundo é um belo filme, cara, não deixe de assistir. Pode ser por torrent ou o que for, mas não deixe de assistir. Se você curte quadrinhos, rock alternativo, videogame, comédia non-sense, a merda que for, assista. Vai perder um dos filmes do ano, fácil.
O lance do Scott Pilgrim é que a história é do caralho. Quando um roteiro é bom, esqueça, o filme tem tudo para não ser ruim. É como já dizia o grande Lars Von Trier em seu Dogma 95. A pegada tem que ser a história, não os efeitos gráficos, aquele lance hollywoodiano de som surround 5.1 e cortes ultrarrápidos nas cenas, fazendo com que não se saiba o que está acontecendo, mas ao mesmo tempo não te deixando entediado pois todo aqueles estímulos sensoriais criam uma profusão de informações que não querem dizer nada, mas que para o seu cérebro parece um monte de coisa legal e o caramba. Apesar de que Scott Pilgrim tem tudo isso aí. Cortes, sons, cores, efeitos especiais e música no talo. Mas também tem uma puta história, como já dizia Lars Von Trier, então tá tudo numa boa.
Gastei um tempão elogiando a história, só que é importante dizer que tudo isso se deve graças ao gibi. Scott Pilgrim, o gibi, é tremendamente bem elaborado. Nele tem todos aqueles lances da juventude. A questão dos relacionamentos fracassados, do amor platônico, dos amigos que te chamam de perdedor, das jogatinas de videogame, da vontade de montar uma banda e sair por aí tocando e fazendo sucesso. Tema mais universal que esse não existe, é a jornada do herói pós-moderno. Mas ao mesmo tempo, a história é totalmente psicodélica. Basicamente, Scott Pilgrim é um cara que, pra ficar com uma mina misteriosa, Ramona Flowers, precisa derrotar seus sete ex-namorados do mal, que possuem poderes sobrenaturais e uma sede de vingança que sabe-se lá de onde tiraram. Some a isso diálogos bizarros e uma dose sagaz de referências nerds e temos aí um belo filme, segundo a cartilha de Kevin Smith.
Tendo uma base dessas, o filme só não ficaria bom se o diretor errasse muito na mão. Mas o lance é que Edgar Wright não só captou a essência do gibi, com seu realismo non-sense, como adaptou a linguagem dos quadrinhos pro cinema. Por exemplo, as onomatopeias são usadas pra valer. Assim, quando o telefone toca, além de ouvir o barulho do telefone tocando, você ainda pode ler o triiiiiim em letras estilizadas saindo do aparelho. Sem falar nos sinais visuais com comentários que aparecem de tempos em tempos, como se houvesse um narrador onisciente a zombar de tudo e de todos. E tem ainda as piadas que são tão rápidas e certeiras quanto nas tirinhas de três quadros.
Lógico que como em qualquer adaptação existem diferenças com o texto do gibi e do filme. Tanto que eles até fazem uma piada sobre isso. Tem uma hora em que um personagem hipster solta uma frase solta mais ou menos assim: “A HQ é muito melhor que o filme”. Esse personagem é tipo aquele crítico mongol que acha que tudo o que ele fala é supercool quando na verdade é um monte de merda em estado de putrefação, mas que muitos caras tão idiotas quanto acabam caindo no conto dele pois não percebem que ele está falando é merda, e das boas, não uma merda qualquer.
Essa crítica à crítica faz sentido, porque é óbvio que muitos fanboys ortodoxos vão reclamar dizendo que eles mudaram um monte de coisa da HQ. Lógico que sim, porra, a HQ é gigantesca e o filme tem duas horas. Você quer que os caras façam que nem no Sete Samurais ou no Dr. Jivago, que tem umas quatro horas de filme, com direito a intermission pra galera fazer uma pausa espiritual e depois voltar sem compromisso? Nada contra, porque são dois filmões, estão no meu top 10 de grande filmes. Mas isso não rola hoje em dia. Talvez se eles dividissem a história no meio, como no último Harry Potter, mas o risco parece ser muito alto, já que a produtora pode tanto lucrar em dobro quanto fracassar em dobro. O que foi até uma decisão acertada já que Scott Pilgrim não foi muito bem nas bilheterias americanas e correu o risco de não estrear no Brasil – embora, tecnicamente, tenha estreado só em São Paulo e, ainda por cima, em duas salas. Mas voltando ao tópico, penso que a história no cinema ficou bem amarrada, mesmo omitindo ou alterando o texto do gibi, fazendo com quem nunca tenha lido curta tanto o filme quanto quem já leu.
Tem ainda a trilha sonora. Tem Beck produzindo o som do Sex Bob-omb, a banda de garagem do Scott que tem o típico som sujo de banda de garagem. Tem Frank Black, do Pixies, tocando a excelente “I Heard Ramona Sing”. Tem o Metric fazendo a música do The Clash at Demonhead. Tem o Broken Social Scene como o Crash and The Boys. E tem o Plumtree, com a música que inspirou o nome do personagem-herói, pois o autor do gibi, Brian Lee O'Malley, além de ser um baita nerd também é fã de rock e chegou a conhecer de perto a cena alternativa de Toronto retratada na história.
Por fim, o espírito é esse. O filme é bom, a adaptação é boa, lógico que o gibi é melhor, mas não vamos cair nessa tolice de crítico de bosta que gosta de falar merda como se fosse um negócio legal pra cacete, a trilha sonora é do caralho, os atores são do caralho, com Michael Cera interpretando Michael Cera. De qualquer forma, cara, pode escrever: Scott Pilgrim certamente ainda será comentado e lembrado por muitos anos, seja dentro do circuito indie-cult, seja no mainstream (aposto mais no primeiro).
O lance do Scott Pilgrim é que a história é do caralho. Quando um roteiro é bom, esqueça, o filme tem tudo para não ser ruim. É como já dizia o grande Lars Von Trier em seu Dogma 95. A pegada tem que ser a história, não os efeitos gráficos, aquele lance hollywoodiano de som surround 5.1 e cortes ultrarrápidos nas cenas, fazendo com que não se saiba o que está acontecendo, mas ao mesmo tempo não te deixando entediado pois todo aqueles estímulos sensoriais criam uma profusão de informações que não querem dizer nada, mas que para o seu cérebro parece um monte de coisa legal e o caramba. Apesar de que Scott Pilgrim tem tudo isso aí. Cortes, sons, cores, efeitos especiais e música no talo. Mas também tem uma puta história, como já dizia Lars Von Trier, então tá tudo numa boa.
Gastei um tempão elogiando a história, só que é importante dizer que tudo isso se deve graças ao gibi. Scott Pilgrim, o gibi, é tremendamente bem elaborado. Nele tem todos aqueles lances da juventude. A questão dos relacionamentos fracassados, do amor platônico, dos amigos que te chamam de perdedor, das jogatinas de videogame, da vontade de montar uma banda e sair por aí tocando e fazendo sucesso. Tema mais universal que esse não existe, é a jornada do herói pós-moderno. Mas ao mesmo tempo, a história é totalmente psicodélica. Basicamente, Scott Pilgrim é um cara que, pra ficar com uma mina misteriosa, Ramona Flowers, precisa derrotar seus sete ex-namorados do mal, que possuem poderes sobrenaturais e uma sede de vingança que sabe-se lá de onde tiraram. Some a isso diálogos bizarros e uma dose sagaz de referências nerds e temos aí um belo filme, segundo a cartilha de Kevin Smith.
Tendo uma base dessas, o filme só não ficaria bom se o diretor errasse muito na mão. Mas o lance é que Edgar Wright não só captou a essência do gibi, com seu realismo non-sense, como adaptou a linguagem dos quadrinhos pro cinema. Por exemplo, as onomatopeias são usadas pra valer. Assim, quando o telefone toca, além de ouvir o barulho do telefone tocando, você ainda pode ler o triiiiiim em letras estilizadas saindo do aparelho. Sem falar nos sinais visuais com comentários que aparecem de tempos em tempos, como se houvesse um narrador onisciente a zombar de tudo e de todos. E tem ainda as piadas que são tão rápidas e certeiras quanto nas tirinhas de três quadros.
Lógico que como em qualquer adaptação existem diferenças com o texto do gibi e do filme. Tanto que eles até fazem uma piada sobre isso. Tem uma hora em que um personagem hipster solta uma frase solta mais ou menos assim: “A HQ é muito melhor que o filme”. Esse personagem é tipo aquele crítico mongol que acha que tudo o que ele fala é supercool quando na verdade é um monte de merda em estado de putrefação, mas que muitos caras tão idiotas quanto acabam caindo no conto dele pois não percebem que ele está falando é merda, e das boas, não uma merda qualquer.
Essa crítica à crítica faz sentido, porque é óbvio que muitos fanboys ortodoxos vão reclamar dizendo que eles mudaram um monte de coisa da HQ. Lógico que sim, porra, a HQ é gigantesca e o filme tem duas horas. Você quer que os caras façam que nem no Sete Samurais ou no Dr. Jivago, que tem umas quatro horas de filme, com direito a intermission pra galera fazer uma pausa espiritual e depois voltar sem compromisso? Nada contra, porque são dois filmões, estão no meu top 10 de grande filmes. Mas isso não rola hoje em dia. Talvez se eles dividissem a história no meio, como no último Harry Potter, mas o risco parece ser muito alto, já que a produtora pode tanto lucrar em dobro quanto fracassar em dobro. O que foi até uma decisão acertada já que Scott Pilgrim não foi muito bem nas bilheterias americanas e correu o risco de não estrear no Brasil – embora, tecnicamente, tenha estreado só em São Paulo e, ainda por cima, em duas salas. Mas voltando ao tópico, penso que a história no cinema ficou bem amarrada, mesmo omitindo ou alterando o texto do gibi, fazendo com quem nunca tenha lido curta tanto o filme quanto quem já leu.
Tem ainda a trilha sonora. Tem Beck produzindo o som do Sex Bob-omb, a banda de garagem do Scott que tem o típico som sujo de banda de garagem. Tem Frank Black, do Pixies, tocando a excelente “I Heard Ramona Sing”. Tem o Metric fazendo a música do The Clash at Demonhead. Tem o Broken Social Scene como o Crash and The Boys. E tem o Plumtree, com a música que inspirou o nome do personagem-herói, pois o autor do gibi, Brian Lee O'Malley, além de ser um baita nerd também é fã de rock e chegou a conhecer de perto a cena alternativa de Toronto retratada na história.
Por fim, o espírito é esse. O filme é bom, a adaptação é boa, lógico que o gibi é melhor, mas não vamos cair nessa tolice de crítico de bosta que gosta de falar merda como se fosse um negócio legal pra cacete, a trilha sonora é do caralho, os atores são do caralho, com Michael Cera interpretando Michael Cera. De qualquer forma, cara, pode escrever: Scott Pilgrim certamente ainda será comentado e lembrado por muitos anos, seja dentro do circuito indie-cult, seja no mainstream (aposto mais no primeiro).
29 de outubro de 2010
Trololó parte 3
Desde que começou a campanha eleitoral, a oposição tem divulgado que o PT é contra a liberdade de imprensa. Até faz sentido, porque historicamente só a esquerda promoveu a censura. Mas há uma coisa nisso tudo que não se encaixa: a afirmação deles é baseada no relatório do PNDH-3, no qual um dos artigos traz a defesa ao controle social da mídia.
Ora, qualquer bixo casperiano sabe que controle social da mídia não tem nada a ver com censura. Para ficar mais claro, vamos por partes. A mídia em questão são os serviços públicos de radiodifusão que utilizam as concessões outorgadas pelo Estado. O que se pretende é regulamentar a utilização dessas concessões de rádios e emissoras de televisão por empresas privadas. Portanto, os jornais estão fora da parada.
A justificativa dos defensores dessa ideia, como Venício de Lima, é que a norma consta na Constituição de 1988, mas nunca foi promulgada. Na Constituição está escrito que o detentor das concessões deve promover a cultura regional, estimular a produção independente, regionalizar a produção cultural, artística e jornalística, e respeitar os valores éticos e sociais, além de proibir monopólios e oligopólios dos meios de comunicação, entre outras coisas.
Sem o controle social da mídia, a única alternativa ao cidadão que esteja insatisfeito com o que assiste é boicotar ou enviar um e-mail de reclamação à emissora e esperar que ela responda, medidas válidas mas que não resolvem totalmente a questão. Por outro lado, no Reino Unido, a agência reguladora Ofcom tem poder de punir as empresas midiáticas que veicularem conteúdo ofensivo ou que não estejam dentro das normas.
Nesse sentido, é de se pensar o que tem a temer as empresas que são contra a regulação da mídia, como as emissoras de direita e as igrejas evangélicas. Assim como é de se pensar porque quase a totalidade da imprensa está do lado de Serra.
Está registrado no Diário Oficial do Estado de São Paulo que o governo do PSDB fechou contratos milionários, sem licitação, de assinaturas de jornais e revistas para as escolas. O total dessa transação, desde 2004, foi R$ 250 milhões. Por curiosidade, a Carta Capital não foi agraciada nessa negociata. Já a Globo conseguiu uma bolada de R$ 58 milhões com contratos do Telecurso, da editora Globo e de otras cositas más.
De boa, se isso acontecesse na Venezuela, Hugo Chávez seria enforcado em praça pública. Como aconteceu em São Paulo, tá tudo bem.
Ora, qualquer bixo casperiano sabe que controle social da mídia não tem nada a ver com censura. Para ficar mais claro, vamos por partes. A mídia em questão são os serviços públicos de radiodifusão que utilizam as concessões outorgadas pelo Estado. O que se pretende é regulamentar a utilização dessas concessões de rádios e emissoras de televisão por empresas privadas. Portanto, os jornais estão fora da parada.
A justificativa dos defensores dessa ideia, como Venício de Lima, é que a norma consta na Constituição de 1988, mas nunca foi promulgada. Na Constituição está escrito que o detentor das concessões deve promover a cultura regional, estimular a produção independente, regionalizar a produção cultural, artística e jornalística, e respeitar os valores éticos e sociais, além de proibir monopólios e oligopólios dos meios de comunicação, entre outras coisas.
Sem o controle social da mídia, a única alternativa ao cidadão que esteja insatisfeito com o que assiste é boicotar ou enviar um e-mail de reclamação à emissora e esperar que ela responda, medidas válidas mas que não resolvem totalmente a questão. Por outro lado, no Reino Unido, a agência reguladora Ofcom tem poder de punir as empresas midiáticas que veicularem conteúdo ofensivo ou que não estejam dentro das normas.
Nesse sentido, é de se pensar o que tem a temer as empresas que são contra a regulação da mídia, como as emissoras de direita e as igrejas evangélicas. Assim como é de se pensar porque quase a totalidade da imprensa está do lado de Serra.
Está registrado no Diário Oficial do Estado de São Paulo que o governo do PSDB fechou contratos milionários, sem licitação, de assinaturas de jornais e revistas para as escolas. O total dessa transação, desde 2004, foi R$ 250 milhões. Por curiosidade, a Carta Capital não foi agraciada nessa negociata. Já a Globo conseguiu uma bolada de R$ 58 milhões com contratos do Telecurso, da editora Globo e de otras cositas más.
De boa, se isso acontecesse na Venezuela, Hugo Chávez seria enforcado em praça pública. Como aconteceu em São Paulo, tá tudo bem.
28 de outubro de 2010
Trololó parte 2
Invariavelmente, sempre em época de eleição, o espírito intelectual do Pelé baixa no corpo da maioria das pessoas, que não tergiversam e vomitam com toda pompa e estilo que o brasileiro não sabe votar. Na verdade, na boca da classe média, isso soa mais como “pobres não sabem votar”, já que quando se trata de generalizações o autor automaticamente se torna exceção à regra.
Não que o brasileiro seja um ótimo votante, mas isso mostra o quão soberba é a nossa querida classe média. Por exemplo, não é incomum ouvir reclamações, com uma certa razão, da alta taxa de impostos no Brasil. Qualquer cidadão que pira num iPod ou mesmo em um simples Big Mac sabe que pagamos muito caro por esses produtos em comparação com outros países. Daí para acusar o governo de corrupto é um pulo. E sempre que sai uma matéria sobre tributos, o pessoal trata de repetir os mantras da imprensa como se fosse a liturgia da palavra, sendo o Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo sua cruz.
O problema é que a questão central sobre o tributo não é debatida a sério nos meios de comunicação. Em geral, os jornalistas embarcam na ideia do empresariado de simplesmente abaixar o nível dos impostos, como se isso pudesse resolver tudo. Só que isso é inviável para o funcionamento da máquina estatal, que, com pouco dinheiro em caixa, não poderá atender a toda população e ficará à mercê dos próprios empresários.
O lance do imposto no Brasil é seu sistema injusto. Segundo um estudo do Sindifisco, os impostos indiretos representam 54,9% da carga tributária recolhida no país, enquanto que os impostos diretos são apenas 30,66% de tudo que o governo arrecada. Isso merece uma rápida explicação: impostos indiretos são atreladas ao consumo, portanto estão embutidos no preço de um produto. Dessa forma, uma pessoa que ganha R$ 100 paga o mesmo tanto de tributo em um saco de arroz que alguém que ganha R$ 100 mil. Já os impostos diretos são relativos ao patrimônio e à renda do cidadão. Assim, quanto mais rica é a pessoa, mais taxa ela paga. Só para efeito de comparação, nos EUA e no Canadá cerca de metade da carga tributária é de imposto direto, enquanto que 17% são de tributos sobre o consumo.
Como se tudo já não fosse ridículo demais, existem ainda algumas distorções. Por exemplo, jatinhos, helicópteros, iates e lanchas de luxo não pagam IPVA, já que o imposto incide somente sobre veículos terrestres. Além disso, o imposto sobre grandes fortunas (IGF) até hoje não foi regulamentado, apesar de constar na Constituição de 1988. A proposta mais concreta partiu dos deputados do PSOL em 2008, e está para ser votada na Câmara.
Isso se for colocada em pauta, porque qualquer tentativa de mudança mais justa no nosso sistema é um parto. Em 2003, o governo Lula enviou para o Congresso uma proposta de reforma tributária que alterava essas distorções. Porém, todas os artigos com mudanças nos impostos diretos foram retalhados ainda nas comissões temáticas pelos políticos conservadores e ricaços.
Depois disso, a única medida (que eu me lembre) que Lula conseguiu implementar foram as novas alíquotas no IR, que abaixou o imposto para quem ganha menos. Porém, ele não aumentou nossa alíquota máxima, de 27,5%, que ainda está longe da do Chile (40%) e da Argentina (35%).
Se o Lula fracassou em tornar nosso sistema tributário mais justo, FHC conseguiu ser pior. Ele mudou a legislação de maneira a atrair maior investimento estrangeiro, oferecendo isenção fiscal na remessa de lucros para o exterior e em aplicações do capital estrangeiro. Também ofereceu renúncia fiscal para distribuição de lucros entre sócios de pessoas juridicas. Dessa forma, um alto funcionário pode declarar ao Fisco que recebe R$ 1.000, quando na verdade ganha R$ 10 milhões por ano de lucros da empresa e, assim, não paga um centavo de imposto de renda.
Além disso, FHC cortou a alíquota de 35% do IR, fazendo com que os ricos paguem tanto quanto a classe média. Em contrapartida, durante a crise cambial de 1999, o então presidente, entre outras medidas, aumentou os impostos indiretos, fazendo a carga tributária saltar de 25% para 37% do PIB.
A proposta que o Sindifisco defende é simples: acabar com as isenções de imposto sobre pessoa jurídica e do capital financeiro, manutenção da correção da inflação na tabela do IR, taxar as grandes fortunas e os veículos de luxo e, aí sim, diminuir gradativamente os impostos sobre o consumo. Assim, o impacto sobre o orçamento nacional seria zero e a classe média pagaria menos imposto do que agora. Mas é preciso explicar tudo isso pra eles.
Não que o brasileiro seja um ótimo votante, mas isso mostra o quão soberba é a nossa querida classe média. Por exemplo, não é incomum ouvir reclamações, com uma certa razão, da alta taxa de impostos no Brasil. Qualquer cidadão que pira num iPod ou mesmo em um simples Big Mac sabe que pagamos muito caro por esses produtos em comparação com outros países. Daí para acusar o governo de corrupto é um pulo. E sempre que sai uma matéria sobre tributos, o pessoal trata de repetir os mantras da imprensa como se fosse a liturgia da palavra, sendo o Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo sua cruz.
O problema é que a questão central sobre o tributo não é debatida a sério nos meios de comunicação. Em geral, os jornalistas embarcam na ideia do empresariado de simplesmente abaixar o nível dos impostos, como se isso pudesse resolver tudo. Só que isso é inviável para o funcionamento da máquina estatal, que, com pouco dinheiro em caixa, não poderá atender a toda população e ficará à mercê dos próprios empresários.
O lance do imposto no Brasil é seu sistema injusto. Segundo um estudo do Sindifisco, os impostos indiretos representam 54,9% da carga tributária recolhida no país, enquanto que os impostos diretos são apenas 30,66% de tudo que o governo arrecada. Isso merece uma rápida explicação: impostos indiretos são atreladas ao consumo, portanto estão embutidos no preço de um produto. Dessa forma, uma pessoa que ganha R$ 100 paga o mesmo tanto de tributo em um saco de arroz que alguém que ganha R$ 100 mil. Já os impostos diretos são relativos ao patrimônio e à renda do cidadão. Assim, quanto mais rica é a pessoa, mais taxa ela paga. Só para efeito de comparação, nos EUA e no Canadá cerca de metade da carga tributária é de imposto direto, enquanto que 17% são de tributos sobre o consumo.
Como se tudo já não fosse ridículo demais, existem ainda algumas distorções. Por exemplo, jatinhos, helicópteros, iates e lanchas de luxo não pagam IPVA, já que o imposto incide somente sobre veículos terrestres. Além disso, o imposto sobre grandes fortunas (IGF) até hoje não foi regulamentado, apesar de constar na Constituição de 1988. A proposta mais concreta partiu dos deputados do PSOL em 2008, e está para ser votada na Câmara.
Isso se for colocada em pauta, porque qualquer tentativa de mudança mais justa no nosso sistema é um parto. Em 2003, o governo Lula enviou para o Congresso uma proposta de reforma tributária que alterava essas distorções. Porém, todas os artigos com mudanças nos impostos diretos foram retalhados ainda nas comissões temáticas pelos políticos conservadores e ricaços.
Depois disso, a única medida (que eu me lembre) que Lula conseguiu implementar foram as novas alíquotas no IR, que abaixou o imposto para quem ganha menos. Porém, ele não aumentou nossa alíquota máxima, de 27,5%, que ainda está longe da do Chile (40%) e da Argentina (35%).
Se o Lula fracassou em tornar nosso sistema tributário mais justo, FHC conseguiu ser pior. Ele mudou a legislação de maneira a atrair maior investimento estrangeiro, oferecendo isenção fiscal na remessa de lucros para o exterior e em aplicações do capital estrangeiro. Também ofereceu renúncia fiscal para distribuição de lucros entre sócios de pessoas juridicas. Dessa forma, um alto funcionário pode declarar ao Fisco que recebe R$ 1.000, quando na verdade ganha R$ 10 milhões por ano de lucros da empresa e, assim, não paga um centavo de imposto de renda.
Além disso, FHC cortou a alíquota de 35% do IR, fazendo com que os ricos paguem tanto quanto a classe média. Em contrapartida, durante a crise cambial de 1999, o então presidente, entre outras medidas, aumentou os impostos indiretos, fazendo a carga tributária saltar de 25% para 37% do PIB.
A proposta que o Sindifisco defende é simples: acabar com as isenções de imposto sobre pessoa jurídica e do capital financeiro, manutenção da correção da inflação na tabela do IR, taxar as grandes fortunas e os veículos de luxo e, aí sim, diminuir gradativamente os impostos sobre o consumo. Assim, o impacto sobre o orçamento nacional seria zero e a classe média pagaria menos imposto do que agora. Mas é preciso explicar tudo isso pra eles.
26 de outubro de 2010
Trololó
Se eu fosse um analista político ou alguma coisa séria do tipo, estudaria o fenômeno do anti-petismo em São Paulo. Como não sou, ficarei aqui somente com minhas teses de boteco.
Antes de mais nada, vamos aos fatos: o estado de São Paulo é governado há 16 anos pelo PSDB. De lá pra cá, muita coisa mudou – em alguns aspectos para melhor e outros para pior. Mas, no geral, é difícil encontrar algum paulista que esteja realmente satisfeito em morar aqui.
Lógico que é importante sermos justo, já que nem tudo que é negativo é por culpa exclusivamente do PSDB. Mas mesmo o pior dos analfabetos políticos sabe que tudo tem uma causa, motivo, razão e circunstância, como diz o outro.
São Paulo foi o estado que mais teve empresas estatais privatizadas do Brasil. Mais de vinte foram repassadas para o empresariado, cuja arrecadação rendeu R$ 77,5 bilhões de 1995 a 2006. Esse montante fora usado para o pagamento da dívida pública que, mesmo assim, cresceu 33% em dezembro de 2005. A última privatização no Estado, salvo engano, foi a venda do banco Nossa Caixa por R$ 5,386 bilhões para o Banco do Brasil, em 2008, quando o Serra ainda estava no comando. Só para constar, a Nossa Caixa não registrava prejuízos e em 2007 desembolsou R$ 2 bilhões para ter exclusividade no pagamento de salários de funcionários públicos estaduais.
O resultado disso é que com menos empresas estatais para servirem de fonte de financiamento, menos dinheiro o estado terá para gastar e, assim, menor serão suas despesas. Despesas menores significa serviços públicos piores para a população, principalmente para aqueles que dependem mais do Estado. Um exemplo disso acontece na educação, em que professores temporários representam 46% no quadro da rede pública estadual. Ganhando menos e sem um plano de carreira ou estabilidade, muitos desses docentes também não tem condições de dar aulas.
Há casos também em que todos são afetados, como na segurança pública. As remunerações dos policiais são modestas em comparação com outros estados com PIB per capita menor que o de São Paulo. O resultado disso é mais corrupção e menos sucesso no combate ao crime. Quer dizer, no fim todo mundo se fode.
Isso porque ainda não falamos nos preços e serviços oferecidos pelas empresas privatizadas. A telefonia e a internet no Brasil estão entre as mais caras do mundo, além da nossa banda larga ser uma das mais lentas. E também, graças à privatização, temos que desembolsar mais para pagar a conta de luz.
Isso tudo pode soar bastante óbvio, mas os adversários do PSDB foram tão rasos ao debater esse assunto durante a campanha que eles pareciam não fazer questão de ganhar a eleição. Ninguém mostrou como as coisas realmente acontecem em São Paulo. Pois é lógico que a privatização corre nas veias tucanas assim como o superfaturamento está no sangue malufista. É uma questão de ideologia dos caras, que mesmo se mostrando fracassada e contraditória, eles ainda insistem em seguir pelo mesmo rumo, tal qual os defensores do comunismo soviético. Mesmo assim ninguém, exceto o Plínio, tratou de colocar a ideologização no debate.
Mas a questão central é saber os motivos que levam os paulistas e 30% da população brasileira a darem ainda um voto de confiança a esse projeto político. Como eu falei, o problema do PSDB não é moral, ético ou coisa assim, mas puramente ideológico. Portanto, será que 51% da população de São Paulo realmente acha certo ficar privatizando aos montes nossas empresas estatais quando elas poderiam servir melhor à população se forem administradas corretamente? Se sim, os paulistas merecem estar no buraco em que se enfiaram.
É lógico que o PT também não é algo que se diga “minha nossa, como eles são esquerdistas”, mas eles conseguem ser muito melhores do que a direita-balcão-de-negócios. Só que, por alguma razão inexplicável, falar em PT em São Paulo é como falar de camisinha em uma igreja. Corre-se o risco de rolar uma malhação de Judas sem efeitos especiais. Cada um com seus dogmas.
Antes de mais nada, vamos aos fatos: o estado de São Paulo é governado há 16 anos pelo PSDB. De lá pra cá, muita coisa mudou – em alguns aspectos para melhor e outros para pior. Mas, no geral, é difícil encontrar algum paulista que esteja realmente satisfeito em morar aqui.
Lógico que é importante sermos justo, já que nem tudo que é negativo é por culpa exclusivamente do PSDB. Mas mesmo o pior dos analfabetos políticos sabe que tudo tem uma causa, motivo, razão e circunstância, como diz o outro.
São Paulo foi o estado que mais teve empresas estatais privatizadas do Brasil. Mais de vinte foram repassadas para o empresariado, cuja arrecadação rendeu R$ 77,5 bilhões de 1995 a 2006. Esse montante fora usado para o pagamento da dívida pública que, mesmo assim, cresceu 33% em dezembro de 2005. A última privatização no Estado, salvo engano, foi a venda do banco Nossa Caixa por R$ 5,386 bilhões para o Banco do Brasil, em 2008, quando o Serra ainda estava no comando. Só para constar, a Nossa Caixa não registrava prejuízos e em 2007 desembolsou R$ 2 bilhões para ter exclusividade no pagamento de salários de funcionários públicos estaduais.
O resultado disso é que com menos empresas estatais para servirem de fonte de financiamento, menos dinheiro o estado terá para gastar e, assim, menor serão suas despesas. Despesas menores significa serviços públicos piores para a população, principalmente para aqueles que dependem mais do Estado. Um exemplo disso acontece na educação, em que professores temporários representam 46% no quadro da rede pública estadual. Ganhando menos e sem um plano de carreira ou estabilidade, muitos desses docentes também não tem condições de dar aulas.
Há casos também em que todos são afetados, como na segurança pública. As remunerações dos policiais são modestas em comparação com outros estados com PIB per capita menor que o de São Paulo. O resultado disso é mais corrupção e menos sucesso no combate ao crime. Quer dizer, no fim todo mundo se fode.
Isso porque ainda não falamos nos preços e serviços oferecidos pelas empresas privatizadas. A telefonia e a internet no Brasil estão entre as mais caras do mundo, além da nossa banda larga ser uma das mais lentas. E também, graças à privatização, temos que desembolsar mais para pagar a conta de luz.
Isso tudo pode soar bastante óbvio, mas os adversários do PSDB foram tão rasos ao debater esse assunto durante a campanha que eles pareciam não fazer questão de ganhar a eleição. Ninguém mostrou como as coisas realmente acontecem em São Paulo. Pois é lógico que a privatização corre nas veias tucanas assim como o superfaturamento está no sangue malufista. É uma questão de ideologia dos caras, que mesmo se mostrando fracassada e contraditória, eles ainda insistem em seguir pelo mesmo rumo, tal qual os defensores do comunismo soviético. Mesmo assim ninguém, exceto o Plínio, tratou de colocar a ideologização no debate.
Mas a questão central é saber os motivos que levam os paulistas e 30% da população brasileira a darem ainda um voto de confiança a esse projeto político. Como eu falei, o problema do PSDB não é moral, ético ou coisa assim, mas puramente ideológico. Portanto, será que 51% da população de São Paulo realmente acha certo ficar privatizando aos montes nossas empresas estatais quando elas poderiam servir melhor à população se forem administradas corretamente? Se sim, os paulistas merecem estar no buraco em que se enfiaram.
É lógico que o PT também não é algo que se diga “minha nossa, como eles são esquerdistas”, mas eles conseguem ser muito melhores do que a direita-balcão-de-negócios. Só que, por alguma razão inexplicável, falar em PT em São Paulo é como falar de camisinha em uma igreja. Corre-se o risco de rolar uma malhação de Judas sem efeitos especiais. Cada um com seus dogmas.
21 de outubro de 2010
19 de outubro de 2010
Que beleza.
Eu tenho um amigo.
Mora no mesmo bairro que eu, estudou no mesmo colégio e assim como eu cursou uma faculdade. Estamos em um patamar socio-econômico próximo. Temos poucos interesses em comum.
Esse meu amigo não gosta muito de política, evita comentar ou debater sobre o assunto. Diz que vai votar no Serra. Não apresenta nenhum argumento para justificar sua escolha, mas diz que vai votar no Serra.
O partido do Serra é o partido que está desde 2005 na prefeitura de São Paulo. Também governa o Estado desde que esse meu amigo se conhece por gente. O bairro onde ele mora não tem tratamento de esgoto. A rua onde ele mora tem enchente. Nas redondezas de onde ele mora há uma obra anti-enchentes que está lá desde que eu me mudei para o bairro (há muito tempo). E a taxa de criminalidade nesse bairro é crescente.
Esse meu amigo não usa transporte público. Ele usa o carro dele para ir trabalhar. De vez em quando pega o ônibus. Sempre pega trânsito. Ele trabalha em uma área que foi beneficiada pela política econômica do governo federal e que no Brasil cresceu, apesar de empresas do mesmo ramo que a dele terem quebrado no mundo inteiro. Esse meu amigo já não é ligado em política, quem dirá em economia. Sem se interessar pelo tema, não pode se aproveitar dos debates que ele diz assistir para escolher em quem votar. Mas isso não é um problema, porque ele já tem um candidato.
Tentei debater política com ele, quando certa vez seu carro havia sido roubado. Ele foi assaltado (problema de segurança em São Paulo), não conseguiu fazer boletim de ocorrência (Quando os serviços da Telefonica estão indisponíveis o sistema da Polícia Militar também fica), teve que sair do conforto do carro dele para andar em ônibus abarrotado e chegou atrasado consideráveis vezes ao serviço (problema de transporte público em São Paulo), foi avisado pela polícia que o que sobrou de seu carro foi encontrado num desmanche (problema do crime organizado em São Paulo), e quando comprou outro carro foi beneficiado pela taxa de IPI reduzido (solução do governo federal).
Entrando no clima do debate, ele veio falar comigo sobre o lance do aborto. "Você viu que a Dilma mudou de posição?". Eu falei pra ele que achei isso uma pena. Mentira. Acho que primeiro falei pra ele calar a boca. E depois falei: "Se algum candidato falasse que era a favor do aborto eu votava na hora". Meu amigo é um pouco hipócrita, e um falso-moralista. Alguns anos atrás ele disse que talvez fosse virar pai. Ia ter um filho e não queria. Ele queria pular fora, a menina não. Se fosse dele a decisão, faria o aborto na hora. Acabou que era alarme falso, ele não é pai. Ainda bem. O cara tem um problema sério com drogas e álcool, e é infantil demais. Se ele tivesse um filho, seria um problema para a sociedade (muito por conta da genética do pai). Falei para ele que um dos reflexos diretos da legalização do aborto nos Estados Unidos foi a diminuição da violência.
Enfim... Esse meu amigo não é religioso. Quem da nossa idade é? Mas chega a criticar a falta de religião da candidata. Ele, como a grande maioria, tem dificuldade em aceitar que moralismo não vem da religião, e caso viesse, não caberia ao viciado falar sobre moral. É o tipo de coisa que o brasileiro tem dificuldade em distinguir (Ex: ensino ≠ educação, violência ≠ criminalidade).
Meu amigo é prato cheio para a campanha publicitária do PSDB. Ele não conhece ninguém da idade dele que estudou em escola pública, então tem que acreditar no que o governo diz sobre o ensino. Não usa o transporte público então tem que acreditar que o governo investe bem nas obras da área. Tem um plano de saúde, então não precisa usar os hospitais que o governo oferece. Já foi assaltado, mas acredita que isso está mais para casualidade que para ineficácia da segurança pública. É uma pessoa completamente apolítica. Fale meia dúzia de números para ele e algumas porcentagens e ele vai acreditar como se fosse notícia do Jornal Nacional.
Provavelmente vota no PSDB porque os pais dele fazem isso.
Eu não sei porque ele vota no PSDB.
Mas pior, ele também não.
Mora no mesmo bairro que eu, estudou no mesmo colégio e assim como eu cursou uma faculdade. Estamos em um patamar socio-econômico próximo. Temos poucos interesses em comum.
Esse meu amigo não gosta muito de política, evita comentar ou debater sobre o assunto. Diz que vai votar no Serra. Não apresenta nenhum argumento para justificar sua escolha, mas diz que vai votar no Serra.
O partido do Serra é o partido que está desde 2005 na prefeitura de São Paulo. Também governa o Estado desde que esse meu amigo se conhece por gente. O bairro onde ele mora não tem tratamento de esgoto. A rua onde ele mora tem enchente. Nas redondezas de onde ele mora há uma obra anti-enchentes que está lá desde que eu me mudei para o bairro (há muito tempo). E a taxa de criminalidade nesse bairro é crescente.
Esse meu amigo não usa transporte público. Ele usa o carro dele para ir trabalhar. De vez em quando pega o ônibus. Sempre pega trânsito. Ele trabalha em uma área que foi beneficiada pela política econômica do governo federal e que no Brasil cresceu, apesar de empresas do mesmo ramo que a dele terem quebrado no mundo inteiro. Esse meu amigo já não é ligado em política, quem dirá em economia. Sem se interessar pelo tema, não pode se aproveitar dos debates que ele diz assistir para escolher em quem votar. Mas isso não é um problema, porque ele já tem um candidato.
Tentei debater política com ele, quando certa vez seu carro havia sido roubado. Ele foi assaltado (problema de segurança em São Paulo), não conseguiu fazer boletim de ocorrência (Quando os serviços da Telefonica estão indisponíveis o sistema da Polícia Militar também fica), teve que sair do conforto do carro dele para andar em ônibus abarrotado e chegou atrasado consideráveis vezes ao serviço (problema de transporte público em São Paulo), foi avisado pela polícia que o que sobrou de seu carro foi encontrado num desmanche (problema do crime organizado em São Paulo), e quando comprou outro carro foi beneficiado pela taxa de IPI reduzido (solução do governo federal).
Entrando no clima do debate, ele veio falar comigo sobre o lance do aborto. "Você viu que a Dilma mudou de posição?". Eu falei pra ele que achei isso uma pena. Mentira. Acho que primeiro falei pra ele calar a boca. E depois falei: "Se algum candidato falasse que era a favor do aborto eu votava na hora". Meu amigo é um pouco hipócrita, e um falso-moralista. Alguns anos atrás ele disse que talvez fosse virar pai. Ia ter um filho e não queria. Ele queria pular fora, a menina não. Se fosse dele a decisão, faria o aborto na hora. Acabou que era alarme falso, ele não é pai. Ainda bem. O cara tem um problema sério com drogas e álcool, e é infantil demais. Se ele tivesse um filho, seria um problema para a sociedade (muito por conta da genética do pai). Falei para ele que um dos reflexos diretos da legalização do aborto nos Estados Unidos foi a diminuição da violência.
Enfim... Esse meu amigo não é religioso. Quem da nossa idade é? Mas chega a criticar a falta de religião da candidata. Ele, como a grande maioria, tem dificuldade em aceitar que moralismo não vem da religião, e caso viesse, não caberia ao viciado falar sobre moral. É o tipo de coisa que o brasileiro tem dificuldade em distinguir (Ex: ensino ≠ educação, violência ≠ criminalidade).
Meu amigo é prato cheio para a campanha publicitária do PSDB. Ele não conhece ninguém da idade dele que estudou em escola pública, então tem que acreditar no que o governo diz sobre o ensino. Não usa o transporte público então tem que acreditar que o governo investe bem nas obras da área. Tem um plano de saúde, então não precisa usar os hospitais que o governo oferece. Já foi assaltado, mas acredita que isso está mais para casualidade que para ineficácia da segurança pública. É uma pessoa completamente apolítica. Fale meia dúzia de números para ele e algumas porcentagens e ele vai acreditar como se fosse notícia do Jornal Nacional.
Provavelmente vota no PSDB porque os pais dele fazem isso.
Eu não sei porque ele vota no PSDB.
Mas pior, ele também não.
28 de setembro de 2010
Muito para o Twitter
Campanha
Falta menos de uma semana para as eleições e incrivelmente nada mudou desde o começo do mês. Dilma deve mesmo ganhar no primeiro turno, apesar do choro dos tucanos. A situação talvez mude se pintar uma denúncia muito forte nos próximos dias, algo que abale as estruturas do poder republicano e, quiçá, da civilização ocidental.
Debate
Os debates deste ano estão tão chatos que poderiam chamar o pessoal do Ok Go para ajudar a produzir. Não há carisma e espontaneidade nos candidatos, algo que era uma marca importante dos políticos das antigas, como Brizola, Lula e Maluf (também conhecido como pai dos trolls) . A única exceção é o Plínio de Arruda Sampaio. Ele é um espírito jovem dentro de um corpo velho, que nem o Tom Hanks em Quero Ser Grande. Plínio não só expressa suas galhofas sem constrangimentos como não tem medo de sair desafiando seus concorrentes, comportamento típico da geração James Dean.
Oscar
Uma comissão da Academia Brasileira de Cinema escolheu o filme do Lula como candidato ao prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira no Oscar. Não assisti, então não posso dizer se mereceu ou não. Mas muita gente disse que não, embora tenha grandes chances de levar a estatueta. E é até verdade: o filme tem pobreza, drama, membros decepados e uma história de superação. Se falasse sobre o holocausto, ganhava fácil.
Democracia
O mentiroso sempre se entrega nos detalhes. A imprensa grita pra quem quiser ouvir que está rolando ameaças à liberdade de imprensa, mas não mostra uma única evidência disso. Na verdade, é curioso que toda esse celeuma do cerceamento do jornalismo esteja sendo denunciado nos próprios jornais. O censor realmente não está a fim de mostrar serviço.
Falta menos de uma semana para as eleições e incrivelmente nada mudou desde o começo do mês. Dilma deve mesmo ganhar no primeiro turno, apesar do choro dos tucanos. A situação talvez mude se pintar uma denúncia muito forte nos próximos dias, algo que abale as estruturas do poder republicano e, quiçá, da civilização ocidental.
Debate
Os debates deste ano estão tão chatos que poderiam chamar o pessoal do Ok Go para ajudar a produzir. Não há carisma e espontaneidade nos candidatos, algo que era uma marca importante dos políticos das antigas, como Brizola, Lula e Maluf (também conhecido como pai dos trolls) . A única exceção é o Plínio de Arruda Sampaio. Ele é um espírito jovem dentro de um corpo velho, que nem o Tom Hanks em Quero Ser Grande. Plínio não só expressa suas galhofas sem constrangimentos como não tem medo de sair desafiando seus concorrentes, comportamento típico da geração James Dean.
Oscar
Uma comissão da Academia Brasileira de Cinema escolheu o filme do Lula como candidato ao prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira no Oscar. Não assisti, então não posso dizer se mereceu ou não. Mas muita gente disse que não, embora tenha grandes chances de levar a estatueta. E é até verdade: o filme tem pobreza, drama, membros decepados e uma história de superação. Se falasse sobre o holocausto, ganhava fácil.
Democracia
O mentiroso sempre se entrega nos detalhes. A imprensa grita pra quem quiser ouvir que está rolando ameaças à liberdade de imprensa, mas não mostra uma única evidência disso. Na verdade, é curioso que toda esse celeuma do cerceamento do jornalismo esteja sendo denunciado nos próprios jornais. O censor realmente não está a fim de mostrar serviço.
6 de setembro de 2010
A Campanha
Faltando menos de um mês para as eleições, o bicho está pegando pra valer. Aquele Serra que posou de meigo pra Veja há alguns meses já não existe mais. Caindo nas pesquisas e com grandes chances de tomar uma surra no 1º turno, Serra decidiu que era hora de partir pro tudo ou nada nos últimos rounds, assim como fez Rocky Balboa no 4º filme. Por isso, meus amigos, podem esperar que a porradaria vai comer solta, e não será pouca.
Aliás, é interessante observar o método utilizado pela oposição no recente escândalo da violação dos sigilos fiscais de tucanos. Serra está parecendo mais o Charles Bronson, com sede de vingança após a honra da filha ser devassada por marginais, no melhor estilo atirar primeiro e perguntar depois. Nada contra, mas para um candidato à Presidência o mínimo que se espera é que ele confiasse nas instituições e aguardasse o término das investigações antes de ficar apontando os culpados sem provas.
Até porque algumas coisas nesse caso estão muito mal explicadas. Primeiro, por qual motivo o PT montaria um dossiê contra ele em setembro de 2009, quando nem se sabia ainda quem seria o candidato do PSDB? Segundo, se realmente existe um aparelhamento na Receita Federal, por que eles tiveram que chamar um filiado do PV para contratar um filiado do PT para pegar os dados da filha do Serra com uma procuração falsa? Não seria muito mais fácil ir lá pegar de uma vez e pronto? E terceiro, além dos tucanos, da Ana Maria Braga e da família do Samuel Klein, de quem são as 140 declarações acessadas indevidamente, segundo a corregedoria da Receita, e por quais razões foram acessadas?
Como ninguém vai perguntar isso e, consequentemente, ninguém vai responder, os tucanos poderiam aproveitar e dar um rolê lá na Santa Efigênia, tradicional reduto da boemia do crack paulistana, e assim saberiam que dá pra comprar dados sigilosos de qualquer pessoa por apenas 200 dinheiros. Sai mais barato do que aparelhar o Estado.
Mas, independente de quem for a culpa dessa palhaçada de violação de sigilo, o fato é que a tática da porradaria explícita serve somente para esvaziar o debate político. Ao invés de propostas e argumentos, a única coisa que se vê na imprensa é um lado acusando enquanto o outro é obrigado a se defender. Taxa Selic, reforma agrária, reforma tributária, descriminalização da maconha, plano de direitos humanos, mudança do código florestal, pré-sal... se depender da direita, esqueça qualquer papo sobre isso.
Outro lado
Falando nisso, um problema visível na campanha dilmista é o fato de não terem feito ainda nenhum tipo de politização eleitoral. Pois a disputa não se trata somente de um embate entre PT e PSDB - como acontece nos EUA entre os partidos Republicano e Democrata -, mas entre um ideal de esquerda e de direita. Na real, desde 2002 o PT parece ter medo de se dizer de esquerda (ou centro-esquerda, para ser mais justo), como se ainda vivêssemos na gélida época da Guerra Fria.
Veja o caso do PSOL, por exemplo, que se diz de esquerda numa boa e por causa disso é considerado radical até mesmo pelos petistas. Ora, mas porque radical se o que eles defendem são os ideais da esquerda? Só a direita pode vender suas ideias? O PT tem que ver isso aí.
Outro problema da campanha governista é que Dilma definitivamente não manja de fazer discurso, embora tenha tido uma melhora significativa. No quesito encantar as multidões, Serra e Plínio ainda ganham de lavada. A retórica de Dilma é típica de uma banca de doutorado em economia. Ela é tipo um Sheldon Cooper da burocracia estatal, o que não é uma boa quando se trata de falar ao povo.
31 de agosto de 2010
Filmes que assisti recentemente
Sinceramente não vi nenhum filme fodelão por aí, mas aparecem de vez em quando algumas boas surpresas e filmes melhores do que se pode espera deles. Por outro lado existem outros que entram em cartaz com um estardalhaço e não consigo entender o motivo. Eis alguns:
Juventude em Revolta - Um filme com Steve Buscemi, Ray Liotta, Zach Galifianakis e Michael Cera no papel principal. Acho que Michael Cera interpreta Michael Cera nos filmes. Os personagens dele sempre são muito parecidos e ele não deve ser muito diferente na vida real, mas o filme parece se aproveitar dessa visão que muita gente deve ter dele quando Cera interpreta também o alter ego do personagem principal na ajuda necessária que o adolescente Nick Twisp precisa para ficar com a menina que ele quer. Engraçado.
Invictus - Um filme do Clint Eastwood não necessariamente é um excelente filme, mas sempre se espera alguma coisa. Para Invictus não esperava muito e acabei vendo um filme bom. Quando fazem um filme sobre os aspectos mais nobres e enriquecedores do esporte (e existem muitos filmes assim) alguns conseguem passar mensagens interessantes. Na minha opinião o cinema não é feito para construir discurso, é feito para entreter. Invictus consegue entreter e deixar claro um ponto da história sem forçar esse caráter, digamos político, de alguns filmes. E isso já vale de alguma coisa. Ainda sobre Mandela, Luta Pela Liberdade, com Joseph Fiennes também vale uma sessão.
9 - Não, não o musical. Esse é uma animação sobre um mundo pós-apocalíptico onde todos os homens morreram vítimas da guerra contra máquinas e os únicos "sobreviventes" são bonecos que um cientista criou e deu vida. Nada de extraordinário, mas boa concorrência para os filmes que passam na TV ultimamente.
Onde Vivem os Monstros - Não gostei do filme. Não achei nada sensacional e ele demora para engrenar. Foi difícil prender minha atenção nos primeiros 20 minutos de filme e se um filme não consegue fazer isso logo no começo aquele menino pode tomar três tiros na cabeça, virar um zumbi ou aprontar várias confusões e isso simplesmente não vai conseguir trazer minha atenção de volta. Tudo bem, é um filme do Spike Jonze e o cara é um gênio, mas vamos com calma. Vou assistir de novo só para ter certeza.
O Desinformante - Que filme engraçado! Acho que como eu não tinha lido nenhuma sinopse ou resenha sobre o filme ou conhecesse a história, tive uma ideia diferente do que seria o filme e à medida que as coisas vão se revelando a trama fica mais engraçada e com bons diálogos, muito devido ao ótimo trabalho de Matt Damon. Outro bom filme de Steven Soderbergh.
Kick Ass - De novo nada de sensacional. As ações de promoção dos quadrinhos e do filme foram muito bem feitas, mas o filme não é nada disso que os críticos escreveram. Um filme legal pra assistir enquanto o tempo passa, e só. O cinema vive uma fase muito boa de adaptação. Adaptação das HQs para o cinema, dos video-games para o cinema, do cinema para os video-games e por aí vai. Isso é bom. Da mistura de elementos narrativos e gráficos surgem bons filmes, mas por enquanto isso é mais excessão que regra, e Kick-Ass segue a regra, e Scott Pilgrim provavelmente também seguirá.
Defendor - Essa história de herói que não tem poderes todo mundo conhece desde o Batman. Mas entre Kick-Ass e Defendor, gostei mais do segundo. Woody Harrelson interpreta um cara que beira a barreira do autismo e, para vingar sua mãe, se torna um vigilante atrás dos responsáveis pela morte dela. A infantilidade, ingenuidade e (depois de certo ponto) burrice do personagem cria a empatia que Kick-Ass não consegue ter. Woody Harrelson é um cara engraçado que mandou bem nesse filme.
A época dos filmes "grandes" está chegando e de novo não vi nada de muito interessante, mas com cinema nunca existe certeza.
Juventude em Revolta - Um filme com Steve Buscemi, Ray Liotta, Zach Galifianakis e Michael Cera no papel principal. Acho que Michael Cera interpreta Michael Cera nos filmes. Os personagens dele sempre são muito parecidos e ele não deve ser muito diferente na vida real, mas o filme parece se aproveitar dessa visão que muita gente deve ter dele quando Cera interpreta também o alter ego do personagem principal na ajuda necessária que o adolescente Nick Twisp precisa para ficar com a menina que ele quer. Engraçado.
Invictus - Um filme do Clint Eastwood não necessariamente é um excelente filme, mas sempre se espera alguma coisa. Para Invictus não esperava muito e acabei vendo um filme bom. Quando fazem um filme sobre os aspectos mais nobres e enriquecedores do esporte (e existem muitos filmes assim) alguns conseguem passar mensagens interessantes. Na minha opinião o cinema não é feito para construir discurso, é feito para entreter. Invictus consegue entreter e deixar claro um ponto da história sem forçar esse caráter, digamos político, de alguns filmes. E isso já vale de alguma coisa. Ainda sobre Mandela, Luta Pela Liberdade, com Joseph Fiennes também vale uma sessão.
9 - Não, não o musical. Esse é uma animação sobre um mundo pós-apocalíptico onde todos os homens morreram vítimas da guerra contra máquinas e os únicos "sobreviventes" são bonecos que um cientista criou e deu vida. Nada de extraordinário, mas boa concorrência para os filmes que passam na TV ultimamente.
Onde Vivem os Monstros - Não gostei do filme. Não achei nada sensacional e ele demora para engrenar. Foi difícil prender minha atenção nos primeiros 20 minutos de filme e se um filme não consegue fazer isso logo no começo aquele menino pode tomar três tiros na cabeça, virar um zumbi ou aprontar várias confusões e isso simplesmente não vai conseguir trazer minha atenção de volta. Tudo bem, é um filme do Spike Jonze e o cara é um gênio, mas vamos com calma. Vou assistir de novo só para ter certeza.
O Desinformante - Que filme engraçado! Acho que como eu não tinha lido nenhuma sinopse ou resenha sobre o filme ou conhecesse a história, tive uma ideia diferente do que seria o filme e à medida que as coisas vão se revelando a trama fica mais engraçada e com bons diálogos, muito devido ao ótimo trabalho de Matt Damon. Outro bom filme de Steven Soderbergh.
Kick Ass - De novo nada de sensacional. As ações de promoção dos quadrinhos e do filme foram muito bem feitas, mas o filme não é nada disso que os críticos escreveram. Um filme legal pra assistir enquanto o tempo passa, e só. O cinema vive uma fase muito boa de adaptação. Adaptação das HQs para o cinema, dos video-games para o cinema, do cinema para os video-games e por aí vai. Isso é bom. Da mistura de elementos narrativos e gráficos surgem bons filmes, mas por enquanto isso é mais excessão que regra, e Kick-Ass segue a regra, e Scott Pilgrim provavelmente também seguirá.
Defendor - Essa história de herói que não tem poderes todo mundo conhece desde o Batman. Mas entre Kick-Ass e Defendor, gostei mais do segundo. Woody Harrelson interpreta um cara que beira a barreira do autismo e, para vingar sua mãe, se torna um vigilante atrás dos responsáveis pela morte dela. A infantilidade, ingenuidade e (depois de certo ponto) burrice do personagem cria a empatia que Kick-Ass não consegue ter. Woody Harrelson é um cara engraçado que mandou bem nesse filme.
A época dos filmes "grandes" está chegando e de novo não vi nada de muito interessante, mas com cinema nunca existe certeza.
26 de agosto de 2010
Os 9 melhores covers
Estamos sempre pensando em fazer coisas diferentes no blog. Abranger mais ideias para explorar a verve. A última eu sagazmente roubei, me antecipando ao escrever e dando o pelé no meu amigo. A sacada seria fazer listas sobre vários assuntos, e começar pela lista dos melhores covers da música para a estreia da tag Alta Fidelidade (nome sub judice). Então aí vai, lembrando que "a função social de uma lista não é sua capacidade de emitir supostas premissas ou verdades, mas de causar confusão. Quanto mais pessoas discutirem e contestarem seu resultado em uma mesa de bar, melhor."¹
9 - Um clássico das listas que merece a nona posição só para não dizer que esqueci: Take on me do A-ha com o toque ska de Reel Big Fish. Quem preferir pode optar também pela versão literal do clipe.
8 - Briga conhecida, o Foo Fighters gravou uma versão de Darling Nikki, do Prince, sem sua autorização. Alguns vídeos feitos por fãs de shows em que o Foo Fighters tocou a música tiveram seu áudio retirado por falta da licença. Depois no MTV VMA os Foos tocaram com Cee-lo do Gnarls Barkley essa música e tudo ficou na boa quando Prince tocou na final do Superbowl sua versão de Best of You (que ficou fora da lista, mas pode ser encontrado no Youtube se você tiver curiosidade)
7 - Em sétimo lugar está a versão ska russa da música tema de 007 com a performance de Leningrad. Acho que vocês lembram da original, e para mais informações sobre essa banda: Bem... ela acabou, mas deixou um legado de músicas com palavrões pra c*ralho. Quem sabe russo entende o que estou falando.
6 - Blind Guardian é uma banda de metal alemã. Seu trabalho mais conhecido é Nightfall in Middle-Earth, um álbum sobre os contos do Silmarillion de J.R.R. Tolkien. Mas eles também lançaram um CD cheio de covers e uma delas é Spread Your Wings do Queen. E a versão do Blind Guardian.
5 - De novo com uma trilha de filme e de novo com o ska, mas dessa vez são os japoneses fazendo a versão d'O Poderoso Chefão. Quem quiser saber mais pode ir no google e procurar por Tokyo Ska Paradise Orchestra
4 - Como eu disse, o Blind Guardian lançou um CD (The Forgotten Tales) com muitas covers. A quarta melhor cover dessa lista é Barbara Ann emendado com Long Tall Sally. Versão por versão, a do Beach Boys é mais autêntica (rá). Valeu a tentativa em juntar as duas. Só para garantir, as versões de Beach Boys e Little Richard, e a original de Barbara Ann do Regents
3 - A terceira posição sintetiza o que deveria ser o cover: uma tentativa de repaginar e melhorar a música, exatamente como faz o All-American Rejects com Womanizer, de Britney Spears. Ouvir a música do primeiro link e tirar o áudio do segundo para ver o clipe é a melhor opção.
2 - Dave Ghrol também já fez uma porrada de covers, e quem quiser pode procurar no Youtube e achar a grande maioria deles. Mas essa vale o segundo lugar pela música e pela história. Band on the Run do Wings é uma ótima música, mas a guitarra mais pesada deixa ela melhor. Dave é fã declarado de alguns grandes músicos. Paul Mccartney está na lista e os dois já fizeram shows juntos, inclusive no Grammy de 2009, quando Ghrol falou para Paul sobre o novo projeto paralelo Them Croocked Vultures. O ex-beatle tentou se convidar para o baixo e recebeu a negativa de Dave que disse já contar com John Paul Jones para o cargo. Na lista de Dave Ghrol os Beatles estão atrás do Led Zeppelin.
1 - Para fechar vou só deixar o link da cover. Até a próxima.
¹Nishikiori, Igor, 10 razões para não acreditar em listas, 19/10/2009 em Barbitúrico com Fanta
9 - Um clássico das listas que merece a nona posição só para não dizer que esqueci: Take on me do A-ha com o toque ska de Reel Big Fish. Quem preferir pode optar também pela versão literal do clipe.
8 - Briga conhecida, o Foo Fighters gravou uma versão de Darling Nikki, do Prince, sem sua autorização. Alguns vídeos feitos por fãs de shows em que o Foo Fighters tocou a música tiveram seu áudio retirado por falta da licença. Depois no MTV VMA os Foos tocaram com Cee-lo do Gnarls Barkley essa música e tudo ficou na boa quando Prince tocou na final do Superbowl sua versão de Best of You (que ficou fora da lista, mas pode ser encontrado no Youtube se você tiver curiosidade)
7 - Em sétimo lugar está a versão ska russa da música tema de 007 com a performance de Leningrad. Acho que vocês lembram da original, e para mais informações sobre essa banda: Bem... ela acabou, mas deixou um legado de músicas com palavrões pra c*ralho. Quem sabe russo entende o que estou falando.
6 - Blind Guardian é uma banda de metal alemã. Seu trabalho mais conhecido é Nightfall in Middle-Earth, um álbum sobre os contos do Silmarillion de J.R.R. Tolkien. Mas eles também lançaram um CD cheio de covers e uma delas é Spread Your Wings do Queen. E a versão do Blind Guardian.
5 - De novo com uma trilha de filme e de novo com o ska, mas dessa vez são os japoneses fazendo a versão d'O Poderoso Chefão. Quem quiser saber mais pode ir no google e procurar por Tokyo Ska Paradise Orchestra
4 - Como eu disse, o Blind Guardian lançou um CD (The Forgotten Tales) com muitas covers. A quarta melhor cover dessa lista é Barbara Ann emendado com Long Tall Sally. Versão por versão, a do Beach Boys é mais autêntica (rá). Valeu a tentativa em juntar as duas. Só para garantir, as versões de Beach Boys e Little Richard, e a original de Barbara Ann do Regents
3 - A terceira posição sintetiza o que deveria ser o cover: uma tentativa de repaginar e melhorar a música, exatamente como faz o All-American Rejects com Womanizer, de Britney Spears. Ouvir a música do primeiro link e tirar o áudio do segundo para ver o clipe é a melhor opção.
2 - Dave Ghrol também já fez uma porrada de covers, e quem quiser pode procurar no Youtube e achar a grande maioria deles. Mas essa vale o segundo lugar pela música e pela história. Band on the Run do Wings é uma ótima música, mas a guitarra mais pesada deixa ela melhor. Dave é fã declarado de alguns grandes músicos. Paul Mccartney está na lista e os dois já fizeram shows juntos, inclusive no Grammy de 2009, quando Ghrol falou para Paul sobre o novo projeto paralelo Them Croocked Vultures. O ex-beatle tentou se convidar para o baixo e recebeu a negativa de Dave que disse já contar com John Paul Jones para o cargo. Na lista de Dave Ghrol os Beatles estão atrás do Led Zeppelin.
1 - Para fechar vou só deixar o link da cover. Até a próxima.
¹Nishikiori, Igor, 10 razões para não acreditar em listas, 19/10/2009 em Barbitúrico com Fanta
15 de agosto de 2010
Muito para o Twitter.
Algumas linhas rápidas sobre:
Copa do Mundo.
Precisamos criar um adjetivo digno para a cartolagem do futebol. Já estou pesquisando no Dicionário Brasileiro de Insultos. Ricardo Teixeira precisa morrer sem herdeiros para a CBF tomar jeito. Já é tarde. Ele tem uma filha. Ela faz parte do Comitê Organizador da Copa.
Cartolagem.
Pelos lados do São Paulo a diretoria está mandando mal. Disse que mandou o Ricardo Gomes embora por apelo da torcida. Ninguém da diretoria teve colhão de falar que também queria isso. Também não acertaram com um novo técnico, provavelmente porque não querem colocar ninguém na fogueira das próximas rodadas (incluindo clássico com Corinthians). Mas para afastar Dagoberto do elenco não se ouve a torcida, que seguramente prefere que ele fique.
Clássico.
Belluzzo disse que o verdadeiro clássico é Corinthians x Palmeiras. “São os dois grandes clubes de São Paulo”. O Palmeiras colocou o técnico que a diretoria do São Paulo queria: Não o Felipão, mas o tipo de técnico que chega pra torcida e fala “Não vamos disputar título, não temos time, vamos tentar a classificação na Libertadores” e a torcida responde “Tudo bem”. Muito bom, por sinal, o Belluzzo não considerar o São Paulo como grande. Fala o presidente de um clube que arrendou seu estádio e depende de torcedor ricaço para contratar jogador. Essa do Valdivia só não é pior que a do Marcelinho Carioca. Existe otário para tudo.
Debate.
Violência? Polícia na rua! Saúde? Construção de hospitais! Educação? Mais escolas e mais tempo em sala de aula! Acrescente a essas repostas alguns números e entreguem para o Sr. Alckmin, que segue esse discurso há 20 anos e ainda assim não o sabe de cor. Aliás, andam reclamando que os candidatos do PT relacionam suas campanhas ao governo Lula, mas e o Alckmin falando do Covas? Deixa o cara enterrado lá que está muito bem.
Eleição.
As pessoas acham que a eleição aqui pode ser igual a dos Estados Unidos, onde a internet desempenhará papel importantíssimo. Ninguém sacou que lá funcionou porque o voto não é obrigatório, e o jovem que provavelmente ficaria em casa coçando no dia da votação passou a acompanhar pela internet a agenda política e um pouco da privacidade do Obama, e no fim votou nele. Aqui o voto é obrigatório e tais ferramentas são usadas para debater sobre: Vanusa, Dona Delma e Butequis negads. As pessoas podem até se informar, mas é muito mais legal seguir a maré e chamar Dunga de burro.
Humor.
O papel dele na TV conseguiu atrair a atenção de jovens para assuntos como política e direitos. Mas que dureza é aguentar as outras 2 horas de programa enquanto esses dois quadros não estão no ar. Aliás esse é um bom debate: Pode ridicularizar o povão mas figuras públicas não? Acho que na TV quem quiser se expor ao ridículo deve ter seu desejo atendido. Da vagabunda de micro-biquini na praia ao playboy bêbado na balada, atores, atrizes, de terno e óculos escuro, pintado de prata ou com autismo e boa memória para novelas, se está lá é porque quer, e tem todo o direito de (e merece) ser esculhambado. Com o político não é diferente. Vamos dar a cara para bater.
Blog.
Parabéns para este blog. 3 anos. Neste ano talvez publiquemos mais textos que os outros dois juntos. A demanda é muito grande. O número de acessos aumentou. O Barbitúrico Com Fanta foi acessado também de Portugal, França, Estados Unidos, Argentina, México, Espanha, Canadá, Indonésia, Japão, Irlanda, Malásia e Rússia (obrigado, Google Analytics).
Isso só significa uma coisa: As pessoas acham que vendemos drogas nesse blog. Você não vai achar alucinógenos aqui. Pela última vez, parem de procurar no google sobre ácido. O nome do blog é uma piada e você não devia sair clicando em tudo que vê pela internet. Falando nisso: fotos da Playboy da Cléo Pires aqui.
Copa do Mundo.
Precisamos criar um adjetivo digno para a cartolagem do futebol. Já estou pesquisando no Dicionário Brasileiro de Insultos. Ricardo Teixeira precisa morrer sem herdeiros para a CBF tomar jeito. Já é tarde. Ele tem uma filha. Ela faz parte do Comitê Organizador da Copa.
Cartolagem.
Pelos lados do São Paulo a diretoria está mandando mal. Disse que mandou o Ricardo Gomes embora por apelo da torcida. Ninguém da diretoria teve colhão de falar que também queria isso. Também não acertaram com um novo técnico, provavelmente porque não querem colocar ninguém na fogueira das próximas rodadas (incluindo clássico com Corinthians). Mas para afastar Dagoberto do elenco não se ouve a torcida, que seguramente prefere que ele fique.
Clássico.
Belluzzo disse que o verdadeiro clássico é Corinthians x Palmeiras. “São os dois grandes clubes de São Paulo”. O Palmeiras colocou o técnico que a diretoria do São Paulo queria: Não o Felipão, mas o tipo de técnico que chega pra torcida e fala “Não vamos disputar título, não temos time, vamos tentar a classificação na Libertadores” e a torcida responde “Tudo bem”. Muito bom, por sinal, o Belluzzo não considerar o São Paulo como grande. Fala o presidente de um clube que arrendou seu estádio e depende de torcedor ricaço para contratar jogador. Essa do Valdivia só não é pior que a do Marcelinho Carioca. Existe otário para tudo.
Debate.
Violência? Polícia na rua! Saúde? Construção de hospitais! Educação? Mais escolas e mais tempo em sala de aula! Acrescente a essas repostas alguns números e entreguem para o Sr. Alckmin, que segue esse discurso há 20 anos e ainda assim não o sabe de cor. Aliás, andam reclamando que os candidatos do PT relacionam suas campanhas ao governo Lula, mas e o Alckmin falando do Covas? Deixa o cara enterrado lá que está muito bem.
Eleição.
As pessoas acham que a eleição aqui pode ser igual a dos Estados Unidos, onde a internet desempenhará papel importantíssimo. Ninguém sacou que lá funcionou porque o voto não é obrigatório, e o jovem que provavelmente ficaria em casa coçando no dia da votação passou a acompanhar pela internet a agenda política e um pouco da privacidade do Obama, e no fim votou nele. Aqui o voto é obrigatório e tais ferramentas são usadas para debater sobre: Vanusa, Dona Delma e Butequis negads. As pessoas podem até se informar, mas é muito mais legal seguir a maré e chamar Dunga de burro.
Humor.
O papel dele na TV conseguiu atrair a atenção de jovens para assuntos como política e direitos. Mas que dureza é aguentar as outras 2 horas de programa enquanto esses dois quadros não estão no ar. Aliás esse é um bom debate: Pode ridicularizar o povão mas figuras públicas não? Acho que na TV quem quiser se expor ao ridículo deve ter seu desejo atendido. Da vagabunda de micro-biquini na praia ao playboy bêbado na balada, atores, atrizes, de terno e óculos escuro, pintado de prata ou com autismo e boa memória para novelas, se está lá é porque quer, e tem todo o direito de (e merece) ser esculhambado. Com o político não é diferente. Vamos dar a cara para bater.
Blog.
Parabéns para este blog. 3 anos. Neste ano talvez publiquemos mais textos que os outros dois juntos. A demanda é muito grande. O número de acessos aumentou. O Barbitúrico Com Fanta foi acessado também de Portugal, França, Estados Unidos, Argentina, México, Espanha, Canadá, Indonésia, Japão, Irlanda, Malásia e Rússia (obrigado, Google Analytics).
Isso só significa uma coisa: As pessoas acham que vendemos drogas nesse blog. Você não vai achar alucinógenos aqui. Pela última vez, parem de procurar no google sobre ácido. O nome do blog é uma piada e você não devia sair clicando em tudo que vê pela internet. Falando nisso: fotos da Playboy da Cléo Pires aqui.
12 de agosto de 2010
(Quase) Ninguém gosta de mau humor
Das séries "Por que eu não faço stand-up?", "Acho que é por isso!" "Violência gratuita" e evidentemente da série "Promoção de cerveja gratuita".
9 de agosto de 2010
Obrigado, Dr. Herring
Eu sou da seguinte opinião: Algumas palavras se traduzem. Outras não. Quando estamos falando de música, usamos termos como “hype” e pirataria. Não há significado direto para “hype”. Por dedução deveria ser traduzido como “modinha”, mas o termo é tão pejorativo que o usamos em inglês mesmo. Já a pirataria pode significar tanto a reprodução ilegal de direito autoral como a pilhagem em alto mar. Coincidentemente o termo em inglês também é melhor aplicado: O “bootleg”, contrabando, ou aquilo que os piratas fazem.
Todo esse primeiro parágrafo se resume em uma banda: The Decemberists. Banda americana com um som classificado como “indie rock” (apesar de eu achar que esses termos mal servem de parâmetro) e que não é (ou está) “hype”. Por conta disso, talvez, o único contato que tive com a banda foi por conta da pirataria.
Quando meu amigo escreveu “saber que a discografia de tal banda já é praticamente obrigatória para quem curte uma boa música – e ainda compra CD, que nem eu” fiquei pensando nos Decemberists em particular. Não ouso dizer que seja som obrigatório para quem curte boa música, porque o termo “boa música” é relativo e pessoal, e “boa música” pode variar da orquestra ao axé, e ainda assim não veremos muitas pessoas que ouçam uma sinfonia e nem críticos musicais que respeitem o axé como movimento da cultura popular brasileira.
Não se fala muito em Decemberists, também, porque eles não tem álbuns lançados no Brasil. Quem quiser conhecer pode apelar para o bootleg (nos dois termos em que se aplica o termo) ou desembolsar R$85,00 em um dos CD's. Ao escolher a primeira opção descobri uma banda muito diferente da cena atual do rock.
Seu vocalista e compositor, Colin Meloy, prefere escrever músicas discretivas. Histórias sobre piratas, prostitutas, soldados, limpadores de chaminés e uma infinidade de universos que não se ouve nas letras introspectivas convencionais. Faz ainda uso de um vocabulário extenso em um inglês de expressões arcaicas que deixaria muitos tradutores desempregados. Fazem parte da formação atual da banda também Chris Funk (violão, bandolim, violino e uma variedade de outros instrumentos de corda), Jenny Conlee (acordeom, órgão, teclado, melódica), John Moen (bateria) e Nate Query (contrabaixo e baixo elétrico). Nos perfis sociais da banda a informação é que o grupo original se conheceu numa casa de banho turco e que eles viajam exclusivamente nos balões dirigíveis do Dr. Herring Brand, prova final da excentricidade.
O primeiro álbum Castaways and Cutouts, lançado em 2002, tem ótimas músicas e um ritmo variado entre baladas e temas mais obscuros, além da “sea shanty” A Cautionary Song (Outro termo sem tradução. Músicas de alto-mar, sobre a vida no barco, tema muito cantado no “Pirate Rock”. Como eu disse, os termos mal servem de parâmetro na música. É muito mais um indicativo étnico, como por exemplo o “Punk Rock Cigano” do Gogol Bordello ou o “Celtic Punk” do Flogging Molly). Enfim, em 2003 foi lançado Her Majesty, mais pop, menos experimental, foge um pouco da própria essência que se espera da banda, apesar da primeira faixa. Em 2005 lançou Picaresque, definitivamente o álbum mais bem trabalhado da banda até então, e no ano seguinte The Crane Wife, com a música-título baseada em uma antiga lenda japonesa e ainda When the War Came, sobre o cerco a Leningrado na Segunda Guerra Mundial e The Perfect Crime #2 com sua pegada Burt Bacharach "What the world needs now".
Em 2009 lançaram The Hazards of Love, um ópera rock (muito bem feito, por sinal) que conta a história de Margaret, uma mulher que se apaixona por William, um homem que se transforma em criatura. A mãe de William tenta impedir a união dos dois e conta com a ajuda de Rake (um libertino). Seja qual for a história, esta é uma composição incrível que vinga o nome “ópera”. Cada personagem e cada tom dramático da história tem seu leitmotif entoado sempre que a história reencontra seus elementos. É um CD com boas músicas que ficam ainda melhores quando o ouvimos por inteiro. Mesmo que em Hazards of Love a banda não explore toda sua diversificação instrumental, o propósito do álbum em contar a história se mantém e mantém a atenção de quem ouvir.
Como eu disse, não é uma banda “hype” e não posso dizer que quem sabe de música devia ouvi-la, mas com a discografia que a banda tem é possível afirmar que de composição e teoria musical a banda entende. The Decemberists parece não ter a pretensão de ser aclamada por público e crítica, nem ser mais ou menos comerciável. Seguem os ímpetos e ideias que surgem de seu vocalista e sem compromisso vão desenvolvendo projetos. É uma fórmula boa para seguir, mesmo que não seja a mesma do reconhecimento.
Todo esse primeiro parágrafo se resume em uma banda: The Decemberists. Banda americana com um som classificado como “indie rock” (apesar de eu achar que esses termos mal servem de parâmetro) e que não é (ou está) “hype”. Por conta disso, talvez, o único contato que tive com a banda foi por conta da pirataria.
Quando meu amigo escreveu “saber que a discografia de tal banda já é praticamente obrigatória para quem curte uma boa música – e ainda compra CD, que nem eu” fiquei pensando nos Decemberists em particular. Não ouso dizer que seja som obrigatório para quem curte boa música, porque o termo “boa música” é relativo e pessoal, e “boa música” pode variar da orquestra ao axé, e ainda assim não veremos muitas pessoas que ouçam uma sinfonia e nem críticos musicais que respeitem o axé como movimento da cultura popular brasileira.
Não se fala muito em Decemberists, também, porque eles não tem álbuns lançados no Brasil. Quem quiser conhecer pode apelar para o bootleg (nos dois termos em que se aplica o termo) ou desembolsar R$85,00 em um dos CD's. Ao escolher a primeira opção descobri uma banda muito diferente da cena atual do rock.
Seu vocalista e compositor, Colin Meloy, prefere escrever músicas discretivas. Histórias sobre piratas, prostitutas, soldados, limpadores de chaminés e uma infinidade de universos que não se ouve nas letras introspectivas convencionais. Faz ainda uso de um vocabulário extenso em um inglês de expressões arcaicas que deixaria muitos tradutores desempregados. Fazem parte da formação atual da banda também Chris Funk (violão, bandolim, violino e uma variedade de outros instrumentos de corda), Jenny Conlee (acordeom, órgão, teclado, melódica), John Moen (bateria) e Nate Query (contrabaixo e baixo elétrico). Nos perfis sociais da banda a informação é que o grupo original se conheceu numa casa de banho turco e que eles viajam exclusivamente nos balões dirigíveis do Dr. Herring Brand, prova final da excentricidade.
O primeiro álbum Castaways and Cutouts, lançado em 2002, tem ótimas músicas e um ritmo variado entre baladas e temas mais obscuros, além da “sea shanty” A Cautionary Song (Outro termo sem tradução. Músicas de alto-mar, sobre a vida no barco, tema muito cantado no “Pirate Rock”. Como eu disse, os termos mal servem de parâmetro na música. É muito mais um indicativo étnico, como por exemplo o “Punk Rock Cigano” do Gogol Bordello ou o “Celtic Punk” do Flogging Molly). Enfim, em 2003 foi lançado Her Majesty, mais pop, menos experimental, foge um pouco da própria essência que se espera da banda, apesar da primeira faixa. Em 2005 lançou Picaresque, definitivamente o álbum mais bem trabalhado da banda até então, e no ano seguinte The Crane Wife, com a música-título baseada em uma antiga lenda japonesa e ainda When the War Came, sobre o cerco a Leningrado na Segunda Guerra Mundial e The Perfect Crime #2 com sua pegada Burt Bacharach "What the world needs now".
Em 2009 lançaram The Hazards of Love, um ópera rock (muito bem feito, por sinal) que conta a história de Margaret, uma mulher que se apaixona por William, um homem que se transforma em criatura. A mãe de William tenta impedir a união dos dois e conta com a ajuda de Rake (um libertino). Seja qual for a história, esta é uma composição incrível que vinga o nome “ópera”. Cada personagem e cada tom dramático da história tem seu leitmotif entoado sempre que a história reencontra seus elementos. É um CD com boas músicas que ficam ainda melhores quando o ouvimos por inteiro. Mesmo que em Hazards of Love a banda não explore toda sua diversificação instrumental, o propósito do álbum em contar a história se mantém e mantém a atenção de quem ouvir.
Como eu disse, não é uma banda “hype” e não posso dizer que quem sabe de música devia ouvi-la, mas com a discografia que a banda tem é possível afirmar que de composição e teoria musical a banda entende. The Decemberists parece não ter a pretensão de ser aclamada por público e crítica, nem ser mais ou menos comerciável. Seguem os ímpetos e ideias que surgem de seu vocalista e sem compromisso vão desenvolvendo projetos. É uma fórmula boa para seguir, mesmo que não seja a mesma do reconhecimento.
6 de agosto de 2010
Sorry Periferia
Essa história de discos que vazam na internet já é tão manjada que é até de se desconfiar se não haveria alguma malandragem por trás disso, principalmente se atentarmos ao fato de que estamos falando do The Suburbs, o mais novo trabalho do Arcade Fire. Sabendo que a discografia dos caras já é praticamente obrigatória para quem curte uma boa música – e ainda compra CD, que nem eu – a expectativa do público com o novo álbum não poderia ser desprezada. E já que uma hora ou outra ele iria cair na internet, por que não fazer logo o trabalho sujo e manter o hype nas alturas até o lançamento oficial, que aconteceu nesta semana?
O fato é que desde o aclamado disco de estreia, Funeral, o Arcade Fire já é figurinha carimbada entre as grandes bandas atuais, e não é por menos. Seu som é tão diverso quanto difícil de explicar para mentes sãs. Qualquer tentativa de enquadrá-los em qualquer rótulo musical soa como um mero discurso vazio de sentido.
E não ajuda muito o fato dos caras terem o bom costume de conseguir se reinventar a cada lançamento, como é novamente o caso de The Suburbs. Quer dizer, o tom melancólico das canções e o som caótico da banda, com uma infinidade de instrumentos diferentes completando a harmonia, continuam lá, mas a questão são as novas abordagens disponíveis. Assim como aconteceu com Ok Computer, do Radiohead, eles jogaram fora o modelo dos discos anteriores e embarcaram numa nova onda. Neste caso, a onda escolhida parece ter sido a música dos anos 80.
Não dá para negar que os caras sempre tiveram um pé no pós-punk, mas agora o negócio ficou mais insano. Na faixa-título que abre o álbum, “The Suburbs”, o vocalista Win Butler manda um falsete no melhor estilo Neil Young, enquanto que a balada “Modern Man” tem uma melancolia fingida que lembra muito o som do The Cure. Mais exemplos: “Half Light II (No Celebration)” tem uma pegada à la U2, a rockzinha “Month of May” parece Billy Idol, “We Used to Wait” é obviamente inspirado em Depeche Mode e “Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)”, embalado pela voz de Régine Chassagne, tem um som dançante que lembra Blondie na sua fase new wave.
Mas o álbum vai muito além das referências. “Ready to Start”, cujo começo parece “Keep the Car Running”, do Neon Bible, mostra que na essência o do som dos caras continua afiadíssimo e deveras intrigante. Mas a grande faixa é mesmo “Suburban War”, que começa lenta, com um belo e hipnótico riff, até que subitamente muda de ritmo, dá uma quebrada, volta para o começo, começa a ganhar velocidade e termina de maneira apoteótica com um coral no fundo.
A real é que para analisar os álbuns do Arcade Fire é preciso entendê-lo como um todo e não música por música, como normalmente se faz por aí. É como se fosse um filme ou um livro com começo, meio e fim, em que cada capítulo faz sentido no entendimento da trama. O próprio baterista Jeremy Gara disse isso em uma entrevista à Folha. "Há vários sons diferentes no disco. Cada canção funciona por si própria, mas nos preocupamos com o sentimento gerado pelo disco como um todo", afirmou.
Em casos como esses, o importante é não só como as músicas se relacionam entre si, mas como elas se encaixam para formar uma obra completa e lógica, como se a simples alteração na sequência das faixas já mudasse toda a essência do álbum. E The Suburbs consegue cumprir essa missão com maestria, tornando-se um disco para ouvir do começo ao fim e sem shuffle.
Na verdade, por alguma razão, a impressão que passa é que The Suburbs é o mais fácil de ouvir do Arcade Fire. Ele não tem o clima sombrio dos álbuns anteriores nem músicas tão bem trabalhadas, mas as canções estão mais rápidas e suaves. Além disso, as cinco primeiras faixas engatam rápido, sem quebra de ritmo, tal qual no Funeral. Aparentemente, The Suburbs é o melhor álbum para quem quer começar a ouvir Arcade Fire. Para quem já é fã, pode-se dizer que é um dos melhores deles, mas só porque eu curto a música dos anos 80.
O fato é que desde o aclamado disco de estreia, Funeral, o Arcade Fire já é figurinha carimbada entre as grandes bandas atuais, e não é por menos. Seu som é tão diverso quanto difícil de explicar para mentes sãs. Qualquer tentativa de enquadrá-los em qualquer rótulo musical soa como um mero discurso vazio de sentido.
E não ajuda muito o fato dos caras terem o bom costume de conseguir se reinventar a cada lançamento, como é novamente o caso de The Suburbs. Quer dizer, o tom melancólico das canções e o som caótico da banda, com uma infinidade de instrumentos diferentes completando a harmonia, continuam lá, mas a questão são as novas abordagens disponíveis. Assim como aconteceu com Ok Computer, do Radiohead, eles jogaram fora o modelo dos discos anteriores e embarcaram numa nova onda. Neste caso, a onda escolhida parece ter sido a música dos anos 80.
Não dá para negar que os caras sempre tiveram um pé no pós-punk, mas agora o negócio ficou mais insano. Na faixa-título que abre o álbum, “The Suburbs”, o vocalista Win Butler manda um falsete no melhor estilo Neil Young, enquanto que a balada “Modern Man” tem uma melancolia fingida que lembra muito o som do The Cure. Mais exemplos: “Half Light II (No Celebration)” tem uma pegada à la U2, a rockzinha “Month of May” parece Billy Idol, “We Used to Wait” é obviamente inspirado em Depeche Mode e “Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)”, embalado pela voz de Régine Chassagne, tem um som dançante que lembra Blondie na sua fase new wave.
Mas o álbum vai muito além das referências. “Ready to Start”, cujo começo parece “Keep the Car Running”, do Neon Bible, mostra que na essência o do som dos caras continua afiadíssimo e deveras intrigante. Mas a grande faixa é mesmo “Suburban War”, que começa lenta, com um belo e hipnótico riff, até que subitamente muda de ritmo, dá uma quebrada, volta para o começo, começa a ganhar velocidade e termina de maneira apoteótica com um coral no fundo.
A real é que para analisar os álbuns do Arcade Fire é preciso entendê-lo como um todo e não música por música, como normalmente se faz por aí. É como se fosse um filme ou um livro com começo, meio e fim, em que cada capítulo faz sentido no entendimento da trama. O próprio baterista Jeremy Gara disse isso em uma entrevista à Folha. "Há vários sons diferentes no disco. Cada canção funciona por si própria, mas nos preocupamos com o sentimento gerado pelo disco como um todo", afirmou.
Em casos como esses, o importante é não só como as músicas se relacionam entre si, mas como elas se encaixam para formar uma obra completa e lógica, como se a simples alteração na sequência das faixas já mudasse toda a essência do álbum. E The Suburbs consegue cumprir essa missão com maestria, tornando-se um disco para ouvir do começo ao fim e sem shuffle.
Na verdade, por alguma razão, a impressão que passa é que The Suburbs é o mais fácil de ouvir do Arcade Fire. Ele não tem o clima sombrio dos álbuns anteriores nem músicas tão bem trabalhadas, mas as canções estão mais rápidas e suaves. Além disso, as cinco primeiras faixas engatam rápido, sem quebra de ritmo, tal qual no Funeral. Aparentemente, The Suburbs é o melhor álbum para quem quer começar a ouvir Arcade Fire. Para quem já é fã, pode-se dizer que é um dos melhores deles, mas só porque eu curto a música dos anos 80.
15 de julho de 2010
Os neocons e a filosofia
Criei uma teoria que ainda está em desenvolvimento, mas que gostaria de compartilhar com vocês. O fato é que estava lendo o clássico livro “Ponto de Mutação”, do físico austríaco Fritjol Capra, e tive uma epifania. A obra defende uma mudança de paradigma quanto à atual visão hegemônica reducionista, concebida por Descartes e seu método científico, lá no século 17. Um dos conceitos do método cartesiano crê na ideia de que para compreender um objeto de estudo é preciso reduzi-lo à mínima fração. Como exemplo, ele diz que para entender como funciona um relógio é preciso analisar e conhecer cada mecanismo e engrenagem em separado. Em outras palavras, temos aí o reducionismo.
Esse tem sido o paradigma da ciência atual até a descoberta das partículas subatômicas, que mostrou que o átomo poderia ser reduzido em múltiplas partes. Até que isso não foi um grande choque para os cientistas, mas o mais estranho era como essas partículas se comportavam. Elas podiam sumir e aparecer de repente, viajar na velocidade da luz, mudar de forma indiscriminadamente, enfim, elas desafiaram a ciência clássica de tal forma que os cientistas criaram uma nova área da física só para entendê-las: a física quântica. E o mais inusitado é que quanto mais estudam as partículas subatômicas, mais mistérios surgem. Há quem diga que nosso universo atual não tem quatro dimensões (altura, comprimento, largura e tempo), mas 11, que só são perceptíveis e compreensíveis no nível subatômico. Outros dizem que as partículas podem viajar no espaço-tempo através de buracos de minhoca (wormholes) abertos por uma dessas novas dimensões.
Por isso, Capra defende um novo paradigma para compreender esse e outros fenômenos da natureza até agora inexplicáveis pelo reducionismo. Ele prega uma visão holística, no sentido de “todo”, que englobe todas as ciências naturais. Por sorte, hoje (o livro é de 1983) os pesquisadores estão muito mais receptivos a esse novo paradigma. A medicina atual já sabe que o estilo de vida e a saúde mental tem a mesma capacidade de adoecer uma pessoa do que microorganismos. Lógico que ainda não há consenso entre os cientistas, mas já é alguma coisa.
Daí que lendo o livro me veio à mente a ideia de que a direita também tem uma visão reducionista da sociedade, enquanto que a esquerda costuma explorar uma visão mais plural (e, por que não, mais humanista). Um exemplo óbvio: o conceito de liberalismo econômico defendido pelos conservadores crê que cada indivíduo é apto para buscar a riqueza material e a melhora na sua condição de vida é benéfica para toda sociedade. Portanto, não teria porque o Estado meter o bico na economia. Ora, até faria sentido num mundo utópico de Adam Smith, mas isso não se configura em um ambiente em que temos empresas cada vez mais gigantescas tomando conta de um mercado inteiro, em que a regra é engolir a concorrência.
Outro exemplo: a direita tem o costume de ser xenófoba e isso tem aumentado muito na Europa nos últimos anos devido à crise econômica. O pensamento deles é muito simplista: há desemprego porque os estrangeiros estão roubando nossas vagas. Esquecem os reacionários de que a maioria dos estrangeiros trabalham em subempregos que a classe média local não encararia facilmente. Mesmo assim, eles preferem gritar contra os estrangeiros do que contra o governo que se mantém refém dos banqueiros e dos especuladores, que são os verdadeiros culpados.
Mais recente os neocons norte-americanos tiveram a grotesca ideia de fazer um outdoor comparando o Obama com Hitler (saca só que fina ironia, seria como chamar Mao Tsé Tung de japa). Tudo isso para sutilmente falar que o Obama é socialista, pelo menos na cabeça deles. Só que eles esqueceram que o partido Nazista tinha socialismo só no nome. Ou seja, os direitistas tiraram do contexto o nacional socialismo para, de quebra, vincular os socialistas ao nazismo.
Nesse sentido, a grande imprensa também atua num aspecto reducionista, o que, em partes, beneficia a visão conservadora da sociedade. A maioria dos crimes presentes nas páginas policiais são desvinculados da questão política, econômica e filosófica, que ficam em outras seções do jornal. Mesmos as revistas semanais costumam fazer esse tipo de separação, como se taxa Selic não tivesse nada a ver com a taxa de violência.
Lógico também que não precisamos ser duros. O próprio Capra diz que a visão reducionista e holística devem andar juntas, atuando em equilíbrio. Até porque a visão reducionista trouxe grandes avanços na ciência e na medicina moderna, assim como na economia e na tecnologia. E na política também, eu acho.
Esse tem sido o paradigma da ciência atual até a descoberta das partículas subatômicas, que mostrou que o átomo poderia ser reduzido em múltiplas partes. Até que isso não foi um grande choque para os cientistas, mas o mais estranho era como essas partículas se comportavam. Elas podiam sumir e aparecer de repente, viajar na velocidade da luz, mudar de forma indiscriminadamente, enfim, elas desafiaram a ciência clássica de tal forma que os cientistas criaram uma nova área da física só para entendê-las: a física quântica. E o mais inusitado é que quanto mais estudam as partículas subatômicas, mais mistérios surgem. Há quem diga que nosso universo atual não tem quatro dimensões (altura, comprimento, largura e tempo), mas 11, que só são perceptíveis e compreensíveis no nível subatômico. Outros dizem que as partículas podem viajar no espaço-tempo através de buracos de minhoca (wormholes) abertos por uma dessas novas dimensões.
Por isso, Capra defende um novo paradigma para compreender esse e outros fenômenos da natureza até agora inexplicáveis pelo reducionismo. Ele prega uma visão holística, no sentido de “todo”, que englobe todas as ciências naturais. Por sorte, hoje (o livro é de 1983) os pesquisadores estão muito mais receptivos a esse novo paradigma. A medicina atual já sabe que o estilo de vida e a saúde mental tem a mesma capacidade de adoecer uma pessoa do que microorganismos. Lógico que ainda não há consenso entre os cientistas, mas já é alguma coisa.
Daí que lendo o livro me veio à mente a ideia de que a direita também tem uma visão reducionista da sociedade, enquanto que a esquerda costuma explorar uma visão mais plural (e, por que não, mais humanista). Um exemplo óbvio: o conceito de liberalismo econômico defendido pelos conservadores crê que cada indivíduo é apto para buscar a riqueza material e a melhora na sua condição de vida é benéfica para toda sociedade. Portanto, não teria porque o Estado meter o bico na economia. Ora, até faria sentido num mundo utópico de Adam Smith, mas isso não se configura em um ambiente em que temos empresas cada vez mais gigantescas tomando conta de um mercado inteiro, em que a regra é engolir a concorrência.
Outro exemplo: a direita tem o costume de ser xenófoba e isso tem aumentado muito na Europa nos últimos anos devido à crise econômica. O pensamento deles é muito simplista: há desemprego porque os estrangeiros estão roubando nossas vagas. Esquecem os reacionários de que a maioria dos estrangeiros trabalham em subempregos que a classe média local não encararia facilmente. Mesmo assim, eles preferem gritar contra os estrangeiros do que contra o governo que se mantém refém dos banqueiros e dos especuladores, que são os verdadeiros culpados.
Mais recente os neocons norte-americanos tiveram a grotesca ideia de fazer um outdoor comparando o Obama com Hitler (saca só que fina ironia, seria como chamar Mao Tsé Tung de japa). Tudo isso para sutilmente falar que o Obama é socialista, pelo menos na cabeça deles. Só que eles esqueceram que o partido Nazista tinha socialismo só no nome. Ou seja, os direitistas tiraram do contexto o nacional socialismo para, de quebra, vincular os socialistas ao nazismo.
Nesse sentido, a grande imprensa também atua num aspecto reducionista, o que, em partes, beneficia a visão conservadora da sociedade. A maioria dos crimes presentes nas páginas policiais são desvinculados da questão política, econômica e filosófica, que ficam em outras seções do jornal. Mesmos as revistas semanais costumam fazer esse tipo de separação, como se taxa Selic não tivesse nada a ver com a taxa de violência.
Lógico também que não precisamos ser duros. O próprio Capra diz que a visão reducionista e holística devem andar juntas, atuando em equilíbrio. Até porque a visão reducionista trouxe grandes avanços na ciência e na medicina moderna, assim como na economia e na tecnologia. E na política também, eu acho.
5 de julho de 2010
26 de junho de 2010
Podcast #4
Onde desvendamos os resultados da Copa e colocamos a turma do Sportv no chinelo. Ou não.
Da série "Mesa Quadrada Futebol Debate" com convidado.
Para sugestões, críticas, pares ou ímpares: barbiturico.blog@gmail.com
Siga-nos no iTunes.
Da série "Mesa Quadrada Futebol Debate" com convidado.
Para sugestões, críticas, pares ou ímpares: barbiturico.blog@gmail.com
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13 de junho de 2010
Já que não estou inspirado e isso não é um quadrinho de verdade, vamos roubar a idéia de outro quadrinho que não é de verdade
Da série 2010 Fifa World Cup South Africa™.
6 de junho de 2010
24 de maio de 2010
O Fim.
Lost acabou. Algumas pessoas estão felizes, outras não. Algumas acharam legal ter acabado porque estavam de saco cheio, outras gostaram do fato da série ter tido oportunidade de ter um ponto final. Outras acharam filhadaputagem o enredo final ou o simples fato de ter de dizer adeus à série, independente da forma como ela acabou.
Acho que estou no meio termo. Foi muito bom ver a série sobreviver à greve de roteiristas que colocou em xeque vários enlatados lá em 2008 (lembram?), e realmente, há muita criatividade da parte dos criadores e roteiristas. Mas eu não gostei do fim.
Depois de assistir o episódio final de 2 horas via live broadcast lembrei imediatamente da cena final de o Show de Truman. Não, a ilha não era um estúdio de tamanho extraordinário que pode ser visto do espaço. Estou me referindo ao número de pessoas que parou para assistir esse tão esperado episódio. Talvez também houvesse gente assistindo da banheira, mas acho que não.
O ponto é exatamente esse. Lost é um fenômeno da TV. Pessoas do mundo inteiro assistem. Isso significa que Lost foi uma série sensacional? Se você pensar em números e rentabilidade sim. Mas daí pra afirmar que Lost mudou a maneira de assistir TV já é um pouco de exagero. Talvez isso tenha acontecido no Brasil, onde as pessoas eram obrigadas a esperar dois meses por um episódio inédito de uma mesma temporada. Mas garanto que nos Estados Unidos as pessoas ainda assistem TV do mesmo jeito: com a bunda colada no sofá. Lost deve ser creditado como um pioneiro, mas isso não é reflexo apenas da qualidade da série.
Aqui no Brasil, por exemplo, tantas outras séries são tão disputadas para download quanto Lost. Prison Break, Heroes, House e tantas outras também tem (ou tiveram) bom público aqui. E para se ter uma noção global, Heroes é uma série com mais busca por torrent que Lost. Acontece que Lost tem um apelo gigante na mídia brasileira. A Globo tem os direitos mas não passa. O AXN só acertou a mão nessa última temporada com relação à datas de transmissão. Caiu na internet e pouco tempo depois foi parar em revista e jornal. Eu francamente não consigo me lembrar quantas capas e Super Interessante e o Link do Estadão não foram dedicadas a Lost. Ou seja, Lost pode ser unanimidade no Brasil, mas para cada público um gosto.
É interessante! Heroes é a série mais baixada no mundo, e foi cancelada. Nos Estados Unidos, onde o número de pessoas que assistem realmente conta, não era tudo isso. Prison Break tinha roteiristas fodidos de bom. As duas primeiras temporadas da série tinham ganchos (o que liga um episódio ao próximo) espetaculares. Inteligente pra caralho. Aí teve a greve dos roteiristas e foi queda livre. Mudaram uma cena final e o que seria o gancho da próxima temporada foi substituído pelo fim da série. Com Heroes é a mesma coisa. Sofreu o impacto da greve, a história foi piorando cada vez mais e agora não existe mais. E ainda assim, sem planejar, o final de Heroes ficou mais convincente que o final de Lost. Lost passou pelos mesmos problemas que as outras séries, mas teve a chance de se redimir. E isso eu achei legal.
Mas a grande sacada de Lost é ter ficado durante seis anos na TV discutindo bem e mal, carma, divinismo, flashbacks, flashforwards, eletromagnetismo, viagem no tempo, universos paralelos e todo tipo de ciência que gerou todo tipo de discussão entre nerds, geeks ou simples e fiéis seguidores (o que deve se encaixar entre nerds ou geeks).
E no fim, o que prende o espectador é a simples e pura emoção do drama, com uma sacada genial de subjetividade. Cada pessoa ficou com sua teoria do que foi Lost. Não faz meu tipo. Mas tiro o chapéu.
Acho que estou no meio termo. Foi muito bom ver a série sobreviver à greve de roteiristas que colocou em xeque vários enlatados lá em 2008 (lembram?), e realmente, há muita criatividade da parte dos criadores e roteiristas. Mas eu não gostei do fim.
Depois de assistir o episódio final de 2 horas via live broadcast lembrei imediatamente da cena final de o Show de Truman. Não, a ilha não era um estúdio de tamanho extraordinário que pode ser visto do espaço. Estou me referindo ao número de pessoas que parou para assistir esse tão esperado episódio. Talvez também houvesse gente assistindo da banheira, mas acho que não.
O ponto é exatamente esse. Lost é um fenômeno da TV. Pessoas do mundo inteiro assistem. Isso significa que Lost foi uma série sensacional? Se você pensar em números e rentabilidade sim. Mas daí pra afirmar que Lost mudou a maneira de assistir TV já é um pouco de exagero. Talvez isso tenha acontecido no Brasil, onde as pessoas eram obrigadas a esperar dois meses por um episódio inédito de uma mesma temporada. Mas garanto que nos Estados Unidos as pessoas ainda assistem TV do mesmo jeito: com a bunda colada no sofá. Lost deve ser creditado como um pioneiro, mas isso não é reflexo apenas da qualidade da série.
Aqui no Brasil, por exemplo, tantas outras séries são tão disputadas para download quanto Lost. Prison Break, Heroes, House e tantas outras também tem (ou tiveram) bom público aqui. E para se ter uma noção global, Heroes é uma série com mais busca por torrent que Lost. Acontece que Lost tem um apelo gigante na mídia brasileira. A Globo tem os direitos mas não passa. O AXN só acertou a mão nessa última temporada com relação à datas de transmissão. Caiu na internet e pouco tempo depois foi parar em revista e jornal. Eu francamente não consigo me lembrar quantas capas e Super Interessante e o Link do Estadão não foram dedicadas a Lost. Ou seja, Lost pode ser unanimidade no Brasil, mas para cada público um gosto.
É interessante! Heroes é a série mais baixada no mundo, e foi cancelada. Nos Estados Unidos, onde o número de pessoas que assistem realmente conta, não era tudo isso. Prison Break tinha roteiristas fodidos de bom. As duas primeiras temporadas da série tinham ganchos (o que liga um episódio ao próximo) espetaculares. Inteligente pra caralho. Aí teve a greve dos roteiristas e foi queda livre. Mudaram uma cena final e o que seria o gancho da próxima temporada foi substituído pelo fim da série. Com Heroes é a mesma coisa. Sofreu o impacto da greve, a história foi piorando cada vez mais e agora não existe mais. E ainda assim, sem planejar, o final de Heroes ficou mais convincente que o final de Lost. Lost passou pelos mesmos problemas que as outras séries, mas teve a chance de se redimir. E isso eu achei legal.
Mas a grande sacada de Lost é ter ficado durante seis anos na TV discutindo bem e mal, carma, divinismo, flashbacks, flashforwards, eletromagnetismo, viagem no tempo, universos paralelos e todo tipo de ciência que gerou todo tipo de discussão entre nerds, geeks ou simples e fiéis seguidores (o que deve se encaixar entre nerds ou geeks).
E no fim, o que prende o espectador é a simples e pura emoção do drama, com uma sacada genial de subjetividade. Cada pessoa ficou com sua teoria do que foi Lost. Não faz meu tipo. Mas tiro o chapéu.
23 de maio de 2010
17 de maio de 2010
5 de maio de 2010
Alice e a Fabulosa Máquina de Destruir Clássicos
A melhor moral que podemos tirar do novo filme da Alice é: nunca subestime a indústria do cinema. A coqueluxe que causou o simples fato de uma das historias mais legais da literartura ser filmada pelo Tim Burton, o mestre da estética visual do bizarro e da loucura, não está escrito, embora fosse imaginado. Queira ou não, Tim Burton era o cara certo para fazer essa adaptação. O problema é que talvez nem ele nem o público esperassem que o clássico de Lewis Carrol fosse reduzido a um monte de clichês pasteurizados no melhor estilo hollywoodiano.
O legal na história de Alice, o original, é tanto o nonsense e a insanidade do enredo – que, dizem as más línguas, influenciou os surrealistas e a galera da psicodelia dos anos 60 – quanto seu texto muitíssimo bem trabalhado, cheio de referências históricas, com uma pitada do humor inglês vitoriano e com uma absurda lógica matemática. Mas tudo isso se perdeu quando a Disney decidiu que era melhor criar uma outra história em cima dessa, e uma história muito mais fraca, diga-se de passagem.
A diferença mais visível é que Alice já não é mais uma garota de 7 anos, mas uma moça de 19 prestes a se casar. A partir dessa premissa, a roteirista (a mesma que escreveu Rei Leão e Bela e a Fera) resolveu brincar de futurologia: como seria Alice e o País das Maravilhas 12 anos depois dela ter caído no buraco? A princípio a ideia de fazer algo diferente é até boa, visto que todo mundo já deve conhecer a história e que o que não falta são adaptações para o cinema, mas a execução foi primária. Alice deixou de ser a menina curiosa que se deixa embarcar em um sonho psicodélico com coelhos falantes, gatos que evaporam ou lagartas fumadoras de nargilé. Agora, ela tem uma missão, seguindo a velha cartilha da Jornada do Herói, de Joseph Campbell. E para cumpri-la, precisa passar por um estágio de provação e mudar sua psique interior. Isso quem diz não sou eu, mas os próprios personagens do filme.
Voltando então ao livro. A Alice original era tremendamente esperta e contestadora, mas educada, e isso fazia parte de sua própria característica. Tanto que, embora todo o universo do País das Maravilhas fosse um mero sonho, paradoxalmente ela buscava um sentido lógico em tudo. E é nesse paradoxo que se estabelece a graça da obra. Tanto que um dos melhores capítulos do livro, quiçá da literatura juvenil mundial, é a do chá das cinco, em que Alice tenta estabelecer um diálogo com a Lebre de Março, o Chapeleiro Maluco e o Dormindongo, até que ela fica tão impaciente com a loucura deles que resolve sair de rolê. Parece até uma esquete do Monty Python de tão insano que é o negócio.
Esse tipo de humor do absurdo se perdeu na adaptação. Alice e os personagens do País das Maravilhas transparecem um ar carregado de melancolia, e tudo por causa da tirania da Rainha Vermelha. Aparentemente, só com a derrubada do seu regime que a alegria voltará a reinar nessas terras. Ora, pura patifaria. Nada disso impede um piadinha de efeito ou uma sacada irônica. Só para exemplificar, na época da ditadura militar surgiram mentes brilhantes no Brasil que usavam o humor para contestar a repressão do governo, como o Henfil, o Angeli e os irmãos Caruso. Esse tipo de reducionismo pode funcionar para crianças, mas para adultos, que eram a esmagadora maioria na sessão lotada em que fui em uma tarde chuvosa de domingo em São Paulo, isso beira o revoltante. Pelo menos, foi o que pensei.
Para não dizer que não falei das flores, Alice tem seus pontos altos. Apesar de tudo, a estética burtiana é do caramba. Quando se trata de personagens excêntricos, que transitam entre mundos sombrios e tenebrosos, estamos falando com o cara certo. Mas o problema é quando isso fica só no visual e se esquece do desenvolvimento do enredo, como se fosse um Avatar surrealista. É legal ver os efeitos em 3D e o cenário fantasioso, mas como fica a história? O que deveria ser o principal o pessoal resolve deixar de lado.
É preciso destacar também Mia Wasikowska, que ficou muito bem como a contestadora Alice, embora não convença fazendo cenas de ação; Johhny Depp, que mais uma vez fez como ninguém o papel de louco (se bem que ele só faz papel de louco); e Helena Bonham Carter, que mandou muito como a Rainha Vermelha.
O caso é que Hollywood perdeu uma oportunidade de ouro de fazer uma filme pra ficar na história. Ao invés disso, resolveram subestimar a inteligência do público e enterrar qualquer brilhantismo do livro do Lewis Carrol. Mesmo assim, Alice foi a maior bilheteria da Disney no Brasil. Nunca subestime a indústria do cinema.
O legal na história de Alice, o original, é tanto o nonsense e a insanidade do enredo – que, dizem as más línguas, influenciou os surrealistas e a galera da psicodelia dos anos 60 – quanto seu texto muitíssimo bem trabalhado, cheio de referências históricas, com uma pitada do humor inglês vitoriano e com uma absurda lógica matemática. Mas tudo isso se perdeu quando a Disney decidiu que era melhor criar uma outra história em cima dessa, e uma história muito mais fraca, diga-se de passagem.
A diferença mais visível é que Alice já não é mais uma garota de 7 anos, mas uma moça de 19 prestes a se casar. A partir dessa premissa, a roteirista (a mesma que escreveu Rei Leão e Bela e a Fera) resolveu brincar de futurologia: como seria Alice e o País das Maravilhas 12 anos depois dela ter caído no buraco? A princípio a ideia de fazer algo diferente é até boa, visto que todo mundo já deve conhecer a história e que o que não falta são adaptações para o cinema, mas a execução foi primária. Alice deixou de ser a menina curiosa que se deixa embarcar em um sonho psicodélico com coelhos falantes, gatos que evaporam ou lagartas fumadoras de nargilé. Agora, ela tem uma missão, seguindo a velha cartilha da Jornada do Herói, de Joseph Campbell. E para cumpri-la, precisa passar por um estágio de provação e mudar sua psique interior. Isso quem diz não sou eu, mas os próprios personagens do filme.
Voltando então ao livro. A Alice original era tremendamente esperta e contestadora, mas educada, e isso fazia parte de sua própria característica. Tanto que, embora todo o universo do País das Maravilhas fosse um mero sonho, paradoxalmente ela buscava um sentido lógico em tudo. E é nesse paradoxo que se estabelece a graça da obra. Tanto que um dos melhores capítulos do livro, quiçá da literatura juvenil mundial, é a do chá das cinco, em que Alice tenta estabelecer um diálogo com a Lebre de Março, o Chapeleiro Maluco e o Dormindongo, até que ela fica tão impaciente com a loucura deles que resolve sair de rolê. Parece até uma esquete do Monty Python de tão insano que é o negócio.
Esse tipo de humor do absurdo se perdeu na adaptação. Alice e os personagens do País das Maravilhas transparecem um ar carregado de melancolia, e tudo por causa da tirania da Rainha Vermelha. Aparentemente, só com a derrubada do seu regime que a alegria voltará a reinar nessas terras. Ora, pura patifaria. Nada disso impede um piadinha de efeito ou uma sacada irônica. Só para exemplificar, na época da ditadura militar surgiram mentes brilhantes no Brasil que usavam o humor para contestar a repressão do governo, como o Henfil, o Angeli e os irmãos Caruso. Esse tipo de reducionismo pode funcionar para crianças, mas para adultos, que eram a esmagadora maioria na sessão lotada em que fui em uma tarde chuvosa de domingo em São Paulo, isso beira o revoltante. Pelo menos, foi o que pensei.
Para não dizer que não falei das flores, Alice tem seus pontos altos. Apesar de tudo, a estética burtiana é do caramba. Quando se trata de personagens excêntricos, que transitam entre mundos sombrios e tenebrosos, estamos falando com o cara certo. Mas o problema é quando isso fica só no visual e se esquece do desenvolvimento do enredo, como se fosse um Avatar surrealista. É legal ver os efeitos em 3D e o cenário fantasioso, mas como fica a história? O que deveria ser o principal o pessoal resolve deixar de lado.
É preciso destacar também Mia Wasikowska, que ficou muito bem como a contestadora Alice, embora não convença fazendo cenas de ação; Johhny Depp, que mais uma vez fez como ninguém o papel de louco (se bem que ele só faz papel de louco); e Helena Bonham Carter, que mandou muito como a Rainha Vermelha.
O caso é que Hollywood perdeu uma oportunidade de ouro de fazer uma filme pra ficar na história. Ao invés disso, resolveram subestimar a inteligência do público e enterrar qualquer brilhantismo do livro do Lewis Carrol. Mesmo assim, Alice foi a maior bilheteria da Disney no Brasil. Nunca subestime a indústria do cinema.
2 de maio de 2010
25 de abril de 2010
23 de abril de 2010
Os 5 discos mais underrateds de todos os tempos
A maioria das listas de melhores álbuns são sempre iguais, com os mesmos discos encabeçando as primeiras posições. Este aqui não. A ideia é exatamente mostrar os excelentes discos que quase nunca são lembrados, seja porque não tem o hype necessário ou por uma outra questão qualquer. O fato é que não há critério lógico e científico que explique ausências tão ilustres quanto estas que se seguem:
5) Humbug - Arctic Monkeys (2009)
É cedo para dizer a relevância do Humbug, o álbum mais recente do Arctic Monkeys, lançado em 2009. Mas é fato que o disco mudou em muito minha percepção da banda. Humbug apresentou um Arctic Monkeys menos barulhento e mais sóbrio, com construções de arranjos infinitamente mais elaboradas do que no endeusado Whatever People Say I Am, That's What I'm Not. Até por causa disso, rolou uma divisão entre os fãs: os mais ortodoxos acharam que a banda perdeu suas características, mas os mais moderados viram que este era um caminho natural a percorrer.
Eu que, nunca curti o Arctic Monkeys, fico com o segundo grupo. Sempre achei que eles faziam muito barulho para pouco som. Era óbvio que eles tinham talento, mas era preciso canalizar essa energia juvenil acumulada na contrução de arranjos mais elaborados – e foi justamente isso que eles fizeram com Humbug. Qualquer um que ouvir "Secret Door" ou "Cornerstone" pela primeira vez no shuffle, jamais imaginará que essas músicas são deles. É bem verdade que no disco Favorite Worst Nightmare eles já ciscavam para esse lado, mas nada no nível de trabalho dessas duas.
Já para quem era fã das antigas, realmente deve ter sido um choque ouvir um disco sem o peso e a energia abtual da banda. E foi dessa facção que saiu as maiores críticas ao Humbug, com reclamações de que ele é muito lento e obscuro. Mas, certamente, poucos devem ter entendido que uma banda evolui, pois, caso contrário, ainda estaríamos ouvindo Beatles iê-iê-iê.
4) Give 'Em Enough Rope - The Clash (1978)
Não tem como negar que o The Clash tem uma das melhores discografias do rock, comparável até com a dos Beatles – com a diferença de que as experimentações que eles fizeram não deram tão certo quanto no caso do Fab Four. Por isso é natural que um álbum como o Give 'Em Enough Rope acabe sendo menos lembrado que os clássicos The Clash e London Calling – este último, uma obra obrigatória para qualquer ser mortal que se considere minimamente fã de música.
Nem é preciso mencionar a importância do The Clash para o rock. O som dos caras formou as bases do punk rock ao lado do Sex Pistols e dos Ramones. Se os Ramones encarnaram como ninguém o estilo "do it yourself", com seus três acordes que qualquer poodle amestrado é capaz de tocar, e o Sex Pistols colocou a raiva contra o sistema como seu porta-estandarte, mesmo que fosse uma raiva inserida em doses controladas por Malcolm McLaren, o The Clash deu um toque de classe no estilo, acrescentando o gingado do ska, do rockabilly e do surf music em suas composições como nenhum outro.
E se The Clash fosse uma trilogia Hollywoodiana, Give' Em Enough Rope seria a segunda parte, o Império Contra Ataca do punk. O som pesado do disco de estreia está lá, mas eles já saíram da estrutura básica e começaram a apontar para um outro patamar que só seria alcançado na sua plenitude em London Calling. Isso fica claro em "Julie's Been Working for the Drug Squad", que tem uma pegada do rockabilly com direito a um piano acompanhando a base da música. E "Stay Free" parece Beach Boys de tão bem construído que é seu arranjo.
Lógico que o álbum tem um ponto fraco. No caso de Give 'Em Enough Rope é a falta de grandes hits pegajosos, que poderia chamar a atenção dos ouvintes casuais. Mas isso nem de longe acaba desmerecendo o disco.
3) Bloco do Eu Sozinho - Los Hermanos (2001)
O gráfico do hype do Los Hermanos é como o símbolo de raiz quadrada. Explodiu com o "Anna Júlia", depois eles curtiram um período de ostracismo e viraram cult com o álbum Ventura. Só que nesse meio tempo, eles lançaram um CD muito bom, mas que aparentemente poucos ouviram, chamado Bloco do Eu Sozinho. Mas o que torna esse disco realmente interessante é que eles praticamente romperam com o espírito das músicas do álbum anterior e resolveram seguir uma outra vertente, que acabou por torná-los reverenciados mais tarde. Em outras palavras o Bloco do Eu Sozinho é como um zamboni que limpou a área para que o Ventura se tornasse o baita álbum que é.
Isso não quer dizer que o harcore e o ska foram completamente abandonados, mas é o MPB é quem dá as cartas dessa vez, ficando um mezzo a mezzo interessante e misterioso. "Todo Carnaval tem seu Fim" é um exemplo clássico. A música seria pesada se estivesse no Ventura, mas seria considerada lenta se estivesse no primeiro álbum. Daí, já se saca o drama do negócio. Porque não se trata simplesmente de tirar a distorção do pedal da guitarra ou diminuir o ritmo das canções, mas de rearranjar as músicas totalmente.
No Bloco, os metais já não dão mais o tom, como é característico do ska, e agora ficam na parte de apoio da banda. De forma inversa, o sintetizador começa a aparecer bem mais, como em "Casa Pré-Fabricada" e "Fingi na Hora Rir". Já a melodia "Sentimental" e "Adeus Você" é quase um Roberto Carlos, enquanto que "Veja Bem Meu Bem" lembra o estilo do rock pernambucano. O único que honra as raízes do hardcore é o "Tão Sozinho" que, de fato, está meio isolado do restante do álbum.
A partir daí, certamente deve ter rolado um estalo, um "eureka". A sonoridade da banda tornou-se única, de forma que eles nunca mais abandonaram. Ventura foi o ápice dessa ideia de atingir um novo nível dentro do rock nacional, expondo as veias abertas da música brasileira em seu estilo. Já no 4, a coisa ultrapassou a linha do rock e embarcou de vez na MPB, mas mesmo assim é um álbum bastante louvável.
Mas é curioso que mesmo os fãs dos Los Hermanos – considerados os mais chatos do mundo, ao lado dos do Legião Urbana e do Dance of Days – deixem o Bloco do Eu Sozinho meio de lado. O primeiro é até fácil entender, já que é nele que está a canção maldita, Anna Júlia, mas o Bloco é uma outra história. Tem músicas boas e estilo, idem. Mas aí fica a pergunta: será que o Bloco não tem hype o bastante?
2) Magical Mystery Tour - The Beatles (1967)
Em qualquer papo de boteco sobre qual o melhor disco já feito pelos Beatles, todo mundo pinça Sgt. Peppers, Abbey Road, Revolver e até já ouvi alguém mencionar o With the Beatles em certa reunião de grande dosagem alcóolica. Mas a verdade é que poucos se lembram do Magical Mystery Tour, um álbum meio escondido da discografia dos Fab Four, mas que é recheado de boas músicas.
Mas existe uma razão logística (ou falta de) para rolar essa injustiça histórica. Oficialmente, Magical Mystery Tour foi lançado como um EP duplo, com seis músicas compostas para o filme homônimo. Mas, nos EUA, a gravadora de lá achou que o público americano não é muito chegado nesse formato e resolveram pegar cinco músicas de outros compactos lançados naquele mesmo ano e prensar como um LP. Assim, o lado A do álbum americano tinha as músicas do original e o lado B tinha nada menos que "Hello, Goodbye", "Strawberry Fields Forever", "Penny Lane", "Baby You're a Rich Man" e "All You Need Is Love".
O caso ficou por isso mesmo até que, em 1976, a pedidos dos fãs, a EMI resolveu lançar o LP americano em todo o mundo. E, em 1987, lançaram o álbum em CD, consolidando definitivamente a versão estadunidense.
Mas, aparentemente, isso não foi o suficiente para reparar esse erro histórico. Magical Mystery Tour ainda é um álbum pouco prestigiado pelos críticos. Talvez por causa da capa, que é de longe a pior da discografia deles, perdendo até para o decadente Let It Be. Ou talvez porque a ideia de discos indiscutíveis dos Beatles tenha sido formulado ainda na década de 60 e até hoje ela permanece congelada. Não tem como discutir a inovação do Sgt. Peppers ou a beleza das músicas do Revolver, mas esse conceito parece que já virou um chavão que poucos ousam largar. Isso já é quase um dogma entre a crítica musical, quase impossível de debater.
1) Smile - Brian Wilson (2004)
A história do rock tem passagens bastante curiosas, mas poucas são tão insanas quanto a história do Smile. Reza a lenda que, em 1966, ao ouvir o álbum Revolver, Brian Wilson, líder do Beach Boys, resolveu dar uma resposta à altura aos Beatles. No ano anterior, ele já havia trabalhado arduamente para conceber o que deveria ser sua obra-prima: o mítico Pet Sounds. Mas ele achou que os britânicos tinham lhe superado, então armou seu contra-ataque. Wilson trancou-se no estúdio por semanas, compondo e gravando arranjos sem parar. Mas seu perfeccionismo obsessessivo-doentio, que fazia com que ele jogasse fora horas de trabalho sem cerimônia, foi agravado pelo uso abusivo de LSD e de outras drogas psicoativas, que destruiram seu relacionamento com o restante do grupo. Não fosse o bastante, certo dia, ele foi fazer uma viagem de ácido e nunca mais voltou. Para piorar, os Beatles lançaram o Sgt. Pepper's the Lonely Hearts Club Band e eles resolveram desistir do projeto, pois a obra máxima já tinha sido feita.
Desde então, o álbum Smile nunca teve uma conclusão até que, em 2004, Wilson, já tratado da sua doença mental, tomou coragem para retomar o projeto. O resultado foi um disco que, se não fosse pela voz já desgastada do líder do grupo, parece realmente ter sido gravada nos anos 60. Todos os elementos que fazem a banda ser reverenciada até hoje estão lá: a harmonia dos vocais, os arranjos bem trabalhados e a evolução ritmica da música. Não é a obra-prima que ele tanto almejou, mas é algo muito próximo disso.
Mas em todas as listas de melhores álbuns da década de 2000 que eu li, em nenhuma delas o Smile ocupa sequer as 25 primeiras posições. É realmente difícil de entender. Então surgiu uma pergunta: se o Smile tivesse sido lançado em 1967, será que ele teria a relevância merecida? Ou pensando ao contrário, se Sgt. Peppers fosse lançado na década passada, será que ele teria o hype que tem hoje? Acho que nem o Cléber Machado ousaria responder sem pestanejar.
Aparentemente, o que torna um disco reconhecido e admirado vai muito além da sua qualidade musical. O momento histórico parecer ser um fator tão relevante quanto. Quando saiu Sgt. Peppers, ninguém nunca tinha feito tantas experimentações na música pop (efeitos de estúdio, colagens, usar instrumentos orientais, orquestras) quanto eles. Hoje, qualquer adolescente com Audacity faz isso.
Diante disso, não é difícil entender porque o Is This It, do The Strokes, foi escolhido o melhor álbum da década de 2000 pela conceituada revista NME. Criou-se uma ideia no imaginário popular de que o Strokes salvou a cena rock no começo do século, botando para escanteio o pop de fácil degustação da Britney Spears e das boys bands. Taí, uma constatação bem errada, mas isso fica para um outro post. O fato é que eles se deram bem por terem lançado um belo disco numa época em que o rock estava uma merda. Mas dizer que é o melhor álbum do anos 2000 já é uma outra parada.
Mais do que salvar o rock, a consagração do The Strokes trouxe de volta o garage rock e o punk 77, só que com uma roupagem modernosa, com bandas como o White Stripes, o The Vines e o Franz Ferdinand. E foi nesse ambiente que saiu Smile, que obviamente faz parte de uma outra vertente, a do pop rock sessentista. Brian Wilson manteve intacto seu estilo, sem nenhuma grande revolução ou mudança de roupagem, como se tivesse terminado o álbum exatamente do mesmo jeito que o concebera, há 30 e poucos anos.
E foi justamente esse o erro do Smile.
5) Humbug - Arctic Monkeys (2009)
É cedo para dizer a relevância do Humbug, o álbum mais recente do Arctic Monkeys, lançado em 2009. Mas é fato que o disco mudou em muito minha percepção da banda. Humbug apresentou um Arctic Monkeys menos barulhento e mais sóbrio, com construções de arranjos infinitamente mais elaboradas do que no endeusado Whatever People Say I Am, That's What I'm Not. Até por causa disso, rolou uma divisão entre os fãs: os mais ortodoxos acharam que a banda perdeu suas características, mas os mais moderados viram que este era um caminho natural a percorrer.
Eu que, nunca curti o Arctic Monkeys, fico com o segundo grupo. Sempre achei que eles faziam muito barulho para pouco som. Era óbvio que eles tinham talento, mas era preciso canalizar essa energia juvenil acumulada na contrução de arranjos mais elaborados – e foi justamente isso que eles fizeram com Humbug. Qualquer um que ouvir "Secret Door" ou "Cornerstone" pela primeira vez no shuffle, jamais imaginará que essas músicas são deles. É bem verdade que no disco Favorite Worst Nightmare eles já ciscavam para esse lado, mas nada no nível de trabalho dessas duas.
Já para quem era fã das antigas, realmente deve ter sido um choque ouvir um disco sem o peso e a energia abtual da banda. E foi dessa facção que saiu as maiores críticas ao Humbug, com reclamações de que ele é muito lento e obscuro. Mas, certamente, poucos devem ter entendido que uma banda evolui, pois, caso contrário, ainda estaríamos ouvindo Beatles iê-iê-iê.
4) Give 'Em Enough Rope - The Clash (1978)
Não tem como negar que o The Clash tem uma das melhores discografias do rock, comparável até com a dos Beatles – com a diferença de que as experimentações que eles fizeram não deram tão certo quanto no caso do Fab Four. Por isso é natural que um álbum como o Give 'Em Enough Rope acabe sendo menos lembrado que os clássicos The Clash e London Calling – este último, uma obra obrigatória para qualquer ser mortal que se considere minimamente fã de música.
Nem é preciso mencionar a importância do The Clash para o rock. O som dos caras formou as bases do punk rock ao lado do Sex Pistols e dos Ramones. Se os Ramones encarnaram como ninguém o estilo "do it yourself", com seus três acordes que qualquer poodle amestrado é capaz de tocar, e o Sex Pistols colocou a raiva contra o sistema como seu porta-estandarte, mesmo que fosse uma raiva inserida em doses controladas por Malcolm McLaren, o The Clash deu um toque de classe no estilo, acrescentando o gingado do ska, do rockabilly e do surf music em suas composições como nenhum outro.
E se The Clash fosse uma trilogia Hollywoodiana, Give' Em Enough Rope seria a segunda parte, o Império Contra Ataca do punk. O som pesado do disco de estreia está lá, mas eles já saíram da estrutura básica e começaram a apontar para um outro patamar que só seria alcançado na sua plenitude em London Calling. Isso fica claro em "Julie's Been Working for the Drug Squad", que tem uma pegada do rockabilly com direito a um piano acompanhando a base da música. E "Stay Free" parece Beach Boys de tão bem construído que é seu arranjo.
Lógico que o álbum tem um ponto fraco. No caso de Give 'Em Enough Rope é a falta de grandes hits pegajosos, que poderia chamar a atenção dos ouvintes casuais. Mas isso nem de longe acaba desmerecendo o disco.
3) Bloco do Eu Sozinho - Los Hermanos (2001)
O gráfico do hype do Los Hermanos é como o símbolo de raiz quadrada. Explodiu com o "Anna Júlia", depois eles curtiram um período de ostracismo e viraram cult com o álbum Ventura. Só que nesse meio tempo, eles lançaram um CD muito bom, mas que aparentemente poucos ouviram, chamado Bloco do Eu Sozinho. Mas o que torna esse disco realmente interessante é que eles praticamente romperam com o espírito das músicas do álbum anterior e resolveram seguir uma outra vertente, que acabou por torná-los reverenciados mais tarde. Em outras palavras o Bloco do Eu Sozinho é como um zamboni que limpou a área para que o Ventura se tornasse o baita álbum que é.
Isso não quer dizer que o harcore e o ska foram completamente abandonados, mas é o MPB é quem dá as cartas dessa vez, ficando um mezzo a mezzo interessante e misterioso. "Todo Carnaval tem seu Fim" é um exemplo clássico. A música seria pesada se estivesse no Ventura, mas seria considerada lenta se estivesse no primeiro álbum. Daí, já se saca o drama do negócio. Porque não se trata simplesmente de tirar a distorção do pedal da guitarra ou diminuir o ritmo das canções, mas de rearranjar as músicas totalmente.
No Bloco, os metais já não dão mais o tom, como é característico do ska, e agora ficam na parte de apoio da banda. De forma inversa, o sintetizador começa a aparecer bem mais, como em "Casa Pré-Fabricada" e "Fingi na Hora Rir". Já a melodia "Sentimental" e "Adeus Você" é quase um Roberto Carlos, enquanto que "Veja Bem Meu Bem" lembra o estilo do rock pernambucano. O único que honra as raízes do hardcore é o "Tão Sozinho" que, de fato, está meio isolado do restante do álbum.
A partir daí, certamente deve ter rolado um estalo, um "eureka". A sonoridade da banda tornou-se única, de forma que eles nunca mais abandonaram. Ventura foi o ápice dessa ideia de atingir um novo nível dentro do rock nacional, expondo as veias abertas da música brasileira em seu estilo. Já no 4, a coisa ultrapassou a linha do rock e embarcou de vez na MPB, mas mesmo assim é um álbum bastante louvável.
Mas é curioso que mesmo os fãs dos Los Hermanos – considerados os mais chatos do mundo, ao lado dos do Legião Urbana e do Dance of Days – deixem o Bloco do Eu Sozinho meio de lado. O primeiro é até fácil entender, já que é nele que está a canção maldita, Anna Júlia, mas o Bloco é uma outra história. Tem músicas boas e estilo, idem. Mas aí fica a pergunta: será que o Bloco não tem hype o bastante?
2) Magical Mystery Tour - The Beatles (1967)
Em qualquer papo de boteco sobre qual o melhor disco já feito pelos Beatles, todo mundo pinça Sgt. Peppers, Abbey Road, Revolver e até já ouvi alguém mencionar o With the Beatles em certa reunião de grande dosagem alcóolica. Mas a verdade é que poucos se lembram do Magical Mystery Tour, um álbum meio escondido da discografia dos Fab Four, mas que é recheado de boas músicas.
Mas existe uma razão logística (ou falta de) para rolar essa injustiça histórica. Oficialmente, Magical Mystery Tour foi lançado como um EP duplo, com seis músicas compostas para o filme homônimo. Mas, nos EUA, a gravadora de lá achou que o público americano não é muito chegado nesse formato e resolveram pegar cinco músicas de outros compactos lançados naquele mesmo ano e prensar como um LP. Assim, o lado A do álbum americano tinha as músicas do original e o lado B tinha nada menos que "Hello, Goodbye", "Strawberry Fields Forever", "Penny Lane", "Baby You're a Rich Man" e "All You Need Is Love".
O caso ficou por isso mesmo até que, em 1976, a pedidos dos fãs, a EMI resolveu lançar o LP americano em todo o mundo. E, em 1987, lançaram o álbum em CD, consolidando definitivamente a versão estadunidense.
Mas, aparentemente, isso não foi o suficiente para reparar esse erro histórico. Magical Mystery Tour ainda é um álbum pouco prestigiado pelos críticos. Talvez por causa da capa, que é de longe a pior da discografia deles, perdendo até para o decadente Let It Be. Ou talvez porque a ideia de discos indiscutíveis dos Beatles tenha sido formulado ainda na década de 60 e até hoje ela permanece congelada. Não tem como discutir a inovação do Sgt. Peppers ou a beleza das músicas do Revolver, mas esse conceito parece que já virou um chavão que poucos ousam largar. Isso já é quase um dogma entre a crítica musical, quase impossível de debater.
1) Smile - Brian Wilson (2004)
A história do rock tem passagens bastante curiosas, mas poucas são tão insanas quanto a história do Smile. Reza a lenda que, em 1966, ao ouvir o álbum Revolver, Brian Wilson, líder do Beach Boys, resolveu dar uma resposta à altura aos Beatles. No ano anterior, ele já havia trabalhado arduamente para conceber o que deveria ser sua obra-prima: o mítico Pet Sounds. Mas ele achou que os britânicos tinham lhe superado, então armou seu contra-ataque. Wilson trancou-se no estúdio por semanas, compondo e gravando arranjos sem parar. Mas seu perfeccionismo obsessessivo-doentio, que fazia com que ele jogasse fora horas de trabalho sem cerimônia, foi agravado pelo uso abusivo de LSD e de outras drogas psicoativas, que destruiram seu relacionamento com o restante do grupo. Não fosse o bastante, certo dia, ele foi fazer uma viagem de ácido e nunca mais voltou. Para piorar, os Beatles lançaram o Sgt. Pepper's the Lonely Hearts Club Band e eles resolveram desistir do projeto, pois a obra máxima já tinha sido feita.
Desde então, o álbum Smile nunca teve uma conclusão até que, em 2004, Wilson, já tratado da sua doença mental, tomou coragem para retomar o projeto. O resultado foi um disco que, se não fosse pela voz já desgastada do líder do grupo, parece realmente ter sido gravada nos anos 60. Todos os elementos que fazem a banda ser reverenciada até hoje estão lá: a harmonia dos vocais, os arranjos bem trabalhados e a evolução ritmica da música. Não é a obra-prima que ele tanto almejou, mas é algo muito próximo disso.
Mas em todas as listas de melhores álbuns da década de 2000 que eu li, em nenhuma delas o Smile ocupa sequer as 25 primeiras posições. É realmente difícil de entender. Então surgiu uma pergunta: se o Smile tivesse sido lançado em 1967, será que ele teria a relevância merecida? Ou pensando ao contrário, se Sgt. Peppers fosse lançado na década passada, será que ele teria o hype que tem hoje? Acho que nem o Cléber Machado ousaria responder sem pestanejar.
Aparentemente, o que torna um disco reconhecido e admirado vai muito além da sua qualidade musical. O momento histórico parecer ser um fator tão relevante quanto. Quando saiu Sgt. Peppers, ninguém nunca tinha feito tantas experimentações na música pop (efeitos de estúdio, colagens, usar instrumentos orientais, orquestras) quanto eles. Hoje, qualquer adolescente com Audacity faz isso.
Diante disso, não é difícil entender porque o Is This It, do The Strokes, foi escolhido o melhor álbum da década de 2000 pela conceituada revista NME. Criou-se uma ideia no imaginário popular de que o Strokes salvou a cena rock no começo do século, botando para escanteio o pop de fácil degustação da Britney Spears e das boys bands. Taí, uma constatação bem errada, mas isso fica para um outro post. O fato é que eles se deram bem por terem lançado um belo disco numa época em que o rock estava uma merda. Mas dizer que é o melhor álbum do anos 2000 já é uma outra parada.
Mais do que salvar o rock, a consagração do The Strokes trouxe de volta o garage rock e o punk 77, só que com uma roupagem modernosa, com bandas como o White Stripes, o The Vines e o Franz Ferdinand. E foi nesse ambiente que saiu Smile, que obviamente faz parte de uma outra vertente, a do pop rock sessentista. Brian Wilson manteve intacto seu estilo, sem nenhuma grande revolução ou mudança de roupagem, como se tivesse terminado o álbum exatamente do mesmo jeito que o concebera, há 30 e poucos anos.
E foi justamente esse o erro do Smile.
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